Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



domingo, 31 de janeiro de 2010

Poesia

Hoje te vi!

Passavas pela calçada... ao longo!

Pensei em chamá-la entre tantos,

o ímpeto forte do pensamento ecoou abafado

enquanto o olhar seguia-te mudo

Rompi com volúpia o branco do papel,

procurando descortinar a mensagem

por detrás das palavras escritas

e do desejo não realizado, naquele instante,

de gritar o teu nome em público

e depois desmaiar.


Henrique Souza

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

CÉU AZUL

A cidade é a mesma
A cachoeira a mesma
Desfigurada por mãos inocentes
Cortadas e ausentes

Olhares esquecidos
Despidos
Desiludidos
Pelo fim da puberdade

Céu azul
Mergulho lívido e fundo
Em busca do tesouro perdido
Com o fim da idade

Carícia trêmula
Na carne ansiosa
Por toques dos ventos
Da saudade.

(Arnoldo Pimentel)

domingo, 24 de janeiro de 2010

Teu cheiro

Teu cheiro
De suor curtido, dormido,
De sol a pino sobre andaimes,
Escadas, bueiros
Brita e betume.

Teu cheiro –
De quem sua de frio,
De medo, de náusea;
De quem transpira de gozo
De quatro sobre corpos
E camas,
O das putas e meninos
No batente de seus leitos,
Suando de medo, de frio.

Teu cheiro
De pressa sob o sol,
De apitos aflitos,
De corpos e gritos
Suarentos, esforçados
Por fito do qual se ignora
O motivo: puro rito
A ser seguido
Nos vigores do dia.

Teu cheiro
Desaba sobre mim
Em torrente,
Viscosa corredeira
De um vau sem fim,
Enterra-se fundo
Em minhas narinas
Por uma extensa avenida
Trescalante de rastos
E fétidos ares.

Teu cheiro:
Odor citadino
Do estranho que passa
Nos misteres diários,
Em pegajosos coletivos
Transpirando fadigas
E vasilhas vazias
Dos almoços e bares.

Teu cheiro
Pendurado nas marquises
Dos homens de macacão
E boné,
Sujos de tinta e estuque –
Como fedem sorridentes
Sob a torridez tropical!

Teu cheiro
Contra os perfumes
De meio ambiente:
Rosa, lavanda, baunilha,
Sachês aromáticos
Difundindo
Climas artificiais.

Teu cheiro:
Odor de cerrado ambiente
E sudorífera seiva –
Essência das horas
E trabalho
Que fica no assento,
Na roupa, no braço
Querendo ganhar os espaços,
A rua, o tráfego, intruso,
Feito um teto de febre e laje
Sobre exausta cidade.

Teu cheiro
Azáfama, faina e labuta
Epidérmica,
Sobre a musculatura do dia
Que perdura
Em absconsas regiões
De bílis, de afeto e quimera,
Mesmo após o banho
E uma noite sem sonhos.

Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.

sábado, 23 de janeiro de 2010

PÉROLA DE ROSAS

Se abre como pérola
Como pérola perfumada
Seduz como seios
Sonhados no frio da madrugada

Inspira como os olhos
Os olhos da minha amada
No meio do jardim florido
Com flores estreladas

Ilude como o coração
Da mulher apaixonada
Que deseja como uma menina
Ser eternamente amada

(Arnoldo Pimentel)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Translação

Do Amor vou carregar a eterna esperança

De que cada flexão verbal ouvida

Um dia ganhe forma em minha vida

Para que nenhuma das vezes que acreditei no que foi dito

Tenha sido uma mera expectativa em vão...

E desse sonho vou guardar cada papel escrito,

Cada frase sublinhada nos meus livros

Por entender que há de chegar um dia em que elas realmente farão algum sentido

No abismo que se estende entre os cotidianos e as coisas do coração...

E por ser assim, hei de relevar cada passo dado ao revés

Todos os calos que há nas solas dos meus pés,

Já que andar é a metáfora da evolução experimentada

E o destino é o trajeto que te leva de volta para casa

Seguindo o curso normal das voltas que a vida dá...

Pois um dia alguém ousou dizer que amava,

Mas te deixou...

Para que um dia alguém viesse e não te dissese nada...

E nesse silêncio encontrarias o real significado daquilo que buscavas entender

Pois o amor não é algo que se pode medir em um punhado de palvras

Pois não há palavra que se atreva a explicar tudo aquilo que o amor pode ser...


Maurício MT

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Amor Anormal

Sentir o proibido não é nada
Pior é aceitar o proibido
Num rumo qualquer de estrada
Ou na dolorosa manha da libido.

O outro não quer minha atormentada insônia
Muito menos que eu mude meus misterioso hábito
Só quer sentir o sufoco e o cheiro de sua agonia
Dentro do denso aroma que sai de dentro do meu hálito.

