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Em câmera lenta
subo a pequena escada
chego ao corredor estreito
de onde avisto uma intrigante
porta encostada.
Numa triste submissão
a uma força superior
caminho sem pensar em nada
em direção à porta encostada.
Porta feita de madeira marrom.
Marrom que lembra minha infância.
Não sei se querida.
Não sei se partida.
Não sei se perdida.
Empurro a porta.
Vejo um quarto.
O quarto é azul.
Um azul de vários azuis.
Azul-céu.
Azul-mar.
Azul-noite.
Azul-piscina.
Dentro do quarto
há uma cama.
Sobre a cama
há uma pessoa nua.
Por cima da pessoa
havia várias moscas a voarem.
Não sei se desnorteadas.
Não sei se mal-amadas.
Sentei do lado da pessoa nua
e ela me falou de coisas
que pensou, que falou,
que comeu, que bebeu,
que desejou, que amou.
E sem saber ela me conduziu a planetas desconhecidos,
me apresentou a seres bizarros,
me fez cheirar aromas finos,
provar pratos requintados.
Foi quando notei que eu também estava nú.
E que as moscas haviam se transformado em estrelas
que cairam exaustas no chão.
E a cama já não era mais cama.
Mas um pequeno barco a vela.
Vela que era pura seda,
puxada a vento que não existia.
E o quarto virava pura água.
Não sei se de mar, ou de rio.
Só sei que virou o barco,
nos fazendo nadar.
Nada
era eu
Paralisado diante daqueles acontecimentos.
E o que eu vivia se tornava puro sonho.
O que eu sentia se transformava em raiva.
Raiva que até hoje não passa
por eu ter conseguido me salvar daquele doce naufrágio.
Naufrágio que me fez esquecer o quanto eu sou real.
Mas tudo foi extinto como um vulcão.
E minha amada pessoa nua
agora era um personagem de ficção.
E meu saudoso quarto azul
um delírio de um jovem garotão.
Marcio Rufino
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3 comentários:
Que viagem enigmática, intensa...
Até eu me transportei para o quarto azul, o mesmo, que te levou a navegar no doce rio ou mar, que também eram azuis.
Adorei, nobre Poeta Divino Márcio Rufino.
Bj
Shalom.*
Você anda viajando muito heim! Acredito que sua maior viagem é a pura adrenalina de poesia. Parabéns pelo texto.
Jorge Medeiros
Se o quarto era azul ou não isso é um detalhe o que ficou foi o cinema do seu poema.Muito bacana camarada .Bjs e Tal.
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