Manifesto do coletivo Pó de Poesia
O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.
Creia.
A poesia pode.
(Ivone Landim)
terça-feira, 31 de maio de 2011
Na frente dos outros
escreveria sobre as paredes claras e limpas
dos seus olhos
esperaria na porta da frente
e a cada ruído inclinaria a cabeça de lado
imaginando quando você vai entrar
na minha melhor expressão
o que eu mais queria
era sujar as paredes
ardendo de perdão
Poema de Vânia Lopez
segunda-feira, 30 de maio de 2011
As mulheres fortes usam batom vermelho
Guardei as suas palavras na gaveta
(não encontrei seus sorrisos)
Poli suas abotoaduras
Dobrei suas gravatas
Passei e pendurei suas camisas
Por cor, falta uma!
A mancha do batom rosa pálido
Não saiu, deixei de molho...
Os sapatos estão todos lustrados
E as calças penduradas com o vinco
Bem feito, perfeito! Como você gosta
Varri toda a casa, deixei comida pronta
No freezer, tentei deixar a chave
Embaixo do tapete, não foi possível
As velhas sujeiras estavam todas lá
Não tinha espaço, não importa! É
Apenas uma cópia (mande fazer outra)
Ah! Antes que eu esqueça!
Deixei os papéis do divórcio em cima
Da mesa, assine! Entregue ao meu
Advogado será o nosso contato
Para resolvermos as cifras do
Passado, pois o futuro acerca-se
E quero desfrutá-lo, centavo,
Por centavo!
Poema de Sandra Soares
sábado, 28 de maio de 2011
O lamento das árvores
O eco dos tiros
Debandou a
Passarada.
Hoje, perderam o
Seu amigo, a sua
Voz, restou
Apenas, o seu
Algoz
Hoje, sentiram tanta
Dor, como o corte
Da moto-serra
Matando pouco a pouco
A selva
Hoje, entenderam que
Estão abandonadas
Plantadas a sua própria
Sorte, num país onde
Comemoram a morte
Hoje, perceberam que
Não são árvores, frondosas
Com frutos ou flores
São apenas... Dinheiro
Muito dinheiro!
Hoje, lamentam serem
Brasileiras, quem sabe
Se fossem estrangeiras
O Pará pararia essa
Sangria!
Poema de Sandra Soares
O milagre
Pedia um milagre a
João Paulo Segundo
Faltava um milagre para ele se santificar
Pediu com fé e esperança
João Paulo o atendeu
Não pôde contar o milagre
Mas ajoelhado agradeceu
Poema de Victorvapf
A arte é a minha religião
Dos dedos de deus dois dados
Em pauta
A música das esferas
No início
O verbo
Um indício
No verso
Universo umbigo
Agulha aguda
No âmago da alma
Na carne o q
No cerne o x
Na carne o cerne
O x do problema
O q da questão
Pegadas na cruz
Caminho do céu
Poeira Cósmica
O homem das cavernas
O homem da idade média
O homem da nova era
O robô
O clone
Posição fetal
Injeção letal
Coliforme fecal
Da Água Para O Vinho
Tem gente que é 8 ou 80
Ou é bandido ou é evangélico
Ou é drogado ou é evangélico
Ou é bicha ou é evangélico
Tem gente que é 8 ou 80
Ou é puta ou é evangélica
Ou é adúltera ou é evangélica
Ou é vagabunda ou é evangélica
Tem gente que é 8 ou 80
Ou é santo ou se faz
Vai pela sombra
Vê se te enxerga
Poema de Andri Carvão
Tráfico de emoções
noite calma, incendeia as estrelas o céu pega fogo em tremores antigos... só pra
dizer seu nome. Chego em silencio possuída pelos céus como um deus enlouquecido
pela geografia dos seus lábios. Ouço o barulho que fazem seus sapatos, vejo sua
sombra passando na janela ouço até seu arrependimento na chuva correndo
como lágrima na pele... ah, traga seu corpo de volta pra mim! Volta pra casa... eu
quero apenas te tocar onde a chuva caiu, até que a noite toda caiba em um candeeiro
e as estrelas cubram a janela do quarto (e a poeira cante).
Poema de Vânia Lopez
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Só de pensar…
.
Hoje...
.
Eu fiz o que toda criança faz:
Brincar.
Eu fui o que todo adolescente é:
Rebelde.
