Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



domingo, 24 de março de 2013

Momento ou poema de vida (inteira)

E eu, dividido e disperso no tempo.
Dia por dias, passados e futuros, que me imprimem fotocópia.
Imagino-me na totalidade, repartido por folhas diversas
Respeito instruções, a vida fora do corpo, de uma gráfica universal
Sigo à risca e metodicamente o manual do sapiens republicado
Onde à nascença foi carimbado o meu nome.

Para amanhã, já me dei à luz
Alimentei-me de rotina para morrer ao fim do dia
Mas hoje, sem a asma que sei que sentirei amanhã pela manhã
Sem o ar de frete que me trazem outros na cara na fila do trânsito
Sem trabalho, sem almoço, sem cigarros, sem mais trabalho a tarde toda
Sem o embrulho no estômago… jindungo no cu de todos os meus eus
Sem luzes agarradas aos faróis na fila de volta a casa
Sem banho, sem jantar, sem bola na TV, sem cama e sem sono
Hoje, sem nada do que me fará ser eu amanhã.

Delírio passado ou verborreia inútil
Nasci em partos complicados e criei-me igual todos os dias
E nem num apenas, me mandei a merda e fiquei a dormir.
Noites, insónias suadas
E guilhotinas suaves para encadernar vida em pensamentos.
Lição futura ou cáustica previsibilidade.
Crio-me de novo, cómodo, e de novo e para o ano inteiro
Amamento-me e cresço nos lençóis surrados da preguiça de os mudar hoje

E eu, tantos
Já sou tantos, antes e depois, que agora, não sei qual sou realmente
Que importa, sou todos, uns iguais aos outros
E de todos, não quero ser nenhum de mim
Convoquei-os, mesmo àqueles que já esqueci
Reunião, assembleia-geral, eu com os meus eus reunidos à minha volta
Todos intimados a escrever sobre quem sou.

O tempo não existe
E eu, momento, folhas brancas.
Folhas brancas
Ou uma vida inteira.

Poema de Nuno Marques

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=244364#ixzz2OVEvvgfV
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives