Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



terça-feira, 31 de julho de 2012

santos, anjos e bicicletas

houve tempos em que acreditava em deus - era criança. e por cada pai nosso rezado. ao cair na cama os sonhos apareciam feitos de fé. o sol despertava com tanta força dentro do corpo que o pecado era não aproveitar a esperança da água baptismal – acordar sem pecado e crescer para pecar - hoje não acredito em nada e quando digo nada é mesmo nada - deus foi desaparecendo com os ciclos contínuos do nascer e morrer dos dias. e com ele os santos milagreiros. o advogado dos dentes. o dos cravos. o das causas impossíveis. o da memória. a da trovoada e mais uns quantos que por nunca ter precisado deles acabei por abandonar – mais tarde acabei por esquecer os anjos. o primeiro foi o anjo da guarda. ao deitar costumava rezar sempre três orações. três vezes a mesma. por ser pequena e ficar com medo de que uma significasse pouca fé para um anjo que se queria sempre alerta aos perigos diários que um catraio sempre é capaz de fabricar – confesso que na altura tinha medo de zangar o anjo da guarda. era um anjo importante. aparecia em todos os livros da catequese. e mesmo nas igrejas estava sempre presente na maior parte das telas pintadas a óleo. preenchia as paredes ao lado de todos os santos e na minha igreja estava mesmo ao lado da nossa senhora. num dos altares mais importantes de oração – ainda me recordo de ouvir dizer em casa um provérbio que sempre me deixou a pensar: ao menino e ao borracho põe deus a mão por baixo – eu queria ter este deus por perto. queria ter o meu anjo da guarda a meu lado. precisava deles. precisava de crescer devagar e em segurança. não os podia zangar. porque zangados podiam atirar-me abaixo da bicicleta que um dos meus amigos me emprestara. e se então partisse a cabeça destruía a esperança de que o meu pai. mais tarde ou mais cedo. acabasse por me realizar o sonho de ter uma bicicleta só minha. uma onde eu pudesse pedalar para lá dos montes da minha cidade. eram altos para a idade que não imaginava sequer que tinha. mas não me saía da cabeça nunca poder subir ao cimo daquelas colinas com a minha bicicleta – mas as pernas não paravam de crescer e eu sempre a rezar. sempre a fazer o correcto. sempre a tentar ser justo. sempre a ver os defeitos e nunca a valorizar as virtudes. queria ser todos os dias melhor. queria crescer. queria ser livre. queria ser dono da minha vontade. queria ir onde o corpo me quisesse levar – não adianta rezar quando deus não te quer ouvir – nunca caí abaixo da bicicleta. mas também o meu pai nunca caiu abaixo daquele medo que hoje sei que era amor – acabei por morrer de tristeza. ainda hoje estou morto desta tristeza – talvez para os filhos o melhor seja mesmo morrerem a pedalar de felicidade – aos meus filhos dei-lhes bicicletas. sei que tudo é ainda igual ao meu tempo. a única coisa que mudou foi o tamanho dos montes. hoje são muito mais difíceis de transpor. as estradas são mais perigosas. mais artimanhas. mais curvas. mais tudo que por ser mais velho já não tenho a certeza do que seja – mas nem tudo é pior. em contrapartida vou atrás a empurrar. a pé. mas feliz por os ver em cima das minhas bicicletas


-

anjo da guarda

minha companhia

guardai a minha alma

de noite e de dia

-

anjo da guarda

minha companhia

guardai a minha alma

de noite e de dia

-

anjo da guarda

minha companhia

guardai a minha alma

de noite e de dia

Autor: Sampaio Rego

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Origami

Como em um dia de descuido que aventa por entre meus pensamentos, essa tarde em que decidi desistir de tudo. Estou como uma folha pousada na beira do canal, dentre tantas misturadas na calçada. É um dia comum, com nuances de céu avermelhado crepuscular e as ondas soçobram seu vai e vem manso lambidas pela brisa preguiçosa. Minha alma não está mais intacta, fora despedaçada, bem como, foi partido ao meio o nosso acordo de não nos magoarmos.
Fico observando o sol indo deitar-se sentindo o carinho da noite nos cobrindo como amantíssima mãe. Percebo que já estávamos embriagados pelo orgulho e dormiremos o sono do absinto eterno e só despertaremos quando os sonhos escancararem as suas janelas para que dentro deles possamos saltar.
Deixo que o vento me varra por dentro e por fora, me arremessando nas pedras desalinhadas e pontiagudas que me vincavam e me marcavam em dobraduras. Quem um dia não se sentiu um origami nas mãos do destino, que me julgue e me condene a voar esse vôo solitário.
Estou aqui como em vestimentas de pássaro colorido ensaiando seu primeiro vôo no abismo, salve-me antes que eu me atire para bem longe de ti!

Autor: Lápis sem ponta

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segunda-feira, 30 de julho de 2012

rosa sacra

tua unha vestida ergue ruínas
pede o silencio e a faca
um altar e o pecado de desejar

qualquer paixão que houver
entre o rubi da boca
e o momento exato da tua nuca, fora de qualquer mapa

dá-me um murmúrio escrito
para que eu siga como um barco em La Paz

sem qualquer nome, mulher de sempre
leve abismo

teu ventre uma oração cantada
o sol contornando o ombro
no final, o verbo

dá-me um lugar, um duelo de cor
entre a penumbra e a luz
para a alma estar de joelhos
tira-me a carne, os ossos
finda a cobiça da noite por tua pele
no abandono de uma prece

Poema de Vânia Lopez

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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Enquanto apenas lembrança

“Minha anti-Lolita foi uma comoção de saias,que iniciou (sem querer) na vida dos homens, quem tinha o medo de ser homem sem nenhuma causa de ter o medo de ser homem ;deu-me um convívio de formação (também sem querer) belo, árido, terrível,espinhoso,terno,maravilhoso.
Deixou-me interiormente andrajoso e vagabundo, perdido no mato sem cachorro, em terras sem mato e sem cachorro, muitas vezes.Minha anti-Lolita de hoje,apenas belo monumento sob a cinza dos anos ,mesmo enquanto apenas lembrança, excita e intumesce uma vida que apenas quer ser vivida em paz e recolhimento de quem muito já sofreu e já se deu ao mundo e quase nada o mundo lhe deu, em tépida indiferença; vida morna de sentimentos frios, onde esbarrei na flor da minha obsessão , na alegoria então desbotada dos vinte e seis anos de minha vida ,que seria obsessão aos cinqüenta , aos setenta e cinco, (sim , com certeza será) porque fui tardiamente atirado ao aprendizado de ser homem, com todos os seus afetos de medo, alegria,tristeza ou de simplesmente ficar á espreita de mim mesmo.
Enquanto comoção , forte demais para mim e para si mesma, passou , avassaladora como chegou.Hoje, apenas grata recordação num recesso da mente, onde guardo os rebotalhos da existência,tal uma roupa velha,sapatos de destino incerto,bonecos mutilados, livros sediciosos á minha impaciência,recordações de vocação ao pó que não juntam poeira, porque constantemente manuseadas , reviradas pelo pensamento crítico que um dia não o foi ; por isso mesmo, feito passageiro da stultifera navis , embarcado sem bilhete de retorno , sentindo-se desgraçado e maravilhoso , vivo como nunca dantes .
O telefonema de um vizinho , avisou-me de sua morte ,numa tarde de frio aziago e sonolento,enquanto eu via na TV,National Kid exterminar os Incas Venusianos. Falou que ninguém até o momento reclamara o corpo ; do caixão e flores comprados numa cota entre vizinhos . Ah , sim : morrera de infarto, o segundo. Agradeci , liguei para uma sua irmã em Mato Grosso que enviou dinheiro para o traslado do corpo .
No aeroporto, ao lado de um avião ,penso na vida e na sua morte: uma tapa na cara a lembrar-me da própria finitude .Da carcaça podre do verbo, ergue-se a árida certeza : o ataúde aguardando transporte, ladeando o avião em transito para lugar nenhum.Ventos conhecidos de outras paragens, abraçavam-se e rolavam pela pista , como filhotes de cães , agitando a grama ao redor . MP,1966. “

NOTA: Texto por mim encontrado , entre as páginas do diário do professor Manasses Paletakis , após minha mudança para o apartamento onde residiu durante sua longa vida de solidão plácida e erudita , até suicidar-se aos noventa anos, atirando-se no vão da escada interna do prédio, estranhamente com um charuto havana aceso entre os dedos e um exemplar de Tabela Periódica, de Primo Levi, num dos bolsos internos do seu casaco, junto a um bilhete de suicídio ; informação prestada á polícia, pela senhora R.S, vizinha de pavimento e suposta amante do falecido , conforme insinuação do síndico do prédio, em depoimento também prestado na Delegacia do Bairro de C.


Autor: André Albuquerque

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quarta-feira, 25 de julho de 2012

sílabas em seu fino véu e gesto acabam de cair...

dar-te-ia um exílio
uma casa com nuvens e sol
um lar para tua alma
pernoite com café da manhã
comprando o jornal
e o hoje em letras minúsculas

e tu voas amor de todo tempo
um evangelho resguarda tua pele
tua unha veste os caminhos
(como um quadro de Frida)

dar-te-ia uma rede
para caçar moinhos de vento
esses, que escapam de seus olhos
o mais obstinado perfume
urrando o inferno de tua boca
com uma faca entredentes
suspirando um céu de intensidades

dar-te-ia o tempo
mas é um mero gracejo em movimento
mal se dá conta que cabe em uma bolsa
como um poema bupreste

mas tu... tu eras homem eterno
e te queimei sem luto
e teu rosto sereno de tempo algum
recolhe desatinos
despertando em mais uma manhã do meu peito
como quem espera o chamado de um voo

Poema de Vânia Lopez

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terça-feira, 24 de julho de 2012

Poema 23

.

à elsa



essa mulher em extremo primavera
de pólen e totens à ilharga cingidos imenso
que disfarçadamente acende colibris
plantados no ventre;

ela (e não outra) que me traz feliz e irreverente
até ao artelho do coração e há muito casulo
e uma certa rotina (extenuante, valiosa) que ao poeta
não lembra;

essa mulher, finalmente, na gare propícia,
acenando adeus, de olhos tingidos por muitos eucaliptos avessos;

ela (e não outra)
disfarçadamente sinceríssima // pronta

essa mulher em extremo

primavera


.

Poema de Mario Revisited

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carochas, bicicletas & biplanos - 32

Oh, a música Jazz. Será uma filosofia? Bem, na verdade não existe um género chamado música jazz. Desde que o termo foi inventado o conceito alterou-se e irá continuar a modificar-se. No fundo, continua a ser música de improvisação, seja com que instrumentos. Ensinamos às crianças de que um grupo de músicos composto por um baterista, um pianista, um baixista, um ou mais saxofonistas ou trompetistas, são um grupo de jazz. E se tocarem Bach pela partitura? Ou se tocarem música para filmes, para baile, apenas música, serão sempre um grupo de jazz? Não, a menos que improvisem e trabalhem qualquer tema, desmontando e montado-o de novo. Mesmo que seja um baterista, um baixo eléctrico, uma guitarra eléctrica e um vocalista cabeludo. A grande qualidade da música jazz é que é progressiva, mutante, sempre em movimento, intemporal, sem barreiras, sem credos, multirracial, sem fronteiras, aberta, livre e o que mais possamos pensar. Coltrane nunca gravou ou deu um concerto repetindo uma faixa sequer. Miles Davis nunca parou de se modificar até morrer, melhorando ou apenas fazendo diferente. Sonny Rollins continua a fazer isso sempre que grava ou dá um concerto, se é que ainda o faz mas transforma-se constantemente por décadas. Dexter Gordon nunca deixou que o alcoolismo lhe barrasse a criatividade e para o fim ficou saborosamente lento mas sempre brilhante. Um grupo de jazz pode ter músicos de qualquer idade, de qualquer cultura, interpretando qualquer tema, usando a linguagem reconhecida por todos, a melodia, a harmonia e o ritmo, enfim a linguagem da mãe das artes – a música. Se não é uma filosofia, improvise-se uma filosofia e já. Mas claro já foi inventada e não foi hoje. Transformemo-la mais uma vez. Um pouco eu, agora tu e depois os outros. Repetimos o ciclo tantas vezes quanto o sol se põe e nasce novamente.
Jul. 12

Autor: Carlos Teixeira Luís

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carochas, bicicletas & biplanos - 31

Li, não acabei, não sei se vou acabar e não gostei. Refiro-me ao livro: O Último Segredo do jornalista José Rodrigues dos Santos. Segredos que não são segredos, simplesmente não são oficiais no cristianismo católico, explorados numa intriga infantil com personagens - caricaturas mal desenhadas. E por amor de Deus, as vezes que o autor repete a expressão: “promontório”, numa página chegou a três - sempre que a intriga se passa numa cidade diferente e com o raio da elevação, lá vem a expressão. Outra expressão é: “traça”, não o insecto mas o perfil dos edifícios que identifica a corrente de arquitectura utilizada. Isso são pormenores, apenas uns breves exemplos mas há muito mais e contribuem para não se levar a sério o livro e mais, acaba por ser um livro chato e com nada de novo. Jesus foi judeu? Ora qualquer religião protestante ou testemunhas de jeová pregam isso há décadas. Assim como a “santíssima” trindade não ter base na Bíblia ou no cristianismo primitivo assim como outros aspectos. Falta um enredo que use estes aspectos de investigação, aliás toda ela documentada, o autor ou não fosse jornalista, apresenta as referências donde tirou as suas teorias. E esta é a única qualidade do livro – a investigação. Devia-se ter ficado por aí. Mas não, temos uma peça ingénua de acção e suspense ao virar da página de cariz juvenil e naif. É isto que o faz ser muito lido? Então as pessoas gostam, nada em contrário mas eu não gostei. E ainda não cheguei ao fim porque não quero chegar ao fim. Livro posto de parte. Devolvido ao dono que me emprestou. Tragam-me Raymond Chandler (um clássico de referência, melhor não há, opinião pessoal), Stieg Larsson (li os 3 livros da saga Millenium em 2 curtos meses num frenesim que não conhecia há anos, agarra literalmente a nossa atenção, tem esse mérito e tendo em conta que a saga são 3 livros num total de 2000 páginas) ou Crichton (investigação misturada com ficção, mundos desconhecidos (quer a moda dos dinossauros, de que não sou grande apreciador ou outros exemplos de intriga internacional sempre com um suspense viciante, vão lá experimentar) tudo menos isto. Claro que há muitos outros autores de referência, centenas e este escritor-jornalista tem outros livros bem conseguidos e bem trabalhados. Mas este enfadou-me. Bem, gostos são gostos. Um abraço.

Jul. 12

Autor: Carlos Teixeira Luís

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segunda-feira, 23 de julho de 2012

[...leva-me pela mão até onde as roseiras bravas


leva-me pela mão até onde as roseiras bravas
tapam as trilhas empedradas. Leva-me

até ao rio que dizias nascer no salso mar,
onde as lágrimas ficavam à superficie,
e um solitário arco-íris escondia os cintilantes refúgios lá longe.