Hoje eu faço poesia,
Rimo minha vida,
Decoro meu coração,
Me peço perdão.
Camila Senna
A última música
...
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Saia pela boca
cantai as letras sem vozes
cantai a canção das possibilidades
cantai o evangelho dos justos
(e a ironia desse momento)
cantai a música vadia
que aquece os lábios
(abordados pelo seu nome)
duvide dos meus sentimentos
comente a distancia
com palavras dóceis
provoque embaraço amoroso
confesse chantageando
retribuo limpando vidraças
varrendo atrás dos móveis
lavando o chão da cozinha
encerando o dia
zombando desejosa
“brincando que eu te amo”
Poema de Vânia Lopez
terça-feira, 24 de maio de 2011
os restos soprados
pelo vento do passado
catei os mil pedaços
silenciosamente
eram vias, eram veias,
eram vultos e olhares.
Os vestígios desordenaram
a coreografia do meu ser
e surgiram depressões,
alergias, dopaminas
e assim mesmo
o coração pulsava
querendo enganar-me
novamente.
Jorge Medeiros
(22-04-2011 - 01:25h)
Vago
sendo
lado dos meus ensaios em sombra morta
(aleatório devaneio de mim..)
meu
anseio de letrar em curso
sendo
passo.
frente/rente, sempre! em.
meada criada da manhã
onde,
lá.
não, eu nao quero acordar..
"ontem, me encontrei.
vi meus olhos às claras em lume frio,"
em.
vãs tentativas absortas de um preço-árduo qualquer
à
letra. que me define por um campo,
meu..
campo de ilusão despertencida,
à
quimera dos meus dias em sobrevida, em.
tela-declínio..
mata-me!!
cada vez que eu não te respirar
mata-me!!
incinera minhas mãos e enlaça-as a este corpo
à.
minha túnica de desespero rompante
(única. de, ti..)
calor-inumano, descrente, in.alcance
letra
treva
anelo dos meus preferidos lugares de fuga
não..
me vê, não me vê..
convulsão e carta
mata-me!!
desafia o meu impeto de saltar deste abismo
mata-me!!
deixa-me só..
letra destes dias inconstantes,
breve(...) o. meu
tempo,
.
Poema de Azke
segunda-feira, 23 de maio de 2011
E nem sequer vou saber
na gaveta de cima
vai poder me imaginar
na sua cabeça
vai tocar aquela música
noite e dia
até seus dedos sangrarem
dentro de um velho suéter
irá tentar manter o mundo
pulsando intensamente
...o pensamento d’eu sair
vai alimentar agasalhar
e dividir a casa contigo
atrair seus olhos para uma vela
enquanto muda sua chama
o suor vai aparecer
junto às lágrimas
irá perder o sorriso
emoldurado no espelho quebrado
vai deitar e morrer...
(como uma flor na garrafa)
Poema de Vânia Lopez
sábado, 21 de maio de 2011
+ Pensamentos Dispersos
O Poeta pede esmola aos mendigos.
*
Para ser um grande poeta é preciso ser um bom filósofo e para ser um grande filósofo é preciso ser um bom poeta. Poesia sem Filosofia sai quadrada e pesada como blocos de cimento, fica pernóstico, difícil de engolir.
*
Cada poeta defende seu Tempo. Mas não existe mais O Poeta, assim como não se tem mais tempo.
*
É preciso certo grau de erudição para atingir a simplicidade?
*
Vícios de linguagem são marca-registrada.
*
Há quem escreva mal, quem escreva errado e quem escreva mal e errado. Embora a função do escritor seja a de prender o leitor para libertar a sua alma.
*
Se não houver preocupação social na Arte, não haverá informação, e, se não houver informação – para quê Arte?
*
Como pode haver uma “classe artística”, se os “artistas” não têm “classe”? São TODOS inclassificáveis!
*
Muitos escrevem para o público; alguns escrevem para os críticos; e outros, mais extravagantes, contentam-se em escrever para si mesmos.
*
Emoldurar espelhos reflete o painel da Arte Contemporânea.
*
Quem fala sozinho, conversa consigo.
*
A cópia da cópia da cópia da cópia é sempre uma página em branco.
