Manifesto do coletivo Pó de Poesia
O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.
Creia.
A poesia pode.
(Ivone Landim)
sábado, 29 de dezembro de 2012
A guerra dos sessenta anos
Tomé conserta sapatos na bancada reluzente de velhice ; de madeira centenariamente enrugada , na pobreza artesã de pai para filho ; tachas no canto da boca , em riso sardônico e metálico . O silencio : ensurdecedor , o martelo malha um solado no pé de ferro - bem poderia ser a cabeça da desgraçada, martela- lhe o cérebro na ira cotidiana ; mãos odiadas e hábeis,trazem o projeto em couro até a realidade .
Um polimento em graxa preta e aziaga, lustra uma guerra de sessenta anos de de pequenos ódios e grandes silêncios . Anjinha vive de luto ; por quê ? Ninguém sabe, nem ela nunca disse. T o m é coloca os cadarços no sapato preto , agora devolvido á bancada , alinhado entre os outros em luzidia e caprichosa submissão . Levanta a gola do casaco, a proteger-se do inverno da indiferença : o ódio conjugal inoxidável em sua frieza , aço resfriado de tantos anos ; nem discutem mais , um grita á cada vez de seu canto e o grito paira no ar e sai pela janela ganhando o campo de futebol em frente, sensações grisalhas arremetem contra a grama e as andorinhas.
O balde de cólera que nunca enche ,sempre a receber cada gota de fúria contida ; a comoção virou cebola velha ,dependurada sobre o fogão de pedra .Hoje , a gota d’água:
_ Não tem feijão para o almoço de hoje – resmunga a Anjinha colérica , em riso maroto de ruindade antiga e bem curtida.
Tomé levantou da bancada , tomou da velha mala de madeira de desenho em xis na tampa retangular e pegador enferrujado , de repente acolhendo mudas de roupa e sapatos , despojos da vida de infelicidade medida em dedais , copos e baldes . Olha distraído o fundo ensebado do seu chapéu ; o suor e o nome do fabricante em arabesco amarelo ; coloca-o inclinado sobre a fronte , abre a porta , caminhando em direção a lugar nenhum , cruza o campo de futebol, interrompe a pelada em sua marcha ; a rapaziada estática , em muda indignação ,contempla o velho desempenado em passo acelerado e inédito sorriso , de alma leve e flanante , no ocaso da tarde de domingo .
Conto de André Albuquerque
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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
Nesta data especial
poderia escrever lindas mensagens
para muitos a quem amo
mas meu coração e pensamento
teimam em brigar comigo
e só me fazem mirar você.
Jorge Medeiros
Por isso não tenho condições
de tentar poetizar,
acho que minhas palavras
não fariam jus a você e ao sentimento
que me domina o peito...
utilizo então as palavras de uma amiga:
HOJE É VOCÊ
Hoje, no tempo do agora,
e no espaço, até,
que ficou para trás
da hora em que estamos,
é você.
Os ziguezagues da vida
nos afastaram do encontro.
E os vaivéns do destino
nos aproximaram do depois.
Em outras eras, talvez,
(se é que elas existem)
acho,
fomos amantes-amados.
Os dois de nós dois.
Sem interferências.
Corpo e alma se unindo
e corações se abrindo.
Os dois seres num só,
amando-se em todas as horas.
Na hora lilás
do crepúsculo que desce
ou, e mais ainda,
no descortinar
das madrugadas que sorriem
luz,
na silenciosa papoula
do sol,
quando todos os sentidos
despertam
em ânsia de amar...
Deveria ter sido você
mas não foi.
Hoje é.
E agora, eu sou...
MARIA FEIJÓ
(Essa é em especial pra vc, e vc sabe de quem me refiro. Não se zangue, não dá pra escolher o que sentir...não tem jeito, e o que sinto é por vc... o máximo que pode fazer é ficar em silêncio... como sempre esteve)
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Perdido
E do carrossel orgiástico dos puteiros.
