
Eu era anjo mandado para cá
Para ajudar na arrumação das coisas.
Depois virei cliente mesopotâmico.
Depois virei escravo egípcio.
Depois virei efebo ateniense.
Depois virei cortesã romana.
Depois virei serva feudal.
Depois virei comerciante renascentista.
Depois virei escravo jejê nagô industrial.
Hoje sou tudo isso ainda querendo ser artista.
Sem casa, sem dinheiro.
Só a vontade, só o sonho.
Só o devaneio, só a loucura.
Mas nesse circo neoliberal
Que faz de mim palhaço
Eu navego em mares cansados.
Cansados de serem navegados.
Mas nesse picadeiro aquecidamente globalizado,
Eu não quero me cubrir em bandeiras;
Me esconder em ideologias;
Me enganar em filosofias,
Pois eu sei que só digo coisas que já foram ditas
E só escrevo coisas que já foram escritas.
(Marcio Rufino)
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