Texto de Andri Carvão
Diga boa noite a sua alma
ao atravessar a rua
estava tocando Natchez
o sol te perseguia
e eu imaginando a luz do sol
sendo absorvida por ela
(tal qual minha memória)
a noite deslizou nos braços da lua
parecias solitária por dentro
(na rua) embaixo das estrelas
me invadiu uma saudade
(e eu aqui prisioneiro do meu corpo)
eu te abençôo
por caminhar em tal beleza
estiro-me ao chão e tenho a sensação
de ser dono do mundo
...se ao menos ela ficasse
longe de meus olhos
ofereceria minha alma
(como travesseiro)
Poema de Vânia Lopez
A manhã do poema
tônus de tez fresca,
rosto sem esperas,
ou verdugos.
E ninguém ouve os urros,
do ventre que vibra,
até o avesso,
para acordar um olhar !
Amanhece,
entre as frisas dos poros.
e em que pese a pausa,
de palma e poema,
na voz delirante,
do inquilino a bisbilhotar...
A vida valsa com o verso arfante,
e invade um coração para morar !
Poema de Nina Araújo
sexta-feira, 20 de maio de 2011
Ébria passagem
Num trago, a goela,
Em escura viela
Cai num baque seco.
Num resmungo passa
O seu canto mole
E o sonho encolhe
No vazio da taça.
Vai em ziguezague,
Como a vida sua
Despojada e nua
Pede a alguém que pague
A pinga no prego
Carência insinua
Cambaleante e cego
Sonho amanhecido
Ao rés das calçadas,
Restam suas pegadas
Das mágoas guardadas
Num bar esquecido.
Poema de Generoso
Com tanta beleza que faria inveja
diminuiu o amor
queimou o corpo
a vida voou
sem alma ou virtude
não morri inteira
morri pouco a pouco
em versos negros
e açúcar vermelho
Poema de Vânia Lopez
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Era o que eu precisava
Dos cruzados de pernas perfeitos
Da conversa formal e sem vínculos
Do riso contido (fingido)
Do cumprimento de mão sem aperto
Das formalidades sociais insossas
Da amizade inexistente
Da inveja constante
Das borbulhas do champagne
Do caviar metido a besta
Da roupa clássica francesa
Dos milhões que vão que vêem
Do moralismo taxado em dólares
Dos serviçais com uniformes engomados
Do mundo irreal e patético
Do salto alto italiano
Calcei meu tênis
Vesti minha surrada calça jeans
Desmanchei o penteado
Fiz um lindo rabo de cavalo
E, deslizei na maionese
Sem antes cuspir, muitos caroços
Só parei, quando faltou fôlego
Cansada da descida frenética
E, estava eu lá!Parada no ponto
Do ônibus, que já chegava
Entrei, sem saber o destino,
Não precisava, eu apenas
Queria um rumo...
Encontrei!
Poema de Sandra Soares
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Receio
e velho como o quartel d'Abranches,
pensando na segunda-feira.
É como lembrar da artrose,
e declamar uma Ilíada,
com a boca cheia de nozes.
É uma pedra sem o musgo,
uma pálpebra sem sobrancelha,
o peito sem o coração.
E tendo sempre esse receio,
de viver os dias cinzas,
longe da minha paixão ...
Poema de Nina Araújo
domingo, 15 de maio de 2011
A febre
Ainda assim, batia o queixo...
A febre estava alta..39 e meio!
Tinha pesadelos...Sonhava lisinnnnhhhoo! Depois áspero!
Lisssssssnho, áspero!
Ficava entreacordado...ouvia um cantar:
" A treze de maio, na cova da Iria"
A procissão lá na rua denunciava:
Era mês de maio, friozinho chegando!
Meu pai me deu remédio!
A febre era alta...tinha medo
De hoje não passo!
Dormi sonhando, acordei ensopado...
A febre tinha passado!
Poema de Victorvapf
É a pior...
A pior distância que existe...
E não poder.
“Ainda que ela esteja do outro lado da rua”.
roubaria seu penteado de herói
e a choradeira do alpendre
o espaço que sobra
na decoração da alma
calaria a água da tigela
molhando a palavra por dentro
os esmaltes e todos os sapatos
puídos no dedo mindinho
a vastidão do corpo
no cantinho do barraco
te trocaria por uma tequila
te negaria com os lábios
(deixaria o vexame em crise existencial)
nenhum 0800 saberiam o CEP
do cativeiro pro lado de dentro de mim
(nem o próprio diabo)
tu já não estarias
em nenhuma lembrança de retrovisor...
