Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



quarta-feira, 20 de junho de 2012

carochas, bicicletas & biplanos - 15

Oh, os poemas!... Há tanta coisa a dizer acerca dos poemas dos outros. O problema não são os poetas consagrados mas os amigos que fazem poemas. O que lhes dizemos? Como o dizer?
“- O teu poema é tão denso que não consigo lá entrar.” Por vezes é o que acontece, a densidade de uma vida num só poema. Um nevoeiro impenetrável. Um prodígio literário, mas inacessível. E por isso, inútil. Ninguém come um pão com a densidade de uma pedra.
“- O teu poema é tão mau que nem escrito por uma criança. Se uma criança o escrevesse pelo menos um pouco do seu maravilhoso mundo teria.” Um mundo naif verdadeiramente ingénuo e irreal. Fingir realidade com fantasia. Pretende-se dos poemas e dos poetas que sejam sábios a lidar com o impossível. Se não o são, para que servem?
“- Gostei do teu poema embora o não tivesse entendido mas os poemas não são para perceber, não é?” Um primeiro passo para um poema e um poeta entrar na nossa vida e deixar marca. Um poema só, não faz um poeta. Tudo pode acontecer a partir daqui, dar um passo em frente ou muitos para trás. Por vezes, um poema é muito, noutras vezes, nada.
“- Isto é um poema!?” Mas afinal o que é um poema? Reconhece-se e não se sabe porquê. Mas aprende-se a não saber.
“- Não percebi, um poema em prosa ou uma prosa poética? De toda a forma, cheio de bela linguagem.” Nada melhor que um poema cheio de bela prosa e até o contrário. Não há fronteiras. Há fronteiras. Mas não há fronteiras.
“- Gostei mas cheio de lugares comuns, metáforas belas mas muito usadas. Cheio de beleza mas muito dejá vu, entendes?” Entendo. Aqui o poema morre ou já vem nado-morto. É altura de desistir. Largar o poema à beira da estrada, para que os abutres o comam depressa.
“- Uma porcaria, desculpa!” Acabas de perder um amigo. E o mundo um poeta. O primeiro golpe é sempre incerto. Quantos maus poemas fez Camões até acertar? Os amigos das pessoas não são os melhores amigos dos poetas. Os poetas estão sós. Só assim sobrevivem.
“- Mais ou menos uma insignificância. Sem mensagem, sem mundo, sem gente dentro, confuso.” Um contra censo: se é confuso, alguma coisa contêm. Mesmo habitando um deserto.
“- Oh, os poemas que escreves! Penso cair num exagero mas escreves expressões tão ricas e belas que fazes avançar a Língua cem anos.” Assim como Herberto Helder. E nós, em divida com ele. Saldamo-la, lendo-o.
“- Tanto dia a dia e tanta melancolia. Fica registado os nossos piores momentos nas tuas palavras. Dói ler-te. Mas não deixamos de o fazer.” Uma grande crítica a um poema. Poesia desta lê-se e ouve-se em dezenas de bandas rock, mesmo que não saibam escrever. A catarse pura sempre alimentou a poesia. Enfurecendo-a. Matando-a. Mas pondo-a a mexer. Espécie de big bang criativo e não ocasional ou caótico, se é que isso existe.
“- Desculpa lá, sei que gostas de poemas de amor mas gostavas que alguém te dissesse ao ouvido o que acabaste de escrever? Gostarias de viver esse amor como o descreves? Ou fugirias a sete pés? Então, porque escreves sobre isso…” O amor essa forma de ódio. Um bom poema de amor parece sempre uma coisa fácil de fazer mas impossível de o concretizar nós próprios. Coisa de poeta a sério. Poema de postal para oferecer a quem está doente ou em qualquer outra ocasião tradicional isso sim está disponível ao homem que conduz o arado, a mim e a ti, a todos.
“- Faltou-te o fôlego a meio, não foi? O teu poema tem o ritmo de uma locomotiva endiabrada ou duma banda speed metal enlouquecida. Se não consegues manter o ritmo, tu que escreveste, como haverá o leitor de o fazer? Coloca-se a questão, porque fazer um poema que ninguém consegue ler até ao fim, porque tem uma síncope a meio? Mantem o ritmo elevado mas faz pontuadas pausas assim como numa canção. Podemos aqui aprender algo com o Howl do Ginsberg, eu sei que aquilo é difícil de digerir mas um portento de ritmo elevadíssimo.” Está tudo dito, ou não dito.