Sarau Donana África-Brasil de Consciência Negra
O poeta Marcio Rufino apresenta o evento
Ivone Landim
Ramide Beneret
Camila Senna
Anderson Leite Lima
O poeta Henrique Souza
O poeta Cau Bastos
Valnei Ainê
André Luz Gonçalves
Chico Reis
A produtora cultural Ane Alves
A bela educadora Joseane Ainê admira o evento
Roda de capoeira
Roda de samba
Fanzine do Pó de Poesia homenageando os poetas negros
O poeta Marcio Rufino pouco antes de começar o evento
O público de Belford Roxo prestigia o sarau
Idem
A poeta e professora aposentada Dona Luíza presta sua homenagem à Semana de Consciência Negra
Marcio Rufino e o cantor, compositor, músico, artista plástico e gestor do Centro Cultural Donana Dida Nascimento
Na noite de sábado do dia 24 de novembro de 2012 aconteceu no Centro Cultural Donana no bairro Piam em Belford Roxo o Sarau Donana Especial África-Brasil de Consciência Negra com o coletivo Pó de Poesia e convidados. O evento apresentado pelo blogueiro que vos escreve - o poeta, ator, escritor e educador Marcio Rufino - também contou com a batuta de outros poetas integrantes do coletivo cultural como Ivone Landim, Dida Nascimento, Ramide Beneret, Camila Senna e Anderson Leite Lima, o mais novo integrnate do grupo; que leram poemas de poetas negros que têm na questão racial sua principal temática como Solano Trindade, Conceição Evaristo, Cuti e Éle Semog. Esta plêiade de poetas, inclusive foi a grande homenageada do fanzine do Pó de Poesia deste mês.
Como convidados especiais contamos com as participações dos músicos Valnei Ainê, André Luz Gonçalves e Chico Reis. Para encerrar a noite com chave de ouro tivemos performances de capoeira e samba de roda com artistas da Associação Palmares. O cenário do sarau foi os quadros pintados por Dida Nascimento. A chuva que caiu nesta noite só serviu para abrilhantar e abençoar ainda mais o Sarau Donana que encerrou suas atividades de 2012 e agora só volta em fevereiro de 2013.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
,escuto-me
quero saber-me assim quieto, em sossego,
neste meu inóspito e distante desaconchego,
seja da canção cendrada,
seja-me da noite iluminada,
que seja deste meu sonho em desassossego.
(II)
da saudade.
surdo, mudo, e nada muda,
nem o desassossego,
nem os passos tidos por perdidos,
distâncias.
,escuto-me.
,morrem-me as saudades de tão gastas,
de tão repetidas,
esfarelam-se,
e quando regressam impiedosas,
agito-me, revolto-me, rendo-me,
,como se a lua só tivesse uma face,
,como se a lua só tivesse uma fase,
e só escuridão pernoitasse no meio.
(III)
,o meu mar jamais será umbroso,
reflete o azul do céu,
reflete-me,
e repito-me no desassossego que quero em sossegos,
“- deixa-me vogar pelas vontades das ventanias”.
[, o sal seca-me, engelha-me, arrasta-me].
Poema de Francisco Duarte
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domingo, 16 de dezembro de 2012
Imaginei uma guerra enquanto as armas descansam
Tenho a chuva de Novembro nos braços
E um frio sem ciúme do sol a namorar-me os ossos.
Revolvo com os dedos o bolso da farda
Para te encontrar entre a lama e os cigarros só mais uma vez
Inventar o momento, tocar-te o rosto, sentir-te o cheiro
E perguntar-me se ainda te lembras de mim.
Imaginei que vinhas, ainda esta noite antes do fim
Imaginei que vinhas antes das balas, enquanto as armas descansam.
Imaginei uma guerra entre as guerras reais a que sobrevivo.
Matei todas as bestas dentro de mim e nem lhes soube os nomes
Todas as palavras que não souberam dizer coragem
Todas as lágrimas trancadas nos olhos até ao fim da dor
Todas as horas inúteis queimadas no fumo dos cigarros
Matei todas as acções imperfeitas para me tornar perfeito
E enterrei tudo, sete palmos abaixo da minha memória.
Matei todas as bestas dentro de mim e pergunto-me se ainda te lembras
Se ainda me reconheces, depois da guerra.
[...]