(e o inferno lamberia os dedos)
Poema de Vânia Lopez
sábado, 14 de maio de 2011
vou te tratar como um poema
que vou sair pelo salão
no vestido mais brilhante
feito das luzes dos postes
passear pelos olhares
manter o gelo no ponto
chamar a música com os pés
(como se fosse uma roda gigante)
me empreste sua lembrança
que minha alma brilha no seu brinco
apaixonada e descuidada
me tire de dentro do vestido
como pensamento repentino
antes que me esvaia no toalete...
vem, que você... é mais bonito
que minha memória.
Poema de Vânia Lopez
Translúcido poema
em mirar-te,
assim de soslaio,
translúcido poema?
Eu que , por desdém,
nem te quis comprar...
Possibilito então,
um adendo, o mote sutil ,
e depois...
Não seja ateu
o meu olhar!
Poema de Nina Araújo
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Fluxo Bélico
Toltóiévski
Viva a França
Mamãe Rússia
Ernest Hemingway
John dos Passos
e. e. cummings
motoristas de ambulância
em frentes de batalha
A orelha de Van Gogh
O nariz de Gogol
O braço de Blaise Cendrars
Feijoada completa
Fogo morto
Água viva
José Lins
Clarice Lis—
Nabokov escrevendo no carro
A biografia das borboletas
Nabokov perdendo partidas
De xadrez para ninfetas
Castelo de Axel
Castelo de Otranto
Castelo de Merlin
Castelo de Âmbar
Castelo dos Destinos Cruzados
Castelo Mal-Assombrado
Castelo de Rilke
Castelo de Kafka
Castelo de Areia
Castelo de Cartas
SafoVII a.C. gerou Casanova1725
que gerou Sade1740 que gerou Byron1788 que gerou
Baudelaire1821 que gerou Rimbaud1854 que gerou
Wilde1854 que gerou Gide1869 que gerou Lawrence1885
que gerou Miller1891 que gerou Céline1894 que
gerou Bataille1897 que gerou Nabokov1899 que gerou Bukows-
Ki1920 gerou Pedro Juan Gutierrez1950 xxxxx
Uma elite miserável
que gerou o Anônimo do século XXI
que escarrou cobras e lagartos
espumou chuvas e trovoadas
e chutou o pau da barraca
Poema de Andri Carvão
Capítulo
carta
causa
e
vaga
por
ávidos factos e/m consequência
(incauta)
evidência
(pausa...)
sendo
a
água.
a
venda
e o ar...
do ensejo retrato por um fixo testemunho de corpos sob o enleio-preço e.ao final
do
inicio
de ti
que
não te houve
a restar
e
aqui.
o que te deixo por tudo do sopro de mim.
...
Acto ø - “Subida”
a
imagem
mensagem
adversidade
a
vontade
(vontade)
vontade
a
escala perfeira
tala re-feita
o braço por armar
o fácil
a destruir
o
raso
rastro
e
ir
acima do céu por e.evidência...
por uma colheita vista
mais que pretendida,
dita.
à margem dos lagos e todos os mares
teus
ou
das
tuas tranças
em alivio de mente
imagens
soltas
(tantas)
e fixo.
o meu raio-rumo pertencido.
em alvorada declarada
e tempestade de lâmina
farta
a
predispor
a
levantar-se ao ar,
e dos sonhos
e dos sonhos
ou
do
que haver a presença
de ti
a presença
eu
entrego
(apenas.)
o
meu passo de ida e frente em presente do sempre e.do sempre ao calor e.interno de ti a te pertencer(pretensão...)
por
um detalhe ao imerso
ao anexo
do
verso
a saber
(a saber)
ter
a saber
e tudo
e
de ti
qual inteira de curvas inclinadas ou até mesmo ao custo versado que eu dispuser em discurso desuso ora.pra te procurar
deixe,
a letra pra depois...
Poema de Azke
quinta-feira, 12 de maio de 2011
Prazer...
Nascida no Estácio de Sá
terça-feira, 10 de maio de 2011
Esquilos
All Start contemplando os esquilos.
que a tarde galgou inocente.
A sombra expandida dos teus cabelos,
atiçou a minha lente.
Senti a penumbra das copas,
lembrei dos dedos talhando emoções..
O canivete suiço, e dois corações,
que sequer se ligam mais.
e então..
Senti a minha paz
e o meu olho virou árvore
que devora vulto.
Poema de Nina Araújo
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Carlos Drummond de Andrade
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
Garoto de Aluguel...
