Manifesto do coletivo Pó de Poesia
O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.
Creia.
A poesia pode.
(Ivone Landim)
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
DIÁRIO DE BORDO
DIÁRIO DE BORDO
Autor; Arnoldo Pimentel
Eu hoje poderia apenas estar lendo meu diário
Diário de bordo
Poderia estar vendo onde naveguei
As pessoas que amei
Montanhas que escalei
Quem sabe pegasse emprestado uma linha do tempo
Para medir as palavras que foram soltas
Para escrever meu diário
E esquecer meus aniversários
Meu diário que não foi escrito só tem lembranças
Lembranças do ônibus inventado na varanda
Dos sonhos coloridos na infância
Do amor que não foi vivido quando nasceu
Que deixou saudades quando morreu
Da dormideira na beira da estrada
Que só porque toquei, ela encolheu
Hoje eu poderia estar lendo meu diário de bordo
Dia após dia sempre a mesma filosofia
Acordar
Sonhar e ver o tempo passar
Esperar o mundo se acabar
Esconder-me no diário do meu mar
Eu hoje poderia estar apenas lendo meu diário
Folhear as páginas da vida que não aconteceu
Lembrar da noite que assisti
Audrey Hepburn em “A flor que não morreu”
Antes do dia já esquecido que nasceu
E não floresceu
Devagarinho...
domingo, 28 de novembro de 2010
Tempero ideal
Mesmo não estando em dezembro
Desfruto do degustar
os sabores, os saberes,
a simplicidade, a felicidade
do tempero familiar.
Jorge Medeiros
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Flor de Cravo...
Meus pés alvos tenho-os banhado com unguento
Para tirar todo o odor da inveja e da peleja.
As velas que velam contra mim,
Que o vento forte as apague, desviando-as de mim.
Quando eu olhar para a vida
Que meus olhos sejam margaridas.
Plantando flores e colhendo amores.
Traçando o gozo íntimo inefável.
Minha boca é rubra de seda
Cuja língua é gentileza mas sabe ser fel com grandeza.
Rejeito todo o olhar envenenado de fúria.
Estou a caminho dum regaço, me faço flor de cravo.
E Toda boca, todo olhar, toda mente, que tenha por mim afronta.
Fique muda, fique cego, e perca a memória.
((( Camila Senna )))
Tecelã
Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Poema Pardo
que não vim do útero da senzala
e não tive uma afro infância
Dizem que as linhas dos meus versos
não foram traçadas pela chibata
que estou fora do Queto
Dizem que minha Aruanda
é minha Atlântida imaginária
Por isso trago a escrita nômade
parda e ordinária...
Dizem que sublimei o odio do sinhô
que meus versos sincretizam
sem o purismo e a virgindade da
raça...
Dizem que meu Okê Cabloco
não tem as flechas de Oxossi
E que a Mãe Oxum é por demais
açucarada...
Dizem que meu São Jorge não é
aceito pela espada de Ogum
Logo não terei uma afro velhice
morrerei sem pátria, pálida ,parda
e nômade...
Contudo Oxalá editou meus versos
domingo, 21 de novembro de 2010
O Quarto Azul

Em câmera lenta
subo a pequena escada
chego ao corredor estreito
de onde avisto uma intrigante
porta encostada.
Numa triste submissão
a uma força superior
caminho sem pensar em nada
em direção à porta encostada.
Porta feita de madeira marrom.
Marrom que lembra minha infância.
Não sei se querida.
Não sei se partida.
Não sei se perdida.
Empurro a porta.
Vejo um quarto.
O quarto é azul.
Um azul de vários azuis.
Azul-céu.
Azul-mar.
Azul-noite.
Azul-piscina.
Dentro do quarto
há uma cama.
Sobre a cama
há uma pessoa nua.
Por cima da pessoa
havia várias moscas a voarem.
Não sei se desnorteadas.
Não sei se mal-amadas.
