Manifesto do coletivo Pó de Poesia
O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.
Creia.
A poesia pode.
(Ivone Landim)
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
NOITES LONGAS SEM LUAR
NOITES LONGAS SEM LUAR PARA OLHAR
Tenho dormido cedo
Pois sei que não estará
Onde eu poderia te encontrar
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
A mulher de hoje em dia

Traição: Enganar perfidamente, atraiçoar/ Faltar ao cumprimento de/ Revelar/ Deformar, não traduzir com fidelidade/Não ajudar, abandonar/Denunciar-se por imprudência: comprometer-se; desnudar o pensamento.
A lua estava deslumbrantemente linda naquela madrugada de segunda para terça, quando eu e meu amigo, o poeta e sociólogo Henrique Souza saímos do Sport Club Iguaçu na festa de aniversário do cantor e compositor Daniel Guerra e caminhamos até o centro de Nova Iguaçu. Quando chegamos na Otávio Tarquínio, Henrique tomou seu rumo e eu segui o meu olhando para a lua cheia, imponente, inteira, poderosa, resplandecente; luzindo na escuridão enigmática do firmamento. Hipnotizado como eu estava por aquela lua, se viesse um ladrão me roubar eu nem me daria à mínima conta disso. Mas a baixada, graças à Deus, ainda é um pedacinho de Rio de Janeiro onde ainda se pode respirar um mínimo de liberdade ingênua no caos urbano do cotidiano.
Quando cheguei ao ponto para pegar a kombi que me levaria à Belford Roxo, vi parado ali um lindo casal de jovens negros abraçados se beijando apaixonadamente. Seus braços, lábios e coxas se articulavam e interagiam de forma tão harmoniosa que pareciam querer fundir-los em um só como numa experimentação alquímica. Para uma madrugada sedutoramente enluarada como aquela, não poderia existir cena que viesse a calhar melhor.
- Que horas você vai ligar pro meu celular? – Perguntou ela num frenesi.
- Lá pra de tarde! – Respondeu ele num sorriso sem-vergonha de sátiro do bosque.
Enfim a kombi chegou. Como o casal demorava a se entreter no sensual entrelace, tomei a liberdade de ser o primeiro a entrar. Alguns sedentos e calientes minutos de pegação depois, a moça se despediu do rapaz entrou na kombi e sentou-se completamente relaxada na poltrona a meu lado.
- Ai, meu Deus! Quando eu chegar em casa meu marido vai me matar! – Disse ela num sorriso puro de menina sapeca.
Eis que surgiu em mim um sutil choque.
- Ah! Você diz à ele que estava fazendo serão até mais tarde! – Respondi cínico.
- Mas eu não trabalho não, moço! – Respondeu-me num ar escorregadio. – Tô na rua desde às 18:00. Tô aqui só imaginando a cara dele quando chegou em casa e viu as crianças sozinhas sem eu lá.
Quase que eu gritei: ”sua semvergonha, vagabunda. Você não tem vergonha na cara, sua cachorra?”.
- Hoje em dia o homem aceita tudo de uma mulher bonita como você! – Acabei falando amigavelmente.
- Que nada! Quando eu chegar lá em casa vou encontrar minhas coisas na calçada. Aliás! As minhas não! As dele! O quintal é meu!
Quando a kombi chegou no bairro Heliópolis ela pediu para o motorista parar no próximo ponto. Chegando lá.
- Tchau, moço!
-Tchau, gata!
E ela desembarcou, atravessou a rua e seguiu adiante levando consigo, como um anjo que leva sua auréola, aquela bela, rechonchuda e iluminadíssima lua cheia daquela arrebatadora madrugada.
Marcio Rufino
Todos os direitos reservados
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
domingo, 26 de dezembro de 2010
CORTES DE VINIL ARRANHADO ABAIXO DA LINHA DA CINTURA
CORTES DE VINIL ARRANHADO ABAIXO DA LINHA DA CINTURA
Todas as enchentes
Já foram anunciadas
Noticiadas
As angústias e suas casas, desabadas
Soterradas
Enquanto louvavam o deus da multidão
Mídia solidão
Sexo livre da comunhão
Paradoxal
Antes do verbo
Da anunciação
Da aceitação
Ou da comida como negação
Na contramão
Da partida de futebol
Esperando o gol que não se faz por merecer
Olhos na tv
Que não lhes vê
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Feliz Natal a todos do "Pó de Poesia".
