Manifesto do coletivo Pó de Poesia
O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.
Creia.
A poesia pode.
(Ivone Landim)
sábado, 7 de maio de 2011
Durante a chuva
um aguaceiro só. Sinal ligado, carro frio, vidros embaçados, mesmo com o
aquecedor dando tudo. Chove. Somem os buracos, os guardas de trânsito e os
meus passageiros. Nem um ponto onde parar pra tomar um café e papear com alguém.
Água sobre todas as coisas e intenções. Na frente do restaurante chinês, alguém acena,
apenas um vulto e a esperança de pelo menos, levantar o calcanhar da merda. Uma
mulher, morena, esguia, um casaco que não dissimula o corpão bem modelado. Ordena
aeroporto. Desligo o sinal. Finalmente ocupado, uma promessa de boa corrida, desde
que pinte um retorno, com um tempo desses. O retrovisor interno me oferece uns olhos
congestionados e duros, uma firmeza que se estende a um queixo decidido e belas
pernas, ainda molhadas de chuva, casaco aberto, mas jeito de pé atrás. Uma voz
tranquila pergunta se pode fumar; claro, o meu coração é de jesus e o pulmão da souza
cruz, há vinte e seis anos, respondo, em troca de um riso e do clique do isqueiro, um
zippo novinho, iluminando olhos negros, de uma beleza diferente, meio escandalosa;
algo de safadeza e orgulho, batidos num liquidificador, com meio copo de campari e
uma rodela de limão galego. Seguimos, rastreados pelo temporal em evolução.
Engarrafamos umas tres vezes; não basta a chuva, ainda existem as murrinhas que
parecem hibernar com o tempo frio e ficam bestando, sob um sinal de trânsito. Digo
um palavrão, peço desculpas, quando lembro que graças às murrinhas consigo espaço
nessa cidade louca e fica bem ser educado com uma mulher tão gostosa, tão perto e tão
distante de mim. À nossa frente, a avenida que leva ao aeroporto, um grande
piscinão,
de um lado a outro. Os maloqueiros já na espreita, sob as marquises, esperando os
carros estancarem, para a aproximação com olhar caridoso e risinho sádico, cobrando
vinte paus pelo auxílio luxuoso do empurra e da flanela esfarrapada para enxugar
sabe
Deus o que, além do meu bolso. Coço a cabeça, olho pra trás, tal um culpado desse
aguaceiro todo; sugiro pegar uma transversal, ela sorri dessa vez com a boca e os
olhos, negros, brilhantes, profundos como o rio do inferno, um dar de ombros como
resposta. Rodamos uns dois quilômetros, até esbarrar noutro rio de chuva, já com o
aeroporto à vista. Engato uma ré, mas ela pede pra parar. Pergunta o preço da
corrida,tira o dinheiro da bolsa, pega um revólver 38 do bolso esquerdo do casaco,
coloca
na bolsa, abotoa o casaco, passa o dinheiro, agradece, sai do carro e caminha pela
divisória das faixas de trânsito. A chuva diminui um pouco. Na calçada, as árvores
erguem seus galhos nus, como quem implora.
Conto de André Albuquerque.
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