Sentei do lado da pessoa nua
e ela me falou de coisas
que pensou, que falou,
que comeu, que bebeu,
que desejou, que amou.
E sem saber ela me conduziu a planetas desconhecidos,
me apresentou a seres bizarros,
me fez cheirar aromas finos,
provar pratos requintados.
Foi quando notei que eu também estava nú.
E que as moscas haviam se transformado em estrelas
que cairam exaustas no chão.
E a cama já não era mais cama.
Mas um pequeno barco a vela.
Vela que era pura seda,
puxada a vento que não existia.
E o quarto virava pura água.
Não sei se de mar, ou de rio.
Só sei que virou o barco,
nos fazendo nadar.
Nada
era eu
Paralisado diante daqueles acontecimentos.
E o que eu vivia se tornava puro sonho.
O que eu sentia se transformava em raiva.
Raiva que até hoje não passa
por eu ter conseguido me salvar daquele doce naufrágio.
Naufrágio que me fez esquecer o quanto eu sou real.
Mas tudo foi extinto como um vulcão.
E minha amada pessoa nua
agora era um personagem de ficção.
E meu saudoso quarto azul
um delírio de um jovem garotão.
Marcio Rufino
Todos os direitos reservados
sábado, 20 de novembro de 2010
MEU CARRO E EU (Arnoldo Pimentel e Rodrigo Souza)
Arnoldo Pimentel e Rodrigo Souza
Não importa a velocidade que está o carro que dirijo
Se o pára-brisa estará rachado ou não
No fim da estrada que percorremos
O que importa é se estaremos vivos
Mesmo indo pela contramão
Mesmo que as placas digam para não avançarmos
Nós as ignoramos porque podemos tudo
Nós ultrapassamos as barreiras, excedemos as emoções
Mas que no fim da estrada estejamos vivos
Para contar minha história
Para alguém filmar uma curta metragem
Ou escrever um livro, um panfleto
Sei lá o que, para esquecerem no banco do trem
Depois da viagem
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
ASA DELTA
ASA DELTA
Se o sol brilha
Quero você ao meu lado
Quero você inteira
E não em pedaços
Se o céu é cinza
E a chuva é fria
Quero te abraçar
E te aquecer
Tudo esquecer
Você é a asa delta
Onde me agarro
E salto num vôo livre
Enchendo meu vazio
Sobre as praias do Rio
Se é noite
Quero amar você
Até adormecer
Sem ver o sol nascer
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Nova têmpera...
Se pensa que vou ser igual a você!
Não mesmo...
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Quando chegar o tempo
de seu mestruo
cuidarei de voce com
mais carinho para que
entenda que seu sangrar
não é dor nem sofrimento...
Assim quando seu mestruo chegar
serei um homem com tamanha
sabedoria que você pensará
num dèja vú de há seculos
Vou ver em voce uma enxurrada
de possibilidades de muitas vidas
No tempo de seu mestruo
Terei tambem tempo de ser
eterno e cíclico como você...
(23/03/07)
Fui criada para ser efêmera
passageira nas lembranças
Fui criada para ser admirada
junto as outras
Pertencer ao imaginário periférico
Fui criada para não penetrar
no meu convivio
Teria que ser superficial
No tempo e fui
Hoje não sou apenas fulana de tal
Transcorro no imaginário da poeta
Sou voz memória insana
Surpreendo meu criador
Pois renasço de dentro de cada
sapato alto esquecido na esfera
de uma instalação qualquer
E no ritmo do meu poema dou
meu grito-Existo...
Musicado por Dida do Nascimento
(Inspirado na Instalação do artista plástico
Domi Júnior do Projeto do Imaginário Perférico
em +-2004 em Tres Corações N I.O nome da
obra era -Fulana de Tal).