Baby !
Dê-me seu dinheiro que eu quero viver
Dê-me seu relógio que eu quero saber
Quanto tempo falta para lhe esquecer
Quanto vale um homem para amar você
Minha profissão é suja e vulgar
Quero pagamento para me deitar
Junto com você estrangular meu riso
Dê-me seu amor que dele não preciso
Baby !
Nossa relação acaba-se assim
Como um caramelo que chegasse ao fim
Na boca vermelha de uma dama louca
Pague meu dinheiro e vista sua roupa
Deixe a porta aberta quando for saindo
Você vai chorando e eu fico sorrindo
Conte pras amigas que tudo foi mal
Nada me preocupa de um marginal
...
As rosas não falam…
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão,
Enfim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim.
Descanso
Os petizes brincam nesse quintal
De gramíneas sedes e estão à calçada
Da esperança. A tarde segue frugal.
Um pomar laranja pleno de graça
Ornamenta a vista fenomenal,
Onde a física é a ótica disfarçada
Em beleza, amor experimental.
Na cadeira feita de vime e trança,
O balanço calmo de uma senhora
Que descansa e sonha como uma criança.
No sossego à tarde ela se demora
Sem nenhuma pressa, esmero ou cobrança
Num domingo longo de uma bonança.
Soneto de Yayá
Ave Maria nossa de cada dia
como um farol de esperança
lavam almas na beira do rio
a graça de Deus sobre os ombros
ventres fartos
no momento de se entregar
sagrado, parado
emocional e espiritualmente
entre elas e Deus
filhos assoviando
e não importa se tiver
mais mil momentos como esse
(ou só esse)
é perto daquele momento
em que me tornas real
Poema de Vânia Lopez
Fragmentos dispersos
Depois que se desaprende a engatinhar
quebram suas pernas.
2.
Que raio de sol + fraco!
3.
O artista tem de ser irresponsável.
Para criar é preciso ser malcriado.
4.
Um grito no escuro é luz nas trevas.
5.
escrever escrever
para não passar
em branco
6.
Eu faço de tudo
pra não ter
que fazer nada.
7.
Escrevo bem quando estou faminto
Melhor ainda se deprimido
Escrevo bem melhor quando não existo
8.
Leitura em excesso torna os homens
incompreensíveis.
9.
Uma força bruta te impulsiona para frente
Uma força fraca resiste
Respeite a força fraca
Ela inspira mais confiança
10.
Primeiramente
Os meios
Para qualquer finalidade.
Poema de Andri Carvão
domingo, 8 de maio de 2011
FILHO CAÍDO
sábado, 7 de maio de 2011
Ai Se Sêsse
Cordel Do Fogo Encantado
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois ficasse
Tarvês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse.
Pele...
Então não espere.
Me tome feito prece...
Me rasgue,
Me inunda.
Ardendo feito um tormento...
Que enlouquece,
Que faz bem para pele.
Chupo sua língua,
Te faço de escravo...
No final... Te corôo como rei realizado.
Pablo Neruda
espesso aroma de algas, lodo e luz pisados,
que obscura claridade se abre entre tuas pernas?
que antiga noite o homem toca com seus sentidos?
Ai, amar é uma viagem com água e com estrelas,
com ar opresso e bruscas tempestades de farinha:
amar é um combate de relâmpagos e dois corpos
por um so mel derrotados.
Beijo a beijo percorro teu pequeno infinito,
tuas margens, teus rios, teus povoados pequenos,
e o fogo genital transformado em delícia
corre pelos tênues caminhos do sangue
até precipitar-se como um cravo noturno,
até ser e não ser senão na sombra de um raio.
...
Fotografia...
Até o fim de mim...
Ode sem rima
numa linguagem totalmente nova
sem saber qual a próxima linha...
simples letras acendendo o caminho
ardendo de ilusão
menos direta, mas com o mesmo efeito
num peito verso
a palavra é como música
prefiro morrer de emoção
me assustar por todas as suas profundezas
voltar a ti meu único eu
que o papel seja o palco
da palavra nua
até a palavra ser um oceano
o salmo se unir ao papel
(vasto e aparentemente sem fim)
em dias de silencio
Poema de Vânia Lopez
Predestinados...
Durante a chuva
um aguaceiro só. Sinal ligado, carro frio, vidros embaçados, mesmo com o
aquecedor dando tudo. Chove. Somem os buracos, os guardas de trânsito e os
meus passageiros. Nem um ponto onde parar pra tomar um café e papear com alguém.