Poema de Nuno Marques
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Poesia depois da queda
Minha poesia
Saltou de cima da estratosfera
Sem rima, nem métrica
Sem roupa de astronauta
Muito menos paraqueda
E se espatifou
Na Av. Presidente Dutra
Perto dos travestis e das putas
Minha poesia
Pulou do espaço
Sem jump, nem isca
Se partiu em pedaços
Quase caindo
Por cima dos parasitas
Minha poesia
Vadia
Esquartejada
Rolou asfalto a fora
Sem rítimo
Nem metafora
Sem charme
Nem a menor graça
Parecia ter comido
A poeira da via láctea
Minha poesia
Dividida
Caiu sem gozo
Nem dor
Parecia ter sido cuspida
Por uma espaçonave
Ou um disco voador
Minha poesia
Esquisita
Baixou sobre o planeta
Mais imprecisa
Que uma certeza
Mais certeira
Que uma dúvida
Mais suave
que uma maldição
Mais densa
Que uma benção
Minha poesia
Lá de cima
Viu a gigantesca
Bola verde e azul
Sem deixa, sem arte
Dentre as várias partes
Parte dela foi rolando
Até a Joaquim da Costa Lima
A outra até a Av. Brasil
Minha poesia
Voraz
Veio despencando, despencando
Atravessou paraísos e umbrais
Sem se preocupar
Com seus rins
Nem com seu corpo
Atropelou anjos e querubins
Almas penadas
E espirítos de porco
Minha poesia
Suicida
Caiu e cai
Provando cada vez mais
Que nunca foi minha
É da disponibilidade
Da casualidade
Espiritual
É da vontade
Do movimento
Social.
Marcio Rufino
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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
Iniciação
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
,disfarçam-se alguns outros
,é na orla que se escondem os corpos,
simples,
e as fuligens que restam, tão longe,
amontoam-se em pântanos,
apavoram-nos
esses interiores escuros, fingidos, frágeis,
finge-se.
,disfarçam-se alguns outros.
(II)
,tem vezes que anseio noite,
como fuga, arrojo exausto
símil à travessia gasta, desgastante o dia,
e quando as palavras, se destecem ponto por ponto,
perdidas como o vinho vomitado, inquieto-me.
, inquieta-me o odor do jasmim que se liberta
além
,além do mar.
,despontam pétalas que se espalham, invadem
as tardes de outono acastanhadas,
aquém-terra,
e já ali, mergulho, por este mar acima,
sem destino, sem pressa,
simples,
singro-me,
ou esqueço-me.
(III)
[a quem importa, se nem a mim?]
Poema de Francisco Duarte
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segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Amor sigiloso
E não soube amar
Amar o desejo
Desejar o amor
Não soube...
brigar pelo amor
ficar com um amor
Não soube jogar
os jogos de adultos
usar os disfarces
cruzar os pés
por debaixo da mesa
usar as mãos bobas
nos momentos exatos.
O que é fato
e não fálico
é que não soube
usar a língua
flexioná-la
na hora X
no ponto G
e gritar para o mundo:
-Te amo menino!
JORGE MEDEIROS
terça-feira, 20 de novembro de 2012
ferrugênese
ferrolho
no peito
já enferrujado
olho:
um lado, terra;
um lado, alado;
basta,
a quem erra,
ver dobrado
Poema de Caíto
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Recompor
Tenho que reescrever o poema
Que escrevi na tua pele com a boca
Pra recompor o lema
Da tessitura do desejo
E sua voz rouca.
Preciso recompor os versos
Que rabisquei entre teus pêlos com os lábios
Pra reacender os anelos
Da espera do teu gozo rápido.
Reluzir em tua vontade de viver
O efêmero momento que fez de mim um rei
Pois nada vai tirar de mim o prazer
De ter visto o prazer que te dei.