Que a paz acolhedora de Cristo reine em seu lar,
Que a união ao redor da mesa seja verdadeira e recíproca,
Que haja reconciliações se preciso,
Que perdões sejam liberados para liberdade de nossa própria alma.
Mas é difícil!... As pessoas vivem ocupadas correndo daqui, pra lá...
Então aproveitemos essa data separada para nos achegar uns aos outros,
Com o mesmo amor que nos foi liberado, o amor de Deus.
Que possamos ser um, sempre!
NATAL E CINZAS (Arnoldo Pimentel e Silviah Carvalho)
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Sergio e Maria Rita

Casal sm 1. Par composto de macho e fêmea, ou homem e mulher. 2. Par formado para a dança.
Sérgio tinha 27 anos e Maria Rita 13 quando se casaram. Os dois estavam prometidos um ao outro desde o nascimento de Maria Rita. Ela, ingênua, sem fazer idéia do que aconteceria, chegava até a pedir a benção ao belo rapaz negro quando era menina. Qual não foi o tamanho do susto quando ela, também negra, soube do casório programado para o dia seguinte. Mas como casal é a afirmação de uma aventura insólita no absurdo involuntário do desejo e da paixão que transcende até as diferenças de sexo, ela - com pavor, curiosidade, interesse, vergonha, medo e ímpeto - não teve outro remédio senão aceitar.
Casaram, vieram os filhos; os cinco primeiros morreram de febre amarela, mas depois vieram mais doze. Desses seis também morreram. Vingaram seis. Depois de morarem em alguns lugares, compraram um terreno enorme com uma bela casinha e ali plantaram várias frutas, legumes, verduras e cultivaram várias plantas e ervas para chás, enfim, cumpriram o papel, a função primitiva dos pares que procriam, que geram, que semeiam. Sérgio foi trabalhar na Companhia das Águas e Maria Rita foi lavar e passar roupa para fora para pagarem o terreno. Os filhos cresceram e casaram. As festas, os perus e leitões assados, as bebidas, o som do calango tocando a noite inteira. Era um casal muito festeiro, que sabia celebrar a vida com os parentes e amigos.
Quando nasciam os netos, a própria Maria Rita era quem fazia os partos e cuidava de perto dos resguardos das filhas e das noras e dos umbigos dos bebês. Com seus mistérios sabia calcular o dia e a hora em que os bebês foram concebidos. Mas nem tudo foram flores. Sérgio tratou de honrar a tradicional, cultural e imatura macheza ao arrumar uma amante entre as vizinhas amigas da esposa, freqüentadoras das festas em sua casa. Seu nome era Laura e ela se encontrava furtivamente com Sérgio perto da estação de trem. Maria Rita suportou tudo calada, mantendo a dignidade de uma dama do lar, de uma matrona austera em sua indignação. Só que Laura adoeceu fatalmente e vendo em sua doença um castigo, agonizou aos gritos em sua casa, pedindo, implorando o perdão de Maria Rita. Esta, cristã, perdoou em oração a rival que pôde se despedir deste mundo em paz.
As coisas não iam muito bem para Sérgio. Já idoso parecia estar variando da mente. Depois de uma violenta discussão, bateu em Maria Rita. O netinho João Renato ao ver tudo começou a berrar. Sérgio se irritou e voou no pescoço do menino tentando estrangulá-lo. Maria Rita tentava salvar o neto das garras do insano avô e só conseguiu depois de acertar a cabeça do marido com um pedaço de pau. Internam Sérgio numa clínica. Lá levam frutas e biscoitos que ele se nega a dividir com os companheiros de quarto. Estes, para se vingarem, numa noite cegam os olhos de Sérgio com um estilete. Daí Sérgio vai definhando até morrer.
No dia do enterro, quando chega em casa, Maria Rita vê Sérgio olhando-a debaixo da mangueira do quintal. O fato se repete na missa de sétimo dia. A viúva vai até o centro espírita do médium Zé Moreno e lá fica constatado que Sérgio, antes de adoecer, enterrava uma caixa de dinheiro que vinha economizando à sombra da mangueira do quintal da casa. Só depois que Maria Rita desenterrou a caixa de dinheiro que ela nunca mais viu o finado marido em toda sua vida que também se findou vinte anos depois.