Leva-me assim.

Deixa este corpo exausto, tão singrado sem rota,
arrojar-se do cendrado promontório
sentindo os aljôfares da fria noite.

Leva-me assim.

Quão longe hoje sou dos nossos sonhos pela excelsa
primavera algures no tempo,

e se conseguisse regressar-me um segundo que fosse,
pedir-te-ia:

- leva-me até onde as roseiras bravas libertaram
o aroma teu, que ainda hoje me inunda.


[Leva-me contigo, assim, só].


Poema de Ricardo Pocinho

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domingo, 22 de julho de 2012

O passado não registrou
em minha alma
referências certeiras
elas se perderam
no espelho empoeirado
da sala de estar.

          Jorge Medeiros
O CENTRO CULTURAL DONANA tem a honra de convidar a todos, amigos e afins, a participar da comemoração do 4º aniversário do Grupo Pó de Poesia, que acontecerá no dia 28\07\2012 as 19 horas no endereço do centro cultural aqui citado. Contamos com sua valiosa presença.


P.S.Na foto acima constam apenas alguns integrantes do Grupo Pó de Poesia.

sábado, 21 de julho de 2012

"perante.."

qual..

quimera-pulsante de tentativas ilícitas
qual ilíada representada mil vezes, nunca vista
algo em demanda por insolução e atraso
e

qual..

este término de cena im.presente
(lago-raso..)
qual retrato cadente, premente e desigual


à curva da manhã por abstenção do sol
à pena da letra que te define
que te releva e


entrega-te o nome.







qual percepção anunciada
horas e horas e..
..nada.
(nada..)




abre-te, volúpia! é deste lado em fé e consequência!!
cobre-me aos relapsos actos quais nao te falharei mais
corta-te aos exemplos por indecisão em linhas finais
pois é tarde.. tão tarde, quanto à tuas outras evidências

minha (tola)asa nivelada nao te segue, nem à parte de chão
a minha contenda de adstringir-te em metade, não mais te é
qual corpo conforme, qual hábito das somas, ou: o que houver
não é a minha morada e nao é a minha lima que te diz não..

é o meu erro! em tempo de chegada, em preço quase fixo
ilusão intitulada.. lâmina de conselhos desviados, palco-livro
cai à metade.. cai à tua mesma proporção e eu ainda vejo..

pois te é a noite dos meus olhos avessados, ah, eu.. insisto
um passo de cada vez.. um pouco da vénia acima da que te sirvo
não é um ponto qualquer, à minha exceção, prece ou emprego..



é a tua porta que nao quero entrar, mas..
também nao posso sair..
(não.consigo.)


Poema de Azke

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[...por vezes não sinto o que sinto


por vezes não sinto o que sinto,
tento esquecer-me.
Esperguiço-me num mar chão, ondula-se o corpo
que voga pela mansa maré,

como se para sentir tivesse de saber, ser,
ser-me-ei apenas, tão longe tantas as vezes de mim,
ser-te-às assim, tão perto tantas as vezes foste de mim.

Quando o nosso sangue estremecia,
e o grito trespassava as paredes amarelecidas pelo sol de verão,
um corpo único metamorfoseado
renascia da promessa, da saudade,
das despedidas que sangravam pelo outono,

[… verão mar, outono terra …]

Que eu me esqueça da poesia que nos cobria,
que eu me esqueça de sentir o que sentia então,
que seja profecia também,

mas,

que no final da rota inversa que seguimos,
as mãos se voltem a tocar, sem tempo,

[… mar terra …].


Poema de Ricardo Pocinho (Transversal)

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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Sarau Donana

Sarau Donana

Aniversário de 4 anos do

Grupo

Pó de Poesia
* Recital com poetas da Baixada Fluminense.
* Exibição de Vídeos.
* Exposição de livros e fanzines.
* Música - Dida Nascimento canta poemas.


Entrada Gratuita

Dia 28/07 À partir das 19:00

Centro Cultural Donana

Rua Aguapeí, 197 - Piam - B. Roxo

quinta-feira, 19 de julho de 2012

"pós.."

tarde..
(tão tarde,)

à temperatura abstracta de alguma suposição
água da sede que descobre o corpo(aos olhos..)

e.
um conto breve..
e: fim,











..






seja à marca da precisão/impulso que se orienta
sejam os passos caídos de uma rescisão qualquer
ou mesmo retrato
tão..
posto
tão hábito fácil de criar-te
de dias
de noites
coincidentes(prementes..)
à letra repente(a que te tenta..)

em partes da cena(cortina) que(nem.) te servirá..














..










qual lado: retrátil.
pretérito de ti:
acto!
sopro-perfeito
ponto preciso
algures
lados
teus
inteiros..







qual sentido da métrica e fim?
qual eclosão de métodos por lembrar-te(assim..?)
das minhas mentiras decifradas
tais ilhas, tais..


preces
de
cada










eu já nem tenho um pacto de lâminas
e as minhas decisões, eu te entreguei
eu já fechei a porta dos meus olhos que te dormem
eu


nem espero ter o que te sei..











breve ilusão
à marca da linha passageira
breve conto fictício, me seria
este,

se
as minhas quedas,






nao te procurassem mais..










..









"eu olho você afundar..
eu vejo os meu ecos te revelarem
eu olho as tuas pálpebras enfileiradas
e são as minhas contendas em queima
eu olho os teus passos sumirem
e as minhas tintas nao me deixam ir
eu olho você afundar, (...)"



















..











tal êxito de compreensão abstracta
minhas verves
minhas. páginas




...


Poema de Azke

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carochas, bicicletas & biplanos - 30