Marcio Rufino
Olé de Coltrane
sempre a direito pela a6
paramos meia dúzia de vezes
não houve tempo para cerveza e tapas
apenas para sonhar com d.quixote atravessando
as planícies de la mancha
nem sempre acompanhado por sancho o panças
esse tinha tempo para tapas e cerveza
entramos em madrid
não foi difícil dar com o sitio
avenida para aqui avenida para ali
comentas-te bonito o edifício do novo hospital
juan carlos cheio de janelas côncavas
ou convexas, discutimos
hotel ao pé dos estúdios de televisão
demos uma volta a pé ao fim da tarde
um vento seco e gelado
anunciava o dia mais frio
nevou em madrid nessa noite
mal saímos, lemos e vimos televisão
houve tempo para cerveza e tapas
mais um dia e a operação
tudo certo e organizado
espanha não pode ser assim
não era assim que nos disseram que era
dormi duas noites a teu lado
vestido como estava
podia lá ir dormir ao hotel
contigo ali
e se precisasses de mim
estava onde queria
ainda dei algumas breves passeatas
à noite – sou de passear, é de família
jantei aqui e ali
mas sem ti era comer e ir embora
e uma ou outra cerveza
não é de família, é de mim
andei a ler um autor sueco
sempre que a ansiedade apertava e como apertava
mergulhava no livro de escândalos e crimes
serviu, um ansiolítico literário
o que nunca me tinha acontecido
saíste do hospital
com dores mas de ânimo madrileno
com garra e vontade de viver
mais um dia frio em madrid
e fizemo-nos à estrada
sempre a direito pela a6
vim sempre a ouvir o olé de coltrane
por dentro e em paz
estavas bem, dizias piadas
sobre a tua provável morte
e eu conhecer uma bela madrilena
descrevi-a louraça, fogosa e rica
não sei se gostaste
a viagem cansou-te
mas chegamos de madrid
sem a ter conhecido
não não fui à gran via
nem à porta del sol
tinha coisas mais importantes para fazer
madrid fica para outra altura
haverá outro dia
para lhe gritar olé
não o de coltrane
mas à vida
olé!
experimentem e façam a viagem
é sempre a direito pela a6
Poema de Carlos Teixeira Luís
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segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Pó de Poesia brilhou na FLUPP
Ramide Beneret
Jorge Medeiros
Marcio Rufino
Egeu Laus recebe os coletivos Desmaio Públiko, Gambiarra Profana e Pó de Poesia
Na noite de sexta-feira do dia 9 de novembro o Coletivo Pó de Poesia se apresentou ao lado de outros dois coletivos literários da Baixada Fluminense O Desmaio Públiko e o Gambiarra Profana no Sarau Literatura na Baixada promovido pela FLUPP (Festival Literário Internacional das UPP's); evento literário que aconteceu 7 à 11 de novembro no Morro dos Prazeres, no bairro Santa Tereza, na Tenda Policarpo Quaresma. Ciceroneados por uma equipe impecável composta por Écio Salles, Egeu Laus, Thaís Pavão e Julio Ludemir, Jorge Medeiros, Ramide Beneret, Camila Senna e o blogueiro que vos escreve Marcio Rufino apresentamos nossos poemas e mostramos ao lado de outros poetas o que a região produz de melhor na literatura.
Temporal poema porque chove manhãs
Temporal poema porque chovem as manhãs.
Ainda perduras no fogo onde forjei o teu corpo
Talhei a jóia que te fez mulher aos meus olhos.
Esperei atrás do tempo, numa madrugada de intenções
Inventando formas suaves de abraçarmos a noite
Imaginando as feições deste sonho avermelhado
Assim, afastei os barcos, embrulhei os lagos
Desenhei de novo a paisagem que trazes no cabelo
E fiquei aqui, sentado, esperando o sol nascer
Mas neste alongar das horas, esqueci o traço
E pálida torna-se a tela onde te pintei desejo
Como aguarela sem cor, como uma boca sem beijo.
Talhei a jóia que te fez mulher aos meus olhos
Temporal poema porque chovem as manhãs
Sobre este fogo que ainda arde.
Poema de Nuno Marques
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segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Caravelas azuis céu adentro
Um movimento causa efeito no brilho desta dúvida circular
Não tenho esperança de me encontrar nas perguntas que guardo
E guardo-as religiosamente como segredos esquecidos no tempo.
Desacreditei teorias sobre a dor sem ter sofrido.