Não é nada atender o desejo do outro
Pior é fazer com que esse desejo seja também seu
E ver dentro da lama do outro o ouro
Acreditando que o calvário é um doce himeneu.

Entregar-se à perversão passiva
É muito difícil como cômoda intolerância
Que revertida em condição da vida
Brota em nosso peito uma vacância.

Da janela da minha casa
O vento me beija numa linha retílinia
Mas vejam: estou sem graça.
Lembrei-me que esta casa não é minha.

Olhe só toda a beleza
Que a morte desta tarde nos oferece
E preste atenção em toda destreza
De me encantar com seus olhos de quem não me conhece.

O futuro me assusta muito
Com a ajuda do tempo me aride
Com ameaças de sérios infortúnios
Onde o chão sob meus pés resiste.

O outro também que me dominar
Como o futuro e o tempo ele também é assim
Com frieza e crueldade quer me usar
Sem saber que também será vilipendido por mim.

Com seu cinismo ele comanda a brisa louca
Transforma nosso encontro num fato casual
Ele quer sentir o odor de seu sêmen em minha boca
Mas isso são sonhos imundos que povoam minha cama de casal.

Em seu feitiço ele busca uma corda de banjo
Em seu silêncio ele busca um bocal de clarineta
Pares de asas vermelhas de anjo
Pares de chifres brancos de capeta.

O outro sou eu num idílio híbrido
o outro somos nós num dilacerado momento.
Que desenha o amor anormal e ilícito
Num papel invisível rasgado pelo vento.

Esse amor que por se ousar existir
Subvive a margem do planeta
Prestes a se deixar cair
E ser amparado por um rabo de cometa.

Não sei o porquê de todo esse desprezo
Se tudo que aí está é amor
Queria falar de todo o meu desejo
Sem causar deboche nem horror.

Pois o outro me reconhece como um mero conhecido
Me cumprimenta como um qualquer que por acso me vê
Conversa comigo como um velho e intímo amigo
E pede meus carinhos com a carência e dengo de um bebê.

Dedico esse texto a memória de Clarice
E continuo sufocando a minha agressividade
Pois a anormalidade me disse
Que o amor e a arte é que salvarão a humanidade.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados

domingo, 17 de janeiro de 2010

Tipos

I

Quando algo se parte entre nós,
Bem sei.
As marés em ti convulsionam-se
Teus continentes estremecem,
Obrigando a imensa
População de teus sentimentos
A fugirem desesperados
Para todos os recantos do teu corpo.
É então que,
Como se algo de ti perdesses,
Como se algo em ti partisse,
Precipitando-se escada abaixo,
Choras francamente.
As lágrimas rolam simultâneas,
Lado a lado, de teus olhos,
A lembrar o que éramos,
Nas faces límpidas de um rosto.
Quando algo em ti se parte,
De imediato, sei,
Pois todo teu corpo delata-te,
Fica qual pregoeiro
Anunciando tua viuvez.


II

Quando algo em mim se parte,
Não há aparência
De nenhum mar que se revolta.
A rocha cede apenas
Um pouco mais de seu material,
Ante a outra onda procurando
Praia serena para espumar-se,
E a velhice reduz-me a sombra
Sob o sol inexorável dos dias.
Quando algo em mim se parte,
Apenas sentes,
Sonhas o que a consciência
Sussurrou-te antes do sono:
Silêncio de abismo,
Filosofia sem objeto,
Uma árvore desfolhando-se em prados desconhecidos.


III

Quando enfim o que pensamos em nós
Ser ouro e diamante partir-se e partir,
Talvez tu, de tanto expor-me
Os restos daquela que conheci,
Sejas outra, nova,
Desconhecida pisando nua
Sobre cacos do que sonhara para si,
Sem nada mais sentir,
Deixando-me apenas
Pingos de sangue sobre a face
Feita em incontáveis pedaços.

Inês

Ó Inês, a morta,
Em mim tu vives
Febril e plena.

A sempre-viva,
A morta-viva
Tu és um entre.

Tu és um ventre
Materno e triste
Que quer parir-me.

Tu és lugar
Sem locus certo:
Entrelugar...

Pra sempre vives
Em quem se move
Febril, partido –

Inês de Castro,
Rainha póstuma,
Mesquinha nunca!

Inês é morta!
Mas não aqui
Em peito frágil.

Inês é viva!
Em quem sem fé,
Sem fé e amor

Só traz grilhões,
Um corpo asceta
Que se amesquinha,

Que espada alguma
Jamais sentiu
Na tenra carne,

Um corpo asséptico,
Que em vida ainda
É quase morto.

Inês Rainha,
Com quem caminha
Tão só, perdido,

Tu vais cantante
Tu vais cortante,
Mulher tão trágica

Em mim, o mudo
De corpo ocluso
Tão pouco lido;

Em mim, sem canto,
O quase morto
De tumba em tumba.