Água sobre todas as coisas e intenções. Na frente do restaurante chinês, alguém acena,
apenas um vulto e a esperança de pelo menos, levantar o calcanhar da merda. Uma
mulher, morena, esguia, um casaco que não dissimula o corpão bem modelado. Ordena
aeroporto. Desligo o sinal. Finalmente ocupado, uma promessa de boa corrida, desde
que pinte um retorno, com um tempo desses. O retrovisor interno me oferece uns olhos
congestionados e duros, uma firmeza que se estende a um queixo decidido e belas
pernas, ainda molhadas de chuva, casaco aberto, mas jeito de pé atrás. Uma voz
tranquila pergunta se pode fumar; claro, o meu coração é de jesus e o pulmão da souza
cruz, há vinte e seis anos, respondo, em troca de um riso e do clique do isqueiro, um
zippo novinho, iluminando olhos negros, de uma beleza diferente, meio escandalosa;
algo de safadeza e orgulho, batidos num liquidificador, com meio copo de campari e
uma rodela de limão galego. Seguimos, rastreados pelo temporal em evolução.
Engarrafamos umas tres vezes; não basta a chuva, ainda existem as murrinhas que
parecem hibernar com o tempo frio e ficam bestando, sob um sinal de trânsito. Digo
um palavrão, peço desculpas, quando lembro que graças às murrinhas consigo espaço
nessa cidade louca e fica bem ser educado com uma mulher tão gostosa, tão perto e tão
distante de mim. À nossa frente, a avenida que leva ao aeroporto, um grande
piscinão,
de um lado a outro. Os maloqueiros já na espreita, sob as marquises, esperando os
carros estancarem, para a aproximação com olhar caridoso e risinho sádico, cobrando
vinte paus pelo auxílio luxuoso do empurra e da flanela esfarrapada para enxugar
sabe
Deus o que, além do meu bolso. Coço a cabeça, olho pra trás, tal um culpado desse
aguaceiro todo; sugiro pegar uma transversal, ela sorri dessa vez com a boca e os
olhos, negros, brilhantes, profundos como o rio do inferno, um dar de ombros como
resposta. Rodamos uns dois quilômetros, até esbarrar noutro rio de chuva, já com o
aeroporto à vista. Engato uma ré, mas ela pede pra parar. Pergunta o preço da
corrida,tira o dinheiro da bolsa, pega um revólver 38 do bolso esquerdo do casaco,
coloca
na bolsa, abotoa o casaco, passa o dinheiro, agradece, sai do carro e caminha pela
divisória das faixas de trânsito. A chuva diminui um pouco. Na calçada, as árvores
erguem seus galhos nus, como quem implora.
Conto de André Albuquerque.
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Soneto inglês para Alice
No início, tudo era silêncio e escuridão,
Até o momento crucial da Grande Explosão.
De ponta cabeça em seu sótão (meu porão),
Um buraco negro se abriu e eu fiquei sem chão;
O sangue subiu feito lava de vulcão;
A luz artificial feriu minha visão.
Um ser de máscara branca, uma assombração,
Um ser, ou algo, de veste alva – neve? algodão? –,
Me fisgou com afiadas garras de gavião
Do confortável lar macio e quente até então,
De onde, expelido, uivei danado como um cão!
- Todos nós passamos por isso, coração...
Será esta a nossa primeira recordação.
