Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



terça-feira, 8 de março de 2011

carne quase morta

Para R. Jacobina

não digo que isto me doa
nem que me seja novo não saber dor isto que me dói

— o que me dói é teu corpo:
este amontoado de gordura e carne que respira e vibra
este sangue lácteo que me espana o rosto como um leque

... tua mão está me riscando a coluna agora ou é uma foice?
são teus pés aqueles dois mísseis?

eu não queria saber a dor
pois nunca ma prometeram senão apenas prazer
mas o que é isto? toda esta dor que eu não reconheço
este corpo violado que se transforma em carne quase morta
não me disseram que seria assim, destrinchando...

— tens certeza de aquilo são teus pés?

eu só queria o sonho
(esse sonho aí que chacoalhas quando gemes tão alto
e que precipitas do alto de minha cabeça como se jogasses boliche)

tu não me respeitas: agrides-me com teu corpo
minha fantasia te implora piedade e tu a mastigas
minha fantasia te implora “não me mastigues” e tu a engoles

ah, por que dói tanto? engoles-nos a ambos?

sim. são teus pés. vês?
são tuas mãos. teus olhos.

este emaranhado de arame que me prende
e que me escalpela
são teus músculos.

quer que te conte o que eu queria? que te diga palavra por palavra?

... quando menino, eu gostava escondido cada parte de teu corpo como quem segreda
eu apalpava tua pele cinza, lambia teus braços — tua garganta era minha caverna
desde menino eu quis o teu corpo de homem
mas eu nunca soube teu corpo assim: Arma
eu queria ser teu homem para não ter de ser homem
pois só assim eu saberia esta dor prazer
e este prazer felicidade.

... entendes que te digo tudo
e que nada me resta na boca exceto certa forma de mudez?

— desde menino
meu único desejo
era gozar de meu prazer e de minha Morte
sob o arco obscuro de teu corpo.

Poema de Sodine Üe

Um comentário:

Jorge Medeiros disse...

Escandalosamente perfeito! Vou dizer mais uma vez, Felipe: TEMOS QUE REUNIR ESSE POVO TODO! Conto contigo. Grande beijo!