Entanto, tu
Embora morta
Na escrita vives.

Inês tão viva,
Malgrado morta,
Me faz teu Pedro!

Defunta viva,
Tu te coroas
Na minha vida

De vivo morto
Que quer ser pleno
Ainda vivo.

Desespero

O desespero de vidas vazias.
Quanto tempo se passou
Até que chegássemos aqui?
Todos os caminhos
Tornaram-se terríveis,
Monstruosas quimeras
Prontas a nos devorar
Com a boca desdentada de fábulas.

O desespero de vidas vazias.
Alguém está sempre
Prestes a cair, a tombar
Num asfalto em chamas
Após um dia tórrido, hórrido,
Repletos de cacos desesperados,
De homens já no bagaço
Na volta para casa.

O desespero de vidas vazias,
O alarido das discussões
Ao telefone, a verborragia
Muda em frente ao pc,
As caras não se transmudam
Iluminadas por tantas luzes?
O corpo quer transigir,
Mas só encontra o que secreta.

O desespero, os morteiros,
O corpo é pequeno demais,
Mas teima em sentir,
Para logo calar, e como cala
Todo um país em chamas,
O que desejou tanto sentir,
Porque agora só há a profusão,
Profissão e tecnicismo.

Olha as cartas, os e-mails,
Uns queimamos, outros
Apagamos com um simples
Toque, tudo tão fácil
Como lavar as mãos
Antes da refeição,
Como lavrar a vida
Repartida e burocrática.

Onde foi que nos perdemos?
O desespero de vidas vazias
Com água encanada,
Com carro na garagem,
Com bate-papo na internet,
Com tv a cabo e comprimidos,
Num labirinto secular
De programas e utensílios.

Toda a ameaça para fora
Dos muros da cidade,
Mas não há muros!
Para fora dos portões,
Que hoje são só um monumento.
Para fora de nós mesmos,
Mas não há mais nenhuma alcatéia
E é narciso quem nos mata.

Se alguns atiram e matam,
Nós calamos, os olhos
Se fecham para o sono dos justos,
Mas todos delinqüimos
E acusam-nos disso padres e profetas.
Ainda há beleza em salvar-se
Num mundo sem salvação?
Ainda há beleza? Deleite?

O desespero, e ele é mudo!
As fábricas funcionam, regulares,
Como os maridos em suas camas.
Os prostíbulos apinhados
Funcionam regulares
Como as missas nos altares.
A tarde se oferece sangüínea,
Venenosa e sem alarde...

O desespero, e ele é mudo!
Fauces abertas sobre todos,
A verdade nos calcina!
E a mentira chega lívida em aspirinas.
As hipóteses trêmulas naufragam
Sob o peso incomensurável do silêncio
E da inorgânica acidez da chuva
Desabando intransigente sobre a terra.

O desespero, e ele é mudo!
O destino das mãos se conflagra.
Na esteira das cifras
Os olhos se cifram diante
De apólices, títulos e debêntures
E o resto do corpo não decifra
O que em si segue inominado,
Inominável sob o peso do mercado.

O desespero de que tudo já foi
E não há nada mais a dizer.
O desespero de que não aprendemos,
Que desaprendemos e que queima
Inutilmente em nosso peito
Toda a biblioteca de Alexandria.
O ancião morto me disse:
“Os homens se matam feito percevejos.”

Mas eu calei, mas eu sangrei
Vendo aquela flor de asfalto
Irrompendo-me os nervos e os versos.
O desespero me silenciou,
Depurou-me o próprio silêncio,
Enquanto meu filho vai nascer
Nesta cidade de bruxas e elefantes,
O filho, o filho que vou ter, infante...

O desespero, e ele é mudo!
Tantas vozes e nenhuma
É nossa, a cidade nos abafa
Com alarido e promessa de prazer.
E sob dióxida atmosfera,
Nos quedamos sem saber
Que toda a estrutura provém
Da agonia dos céus de outrora.

Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Choquei!...
Sem cor nenhuma
na palidez de um momento.

Não sei dizer se foi cometa
um caminhão, um bongue 747...
foi certeiro
como um toque
no pára-choque
atroplelou minha razão
não sei o que dizer
se sigo ou paro
me diga!
Não! Não!...
me ame...
mesmo que por telefone
mesmo que de mentirinha.

Jorge Mediros (5-12-09)

Soterrado

A fúria do mundo explode diante de mim. É duro ver a terra deixar de ser a mãe conformada, resignada; e passar a ser a fêmea irada, revoltada em sua razão. Puta contestadora, indgnada a se rebelar, a esbravejar contra a exploração abusiva de seu corpo. E nós não passamos de vírus, de bactérias amargando sua auto-defesa.