Sérgio e Maria Rita formaram par para dançar a estranha e louca dança da vida. A dança cujo os passos não se aprende. Eles surgem e seguem por si só, involuntários, efêmeros, inesperados. Às vezes tropeçando em uns, jogando outros para fora do salão. Dança em que não se sabe quem dança bem ou dança mal. Apenas se dança, já que não há como não se puxar ou ser puxado para dançar; pois estamos todos juntos nesse embalo frenético e cíclico da condição humana onde você não dança com o que tem, mas com o que pode. Eu sou uma das coisas que resultou dessa dança. Pois Sérgio e Maria Rita, meus queridos leitores, eram meus bisavós.
Marcio Rufino
Todos os direitos reservados
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Espírito de Natal

Todo fim de ano
Surge esse clima
Misterioso e nostálgico
Lembranças da infância
Dolorosas recordações
Cheiro de bolinho de bacalhau
De Mãe Paula
Sons de gargalhadas
E risos efusivos
Do último natal com papai
Natal comm brinquedo
E com mesa farta
Presença de vizinhos e amigos
Lembranças, lembranças,
O que ficou em mim
E nos meus
Foi a naturalidade
E a simplicidade
Do olhar terno e doce
De minha mãe
Que irradiou em nós
E justificou
Que o verdadeiro
Sentido de natal
É o amor que carregamos
No peito, mesmo sem jeito,
Mesmo choroso, mesmo doloroso,
E cheio de siginificados
E dignidade.
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Quando chove
A dor dobra aqui dentro
Nesse meu apartamento,
Nesse leito descompassado
Do meu peito?
Jorge Medeiros
Brasil 500 anos de escravidão e opressão
Os índios escravizar
Não conseguiram
Então foram na África buscar
Negros e mestiços
Para explorar
Veio também a opressão
Junto com a escravidão
Não respeitavam os sentimentos
Os opressores não tinham coração
Fizeram uma falsa liberdade
Mas na realidade
Continua tudo igual
O rico cada vez mais rico
O pobre cada vez mais pobre
Desde os tempos de Cabral
E hoje em dia
Com a mesma dinastia
Continua a escravidão
Preto ou branco
Para ser franco
Mal come arroz com feijão
Com um salário de fome
Ninguém segura o ómi
Ele bota pra ferver
o pobre coitado
Se não tiver Deus do seu lado
Vai ter que padecer
Hoje a escravidão é disfarçada
Com essa política desgraçada
Política boa pra otário
Entra ano e sai ano
Está sobrando
Mês no nosso salário.
Adelino Filho
(Jorge medeiros apresenta mais um poeta do povo belforroxense)
1º, 2º e 3º Pré-lançamento da Bagagem de Mão do poeta Jorge Medeiros
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Pequena homenagem
Num início de tarde de dezembro
Um calor de terceiro milênio
Apocalíptico
Recebo a fúnebre notícia:
-Professora de trinta anos de magistério
Faleceu em setembro
Na estação das flores...
A escola não fechou
Não houve divulgação
Na Rede de Ensino de São João
Se houve choro e velas,
Não sei...
O respeito se esvai a cada momento
Mais uma professora que foi...
E logo logo colocaram outra
Em seu lugar!
Mas como ela não haverá!
O que fica? O que a enaltece?
As vidas que foram abençoadas
Pelo seu educar,
Professora Dilma, querida!
Que Deus esteja contigo!
Descanse em paz!
Jorge Medeiros
(Homenagem à professora Dilma Dias de Queiros - E.M. Francisca Jeremias - São João de Meriti)
domingo, 19 de dezembro de 2010
Texto
Febril e mudo
Num dia grávido
De ardor e pressa.
És nau sem mastros
Dos vãos e ruas
De esquina e beco
No oblíquo muro
Que torna tudo
Um texto em braile,
Um caos de casas
Em mil vielas
Também caóticas,
Estranho texto
De origem bárbara
E lido só
Por quem habita
As tais vielas,
Os tais casebres
Que, em meio à rixa,
Disputa e socos,
Procuras sempre,
Acerca deles,
Tal qual filólogo,
Tal qual legista
Baixar juízo
Que acalme angústia
De quem não lê
Esquiva língua
De corpo vivo,
Feroz, barroco.
Portanto, lê-lo
Num breu terrível,
Cruzar seus lares
E tantos mares,
Sem mastro ou lentes,
Te deixa assim,
Tão só, perdido,
Sem luz, no muro
Atrás de porto,
Verbete ou livro
Que te traduzam
Tecido raro.