Charles Bukwoski é um escritor rude, frontal, cru. O meu primeiro contacto com o escritor foi por acaso. Sabia dum escritor assim mas nunca o tinha lido. Vi o filme Barfly, nos anos oitenta (87), com Michey Rourke (quem mais) a fazer de Henry Chinaski, personagem alter-ego do escritor nos livros e Faye Dunaway. Comecei a interessar-me pelos escritos originais do escritor. Não havia nada tão extremo e rude como ele. Nem Henry Miller, este é outro caso aparte, um escritor brilhante com uma visão acutilante da realidade com romances repletos de sexo para vender e pagar as contas, uma fórmula que o fez viver da escrita. Bukwoski é diferente. Perdedor que passa a vida em bares e a beber, com todo o aspecto de quem faz isso mesmo – igual a milhares sobre milhares de perdedores que desistem do mundo que os rodeia e se refugiam no seu alcoolismo mas ainda com energia para se empenharem nalguma coisa extra, geralmente as coisas erradas para si e para outros. A maior parte das famílias tem familiares assim, que se tenta corrigir ou esquecer que existam. Todas as cidades e aldeias do mundo estão cheias de seres humanos que perdem e se deixam estar onde estão, esperando que os levem e enterrem. Existem e vivem. Estão ai nos cantos dos submundos. Pensamos sempre ser outros que não vemos diariamente mas um dia a vida atropela-nos e olhamos para o lado e vemos um Charles Bukwoski a nosso lado a meter conversa com o claro objectivo de nos cravar uma bebida ou um cigarro. Eles olham para nós e nós olhamos para eles. O que vemos? Um pobre bebedor que vive e dorme e acorda no mesmo bar, a menos que seja expulso ou não possa pagar o que deve. O que vêem quando olham para nós, ali a beber? Eu era assim. Eu comecei assim. Agora sou assim. E largamos tudo e corremos avenida abaixo, são três da manhã e procuramos uma ponte para nos atirar. Eu sou um deles. Um alcoólico, um perdedor, um falhado. Mas ninguém liga a um gajo aos gritos numa das piores zonas da cidade, a não ser a polícia que o trave para curar a bebedeira na prisão. Para eles é mais um bêbedo e menos um problema nas ruas.
Charles Bukwoski descreve sexo gratuito com mulheres ocasionais e prostitutas. A maior parte das pessoas não querem ser apanhadas a ler porcarias dessas. A maioria dos frequentadores do metropolitano não anda com um Bukwoski debaixo do braço. Nunca vi Women, ou Post Office a ser lido, nessas viagens. No entanto, é lido. Por estudantes universitários vestidos de negro ou miúdas em confronto com a sociedade carregadas de piercings? Matronas de idade e peso, divorciadas e a viverem uma nova juventude? Lê-se nos bares? Nas esquinas do negócio do corpo? Quem lê Buk? Isso para mim não me interessa. Eu sei que por mais contra a prostituição que eu seja, não deixarão de existir mulheres a venderem sexo, hoje, amanhã e amanhã. Por mais que eu repudie o público que alimenta a indústria do aluguer do corpo da mulher para a fantasia dos prazeres, na rua e nos seus submundos, que alimentam outros submundos de toxicodependência e alcoolismo e todos os seus efeitos adversos, hoje e amanhã e amanhã, homens e mulheres (não?) de todos os quadrantes sociais, nas sombras da noite continuarão a alimentar esse monstro devorador de vidas que é a industria do sexo à venda nas esquinas e nos antros de má música, más e caras bebidas. Bukwoski anda à vontade nesses mundos e relata-os tal e qual como são. Não é um monstro, é apenas um homem feio de barriga saliente que enfrenta a vida como ela se lhe apresenta. E escreve sobre isso. Não existe em português de Portugal ou Brasil, por exemplo, nenhum escritor semelhante. Temos Kafkas, Nerudas, Dickens e até Henry Millers mas Bukwoski não.
Há gravações no YouTube, de Bukwoski bêbedo a bater numa mulher tão ébria quanto ele. Ler Bukwoski não me faz um apreciador de violência doméstica que repúdio até ao extremo. Ler Buk não nos transforma em Buk. Apenas reconhecemos que há um mundo assim. E aconselho veemente a sua autobiografia parcial: Ham on Rye, onde tudo começa, como Bukwoski se torna Bukwoski. Tudo mergulhado numa franqueza, frontalidade e sinceridade desarmante.
Este é apenas um texto, portanto um ou outro ponto de vista pois há muito mais a considerar. E se pensam que por ser leitor de Bukwoski serei parecido a ele ou o imito, paciência, não se pode ter tudo – leitores que filtrem e interpretem de forma perfeita o que se dá a ler são raros e todos esquimós, e se acharem que através de Bukwoski me conhecem então é semelhante a atravessar o oceano pacífico via Paris. Mas nunca se sabe. Posso estar enganado. Um abraço.

Jul. 12

Autor: Carlos Teixeira Luís

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carcohas, bicicletas & biplanos - 29

Paul Auster, escritor e cineasta. Este é um exemplo de um escritor que conseguiu desenvolver uma literatura americana, bairrista, de grande qualidade e absolutamente legível. E por isso mesmo, como é legível é considerado de menor qualidade em relação a outros autores seus contemporâneos. É o problema dos escritores legíveis. A sua narrativa por vezes minimalista e labiríntica tem uma familiaridade e originalidade reconhecível. O que é um feito. A sua Brooklyn particular faz-nos sentir um certo dejá vu, e para isso eu recomendo menos filmes americanos e mais atenção à escrita do homem em causa. Lá por se passar em Brooklyn grande parte da acção dos seus livros, não quer dizer mais do mesmo.
Não basta ler um livro de Auster, não basta ter lido a Trilogia de Nova Iorque, não basta ter visionado um dos seus filmes. No conjunto há uma obra, pronta a ser explorada como um turista apanhado numa rede de enganos e que se perde para nunca mais querer ser achado. Só assim se apanha o âmago da questão e em seguida entra-se em dúvida, rodopia-se numa roda obsessiva de quarteirão em quarteirão. Paul Auster não é Brooklyn mas habita-a e Brooklyn habita-o. E como leitores atentos, passa a habitar-nos.

Gosto muito dos seus filmes, produzidos ou realizados, em parceria com Wayne Chang, Lulu on the Bridge, com o habitual Harvey Keitel, Mira Sorvino, em volta de um saxofonista que leva um tiro, o seu Smoke, com o excelente William Hurt, Harvey Keitel, Forest Whitaker, e muitos outros, gente que se junta à volta duma loja de tabaco, este filme tem um prolongamento na espécie de documentário de bairro, que é Blue in the face, destaco uma participação de Lou Reed a falar do que gosta em Nova Iorque, e muito mais.
Há uma América que salta dos seus livros para o mundo, autêntica mas que não deixa de sonhar.

Paul Auster é casado com Siri Hustvedt, de ascendência norueguesa também ela escritora singular e de grande profundidade. Diferente de Auster como da noite para o dia. Os seus escritos são reflexivos e por vezes muito perto do ensaio. Um caso de um casal dedicado á Literatura e de grande talento. A História não repetiu muitos exemplos destes como se sabe. Mas este texto é sobre Paul Auster. Apenas para acrescentar que devia ser obrigatório ler este escritor. Experimentem. Comecem pela Trilogia de Nova Iorque, ou Loucuras de Brooklyn ou qualquer outro. Em Portugal são todos editados pela casa Edições Asa, agora no grupo Leya. Aposta do ex-editor da Asa e agora editor-responsável pela Porto Editora, Manuel Alberto Valente, homem de livros e autores, como antigamente.

Jul. 12

Autor: Carlos Teixeira Luís


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quarta-feira, 18 de julho de 2012

dia zero

o tempo vai mudar – sinto. sinto porque sinto. sempre senti tudo na vida. e o tempo deu-me razão – sinto – talvez me corra nas veias algum sangue de nostradamus. ou então sangue cigano. e a sina não se encontra na leitura das mãos mas na forma como a vida me entra pelos olhos. pelos ouvidos. pela pele. pelo cheiro. pela boca com que beijo os corações que batem ao pé do meu – sentir é saber – eu sei. sei pelo o olhar. o pestanejar. o tossir. o mover do pescoço para o lado esquerdo. quando o normal é virar para a direita. a mão que entra no bolso. o olhar para o chão. o sorriso que não o é. o sim de não assentimento. o limpar os óculos. e todas as palavras que não servem para coisa nenhuma nem os cinquenta dicionários que guardo na memória de um relógio que nunca parou de trabalhar. que bate um tic tac que é um coração a rasgar a carne. tentando chegar à superfície para respirar – tudo o que me transmitem serve para fazer do amanhã uma certeza inalterável – sei tudo o que sinto. sei que sinto e não sei dizer como o sinto. nem porque o sinto – e o corpo reclama a paz. o vento. o perfume. o futuro incerto. o dia sem fantasmas. e tudo o que parece sombra é afinal o sol a crescer num horizonte que está por detrás de mim – e sinto. e sinto mãos. e sinto os sinos a tocar. e as velas a gotejar cera por um pavio que ainda arde e a luz trémula corre por uma brisa que não é certeza – sinto. sinto se estou só. sinto ainda mais se estou só com os meus eus. e por não estar também sinto. e tudo o que é sentir é arrastar à força o amanhã para hoje. e o sofrimento vivido duas vezes. e o choro ouvido duas vezes. e a dor contínua entre o que sinto pela antecipação e a dor feita certeza porque finalmente está no centro do corpo – e a razão satisfeita. orgulhosa de tanto saber – sinto. sinto a história que construí à minha volta como se fosse uma corda de enforcado – chegam os amigos. os inimigos. os cães. os pássaros e até os deuses de uma mitologia que não serve para nada – resta-me a certeza de que o hoje é a verdade. sou hoje porque vim de ontem e o ontem chegou não sei de onde. talvez do corpo que me trouxe ao mundo e deu rigidez ao que sou. porque sou e nada posso fazer para que não o seja – sinto. sinto um corpo que teima em ver defeitos até nas dobras da pele que cobre a carne que sempre me cheirou a podre – mas não pedirei nada a ninguém. nem ajuda. nem mar. nem água. nem sequer um ombro para chorar – nunca o fiz. nunca o farei – os amigos servem para rir. para ser o que não sou. para dizer que tudo vai bem. para enganar o copo de vinho fermentado em pipos de madeira protegidos pelo sarro da vida – gosto da morte. nunca percebi o motivo porque os homens choram os homens que optam por morrer – morrer é descansar. morrer é sossegar os amigos. morrer é deixar um abraço de felicidade em quem conhece o sofrimento de um homem enganado pelo tempo – jamais pedirei conforto. nunca o fiz e nunca o farei – aos amigos não os quero nem no funeral. a terra cairá da pá do coveiro e no final. depois de bem calcado. talvez um punhado de ervas aromáticas resolva a existência do meu cheiro em vida