Poema de Andri Carvão
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Novas litanias a Satã
Deus de todos que vagam derrotados,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Pai que por ser tão pródigo e ubíquo,
Fez do homem tanto santo quanto iníquo,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Primordial senhor de todo o andrógino
Que hoje afliges o devasso e o misógino,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Ó fé sem nenhum culto ou liturgia,
Inspiraste a mais negra litania,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Ó tóten ignoto da memória,
Cúmplice do ladrão, de toda escória,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Deus de quem elabora, vil, as farsas
E em transe bebe o sangue dos comparsas,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Pai do que afoga as mágoas na cachaça
E vive um dia-a-dia de desgraça,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Quem põe a quase todos de joelho
Diante de sinistro escaravelho,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Aquele que nos leva, em ânsia e febre,
A tudo dissipar num lance breve,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Ó tu, Pai da cobiça que me aferra
E nos conduz à luta, à inveja e à guerra,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Cão feroz que devora nossa entranha,
Mercador que co’a vida faz barganha,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Pai daqueles que clamam por Jesus,
Mas somente ao inferno fazem jus,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Senhor de quem se assola no cigarro
E ao mundo só oferece o seu escarro,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Sugeres o poeta e até o asceta
E imprimes tua marca à toda meta,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Terror que nos enreda em fortes súcubos,
Paixão que nos persegue até o túmulo,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Moral que leva mesmo os mais notáveis
À fome e à desmesura incontroláveis,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Tu cuja mão engendra os artifícios
De vidas que se perdem entre edifícios,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Deus do acaso, incidente eventual,
Jantas conosco, cúpido e letal,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Tu que tudo vês, nossa atroz miséria,
Malgrado vida pródiga e venérea,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Caído como tu do firmamento,
Fui expulso também do pensamento,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Satã, ouve, portanto, esta oração,
Com que cubro meu corpo em ablução,
(Tem pena, Satã, desta carne deletéria)
Que aqui devoto a ti, toda a semana,
Pai e razão da enorme angústia humana,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Origem do que chamam ser humano,
Tudo que torna nosso mundo insano,
Tem pena, Satã, desta carne deletéria.
Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
(uma mulher sempre sabe)
em qualquer acostamento
ânsias de espiar tua pele
quebrando as costelas... imaginando
cato desperdícios
afogo os ais no alvejante
sofro no silencioso
disparo pecados
despropósito é gentileza
alta literatura em auto-ajuda
a alma retruca
contornando tua sobrancelha
narro o plantão da cama
cada turno das mãos
renovo as datas que resmungam
um pensamento inteiro no travesseiro
não deixo mais minhas lembranças...
(só não gosto das boazinhas)
Poema de Vânia Lopez
Diário de batalha
Que pensei ser meus inimigos.
Eram mestres!
Espelhos que refletiam meu exército interior.
A surpresa maior
Foi perceber, estupefato, em minha solidão,
Um campo de batalha que sempre esteve vazio.
Eu, estrategista cego e crudelíssimo,
Ignorava minha própria estupidez.
Ignorava, principalmente, a mim mesmo,
O pior e mais arguto dos inimigos.
Poema de Milton Filho
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Mulher-Gato
“olha meu cabelo! olha o meu sapato! olha aqui o meu rabo! E pode acontecer que às vezes a gente não tem vontade de ver rabo nenhum”]
Lygia Fagundes Telles, in As Horas Nuas.
Fechada a porta, o fio escuro percorre o corredor, até alcançar teus sapatos. Couro úmido, passo desleixado. Teus pés incautos encontram uma ponta de cauda. Não fosse a luz baixa, um par de olhos. Jamais um gato.
Ouça o ruído de minhas entranhas. Dentro desta carne, vibra uma máquina: ao puxar a corda, um miado desfaz seu enigma. Estou aqui, sobre a poltrona. No fim do percurso, reconhece seu autor: és o homem face ao mistério domesticado. Na minha boca, o silêncio dispersa a tensão de uma corda: notas agudas cercam as tuas pernas.
Quando a luz das lâmpadas te abrirem as retinas, outro corpo apagará mais uma vez meus vestígios.
Texto de Plynio Nava
CELA 4X4
domingo, 1 de maio de 2011
Do Gênesis ao Juízo
Tarzan e Jane
O grito e a corda
Chita foge com King Kong
Fazendo macaquices
Fazendo macaquinhos
Adão do barro
Eva da costela
Do barro
Adão e Eva
Adão e a maçã
Eva e a cobra
Perdidos
No Paraíso
No Paraíso
Perdido
Epigrama
Cessa o canto
do pássaro
e o pássaro
deixa outro pássaro
para a posteridade.
O Homem Nasce Só Vive Só Morre Só
Na imensidão da terra
Um formigueiro humano
Na imensidão do mar
Um cardume humano
No infinito céu
Um enxame humano
Ambição
Enxergar o invisível
Escutar o silêncio
Poupar palavras
Matar a excelência
Respirar a essência
Misturar-se a ela
Patativa do Rosário
Mendigo filósofo
Poeta analfabeto
Cego clarividente
Quem caminha na escuridão
Procura a luz
Ou a perdição?
Quem segue uma linha de pensamento
Filtra
Ou pensa com a cabeça
Alheia?
Poema de Andri Carvão