Quase Um FetoQuem você pensa que é?
Você sabe com quem está falando?
Eu sou um velho decrépito
D e t e r i o r a n d o . . .
Eu não sou velho:
Só sou jovem há mais tempo.
Eu não estou ficando velho:
Estou virando um clássico.
Ei!
Acorda meu caro!
Levanta e anda!
Caminha!
Ei!
Ainda está vivo?
Sacode a poeira!
Respira!
Aviso aos NavegantesAos que ainda estiverem vivos
Levantem as mãos!
Aos que já estiverem mortos
Levantem aos céus!
Aos que ainda estiverem vivos
Morram!
Aos que já estiverem mortos
VIVAAA!
Aos mortos-vivos!Aos que estiverem exaustos
Insônia!
Aos íntimos!
PoesiaUm porto seguro
Uma válvula de escape
Uma tábua de salvação
Línguas MortasDevia amanhecer bem morto
E ao arregalar bem as janelas da alma
Furar a terra e o cimento
E levantar do berço de barro
E velhinho de tudo durante o caminho cansado
Soerguer lentamente
Conforme as rugas desaparecessem
E a cara corasse
E o ímpeto e o ânimo irradiassem
E raiassem
E viveria cada vez mais jovem
E toda noite só o sol
E a cada dia mais jovem
E peralta com o passar dos anos
E cada vez mais e mais
Até o útero da mãe natureza
E o saco do pai todo poderoso
Mas não
A cabeça num travesseiro infantil
Repousa
As mãos cruzadas sobre o peito
Calcanhares unidos e as pontas dos pés
Pendendo em separado
O cheiro de incenso
As roupas de domingo
A chuva encolhendo a todos
Até enferrujar os ossos
Silêncio
Principia a cerimônia derradeira
Em meio a soluços
De dor ou de alívio
A sete palmos do céu
Um passo em falso
E chão
Pás de terra sobre o pó
A pedra cinza e fria sobre a
Madeira frágil
A graça entre a estrela e a cruz
A relva e a pátina do tempo
Cobrindo tudo
As doze badaladas
O canto do galo
E o ostracismo inevitável
Uma estrela que cai
É uma pena
Um poeta que sai
De cena
O meio é o fim
E o fim um recomeço
O Inferno são os outros que me habitam
Poemas de Andri Carvão