Autor: Sampaio Rego

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restos de bolacha

eram tranças tremulando
o babado da saia brincava de vento
a paineira carregadinha
provinha sombra que o sol não alcança
o céu era o esconderijo de Deus
os olhos faziam pausa
para uma joaninha passar
o rio era música baixinha
para brincar de ser feliz por nada
o final do dia continuava no sorriso
com que minha avó me acolhia
restos de bolacha até o quarto
colcha de crochê beirando o chão
o travesseiro quentinho
aguardando os sonhos de menina


Poema de Vânia Lopez

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terça-feira, 17 de julho de 2012

"perfil"

só.
por este tempo..
à névoa da têmpora sem o brilho-crente e/ou desigual..

este exemplo. por intuito..(e forma)

quisera dar-lhe às asas, e. roubar-te: o sol.






e,
já refém do barco suposto, a tempestade..

ao alvitre de coleccionar os modos à sensação
serve-me, à perdida noção!! e guia-me aos olhos..


poderiam estes espasmos, consultarem-te?
à comum impressão de letargia e psicodélico confronto..
poderiam? às avessas re-voltas em sequestro de ar teu, a..
decifrarem-te.. a devastarem o canto além da tua vez?





pois,






te seja à carta que não quis ver
te seja às costas dos lapsos em mãos e solução
e
te seja à hora


do blefe
do preço.
do ensejo que te toma em febre
pois,






à página. te é.













por meu exemplo de glórias
minha conduta em exceção
por rescindir-me
já, aqui..
tempo.





à palavra que define um ponto
e





breve sonho.
e de ti, então,







a separar..



Poema de Azke

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carochas, bicicletas & biplanos - 28

Vamos a livros. Leio o que quero. Livros maus de propósito e bons também. É preciso ler um mau livro para se dar mais valor a um livro bom. Assim como um poema. Gosto de ler maus poemas. Depois leio os meus poetas e fico extasiado.

Não gosto de livros com grandes capas a ilustração a ouro e capa rija de pele para durar século e meio. A não ser a Bíblia. Nem Camões. O meu exemplar de Lusíadas, funcional e que está comigo no trabalho é uma edição de bolso que me custou 1 euro. Gosto de livros em edição paperback, baratos, que se podem comprar nos aeroportos e nas bombas de gasolina. Livros que se podem pôr a chávena de café em cima, enquanto se conversa e se faz outra coisa. Livros que não se lamenta que caiam ao chão ou se encham de areia. Mas não gosto de livros com folhas dobradas nem manchados de gordura. Isso não. Gosto de usar um livro, estimá-lo e sempre mantê-lo em condições que o possa emprestar. Detesto livros mal colados. Servem para se deitar fora e não se deita fora livros. Teoricamente. O livro caro porque a capa é boa é como as antigas aparelhagens monstruosas que serviam para ouvir música sofrível a todos os níveis. Gastar muito dinheiro num livro corrente não faz sentido. Seja a divina comédia ou um policial de agatha christie, por sinal gosto de ambos. Mas não sou contra as capas duras, nem os livros grandes. É só que eu gosto de ler na rua, no metropolitano, em viagem, no carro, no banho, na sanita, na cama, na mesa, em todas as refeições, na praia, na piscina, no futebol, no concerto, no bar, na discoteca (detesto discotecas mas houve sempre um período em que se frequentava para se ganhar uma dor de cabeça e ficar com os pés amassados das pisadelas), na igreja só em visita, pois não frequento igrejas religiosamente, no deserto, na montanha, em fuga, sentado e em pé, a correr e parado, acordado e a dormir (um exercício cansativo mas na fronteira entre acordado e desperto é possível). Claro que o livro de cartão e papel vai sendo reduzido até acabar em tablets e outras formas de livro, virtual e como objecto mas sem papel, pois as árvores não aguentam mais e eu gosto de árvores mais do que livros ou equiparável. Não sei como vai ser amanhã mas hoje contento-me em ser barato no meu gosto por livros.

Jul. 12

Autor: Carlos Teixeira Luís


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carochas, bicicletas & biplanos - 27

Rolling Stones. Agrada mas também chateia. Já lá vão uns anos, penso que Junho de 1990, quando tu ó Mick te abanaste como um macaco no estádio José Alvalade, o antigo, o que tinha a pala de cimento a cair, podia ter caído naquela noite tendo em conta o barulho que fizeram os então desconhecidos Gun na primeira parte, o público só rejubilou, naquele frenesim de concerto de multidão possessa com o seu quê de religioso e demente, quando o guitarrista solou um pouco do Satisfaction, já lá vão uns anos, quando te vi a abrir o concerto com as tuas mãos grandes numa espécie de dança e o resto da trupe parados a tocar e mais os bonecos insufláveis, um deles um cão que Mick decide picar os testículos com uma forquilha insuflável, tudo parte do espectáculo, no fim o corredor da bancada central onde estava arrumado tilintava com as muitas latas de cerveja espalhadas, valeu a pena ver e ouvir e cantar os velhinhos palhaços do rock na sua representação de estilo-junkie que perpetuam faz décadas, embora fosse a digressão à volta dum álbum sofrível e falhado mas o reportório dos glimmer-twins tudo aguenta e suporta, e não é que fizeram cinquenta anos de concertos, começando na estreia em 12 de Julho de 1962 no Marquee de Londres até agora em pleno século XXI, o século das naves espaciais e das viagens intergalácticas, pensávamos nós nessas décadas anteriores, pode ser que ainda venha a ser, por enquanto é o século da queda de todas as utopias – as que restavam, que não eram muitas e o século das grandes crises económicas, de valores, até aos limites não conhecidos e até se inventar novas expressões para classificar situações extremas nunca antes vividas, esperem que as expressões não tardam, e os rolling stones continuam, o que é uma espécie de milagre que agrada mas também chateia.

Jul. 12

Autor: Carlos Teixeira Luís


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domingo, 15 de julho de 2012

[poema 12]

.


algures alguém em extremo desencante (assinalável) propício
resvalado em céus da boca ou alturas desmedidas de vício

que esse alguém torcido (em letras) procurasse às cautelas
dos ímpares o par muitas plumas e a rodos amor dentro delas

que no fim acerado grotescamente metade hélice e metade fera
voasse aos confins e voltasse algarismo locomotiva (mário) ou quimera


.


