Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Amor Anormal

Sentir o proibido não é nada
Pior é aceitar o proibido
Num rumo qualquer de estrada
Ou na dolorosa manha da libido.

O outro não quer minha atormentada insônia
Muito menos que eu mude meus misterioso hábito
Só quer sentir o sufoco e o cheiro de sua agonia
Dentro do denso aroma que sai de dentro do meu hálito.

Não é nada atender o desejo do outro
Pior é fazer com que esse desejo seja também seu
E ver dentro da lama do outro o ouro
Acreditando que o calvário é um doce himeneu.

Entregar-se à perversão passiva
É muito difícil como cômoda intolerância
Que revertida em condição da vida
Brota em nosso peito uma vacância.

Da janela da minha casa
O vento me beija numa linha retílinia
Mas vejam: estou sem graça.
Lembrei-me que esta casa não é minha.

Olhe só toda a beleza
Que a morte desta tarde nos oferece
E preste atenção em toda destreza
De me encantar com seus olhos de quem não me conhece.

O futuro me assusta muito
Com a ajuda do tempo me aride
Com ameaças de sérios infortúnios
Onde o chão sob meus pés resiste.

O outro também que me dominar
Como o futuro e o tempo ele também é assim
Com frieza e crueldade quer me usar
Sem saber que também será vilipendido por mim.

Com seu cinismo ele comanda a brisa louca
Transforma nosso encontro num fato casual
Ele quer sentir o odor de seu sêmen em minha boca
Mas isso são sonhos imundos que povoam minha cama de casal.

Em seu feitiço ele busca uma corda de banjo
Em seu silêncio ele busca um bocal de clarineta
Pares de asas vermelhas de anjo
Pares de chifres brancos de capeta.

O outro sou eu num idílio híbrido
o outro somos nós num dilacerado momento.
Que desenha o amor anormal e ilícito
Num papel invisível rasgado pelo vento.

Esse amor que por se ousar existir
Subvive a margem do planeta
Prestes a se deixar cair
E ser amparado por um rabo de cometa.

Não sei o porquê de todo esse desprezo
Se tudo que aí está é amor
Queria falar de todo o meu desejo
Sem causar deboche nem horror.

Pois o outro me reconhece como um mero conhecido
Me cumprimenta como um qualquer que por acso me vê
Conversa comigo como um velho e intímo amigo
E pede meus carinhos com a carência e dengo de um bebê.

Dedico esse texto a memória de Clarice
E continuo sufocando a minha agressividade
Pois a anormalidade me disse
Que o amor e a arte é que salvarão a humanidade.

Marcio Rufino
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