Vivi sempre debaixo da mesa
Ali estava toda minha existência
E toda minha sabedoria
Eu e as cadeiras retorcidas
coexistíamos na periferia de meus
sentimentos
Eu era qualquer uma fulana de tal
E o teto da mesa
Era meu céu de copos coloridos
A cair sobre mim
Alienados dançavam na minha dor
O meu mundo de fundo guardava
No salto alto de um sapato esquecido
Lembranças alegres dos discos
E quando todos saiam
Eu calçava-os
Eu reinava
Sob e sobre todas as coisas
Sem nenhuma amargura
No doce do tempo infinito
Eu virava a mesa
Musicado por Dida Nascimento
Meu corpo se depreende
Do igarapé que há em mim
Entre as cenas na tela
Da saudosa tribo dos "cherokees"
É a tinta da terra que se
acorda para guerra
Com a máscara do tempo
assisto num sobressalto
movimento brusco que
envermelha a pele/ Infortúnio
de um planeta suspenso
Os dentes agarram a faca
É o extermínio atravessado
na boca
O cavalo é mensageiro
Galopa e anuncia o derradeiro
golpe
Os ancestrais jazem no Campo
Santo
A tribo que se vai é a minha
E as estrelas enfeitam e findam
Uma geração de almas
Há penas por toda parte
Sangues e penas e gramas e
memórias nas mãos que
seguram os filhos da terra
O último suspiro na mira
É o orgulho da raça
Rastro do vermelho dos
"Cherokees" que apagam seus
rostos da Grande Mãe
A tela atrai os raios de justiça
Desistindo do brilho que há
no fim dos Povos Indígenas
Para o poeta Marlus Degane
No seu poema lido
Há fios soltos da teia
Que surpreendentemente
gesta uma invocação do
trono do tempo que
tira o pó do pensamento
Não se agradece as manhãs
de outono ou a chuva que cria vida
num coração que de dor se esfria
E que aguarda ansioso pelos fios
tênue de sua teimosa poesia
Planta misteriosa que
se dá por morta
Mas ao único raio solar
ressuscita
Planta que anarquiza a
natureza
Os olhos analisam a
depressão da terra
e tudo se abre
os caminhos e a entranha
da mulher que não deu filhos
Não se sabe qual poema
cabe no relicário
Então melhor que o riso entre
no olhar proibido
domingo, 14 de novembro de 2010
A harmonia do piano controla
a brutalidade da paixão
Há de se perder o suor, o sangue
da família na infelicidade
lati fundia
Resta o sonho do jovem botânico
que de esquesito cruza flores
com traição
incontrolável segredo de chuva
o mundo é pequeno no sertão
jardim de escondida dor
Memória que brota em mim
Entre eu e voce
Há rios de varizes
Entre eu e voce
Há crateras profundas
de celulites
Entre eu e voce
Há um tempo que escorre
flácido sobre minha pele
Entre eu e voce
Há linhas que marcam
choros,perdas e sofrimentos
Entre eu e voce
Há o débito dos meus erros
Entre eu e voce
Há um espelho que te diz
belo e jovem
Entre eu e voce
Há os meus fios brancos
que me levam primeiro
A virgindade desejada não preencheu
o vazio deflorado de sua existência
A rigidez do culto a Deus não retirou
seu desânimo com a humanidade
Hoje voce é passado em tudo
a esquerda não existe e sua
cabeça balança em desequilibrio
Vermelho virou vestida da nova estação
Não há revolução
E agora voce não é nem José
deixou seus poemas no abandono
Voce é a pedra do seu caminho
Se tornou aprendiz do que ainda desconhece
Tem na família uma enferrujada âncora
Mas sua vontade de afundar continua
Sua alma não deixou de ser suícida....