Porém, encontras
Fuligem densa
E vil desordem,
Estranha língua,
Bravio corpo
Que só entendes
No teu silêncio
De noite e eco,
Perdido algures.
O que desejas
É tão somente
Rossio calmo,
Profundo e largo,
Em que tu possas
Achar abrigo,
Remanso tênue
De estio e noite
Que o fero pego
Converta enfim
Em rasa poça,
Mar seco e manso –
Cidade, língua
E um corpo lasso,
Que te revelem
Ser que reluz:
Canto e amavio.
Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.
sábado, 18 de dezembro de 2010
NUDEZ ESCONDIDA ATRÁS DO ARBUSTO (FELIZ NATAL)
NUDEZ ESCONDIDA ATRÁS DO ARBUSTO
Poema livremente inspirado no poema de Fabiano Soares da Silva
A mãe pegou o menino pelo braço
E disse:
-Vamos ali
Puxou-o carinhosamente
Atravessou a rua
Entrou no bar
Colocou-o atrás do balcão
Para trabalhar
E disse:
Seu lugar é aqui
O menino depois de adulto lembrou:
Infância eu nunca tive ou vi
Nesse tempo acho que morri
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Ah...
Tapete carmesim...
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
A vida é bela
Infinitamente mais bela
Mesmo vendo sujeiras e estranhezas por aí
Mesmo sem ter companhia no leito
Mesmo sem meu peito sentir dor de amor.
A vida é surpreendentemente mais bela,
A todo instante, a toda hora,
Mesmo com cobranças de filho
Mesmo com o rugir do leão do imposto
Mesmo com sutis falsidades alheias.
A vida é bela por tudo o que vejo
Por tudo o que toco
Por tudo que cheiro
Por tudo o que como
Por tudo o que ouço.
A vida é simplesmente bela
Pois pego tudo isso
Misturo no copo do liquidificador
Depois engulo como vitamina.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Jorge Medeiros, poeta da busca. Através de seus versos o poeta pontua suas inquietações a respeito de si e de suas relações sociais.
Reflete suas vivências de encantos e desencantos com a inteção de decifrar suas matáforas mais íntimas.Trazendo os versos do poema para dentro de sua centralidade. Mas,para isso, procura, antes de tudo,compreender a periferia que o cerca na sua ação pedagógica,sem impor qualquer didática rígida na sua contrução poética.
Não é prisioneiro de verdades alheias. E sem se preocupar com o tempo ,busca seu caminho trilhando-o com seus próprios passos, e não querendo que o digam para onde deve ir.
Ivone Landim
Professora de lite.ratura/Poeta/Fundadora do Grupo Pó de Poesia ,do Zine Enre Linhas e o Grupo de Gênero Fulanas de Tal.
Mais Jorge Medeiros e seu livro Bagagem de Mão
Descrever um pouco do que é a obra de um autor que é apaixonado pela arte,é como descrever sua alma. A alma cheia de amor de Jorge Medeiros, encontra na poesia um canal fluídico para se destilar,seu ser ,seu crer,sua sina de homem.
Aos pouco seus textos foram se tornando mais do que o reflexo do seu grande entusiasmo pela poesia e as diversas formas de arte. Suas poesias passam a ser sua "Bagagem de Mão' Para descrever a vida. Um ser que faz questão de afirmar que a vida é melhor por ter amigos,que faz amigos de peito aberto,sem preconceitos e sem ânsia de ter mais, só uma busca de dar-se mais,sendo mais.
Neste passo decidido de lançar suas obras,mostra assim também sua inquietude, e o termo de urgência que se instala , não em mostrar-se, mas em dividir-se, para nós.
Sua poesia é fala direta,linha reta,curvilínea e inexata. Sua poesia urge sem intenção, mas por situação.Não tenho dúvidas em dizer que em seu livro Jorge Medeiros mostra um pouco de como a gente faz o mundo melhor,começando pelo nosso mundo. Fazendo o que a gente acredita com amor, a partir deste momento já estamos vivendo um pouco melhor.
Porém vamos reforçar este convite, sigamos a ler e passear pelo mundo desse ser, pegando carona em sua Bagagem de Mão,e chegando mais perto da alma desse poeta.
Giano Azevedo
Professor de Educação Fisica/ Psicólogo/Poeta(faz parte do Pó de Poesia).
sábado, 11 de dezembro de 2010
Esfinge

Cofre mudo de aço e espelho,
Quem irá te interpretar
Os códigos e os segredos?