Poema de Mario Revisited

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sábado, 14 de julho de 2012

Cântico

Malgrado digam:
Tudo o que cantas
Não inspira,
Não me importo.
Vivo assim:
Dentre tantas mentiras,
Escolho uma ou duas
Que, ao menos,
Façam sentido pra mim.
Por isso, amigos,
Se quiserem,
Me acusem de poeta cínico
Ou de ter partido
As asas do querubim.

Malgrado digam:
Tudo o que cantas
É mentira!
Não me importo.
Em verdade tudo transformo
Ao som da lira,
Porque gosto
De verdades mentidas
E gozo
Ao ver aqueles
Que ainda crêem
Em coisas absolutas
Na vida.

Malgrado digam:
Tu és louco!
Teu canto
É nada ou pouco,
Não me importo.
Torno-me os versos
O meu reverso
E os ofereço a todos
Sem esperar nada,
Nenhum troco
Ou que percebam
O próprio engodo.

Malgrado digam:
Tudo o que cantas
Está morto
Ou morrendo está,
Com isso me rejubilo,
Por saber
Que componho um hino
A todos fraterno,
Que nos deixa isentos
E desnudos do fardo
De sermos eternos.

Malgrado digam:
Vives da rapina
Do dia-a-dia,
Transformas a poesia
Na nossa ruína,
Não me abato;
Escrever só nos lancina
E nos inocula
Com o mundo
E a estricnina.

Malgrado digam:
Tudo o que cantas
Faz-me sentir
Num exílio,
Não há encanto,
Nada de sublime
No teu canto,
Não me espanto.
Não há como atingi-los
Sem antes
Cometer-se um crime,
Expor numa vitrine
Tudo o que nos reprime
Para a quebrarmos
Beligerantes.

Malgrado digam:
Só amas o chão,
O parco instante,
Não me importo.
A terra, o céu,
O sol radiante,
O corpo vão,
Tudo o que vês
Perecerá
Nesta láctea via
De fluidez.

Malgrado digam:
Tudo o que cantas
Te vai mandar
Para o inferno,
Não me importo.
Sei que nada é fixo
Ou sempiterno
E que, como todos
Que se persignam
Com crucifixos
Ou que não crêem
Na parasceve,
Em breve,
Me tornarei pó, lodo,
Enquanto cantam
Os rapsodos.


Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados

Uma morte azul

... comprimir – lhe o pescoço em meio aquele azul estonteante , o céu como se fixado por um prego, a brisa marinha hesitando sobre um mar que seria até macio em seu azul e poemas,perceber a vida esvaindo-se e a entrega do corpo ao próprio destino , ao fim comum e desejado por nós, por ela principalmente, que não mais desejava a angústia medida do saco plástico e meus polegares a constringir - lhe a traquéia . Transfigurada , consoante ao azul maravilhoso que nos protege e envolve de cima a baixo ; o mar , arremate final da pequena morte ensaiada em tantos quartos de hotel dispersos pelo mundo , luxuriante forma adiada de morrer sucumbindo ao orgasmo convulso, á estripulia de sensualidade (o que é um nome?),a camisola de seda meticulosamente dobrada,creme sobre o corpo perfeito e macio,
- Por que não três gotas de Chanel número cinco ?.
Mesmo não sendo um homicídio (que de certa forma era) , antes suicídio consumado a quatro mãos (duas da bela assassina de si mesmo) nem assim o queria plágio :
- Não sou a Marylin
Gostosas e tépidas mãos do seu mais louco amante, disposto a ir onde os outros recuaram por não compreender que aquele morrer era um supremo gozo , inigualável porque definitivo em seu impacto de vagalhões de prazer a submergirem o seu corpo, azul da cor do mar, entre aquelas tão pequenas ilhas, onde tudo isso poderia ser um filme (nós e apenas o sol por testemunha) mas o sol não era nada, apenas figurava naquele equador , no esvair-se da vida comum para a liquidez que dissolvendo, acrescenta-nos ao todo maior.Então lembrei da primeira vez que me ordenou o suplício,aquela pequena introdução á asfixia, em meio ao gozo, sacudida e inundada por mim , aríete e fonte , a serviço do tesão infinito, multiplicado á cada compressão do pescoço sedoso, luzidio ,untado,perfumado e cheirando a sol , minhas mãos deslizando na mesma cadencia em que lhe percutia o interior, a caminho do prazer oceânico , seguido do largo e profundo sono dos amantes .
Então , que o mar te receba , azul em todo resplendor que um veranico poderia nos oferecer ; agora toda inércia e serenidade, atingiste o teu nirvana ; percebo o sangue nos meus braços lanhados por tuas unhas que apenas eu sei resultado do prazer supremo , não do medo nem do tolo apego á vida que sempre censuraste , pois toda maneira de amor vale a pena ; entre nós, a vida tangenciando a morte anos e anos ,em que te completava e seduzia, pelas mãos mais fortes e precisas já vistas nas tuas andanças pelo mundo . Descobri a proximidade de viver e findar-se , no momento do gozo , onde morremos para nós mesmos e para o mundo na brevidade casual e humana que nunca te satisfez. Escolheste hoje, o gozo supremo , sob este céu sem nuvens e um sol agora meio escorregadio para a curva do horizonte,deslizando,como indo ao teu encontro, no cemitério marinho .
Ligo o barco ,faço- o descrever um adeus em larga e preguiçosa parábola ; sigo sem olhar a esteira do meu caminho , vezo e sina de vida breve .

Conto de André Albuquerque


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sexta-feira, 13 de julho de 2012

mnemosine

mas na verdade eu queria mesmo era falar contigo. dizer apenas um olá. um bom dia. um como está passando? e os sorrisos? encantados como sempre – e então quando tomamos um cafezinho naquele botequim feito de palavras? estou ansioso para te mostrar dois verbos novos que encontrei a fazer uns arrumos à vida que já passou - irias gostar de os conhecer - estavam amarrados a dois adjetivos que nunca adjetivaram coisa nenhuma – confesso. eram tão maus que nunca os levei à rua. acabaram por ficar esquecidos - o tempo passou e agora tudo é diferente. estou mais velho. e o cheiro das palavras já não é igual - no passado estava mais à procura de coisas novas e agora quero achar tudo que é velho dentro de mim e não encontro - não guardei nada da vida. os beijos foram esquecidos. os abraços perdidos. as pessoas foram morrendo dentro de mim. e a saliva presa ao céu da boca rodando de um lado para o outro e eu sem encontrar um lugar digno para poder cuspir esta azia que me vem de dento de uma moela seca - e o verbo era é agora o começo de uma história - era uma vez um abril - era uma vez um dia com uma nuvem tão louca que sugou toda a água do mundo. e todos os peixes se fizeram pássaros. e todas as flores se fizeram sonhos. e tudo que era mundo era afinal um pontinho num espaço que nenhum mês do ano sabia que existia - era uma vez eu e mais tu e mais os teus amigos e os meus amigos e os teus vizinhos e os meus e o teu mundo e o meu mundo e tudo é mundo e nós somos mundo e em cada pedaço de mundo. um mundo mais completo - nunca esquecerei mais nenhum segundo do mundo - escrevo cada sorriso. escrevo cada momento. escrevo mundo



* comentário a um texto da vânia lopez que. carinhosamente. faz o favor de ser minha amiga preenchendo os silêncios da escrita com palavras de incentivo ao meu louco amadorismo de tentar escrever
Autor: Sampaio Rego

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quinta-feira, 12 de julho de 2012

basta um olhar atirado ao peito

falar do voo de uma ave é algo sagrado, entro por portas em um feriado na Irlanda do Norte. colho o ontem com os olhos, onde bem ali adormecia em seus braços. onde dois braços é uma multidão colorindo o deserto de verde. estendo uma mesa ampla com castiçais, tempero a alma, tudo sonha... do mar a cada noite ao piano roxo. vá menino! colha minhas lágrimas, ensine-as a migrar ao teu peito com a força de uma rosa. me aninhe junto à sombra de tudo que cala. oferte-me as mãos para que me abandone atravessando o dia. faça do oceano nossa horta, cuide que sua alma floresça no frio, onde quero ser enterrada viva... pétala por pétala.