Musicado por Dida Nascimento
Agora você me olha
Agora sua mão sustenta
A minha travessia
da estrada infinita
Então fiquemos assim
lado a lado um com outro
para que os anos passados
e esquecidos não esfrie a
salamandra que aquece e
nos fita
Agora voce me olha tímido de
expectativas enquanto minhas
mãos escorregadias te acaricia
com a saudade de minhas lembranças
aflitas brinquemos então
nos intervalos de nossas dores
Agora você me olha
devoremos nossos doces os nossos
dias lambemos um ao outro
Molhando-nos da saliva oculta
Vê se agora me escuta
Pois esse sofreguidão não espera
Então fiquemos mudos em cena
por entre suspiro inocentes
Vem tímido caminhe por
por dentro de mim
Agora você me olha
Agora
Só agora...
Segredo de Bethovem
Não tem ferro
Música sobreposição
É canção escorregadia
Não é ponte de cimento
que esfria
Música minha "fuga"
O violino sobre o trigo e o
pôr-do-sol
A orquestra silencia e corre
E o som invade o ouvido surdo
Corroe em minha memória
Minha Música minha Redenção
Ponte que flutua nos sentidos
sem segurança do corrimão
Essa Música me persegue sem escala
Ela fala
Para o homem inacabado
Música pronta...
Salomão
apesar das graças e alegrias
Não sei escrever rimas de esperanças
É fato.
a triste maresia que adorna
meus olhos desagua sal todas as vezes que
vem e vão os dias
Faço verso pedindo licença aos poetas por
minhas linhas tortas e tímidas
Meu poema é em mim um deslugar
Recolhida como Salomão recebi
a sabedoria dos erros mas sem o sangue dos
verbos nas mãos
Retundância
e pousa suas palavras
no profundo oceano
De lá lança setas
que ferem a carne
sem ferir a alma
oceanica do poema
E descendo pra baixo
Fica acima das observações
inuteis...
Musicado por Dida Nascimento
Fio que fala bonita
a fala de professor
Tem que saber que preto
fica véio com os tratos do sinhô
carrega cicatrizes no corpo
mas nem por isso é vencedor
Fio de fala bonita
Nem tudo é história contada
Só por preto e por sinhô
Pois
O mistério está no que floresce
No fundo do amor...
Filosofia dos Restos
na tela da vida crua
Top de lixo e luxo de prêmios
fotografias que viajam no imaginário
verdadeiro dos sofrimentos
de uma vida fragmentada
de alguem que se foi
mas não por inteiro
''Há coisa que tem que ir para o lixo
outras vão por descuido''
O lixo é a liga sociologica
dos humanos que sobrevivem
dentro da filosofia dos restos
Cultura Popular
Se o bumba meu boi
dança maracatu
é porque entrou no vento
que dança o ventre
Se a sereia canta e encanta
é para o consolo do solitário
e ingênuo marinheiro
Se a língua trava
é porque a língua trancada
pode ser atada
E assim sendo o silêncio
cria uma conferência
de arte na alma
Vlado
Ainda é tempo de dizer que te amo
Não porque fui sua contemporânea
ou li algum artigo seu!
Não.
Porém vi um documentário
dos seu amigos do coraçao
bispos, rabinos,reverendos
jornalistas e parentes
Todos citaram a liturgia do amor
contra as injustiças que abandonam
Hoje não existe mais essa ditadura
Todavia o povo continua na vida dura
Wladimir nome sonoro em minha vida
de fios de violinos...Eu teamo
sem a tortura de minha ignorância
Primogênita
Depois o esquecimento enterra
e a lembrança passa a ser
um corpo ressussitado
Adágio ao sol
que vão saindo para o trabalho
O sol esquentando as marmitas
As árvores que se amam
e morrem secas quando perdem
aquela que está ao seu lado
O novo dia encerra os assuntos desagradáveis
Adágio ao passaros tirando
seu canto do piano solitário
Contudo o café vai florescendo
e perdendo seu valor
sábado, 13 de novembro de 2010
Broto de tristeza
Trago em mim uma tristeza
Não é de maridos, de filhos
ou de herança de pai ou de mãe.
