Manifesto do coletivo Pó de Poesia
O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.
Creia.
A poesia pode.
(Ivone Landim)
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
POEMAS DE ANDRI CARVÃO
naquela vila
naquela viela
no fim da fila
lá na favela
nos becos
botecos
nas quebradas
bocadas
aos trancos
e barrancos
barracos
nos buracos
das enxurradas
das enchentes
e cheias
cheias de gentes
soterradas
é a vida
fecharam a entrada
da boca de fumo
do beco sem saída
não moro
no morro
me escondo
onde Judas perdeu as botas
no raio que o parta
na puta que o pariu
na casa do caralho
na casa do chapéu
fico no fundão
moro no fundão
vivo no fundão
sou do fundão
fundão da zona norte
fundão da zona oeste
fundão da zona sul
fundão da zona leste
fundão da sala de aula
fundão do busão
no âmago da alma
do fundo do coração
no fundo do poço
no fundo no fundo
no fim do túnel
no fim do mundo
no cu do mundo
NÃO
logo ali ao lado
lá longe
do outro lado de lá
no cu do Judas
mundo perdido
tudo fodido
na fossa
no fosso
na poça
no poço
no fundo do poço
entre dejetos fetais
cicranos beltranos fulanos de tais
quais
quer +
despojos expurgos
excretos concretos
infelizes fétidos
boatos discretos
secretos
sem destino
na multidão
sem sentido
na solidão
em meio
ao devaneio
mera
quimera
doce ilusão
sem rumo
me arrumo
penico no pires
no ponto final do arco-íris
sem pote de ouro nem anão
(Pra lá de Bagdá
Pra lá de Bangladesh
Pra lá de Shangrillá
Pra lá de Marrakesh
Última partida
Ai de mim
Fim de linha
Dor sem fim!)
POEMAS MARÍTIMOS
Mensagem Engarrafada
O marulho do mar
O barulho do bar
O barulho do mar
O marulho do bar
Homem ao mar - náufrago
Garrafa ao mar - mensagem
Homem no bar - bêbado
Garrafa no bar - quebrada
Briga sobre o balcão
Entre sujeitos sujos
De vestes e de almas
Homem do mar - lobo do mar
Homem do bar - bebum do bar
Homem-mar / Homem-bar
Maresia / Bar & Cia.
Ar – Raro Efeito
Abrem brechas
Brisa branda
Breve brilho
Brumas brancas
Sobram sombras
Bravos abrolhos
Ressaca
Garrafa náufraga.
Rolha no gargalo.
Papiro amarelado.
Mensagem indecifrável.
“Liberte o Gênio.”
Letra ilegível.
Língua morta.
No rótulo “BEBA-ME!”
Mau Agouro levou seu olho.
Não seja ingênuo.
O gênio
Se acha
Mas não se encontra.
POEMAS DESCONJUNTADOS
Água2Zero
água natural
água mineral
água torneiral
água de beber
água molhada
água potável
água da fonte
água da bica
água de coco
água de colônia
água gaseificada
água doce
água salgada
água que passarinho não bebe
água oxigenada
água salobra
água cristalina
água tratada
água fresca
água filtrada
água pluvial
água fluvial
água rás
água viva
água-furtada
água líquida
água sólida
água gasosa
água insípida
inodora incolor
água na boca
água de batata
água turva
água benta
água do joelho
Carmen Miranda
banana prata
banana maçã
banana figo
banana da terra
banana frita
banana cozida
banana de pijama
banana d'água
banana ouro
banana pão
banana blue
banana boat
banana verde
banana madura
banana podre
banana nanica
banana de dinamite
banana split
banana pra você
Noz Moscada
nó de gravata
nó na garganta
nó de marinheiro
nó em pingo d'água
[pingo d'água
pouco d'água
copo d'água
cobra d'água]
nó cego
nó no serviço
nó bem dado
nó apertado
nó no peito
nó no nó
FIGURAS NAS NUVENS
Todas as Cores
amarelo com vermelho
uma fruta
vermelho com azul
uma flor
azul com amarelo
uma folha
a pomba
na teoria
o luto
na prática
vermelho com preto
a terra
vermelho com branco
outra flor
preto no branco
restos mortais
Uma Nuvem
avelu
mente
dada
dada
avelu
mente
dada
mente
avelu
mente
avelu
dada
avelu
dada
mente
O Duplo
as sombras
das nuvens
nas montanhas
o reflexo
das árvores
no riacho
o homem
sem reflexo
no espelho
o primata
sem sombra
no chão
puro espírito
a beleza
é terrível
ALGUNS HAIKAIS
Banquete dos Mendigos
Galinha preta
ao molho pardo
na encruzilhada.