“- Chamas poema a isso? Eu chamo: uma nódoa. Lê-se como forma de a apagar e eliminar.” Assim se lê um poema ou um livro que queremos apagar da nossa memória futura, rápida e velozmente. E depois oferece o livro. A outro e não ao mesmo.
“- Oh, que poema tão rude e cheio de negatividade! Mas verdadeiro, é tudo verdade embora chutado na cara do leitor. Vai sobreviver, penso.” Pedaços de Bíblia na ponta dos nossos dedos. Diz lá que não queres, registar assim o teu mundo todo?
“- Nunca li um soneto tão belo. Métrica perfeita e cada palavra no sítio certo. Como conseguiste?” Como foi Shakespeare, Vasco Graça Moura ou Florbela Espanca?
“- Lançar tanto vernáculo sobre um texto é como estragar uma caldeirada com malaguetas a mais. Ninguém a vai comer. Lamento. Um pouco menos, por favor.” Ninguém é Bukowski excepto o próprio. Repetir aquilo é impossível e fica muito mal. Só ele sabia. Sorry!
“- Escreves sempre o mesmo poema. Mas cada vez melhor. Acho que nunca vou deixar de te ler.” Será um poeta? Um autor? Estima-o e não o adestres. Não pode haver melhor opinião.
“- Surpreendes-me sempre. Mas hoje não. Igual. Igual.” Injusto. Até Camões chateia em certos dias de chuva e soleira quente cá dentro.
“- O teu poema é um denso pomar com tanta árvore que para colher uma simples laranja cansa tanto que não voltamos a repetir. Poemas complicados mas descartáveis. Para se ler uma única vez e cansam que se fartam. Mais um pouco e deixarei de ler poesia. Qualquer poesia.” Vai e desiste. O valor do poema é que nos ensina a desistir e a voltar. E a desistir outra e outra vez. Ensina-nos a cair, e quem disse isto? Vai e pesquisa. Quem o disse tem mais para ensinar.
“- Poema negro como a morte. Difícil de esquecer. Uma estocada na alma.” Digamos que pensei em Poe. E em dezenas de seus discípulos. Todos de negro e nevoeiro. Dylan Thomas é uma negritude á parte.
“- Oh, Camões mais Camões! Socorro!...” O problema do nosso maior poeta é o que se faz com a sua poesia, sufocando-a e repetindo-a à exaustão, quer para fins políticos ou publicitários. E ele, bardo incorrigível a tudo sobrevive. Mas dói a forma como é utilizado.
“- Oh, Florbela Espanca mais Florbela Espanca! Socorro!... Não posso ficar com uma só, a original?” Aprende-se a falar mal dela e aprende-se a imitar o que é impossível às centenas. Ai se ela soubesse a horda de seguidores, neste caso de seguidoras, era poetisa para fazer um belo soneto acerca disso. Acredito que era.
“- O teu poema transtornou-me. Marcou-me. Vou ter de o ler várias vezes. Posso demorar anos.” Talvez Poe outra vez. Dylan Thomas é outra coisa mas se calhar aplica-se também. Afinal em que ficamos?
“- Não consigo classificar o que escreveste. E não consigo parar de ler.” Um passo para outro passo e a seguir mais um passo e fica-nos a poesia entranhada, sem sabermos porquê.
“- …” O silêncio diz tanto.
“- Perfeito no sentido de que me fez escrever poemas. Se um dia escrever um poema que seja, como resposta ao teu poema, então não me importo que me chamem isso: escrevinhador de poemas ou…” António Ramos Rosa e o seu funcionário cansado, faz-nos pesar a alma, lá no escritório, lá na firma cheia de Kafkas.
“- Nunca li um poema como este. Nunca.” Nunca. Nunca.
“- Um poema tão longo quanto o cosmos. A tua respiração faz pensar numa qualquer ideia de eternidade. Como um solo de John Coltrane.” São poucos os poetas com esta respiração longa e feliz, intensa e incansável. Fora os poemas de amor, Neruda é um poeta assim. E por isso vive para sempre. Mas não dá para ler com Coltrane como fundo. Poema em cima de poema é uma espécie de caldeirada picante de mais para ser ingerida. A menos que se separem os diversos elementos e o vinho seja bom.
“- Eu queria viver esse teu haikai. E ficava lá.” Um bom haicai é um lugar para se viver a vida toda. E nunca mais o abandonar. É ou não é, mestre Bashô?
“- Poesia, mas o que é poesia.” Lamento mas não tenho opinião a dar. Ignorante - eu sou.
(Jan. – Jun. 12)

Autor: Carlos Teixeira Luís

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