É bom se sentir sozinho na Baixada Fluminense, pois assim quando ela estiver submergida sob as águas das enchentes - Atlântica contemporaneizada entre o teatro do absurdo e o humor negro - o controle de mim mesmo que implica na cruel sensação de não ter feito o suficiente, de não ter amado o suficiente vai doer menos. Assim como vai doer menos a descoberta de que não se é parte do mundo e sim o próprio mundo.

Os livros soterram palavras, pensamentos e sentimentos, mas a natureza soterra pessoas e livros. As casas viram capas de livros semi-abertos sobre o chão, desabados sobre histórias inacabadas; tramas não concluídas; personagens que não se definiram.

Quantas vezes fiz amor com meu travesseiro para calar o faminto felino predador que tentava sair de dentro do meu coração-jaula e devorar sua petitosa presa sobre as poças d'água, sobre os pântanos, sob a chuva. Quantas vezes violentei meu travesseiro para no fim acreditar que era um passarinho a se equilibrar sobre o mais leve graveto, na mais alta abóbada de uma gigantesca árvore qualquer na esperança de poder presenciar melhor a promiscuidade dos relâmpagos e das trovoadas. Tudo isso antes das catástrofes fugirem das telonas de cinema norte-americano e me ameaçarem. Mas agora lembro que não é a todos que meus pensamentos e sentimentos interessam.

Os morros-bibliotecas-encostas desabam sobre casas-livros-enciclopédias onde vivem pessoas-sentimentos-pensamentos-idéias.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados
Acesas estão todas
as lamparinas...
lógico que não são
as do juízo
o que acendeu
em mim
não foi a lenha
nem a brasa
foi fogueira certeira
no hímem
de minha
razão.

Jorge medeiros (5-12-09)

Vi

No início de tudo
vi céu e mundo
só não vi o teu olhar
vi os meses passarem
e esse encontrar.

Vi meu coração ascender
vi este se apaixonar por você
Mas vi meu coração chorar
só querendo te amar.

Vi meu coração leviano
cair em prantos
por não poder te amar.
Vi o que vivi.

(Romulo Pimentel)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Espera não é meu estilo
mordo os lábios,
pisco os olhos,
remexo o quadril,
nada me escorre
pelas mãos.

Em novembro
num café na Colombo
embriagou-me
as vias todas
da vida

Disse adeus
ao isto ou aquilo

Não quero
saber de anões
nem os de jardim
nem o tal plutão...
sou de Júpiter

Dor é um momento
sublime
no vermelho
dos seus lábios
que mordem,
esfolam
meus mamilos
úmidos.

Jorge medeiros (5-12-09)

O Morro, a Igreja e as Crianças


Era como se fosse uma miragem
Era como se fosse além da paisagem
O enorme morro verdejante
Que ficava na frente da igreja delirante
Crianças produziam cambalhotas
Em desesperadas e dionisíacas galhofas.
O sol escondia a cara atrás da nuvem preta.
Depois a mostrava por baixo da nuvem fazendo careta.
Era como num filme de faroeste.
A gente chegava numa romaria
Numa viva imagem de tela campestre
Quando começava a adoecer o dia.
Os meninos ansiosos sufocavam o grilo
Na mesma mão que perseguia a borboleta.
Os olhos avistavam a enorme cruz
Que abrigava o pombo negro
Que descansava impávido em cima da igreja.
Mas as cambalhotas, as gritarias, as correrias,
O futebol, as bagunças
Não se podia pisar no capim escandalosamente verde
Apesar de a grama querer ser amada pelos pés nus das crianças
E uma menina comia assaí como se fosse sorvete.
O urubu dançava no ar seu vôo solo
Profetizando, encenando e anunciando intensa chuva
Algo em minha natureza pedia colo.
Outra menina andava pra traz por todo o quarteirão da rua.
O urubu
O ourobú
O ouro burro que nascia das palavras do garoto
Que insistia em pular com um só pé
Depois lançava escandalosos arrotos
Por cima da oferenda de candomblé
A oferenda servida no chão da esquina
O banquete exposto no chão da encruzilhada
É a revelação da multiplicidade divina
De que Deus não diversifica só as massas.
O sonho se estabelece no agora
De um instante que brincava com seu centro
A menina me pede pra brincar lá fora
E eu digo à ela que lá fora é aqui dentro.


(Marcio Rufino)

Todos os direitos reservados

Paixão

Não sei nada de você
Por que veio
que estradas...
Seguirei seus atalhos?
ou seus trilhos?

Não sei mais nada

Que passos seguir?
que traços?
que tropas?

Preciso saber de algo?...

Me mostre o caminho
um atalho
não me negue o trânsito
que imagino fazer
por sua pele,
por seus fios...

O que me cabe?
o que fica?
pra onde vai?

Ah!... Não sei mais nada!

Me leve... me deixe... leve...

Jorge medeiros (5-12-09)