Paradisíaco
praias desertas
horas incertas
mentes abertas
Nau
Navio pirata
Navio fantasma
Nau frágil
Você me Lava feito um Vulcão
Fogo na montanha
Lava no mar
Formações rochosas
O Náufrago
Canto de sereia
Cauda de baleia
Castelo de areia
Pretérito Imperfeito
Todo dia
O dia todo
O passado presente
GERAÇÕES EM CONFLITO
Geração Espontânea
Provo
o novo
ovo
do povo
Reprovo
o novo
ovo
do povo
Provo
e reprovo
o ovo
E desaprovo
o ovo
de novo
Geração X
guardei o rolex
no marmitex
passei lubrax
no jontex
enfiei tampax
no rex
cheguei ao clímax
no box
passei um fax
depois ajax
achei o max
o denorex
coloquei durepox
no duralex
passei durex
no sax
tirei xerox
do tex
jantei inox
com pirex
passei látex
no gálax
espirrei antrax
no fedex
e ganhei um tórax
mais sexy
A ALGUMAS QUADRAS DAQUI
o sorriso
amarelo
é um belo
aviso
na hora h
do dia d
a bomba h
no ponto g
gosto
do clima
de gustav
klimt
o sono
profundo
é o dono
do mundo
PÓ DE PIRLIMPIMPIM
aponta
a planta
na ponta
da ponte
e pinta
o poente
de pranto
só
se
sente as-
sim a-
cima do
sétimo
céu a-
quele
que
cai aos
ca-
cos no
caos do
chão de
cal
conta
e canta
quantos
plânctons
na planta
libélula lilás
belisca bétula
POEMAS LILIPUTIANOS
Fábula Verídica
Era uma vez
até que um dia
todos viveram felizes para sempre.
Sal na Lesma
A lesma passeia
construindo sua estrada
de diamantes
enquanto o encanto
inicial se esvai
no ralo sujo da memória.
A Mosca
A mosca tem várias visões do mundo
e eu não alcanço o seu ponto de vista.
E nem a avisto quando ela pisa fundo
e eu perco fácil fácil a sua pista
MADE IN PARAGUAY
charuto cubano
filosofia alemã
cinema americano
e a música brasileira
whisky escocês
tapete persa
perfume francês
e a seleção brasileira
porcelana chinesa
balé russo
tecnologia japonesa
e a mulher brasileira
VC
Você
liga a tevê
e
o quê
você
vê
?
Você
desliga a tevê
e
o quê
você
vê
?
Você
fecha os olhos e
o quê
você
vê
?
Você
!
REQUIEM
Quando eu morrer
quero que queimem todos os meus escritos
em praça pública, caso eu for mais um.
Morto não sente mais dores.
Quando eu morrer
não quero flores e nem quero velas,
não em minhas roupas ou no meu caminho.
Morto não enxerga cores.
Quando eu morrer
quero que queimem todos os manuscritos
em casa mesmo, caso eu for famoso.
Morto não derrama lágrimas.
Quando eu morrer
não quero caixão e nem ser sepultado:
quero apenas o meu corpo atirado ao mar.
Morto não respira mais.
Quando eu morrer
não quero que paguem as minhas contas,
pois quem paga deve ser sempre o devedor.
Morto não deve um tostão.
Quando eu morrer
não quero que chorem no meu velório,
pois só se chora por dor ou por culpa.
Morto não pede perdão.
EU POR MIM
Eu não combino comigo
Eu não pertenço a mim
Eu não vejo nada em mim
Eu sou o meu maior inimigo
Eu não caso comigo
Eu não preciso de mim
Eu não caibo mais em mim
Eu sou o meu próprio castigo
Eu não colaboro comigo
Eu não choro por mim
Eu não sou páreo para mim
Eu sou um modernista antigo
Eu não pareço comigo
Eu não esqueço de mim
Eu não transito em mim
Eu sou do tamanho do meu umbigo
Eu não sonho comigo
Eu não me escondo de mim
Eu não vivo sem mim
Eu sou um fantasma com vitiligo
Eu não durmo comigo
Eu não estou preso a mim
Eu não separo meu eu de mim
Eu sou o medo e o perigo
Eu não encaixo comigo
Eu não sou tarado por mim
Eu não piso em mim
Eu sou a sombra que sigo
Eu não misturo comigo
Eu não fujo de mim
Eu não me espelho em mim
Eu sou o que sou e nem ligo
Eu não convivo comigo
Eu não me sustento em mim
Eu não me perco de mim
Eu sou tudo o que eu digo
Eu não aprendo comigo
Eu não sou o oposto de mim
Eu não estou acima de mim
Eu sou o joio e o trigo
INÉDITO HOJE
Saio da janela e ligo a tevê
Novela rural
Mudo de canal
Comercial
Mudo de canal
Programa musical
Mudo de canal
Entrevista banal
Mudo de canal
Infantil fecal
Mudo de canal
Mapa astral
Mudo de canal
Telejornal
Mudo de canal
Hino Nacional
Mudo de canal
Mundo animal
Desligo a tevê e volto à janela
VARIAÇÕES SOBRE A MESMA TEIMA
i.
Deitado na cama
fumando no escuro.
Sem coberta e com frio,
coberto e com calor.
Baforando zeros do vazio
interior.
ii.
Eu
no centro da capital
e o interior
dentro de mim.
iii.
O tédio do interior
ou o tédio da cidade?
O tédio é interior
no campo ou na cidade.
O tédio é solidão.
O tédio é multidão.
O tédio do interior
ou o tédio da cidade?
O tédio é interior
em qualquer localidade.
Na praia ou no deserto
tão longe, tão perto.
Autor: Andri Carvão.
Um comentário:
Adorei as poesias de Andri Carvão, mas não poderia ser em doses? Tudo de uma vez só tira o fôlefo. Beijos!
Postar um comentário