Autor: Vânia Lopez

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quarta-feira, 11 de julho de 2012

carochas, bicicletas & biplanos - 26

Estranho certas atenções. Sobretudo porque sei que no fundo não as mereço. Todos sabemos essas coisas. O que merecemos ou não. Mesmo com perturbações na avaliação, se tivermos baixo amor-próprio ou o oposto. Escrever sobre essas coisas é um prazer perverso que também tem de sofrimento, por isso o chamo assim.

Só há bem pouco tempo é que descobri um certo tema recorrente em todos os meus escritos. Todos. E não sou eu. Não escrevo sobre mim, mesmo que o faça na primeira pessoa, como acontece na maioria das vezes. É sempre sobre outro eu que não exactamente eu. E quando coloco esses textos em locais virtuais sujeitos a comentários, esses mesmos comentários, leituras e interpretações levam o sentido do texto a paisagens novas nunca sonhadas por mim. Isso dá-me um certo prazer, embora nem sempre, ler o que outros lêem daquilo que escrevo. Confesso que brinco muito com a realidade e a memória, partindo do real para o pressuposto, do normal para o absurdo, daqui para ali e a viagem de volta. E o real tem tanto de improviso e impossível que não precisa ser inventado. Tudo existe para ser observado. Saibamos como.

Jul. 12


Autor: Carlos Teixeira Luís

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segunda-feira, 9 de julho de 2012

Poema dos três cachimbos

.



essa intercalar voz rouca de telefonista
o meu nipónico desejo por às terças a rodos cintilante
e aquele propício segurança do parque de estacionamento
em aceradas e concretas suspeitas de


.
Poema de MarioRevisited


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Ela dança...


Cigana colorida
Coloca a tristeza retalhada de chita
Na ponta da saia
E sai...
Sai sorrindo,
Cantando,
Deixando a fênix renascer.
Não se encolhe, se espalha
Mesmo com a alma cicatrizando,
Ela persiste e dá um novo verso ao rosto.
Encanta, diz sim!
Sente cheiro de alecrim
Mesmo estando numa relva com frio e apaixonada,
Paixão daquelas febris, perigosas...
Com o coração explodindo feito estopim.
Ela dança, se permite, se encanta...
Mesmo carregada de lembranças!

Ela dança!...


((( Camila Senna )))

sexta-feira, 6 de julho de 2012

[...descansam as amendoeiras do inverno


descansam as amendoeiras do inverno
com alguns pássaros escondidos pelos ramos vazios,

vazias as mãos que seguram todas as águas por momentos,
vazio o dia que se atormenta ao se esconder,

vazio o beijo, dir-me-às,

e como é bela a amendoeira em flor pelo inverno,
renova-se,

vazia a nudez dos nossos corpos, dir-te-ei.

Salso o mar que as brumas esvaziam,
quão distantes as cousas por escrever,
talvez o amar, talvez a saudade,

cruel olvidar que se adianta a tudo, eu sei.

[… e hoje, amanheceram-se repentinos os ventos a norte,
apenas eles conseguem despentear as ondas,

apenas eles me acordaram distante,
que eu crepite, que eu arda...]
 
Poema de Ricardo Pocinho (Transversal)
 

"Acesso.."

vê. é a parede que te forma o desenho em par abstracto(se for..)
assim, ao tempo. e descaso retrátil, em obtuso erro (ao)que te compreende o provocar
ao olhos, o exemplo.
em leito privado qual, conto. e(este..) fim!
vê. esta linha que te devolve à canção inteira de um outro dado/supor
(suponha..) às vezes insanas da história mais breve que um dia, te absorveu
suponha os teu passos em lados opostos. e livres. de ti
em derredor
e
queira..
minha linha desfeita ao que te aguarda o exercício
queira ocupar-se de gravuras
a um. ensaio de presságios
qual ímpeto que te (ora/ou-outra..)serviu
à luta mais eleita(a: aceita de ti.)
ou império..
convulsão e entrevista acima da minha tola/total impressão
e conforto
seja-te(lei) ao total esboço que(,sim!) darei o exemplo
oh minha,








magdalena..





















desde ao castelo de ar
árido controle deste credo e período composto
se for..
a ser-te. aos poucos
minha febre que te desnivela o veto
minha boca calada da toda mentira privada de ti
minha letra criada
em chamas
em queda e lápide de forma que te aprende
tal(à)
esta





fé..









e,
nada te compara ao lado em outro ponto qualquer
(nada! do que te ser/ter em outro corpo, que não



o teu.)

 
Poema de Azke
 

quinta-feira, 5 de julho de 2012

História Sucinta da Antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (U.R.S.S)

.



Martelo
e
Foi-se



.


Poema de MarioRevisited

carcohas, bicicletas & biplanos - 25

O romance “Revolutionary Road” de Richard Yates (1926-92), editado em 1961, é um tratado de melancolia suburbana. Um romance que deita por terra o american way of life como supostamente foi utopicamente idealizado. Alguns momentos angustiantes na vida de Frank e April Wheeler, um jovem casal com dois filhos pequenos, vivendo num confortável subúrbio. A aparência duma vida perfeita. A acção desenrola-se entre uma peça de teatro comunitária e um acontecimento trágico com um dos principais personagens. O vazio duma existência de conforto e sossego, entre martinis e bourbons, entre chás e conversas de fim de tarde com outros exemplares de uma extinta classe-média em meados dos anos cinquenta. Infidelidades, traições e obsessões diversas. Casas de madeira com alpendres floridos, jardins e garagens, onde espreitam os pára-choques cromados de Buicks e Chevrolets, crianças fogem dos aspersores ligados e mulheres preparam repastos perfumados para os seus maridos que chegam no final da tarde do escritório. Frank Wheeler com um futuro promissor na firma de máquinas de escrever Knox. April uma feliz dona de casa a ver a sua vida passar com rapidez e lentidão.
Não vi o filme de Sam Mendes de 2008, com Leonardo di Caprio e Kate Winslet. Mas confio no realizador para filmar esta história digna de ser realizada, de enredo suburbano e tristonho, realista como se atribui quando a alegria de viver não é convidada para dançar.
Depois do romance, não tardarei a atirar-me aos contos do escritor, editados cá pela Relógio D’água, havendo essa oportunidade.

(Jun. 12)
Autor: Carlos Teixeira Luís

quarta-feira, 4 de julho de 2012

carochas, bicicletas & biplanos - 24

 
 
 
Eu também acho. E melhor: soube recentemente, tem alguns exemplares à venda de “Histórias do Deserto” desse autor marginal e louco, que é… como se chama? Bem, não interessa.