Refletes prédios e carros,
Árvores, gentes e cúpulas,
Mas quem pode ser o espelho
Do espelho em si refletido?
A que Édipo te propões,
Se não há quem te refrate
Nesta manhã tropical?
Se não há quem te decifre
Nesta cidade de enigmas
A refletirem-se em ti?
Tua estrutura de vidro,
De aço e de viga em espaço
Exposto à luz litorânea,
Sobre corpos quase nus,
Não revela teus segredos,
Não revela qualquer vão,
Tua hermética nudez,
Nem descuido de janela
Descerrada por acaso
A ferir a geometria
Regular de tuas linhas.
Apenas à noite deixas
Entrever teus escritórios,
Uns parcos interiores
Já de cripta e desertos,
Sem as gentes que de dia
Tu enclausuras com mistérios
Invioláveis aos de dentro
E aos de fora amalgamados
Pela forma e arquitetura
Especular do edifício
A representar a efígie
Pelas estradas e escadas
De nossa vida diária.
Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
QUERER
QUERER
Seu beijo molhado
Suado
Acendeu o amor
E o desejo
Que tenho
Por você
Desejo de te ter
De beijar seus seios
Seus caminhos
Na meia-luz
Do querer
Sentir o luar
Clarear
Seu corpo
E te olhar
Te amar
Com todo meu querer
Até amanhecer
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Blog da Oficina Literária Teu Cenário é uma Beleza
http://teucenarioeumabeleza.blogspot.com/
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Tudo

“...A poesia em minha vida é tudo, foi a maneira que encontrei de enlouquecer sadia, falo de mim de forma ruim, boa, gostosa...
domingo, 5 de dezembro de 2010
Trocadilhos
uma nova aurora
que me apresentou
aos olhos
novas imagens
que jamais serão
turvas
as poeiras sacudidas
por veículos
e vendavais
faz sentido e barulho
na dança
e no canto
do solitário pataxó.
E me recordo
e me amplio
na poesia que veio do pó
e ao pó me levará.
Jorge Medeiros
sábado, 4 de dezembro de 2010
Casamento

Meu casamento
É como o vento;
Soprou faceiro
Levou as folhas
Da solidão
Que neste pátio
Do ser no escuro
Se acumulavam
E bichos davam...
Me trouxe então
Um roseiral
De um altiplano
Americano
De rosas cheio
Que pouso fez
Nos átrios meus
Pra florescer
No alvorecer
De claro dia
Ao himeneu
Do nosso amor.
Não há mais bichos,
Não há mais ursos
Que após o sono
Despertam sós.
Mas passarada
Que canta assim:
“Casar é bom
Com quem amamos,
Pois traz um dia
Alvissareiro
Que só promete
Fortuna e sorte”.
Então feliz
Eu saio ao pátio
Co’a tua mão
Na minha mão
Pra contemplar
A ação do vento
Que as folhas secas,
Sem direção,
Pra longe as leva,
Bem como aos poucos
O roseiral
Vai desfolhando,
Até deixá-lo
Desnudo a um céu
Que nos contempla
Indiferente.
E vem a noite
E agora nus
Nos recolhemos
Enfim sabendo
Que a condição
Do ser no mundo
É a da falta,
É a do pátio
Sem roseiral;
Por isso, vem,
Do pátio nua
Amar-me mais
Se inda puderes!
Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
HAIKAI (Silviah Carvalho)
HAIKAI
Autora: Silviah Carvalho
www.silviah.net
umcoracaoqueama.blogspot.com
Hoje só tem os discos
A lembrança da timidez
Voltou outra vez
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
DIÁRIO DE BORDO
DIÁRIO DE BORDO
Autor; Arnoldo Pimentel
Eu hoje poderia apenas estar lendo meu diário
Diário de bordo
Poderia estar vendo onde naveguei
As pessoas que amei
Montanhas que escalei
Quem sabe pegasse emprestado uma linha do tempo
Para medir as palavras que foram soltas
Para escrever meu diário
E esquecer meus aniversários
Meu diário que não foi escrito só tem lembranças
Lembranças do ônibus inventado na varanda
Dos sonhos coloridos na infância
Do amor que não foi vivido quando nasceu
Que deixou saudades quando morreu
Da dormideira na beira da estrada
Que só porque toquei, ela encolheu
Hoje eu poderia estar lendo meu diário de bordo
Dia após dia sempre a mesma filosofia
Acordar
Sonhar e ver o tempo passar
Esperar o mundo se acabar
Esconder-me no diário do meu mar
Eu hoje poderia estar apenas lendo meu diário
Folhear as páginas da vida que não aconteceu
Lembrar da noite que assisti
Audrey Hepburn em “A flor que não morreu”
Antes do dia já esquecido que nasceu
E não floresceu
Devagarinho...
