a ponto do Sol
derreter a cera
que me prenderia as asas;
nem tão baixo,
que as águas do mar
enxarquem-nas,
ao voo, tornando-as impróprias.
Assim quero voar!
Oclusivo desejo de libertar-me,
singrar os ares,
fugindo da dor
e das mesmices cotidianas;
escape planejado
de mim mesmo,
libertação total
das minhas dúvidas,
flerte despudorado
entre o bem o bem e o mal.
Mas, eis que não encontro cera;
eis que chove:
nuvem cinzenta e pesada
apenas sobre minha cabeça.
Também, o vento espalhou as penas,
arduamente recolhidas,
frustrando, assim, o meu acalentado intento
de tornar-me um Ícaro pós-moderno.
O que fazer então?
Quedar-me silente?
Prostrar-me em oração?
Tomar um ansiolítico?
Desnudar-me feito louco?
Em fúria, possesso,
drenar o obsesso
que me nasceu no coração?
Ou tudo isso, ainda, seria muito pouco?
- por JL Semeador
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