Todavia me é familiar
Não é tristeza de maldição
ou de amor perdido no
sumidouro dos séculos.
É uma tristeza sem par
Dessas que só comporta dentro
das profundas entrelinhas
Não há nela nada de metafísica.
É tristeza de essência
minha por excelência
sem motivo ela chora miudinha
no recanto obscuro da alma.
Não é tristeza de fé, de fogo, de gozo...
Ela apenas brota
e é um broto que nunca cresce,
Permanece...
E de quando em vez surge.
Hoje ela chora miudinha
Antítese
Aquariana fixa e ar
Vida e enterro
Aquariana coletiva e solitária
Aquaceiro
Mente livre e alma no cativeiro
Arte
Sinto falta não do ar
Mas de arte
de tear redes
para atar céus e mares
O ar não basta
Falta-me desatar
Ivone Landim
Sedução
Canto o homem de meus desejos
e para ele mando flores, faço versos, sopro estrelas
mando chocolates e mastigo o beijo
Abro a boca do céu
Eu canto o homem de meus desejos
Desagua minha vagina
no homem de minhas esquinas
O homem dos meus desejos
não faz esforços
Pois canto o amor que em mim é tanto
e o sexo que em mim é tântrico
Tudo e nada mais é para o homem dos meus encantos
ACONTECER
ACONTECER
Autor: Arnoldo Pimentel
Um dia vai acontecer
Eu vou te ver
Na praia do arpoador
Ou num disco voador
As palavras que tenho pra te dizer
Estão todas guardadas
Há tempos sonhadas
Como frases aladas
Eu quero te beijar
Beijar seus lábios
Sentir o calor
Do seu amor
Eu preciso te dizer
Dizer uma coisa
Mas não é qualquer coisa
Preciso é te dizer
Que gosto muito de você
Que amo você
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Leão

Todo o dia levanto-me,
Pulo da cama ouvindo, lá fora,
O rugido do leão.
Escovo os dentes, visto-me,
Preparo o café, enquanto ele
Vai de um lado a outro, esfaimado,
Numa infatigável faina de devoração.
Que fazer? Não acordar?
Não levantar pra trabalhar ou rezar?
Não há como!
Há sempre o inelutável
Do despertador, de homens e ambições
Enrodilhando-se-nos,
Espreitando-nos nas esquinas,
Na savana do coração.
Não há como fugir,
Amansar o leão,
Pô-lo numa coleira de circo,
Numa jaula de picadeiro;
O leão é cobra!
Todos os dias saio para matá-lo;
Visto-me, perfumo-me para isso,
Em frente ao espelho, penteando o cabelo,
Organizando a agenda, apertando
O nó da gravata, enrolando
Uma maçã em papel,
Desviando munição e armamento.
Todos os dias o esfaqueio,
Esperando o momento derradeiro
Em que terei de esquartejar-lhe o ventre,
Comer-lhe as tripas, sujar-me
De seu sangue e empalhar uma cabeça,
Que se parecerá com a minha,
Na parede alva da sala.
Então terei vencido:
Serei pior!
Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.
domingo, 7 de novembro de 2010
Dia dos Namorados

E se de repente um casal de santos se beijassem?
E se de repente se trafica-se carícias de graça?
Se de dentro das armas saíssem massagens?
Se bandidos e policiais trocassem sorrisos no meio da praça?
Entre uma meia-noite e outra.
Entre um meio-dia e outro.
E se essa bela noite fosse eterna?
Se essa minha coragem de amar fosse constante?
Se a sua mão não saísse da minha perna?
Se juntasse esses desejos num só montante?
Entre uma meia-noite e outra.
Entre um meio-dia e outro.
Se a lágrima ao ouvir uma canção romântica não rolasse?
Se o sorriso ao ler as manchetes de jornais abrisse?
Se o espanto dos absurdos da vida não machucasse?
Se a tranqüilidade de dois corpos assumindo o mesmo espaço existisse?