domingo, 28 de novembro de 2010
Tempero ideal
Mesmo não estando em dezembro
Desfruto do degustar
os sabores, os saberes,
a simplicidade, a felicidade
do tempero familiar.
Jorge Medeiros
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Flor de Cravo...
Meus pés alvos tenho-os banhado com unguento
Para tirar todo o odor da inveja e da peleja.
As velas que velam contra mim,
Que o vento forte as apague, desviando-as de mim.
Quando eu olhar para a vida
Que meus olhos sejam margaridas.
Plantando flores e colhendo amores.
Traçando o gozo íntimo inefável.
Minha boca é rubra de seda
Cuja língua é gentileza mas sabe ser fel com grandeza.
Rejeito todo o olhar envenenado de fúria.
Estou a caminho dum regaço, me faço flor de cravo.
E Toda boca, todo olhar, toda mente, que tenha por mim afronta.
Fique muda, fique cego, e perca a memória.
((( Camila Senna )))
Tecelã
Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Poema Pardo
que não vim do útero da senzala
e não tive uma afro infância
Dizem que as linhas dos meus versos
não foram traçadas pela chibata
que estou fora do Queto
Dizem que minha Aruanda
é minha Atlântida imaginária
Por isso trago a escrita nômade
parda e ordinária...
Dizem que sublimei o odio do sinhô
que meus versos sincretizam
sem o purismo e a virgindade da
raça...
Dizem que meu Okê Cabloco
não tem as flechas de Oxossi
E que a Mãe Oxum é por demais
açucarada...
Dizem que meu São Jorge não é
aceito pela espada de Ogum
Logo não terei uma afro velhice
morrerei sem pátria, pálida ,parda
e nômade...
Contudo Oxalá editou meus versos
domingo, 21 de novembro de 2010
O Quarto Azul

Em câmera lenta
subo a pequena escada
chego ao corredor estreito
de onde avisto uma intrigante
porta encostada.
Numa triste submissão
a uma força superior
caminho sem pensar em nada
em direção à porta encostada.
Porta feita de madeira marrom.
Marrom que lembra minha infância.
Não sei se querida.
Não sei se partida.
Não sei se perdida.
Empurro a porta.
Vejo um quarto.
O quarto é azul.
Um azul de vários azuis.
Azul-céu.
Azul-mar.
Azul-noite.
Azul-piscina.
Dentro do quarto
há uma cama.
Sobre a cama
há uma pessoa nua.
Por cima da pessoa
havia várias moscas a voarem.
Não sei se desnorteadas.
Não sei se mal-amadas.
Sentei do lado da pessoa nua
e ela me falou de coisas
que pensou, que falou,
que comeu, que bebeu,
que desejou, que amou.
E sem saber ela me conduziu a planetas desconhecidos,
me apresentou a seres bizarros,
me fez cheirar aromas finos,
provar pratos requintados.
Foi quando notei que eu também estava nú.
E que as moscas haviam se transformado em estrelas
que cairam exaustas no chão.
E a cama já não era mais cama.
Mas um pequeno barco a vela.
Vela que era pura seda,
puxada a vento que não existia.
E o quarto virava pura água.
Não sei se de mar, ou de rio.
Só sei que virou o barco,
nos fazendo nadar.
Nada
era eu
Paralisado diante daqueles acontecimentos.
E o que eu vivia se tornava puro sonho.
O que eu sentia se transformava em raiva.
Raiva que até hoje não passa
por eu ter conseguido me salvar daquele doce naufrágio.
Naufrágio que me fez esquecer o quanto eu sou real.
Mas tudo foi extinto como um vulcão.
E minha amada pessoa nua
agora era um personagem de ficção.
E meu saudoso quarto azul
um delírio de um jovem garotão.
