Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



quinta-feira, 21 de junho de 2012

carochas, bicicletas & biplanos - 18

Estórias (antigas e esquecidas) ou histórias cuja banalidade dos dias seja reconhecida? Há uma ideia que sai viva da ideia por detrás destes blogues que terminei em 2010, uma ferramenta para mostrar as pequenas histórias que me vão surgindo por entre os dedos das mãos.

E agora:

(Novas) Histórias do Deserto by Carlos Teixeira Luís

Histórias do deserto, porquê?

Talvez tivesse uns 19 anos na altura, trabalhava num segundo andar numa sala nos fundos dum andar com escritórios onde havia uma janela para um canto na Praça dos Restauradores em Lisboa. A vista não era muito nobre, via-se a caca dos pombos nas janelas fechadas dum velho hotel, caca dura como cimento de décadas onde os pombos faziam inclusive os seus ninhos. Esse hotel histórico veio a ser restaurado e a imagem suja e decadente dos pobres pombos foi anulada mas não da memória. Foi a olhar por essa janela fechada que nunca se abria por causa do som ensurdecedor do trânsito e da curiosidade ágil dos mesmos pombos que ia inventando histórias para não enlouquecer. Trabalhava numa espécie de depósito duma multinacional de óptica ali perto da baixa de Lisboa, onde o meu trabalho consistia em atender telefones, gerir o stock de lentes oftálmicas e fazer colorações em lentes graduadas para óculos de sol. Colorir lentes era um trabalho estranho, rudimentar e repetitivo. Mas era bom neste tipo de serviço, sustentado por um pequeno rádio e leitor de cassetes onde ouvia sem parar a minha escolha musical que me levava o espírito longe dali. Por vezes, lia às escondidas, quando fazia os degradés que consistiam em segurar as lentes numas pinças de aço e com um movimento calculado do pulso, mergulhá-las numa solução de água e químico com cor, numa das tinas de metal aquecidas a óleo. Respirar aqueles fumos diariamente durante 8 a 12 horas deixou uma marca na minha saúde. Lia e fazia isso ao mesmo tempo, escondendo o livro assim que chegava alguém. Trabalhava incansavelmente ultrapassando todas as dificuldades, nunca dizendo não a qualquer desafio. Ficava até às dez da noite, quando o trabalho apertava, não recebendo por isso. Suando as estopinhas. E sonhando acordado. Com histórias do deserto. Metáfora profunda duma condição social e pessoal.

Logicamente um tempo de imensa e profunda solidão e desencanto. Que não tinha nada que ver com a falta de gente à minha volta. Mas uma solidão melancólica que vem de dentro, sem aviso. Soube-o mais tarde, sem remédio.

Jun. 12

 
Autor: Carlos Teixeira Luís

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