Vou em procissão levar toalhas quentes à angústia que me consome
E pelo caminho, idealizar a morte por baixo da terra
Por não acompanhar a gravidez das estrelas todos os dias
Nem assistir ao seu parto anunciado com ardor fora dos olhos.
Esqueci-me de acreditar
Caravelas azuis céu adentro por dois mil anos
Tenho esperado o meu nascer para começar.
…
Na origem a indiferença onde me guardo sem ambições
Cai o lorpa na arcada por um abraço que ninguém me deu
Cresci e morei sempre à porta sem entrar
Com medo de pisar o mesmo chão, conhecer o padrão e ficar
Esqueçam-me todos, todos os dias em que não voltei
Esqueçam-me os lamentos e as ilusões que emprestei ao mundo
E afastem-me de vez quando chegar a falar de amor.
…
Esqueci-me de acreditar
Caravelas azuis céu adentro por dois mil anos
Elevam-se adagas e escudos pela morte de um imperador.
Desenhei um rio com margens e com corrente
Porque só quero uma vista para o Nilo, na tarde da minha derrota.
Poema de Nuno Marques
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,a sombra do castanheiro dança ao vento
,como o céu pela noite é monótono, negro sem os riscos de estrelas-cadentes,
rápidas, sem avisos, silenciosas,
esvoaça o perfume do jasmim noturno que penetra, invade.
Escapa-se-me a fuligem do crayon por entre os dedos,
impressões digitais que ficam no papel,
sem letras, ou exclamações, ou perguntas,
,retiram-se alguns momentos, algures
partilhados, a sombra do castanheiro dança ao vento,
nas raízes nascem cogumelos descoloridos,
(II)
,relegam-se fogos que consomem vénus pela manhã,
desejos, ânsias,
e os sons transformam-se, acicatam cavalos imaginados,
loucos, sem destino, sem crinas,
finda
a noite.
Poema de Francisco Duarte
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quinta-feira, 8 de novembro de 2012
pelo ruído do gelo que acomoda a chuva
pelo sossego apertado... ruindo o uivo
esperando a ausência,
que fosse ‘ela’ uma breve canção nos traços de uma gaita
plantada onde não se pode colher...
desafie enfim, a roupa a libertar-se dos alicerces da pele
como um passeio pelo campo ensolarado
quando já não procura pelo ar... o ar que restou
deixa viver a paz
aquieta o ruído do gelo
acomoda a chuva pelos degraus do peito
veste agora a saudade pálida de cada momento
a que escorre, procura e nos mantém juntos
dorme em meus braços, então.
Poema de Vânia Lopez
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quarta-feira, 7 de novembro de 2012
O tempo sem tempo...
Queria mesmo escrever sobre o tempo,
Mas ele fugiu de mim sem dizer que ia.
Queria mesmo escrever sobre essas horas rápidas,
Mas elas voaram de mim como passe de mágica.
Eu pensei em falar sobre as estações,
Mas quando percebi, já não consegui distinguir.
De janeiro a Dezembro :
Primavera, verão, outono e inverno,
Nada mais os caracterizava.
De frio a flores nascendo,
Calor sorria solto sem se preocupar com mês ou data,
de folhas caindo a vento gelado
Ipês roxos nasciam no ventre da geada.
Queria mesmo entender às 24 horas,
Mas é tempo de menos pra pensamento demais.
Pensei em escrever sobre o tempo
Mas veja que curioso,
Não há mais tempo,
Nem relógio certo, a ampulheta quebrou.
Resta uma estranha agonia,
Mas também um bocado de alegria.
Hoje não olho mais para tempo,
Observo o que me importa.
Eu olho pra dentro.
Com Licença, tempo.
Eu hoje estou sem tempo.
Você deve entender.
Crime...
Faz de Conta
Na aula de teatro
O menino negro
Põe a coroa na cabeça
Em seu inocente orgulho
Ouço ele dizer:
- Agora eu sou o rei!
A menina morena
Em seu inocente descaso
Ouço ela dizer:
- Nunca vi rei preto!
A outra menina, negra
Indignada
Com suas asinhas de fada
Em sua sapiente certeza
Ouço ela dizer:
- Essa garota
Não sabe o que diz.
É melhor
Nem ouvir!
Marcio Rufino