Marcio Rufino
Todos os direitos reservados
sábado, 20 de novembro de 2010
MEU CARRO E EU (Arnoldo Pimentel e Rodrigo Souza)
Arnoldo Pimentel e Rodrigo Souza
Não importa a velocidade que está o carro que dirijo
Se o pára-brisa estará rachado ou não
No fim da estrada que percorremos
O que importa é se estaremos vivos
Mesmo indo pela contramão
Mesmo que as placas digam para não avançarmos
Nós as ignoramos porque podemos tudo
Nós ultrapassamos as barreiras, excedemos as emoções
Mas que no fim da estrada estejamos vivos
Para contar minha história
Para alguém filmar uma curta metragem
Ou escrever um livro, um panfleto
Sei lá o que, para esquecerem no banco do trem
Depois da viagem
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
ASA DELTA
ASA DELTA
Se o sol brilha
Quero você ao meu lado
Quero você inteira
E não em pedaços
Se o céu é cinza
E a chuva é fria
Quero te abraçar
E te aquecer
Tudo esquecer
Você é a asa delta
Onde me agarro
E salto num vôo livre
Enchendo meu vazio
Sobre as praias do Rio
Se é noite
Quero amar você
Até adormecer
Sem ver o sol nascer
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Nova têmpera...
Se pensa que vou ser igual a você!
Não mesmo...
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Quando chegar o tempo
de seu mestruo
cuidarei de voce com
mais carinho para que
entenda que seu sangrar
não é dor nem sofrimento...
Assim quando seu mestruo chegar
serei um homem com tamanha
sabedoria que você pensará
num dèja vú de há seculos
Vou ver em voce uma enxurrada
de possibilidades de muitas vidas
No tempo de seu mestruo
Terei tambem tempo de ser
eterno e cíclico como você...
(23/03/07)
Fui criada para ser efêmera
passageira nas lembranças
Fui criada para ser admirada
junto as outras
Pertencer ao imaginário periférico
Fui criada para não penetrar
no meu convivio
Teria que ser superficial
No tempo e fui
Hoje não sou apenas fulana de tal
Transcorro no imaginário da poeta
Sou voz memória insana
Surpreendo meu criador
Pois renasço de dentro de cada
sapato alto esquecido na esfera
de uma instalação qualquer
E no ritmo do meu poema dou
meu grito-Existo...
Musicado por Dida do Nascimento
(Inspirado na Instalação do artista plástico
Domi Júnior do Projeto do Imaginário Perférico
em +-2004 em Tres Corações N I.O nome da
obra era -Fulana de Tal).
Vivi sempre debaixo da mesa
Ali estava toda minha existência
E toda minha sabedoria
Eu e as cadeiras retorcidas
coexistíamos na periferia de meus
sentimentos
Eu era qualquer uma fulana de tal
E o teto da mesa
Era meu céu de copos coloridos
A cair sobre mim
Alienados dançavam na minha dor
O meu mundo de fundo guardava
No salto alto de um sapato esquecido
Lembranças alegres dos discos
E quando todos saiam
Eu calçava-os
Eu reinava
Sob e sobre todas as coisas
Sem nenhuma amargura
No doce do tempo infinito
Eu virava a mesa
Musicado por Dida Nascimento
Meu corpo se depreende
Do igarapé que há em mim
Entre as cenas na tela
Da saudosa tribo dos "cherokees"
É a tinta da terra que se
acorda para guerra
Com a máscara do tempo
assisto num sobressalto
movimento brusco que
envermelha a pele/ Infortúnio
de um planeta suspenso
Os dentes agarram a faca
É o extermínio atravessado
na boca
O cavalo é mensageiro
Galopa e anuncia o derradeiro
golpe
Os ancestrais jazem no Campo
Santo
A tribo que se vai é a minha
E as estrelas enfeitam e findam
Uma geração de almas
Há penas por toda parte
Sangues e penas e gramas e
memórias nas mãos que
seguram os filhos da terra
O último suspiro na mira
É o orgulho da raça
Rastro do vermelho dos
"Cherokees" que apagam seus
rostos da Grande Mãe
A tela atrai os raios de justiça
Desistindo do brilho que há
no fim dos Povos Indígenas
Para o poeta Marlus Degane
No seu poema lido
Há fios soltos da teia
Que surpreendentemente
gesta uma invocação do
trono do tempo que
tira o pó do pensamento
Não se agradece as manhãs
de outono ou a chuva que cria vida
num coração que de dor se esfria
E que aguarda ansioso pelos fios