Entre uma meia-noite e outra.
Entre um meio-dia e outro.
Se todo abuso amoroso fosse saudável?
Se toda morte fosse seguida de um renascimento?
Se todo pecado fosse facilmente perdoado?
Se toda pequenez fosse seguida de um crescimento?
Entre uma meia-noite e outra.
Entre um meio-dia e outro.
Marcio Rufino
Todos os direitos reservados
sábado, 6 de novembro de 2010
Amor Recipiente
Amores desfeitos
Todos os enlaces atuais
São vínculos líquidos
Que transbordam os copos
Escorrem pelos cantos,
Mãos, ralos e vãos.
Relacionamentos são fluídos
São exatos para o recipiente
De vidro, puro cristal
Que estala, racha
Quebra, esvai-se...
O amor, que é líquido,
Escapa e transborda
Outro copo.
Jorge Medeiros
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
O tempo passa, mas não apaga...
Calai-me quando te vi.
Hubble

Sou de certo um ser histórico,
Mas também (e está provado)
Dos altos céus, astronômico.
Caminho sob vetustas
E pesadas estruturas,
Enfrentando as tempestades
À sombra dos monumentos,
Debaixo do guarda-chuva
Com pessoas que se perdem
Cabisbaixas e famintas
Por extensas avenidas.
Sou de certo um ser histórico,
Vivo naus e afogamentos
Aos pés da severa estátua
De monarcas do passado
E cruéis conquistadores.
Sou gente urbana e comum,
Um latino-americano
Num bonde que segue rotas
Do nada a lugar nenhum,
Levando homens em assentos
Que viajam flatulências
Do emprego e da profissão.
Olho para o céu e sei
Que nas vastas amplidões
A gigante Betelgeuse
Enfim explodirá numa
Emanação de partículas
E gás inter-estelares,
Pois sob o espelho primário,
Telescópico, do Hubble,
Minha torre de vigia,
Toda nossa crença e história,
Nossos prédios e cidades,
Mausoléus e monumentos
Pesam e perduram tanto
Quanto a mão de uma criança.
Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
ANTES DA CHUVA/DEPOIS DA CHUVA
ANTES DA CHUVA
Acho que olhei a lua de forma diferente
Com olhos ausentes
E não percebi que havia uma fresta de luz
Que iluminava o canto onde eu estava
Talvez a lua tenha virado o rosto naquele momento
E deixado de mostrar o sorriso
Que pintaria em cores, mesmo listradas
Assim meio apagadas
A casa onde nasci
Quem sabe a lua não quis me ver assim
Com o rosto empoeirado
Pelas sobras dos dias que não vivi
Talvez a lua tenha sentido o frescor do vento
Que chega escondido por trás da serra
Trazendo a chuva que semeará os campos
A chuva que semeará meus sonhos
Sonhos de poder correr pelos campos
Abraçar os lírios brancos
Cantar um novo canto
Sonhos de entrar em minha casa
E amar os pingos coloridos da chuva pela janela
Sonhos de plantar a liberdade
Plainar pelas montanhas da minha mocidade
Sonhos de amar a minha vida de verdade
Talvez a lua tenha virado o rosto para não olhar
Meus olhos iluminados
Pelos sonhos que seriam frustrados
Antes da chuva
Eu tinha sonhos
DEPOIS DA CHUVA
Eu já dei tudo que tinha pra dar
Até mesmo minhas sombras
Meu calvário
Os passos que eu tinha pra me encontrar
Já se foi a vida que eu sonhava por aqui
As montanhas de Machu Picchu
A mensagem de vida eterna
Que eu nem mesmo vi ou ouvi
Já sumiram minhas chagas
Rasgadas
No rincão onde nasci
Chagas que nunca pude sentir
Eu dei tudo que pude por aqui
Não sobrevivi
Não senti a magia do beija-flor
Nem mesmo morri
Na solidão em que vivi