Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



sexta-feira, 6 de abril de 2012

cala o bico ou calabouço

só um minuto de silêncio
não vale um século calado;
não só ouça, não, pense-o
como sempre tivesse gritado.

cala o bico
ou calabouço
e acabou-se.

um poeta em pé de guerra,
de pé, e com mãos ao alto:
não chama deus, mas berra
flores, canhão ou asfalto.

cala o bico
ou calabouço
e acabou-se.

um poeta quase sem armas,
de arma, o punho febril;
sabendo, dos lados errados,
o lado errado de um fuzil.

cala o bico
ou calabouço
e acabou-se.

é entregue aos algozes
por gritar a voz alheia;
hoje grita só as vozes
nas celas de uma cadeia.

cala o bico
ou calabouço
e acabou-se.

um poeta sem vez, assombrado
por sombras próprias e luzes;
não crendo em outros pecados:
não outros, senão suas cruzes.

cala o bico
ou calabouço
e acabou-se.

tentaram calar-lhe o bico,
quiseram colar-lhe a boca,
mas ouve-se, do calabouço,
o eco da voz menos rouca.*

cala o bico
ou calabouço
e acabou-se.

escondem-se suas palavras
entre as frestas da prisão;
calava, e não mais se calam
as vozes, agora de libertação.

cala o bico
ou calabouço
e acabou-se.

grita aquilo que lhe arde,
pede às guerras, paz e voz;
e outros tons unem-se à voz,
gritando em coro: liberdade!

calou o bico
o calabouço
e acabou-se.





inspirado nas histórias do José Silveira
e do Julio Saraiva,

em conversas com a Punkita, num trecho deste poema
e no poema Minutos de Silêncio.

inspirado também na música
Calabouço, do Sérgio Ricardo

e na música
Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores,
do Geraldo Vandré.

inspirado por tantas histórias de anônimos que sofreram
e sofrem por conta da ditadura militar no Brasil.


perfil do José Silveira
perfil do Julio Saraiva
perfil da Punkita
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Autor: Caíto