tênue de sua teimosa poesia
Planta misteriosa que
se dá por morta
Mas ao único raio solar
ressuscita
Planta que anarquiza a
natureza
Os olhos analisam a
depressão da terra
e tudo se abre
os caminhos e a entranha
da mulher que não deu filhos
Não se sabe qual poema
cabe no relicário
Então melhor que o riso entre
no olhar proibido
domingo, 14 de novembro de 2010
A harmonia do piano controla
a brutalidade da paixão
Há de se perder o suor, o sangue
da família na infelicidade
lati fundia
Resta o sonho do jovem botânico
que de esquesito cruza flores
com traição
incontrolável segredo de chuva
o mundo é pequeno no sertão
jardim de escondida dor
Memória que brota em mim
Entre eu e voce
Há rios de varizes
Entre eu e voce
Há crateras profundas
de celulites
Entre eu e voce
Há um tempo que escorre
flácido sobre minha pele
Entre eu e voce
Há linhas que marcam
choros,perdas e sofrimentos
Entre eu e voce
Há o débito dos meus erros
Entre eu e voce
Há um espelho que te diz
belo e jovem
Entre eu e voce
Há os meus fios brancos
que me levam primeiro
A virgindade desejada não preencheu
o vazio deflorado de sua existência
A rigidez do culto a Deus não retirou
seu desânimo com a humanidade
Hoje voce é passado em tudo
a esquerda não existe e sua
cabeça balança em desequilibrio
Vermelho virou vestida da nova estação
Não há revolução
E agora voce não é nem José
deixou seus poemas no abandono
Voce é a pedra do seu caminho
Se tornou aprendiz do que ainda desconhece
Tem na família uma enferrujada âncora
Mas sua vontade de afundar continua
Sua alma não deixou de ser suícida....
Musicado por Dida Nascimento
Agora você me olha
Agora sua mão sustenta
A minha travessia
da estrada infinita
Então fiquemos assim
lado a lado um com outro
para que os anos passados
e esquecidos não esfrie a
salamandra que aquece e
nos fita
Agora voce me olha tímido de
expectativas enquanto minhas
mãos escorregadias te acaricia
com a saudade de minhas lembranças
aflitas brinquemos então
nos intervalos de nossas dores
Agora você me olha
devoremos nossos doces os nossos
dias lambemos um ao outro
Molhando-nos da saliva oculta
Vê se agora me escuta
Pois esse sofreguidão não espera
Então fiquemos mudos em cena
por entre suspiro inocentes
Vem tímido caminhe por
por dentro de mim
Agora você me olha
Agora
Só agora...
Segredo de Bethovem
Não tem ferro
Música sobreposição
É canção escorregadia
Não é ponte de cimento
que esfria
Música minha "fuga"
O violino sobre o trigo e o
pôr-do-sol
A orquestra silencia e corre
E o som invade o ouvido surdo
Corroe em minha memória
Minha Música minha Redenção
Ponte que flutua nos sentidos
sem segurança do corrimão
Essa Música me persegue sem escala
Ela fala
Para o homem inacabado
Música pronta...
Salomão
apesar das graças e alegrias
Não sei escrever rimas de esperanças
É fato.
a triste maresia que adorna
meus olhos desagua sal todas as vezes que
vem e vão os dias
Faço verso pedindo licença aos poetas por
minhas linhas tortas e tímidas
Meu poema é em mim um deslugar
Recolhida como Salomão recebi
a sabedoria dos erros mas sem o sangue dos
verbos nas mãos
Retundância
e pousa suas palavras
no profundo oceano
De lá lança setas
que ferem a carne
sem ferir a alma
oceanica do poema
E descendo pra baixo
Fica acima das observações
inuteis...
Musicado por Dida Nascimento
Fio que fala bonita
a fala de professor
Tem que saber que preto
fica véio com os tratos do sinhô
carrega cicatrizes no corpo
mas nem por isso é vencedor
Fio de fala bonita
Nem tudo é história contada
Só por preto e por sinhô
Pois
O mistério está no que floresce
No fundo do amor...
Filosofia dos Restos
na tela da vida crua
Top de lixo e luxo de prêmios
fotografias que viajam no imaginário
verdadeiro dos sofrimentos
de uma vida fragmentada
de alguem que se foi
mas não por inteiro
''Há coisa que tem que ir para o lixo
outras vão por descuido''
O lixo é a liga sociologica
dos humanos que sobrevivem
dentro da filosofia dos restos