Uma livraria nas instalações duma antiga fábrica. Tudo em metal. A escada para o primeiro piso. Um espaço amplo, onde o livro se sente com dignidade. E o visitante anda por ali. Vendo e mexendo. Inserido num complexo de ateliers e escritórios, com ligações à moda e às artes. Edifícios entre a ruina, o antigo, o pós-moderno, há uma frescura apesar da estrada de paralelepípedos centenários que nos obriga a sempre um passo em falso como que atravessando uma ventania ou outros ventos simbólicos que se referem a quando a altas horas da noite o equilíbrio das pernas é titubeante devido a alguma excessiva reserva etílica no organismo.

Uma livraria para ser visitada como local estranho e sublime. Para se estar e não apenas passar. Daqueles locais em que apetece que anoiteça e as horas se instalem como gatos furtivos e lentos. Ficar por ali na conversa. Sobre livros. Que se sabe que é sobre a vida. Tudo é sobre a vida. Venha de carocha VW do outro século. Venha de bicicleta pasteleira e ferrugenta. Venha de biplano guiado pelo barão Von Richthofen. Mas venha ler e estar à Ler Devagar. Em Alcântara, não muito longe dos bares. Tropece e caia por ali. Nas páginas dum belo poema ou nas ruas escuras dum livro de viagens. Vale a pena a viagem. Pode ser que me veja por lá. Se for, toque-me no ombro e beberemos uma ginginha ali por perto, para os lados do largo do Calvário.

(Jun. 12)

Autor: Carlos Teixeira Luís


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terça-feira, 3 de julho de 2012

[...e tantas foram as manhãs que me escureci


e tantas foram as manhãs que me escureci
sem me amanhecer,
cousas que me habitavam, promessas fossem,
da sede que não se estancou, arribaram-me desertos.

… E se por um beijo teu que fosse,
Mesmo estranho e provisório,
Mesmo nesta vida que jamais me modificará,
Me desabitasse de vez,
Haveria de me lançar do promontório
Que um dia desafiei. Cumprir-se-ia silêncio.

Cessar-me-ia.

… E tantas foram as noites que não presenciei
O teu sonho interrompido.
 
Poema de Ricardo Pocinho (Transversal)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Insensa Tez Revisited

.



ninguém sabe porque escreve
ou porque o céu desflorou a virgem;
ou quanto sal nesse beijo nos foi
que a ampulheta virou rosa
pegou de assalto a velha locomotiva
e nesse instante tu sorriste;

chorem por mim que eu só quero
____________o que dói ou não existe



.
 
Poema de Mario Revisited
 
 

carochas, bicicletas & biplanos - 23

Matei Morri Sequei Voei Nasci Adoeci Finalizei Orei Morri Nasci

E haverá de ser sempre assim. No poema morre-se várias vezes e ressurge-se vezes sem conta. A figura poética é alguém que ou não morre ou morre sofredoramente quantas vezes o autor queira. A própria Literatura um vão desejo de imortalidade, quando não de mortalidade em vida. Aqui pode-se morrer antes de nascer. E depois ressuscitar mais além. Querem que dê exemplos? Vá, vão lá pesquisar. Saibam que dá um trabalho dos diabos. Por isso se poupa na pesquisa.

Fui rato ave de rapina urso crocodilo de bairro vi ninfas ou parecido amei oliveiras e muito mais antes que o dia nascesse

Acusa-me de usar a prosa e poesia na mesma frase, no mesmo texto, na mesma sinapse. Faço-o por impossibilidade. É assim que gosto, sei e quero. Pune-me. Expulsa-me. Faz o que quiseres.
Já fui street boy até ás finas e tecidas roupagens da fria madrugada e sobrevivi, não muito bem mas como foi possível. Sei lá de poesia. Vou falando e escrevendo.

Sol Poeira Rocha Caminho Nudez Sol Noite Geada Mulher Cão e Pão

(Jun. 12)
 
Autor: Carlos Teixeira Luís

Carochas, bicicletas & biplanos - 22

Deve-se modificar um poema. Deve-se modificar um poema até não poder mais. Até ele nos derrotar. Ou até o destruir. Destruir um poema. O maior medo. Pensar que a inspiração nos bateu à porta e ao querer melhorar o poema apenas o destruímos. Mas destruir um poema é de criador. Só destrói quem constrói. A aprendizagem e o lamento é a nossa escola. Mesmo que o poema fique pior do que antes. Tudo isto é sem roteiro e uma grande aventura. Afinal não queres tu ser poeta? Se lhe vestes a pele tens também de amargar o acto de artífice de esculpir palavra a palavra o poema nem que seja para o deitar fora a seguir. Nunca te dês por satisfeito. Isso não é de poeta.
E isso da inspiração vem da religião. Uma entidade que nos envia mensagens sabe-se lá como. Hoje sabe-se que inspiração divina não é para todos. E tu queres para ti, não é? Tem calma, amigo, também eu queria. Se queres fazer poemas não esperes o além, trabalha e transpira. Trabalha mais do que nunca e depois podes dizer o que quiseres. Se sair bem, dizes que foi a inspiração, ninguém dirá o contrário. Acredita. Melhor, experimenta. Vai e faz melhor, é a lição dos grandes poetas. Eu brinco a isso, e por isso mudei este poema e nunca saberei se para melhor:

E depois de Neruda

Nunca mais o amor será tão fogo líquido e solar
chama antiga rubra depois de Neruda

Tão mulher e colina deusa de Lisboa
muralhas com dorso deitado ao rio em rubor

E depois de Neruda como fica o amor dos corpos lunares
e todo o fogo vulcão veias de leite e mel

Como ficam as mãos secas de calor em festa
e as ruas a calcorrear em corpos de suor depois de Neruda

(Maio – Junho 12)
 
Autor: Carlos Teixeira Luís

domingo, 1 de julho de 2012

O maçarico

O maçarico descascava e cortava a chapa de aço ; um tosco retângulo tomava forma rente ao piso brilhante , recendendo a desinfetante barato e pano de chão ; Eufrásio dirigia a chama ; o medo e a máscara protetora á frente do rosto ,guardando-o das fagulhas intermitentes , ajoelhado sobre o piso polido e regular .

Quinze minutos sem romper uma chapa que não resistiria a dez : algo errado ; uma olhada em torno , flertou com a penumbra e seus habitantes : móveis de aço com revestimento imitando madeira , ar parado , em recesso letárgico . Na parede, a foto oficial do poderoso de plantão , velhas e feias cadeiras ; numa delas,um paletó branco com uma gravata preta a guarnecer um ombro , calendários de mesa , fotos familiares emolduradas de algumas pessoas parecendo ridiculamente felizes , veladas pelo silencio obsequioso e ladeando computadores desligados , no sono de pálpebras escurecidas .

O cilindro de acetileno, mais leve ,contrariava as expectativas , começando a dar sinais de cansaço e esgotamento . Agora , pegar o outro cilindro amarrado no bagageiro da bicicleta , escondida num canteiro, lá na rua. Praguejou , emputeceu-se em surdina na fúria seca e estéril .A noite , em primeira infância, repleta de possibilidades , deslizava sob os ponteiros dos relógios de parede e de pulso,na marcação do tempo desperdiçado .

No terraço, o vigia idoso sentava, escorando encosto e pernas traseiras da cadeira contra a parede , arriava a aba do quepe sobre os olhos , retomando a longa peregrinação de trinta e quatro anos , em busca da grande milhar jamais sonhado do jogo do bicho , de animais fugidios tal a matéria que tece os sonhos , sempre de laços soltos , a desmanchar-se e refazer-se, até a consciência recoser tudo . Na mesinha ao lado , caderneta e esferográfica já destampada ,aguardando o palpite feliz.

Um muro pálido e gretado, ainda não era obstáculo para Eufrásio e o sonho da grana a vinte metros de distancia .Trocou de cilindro, testou a chama e prosseguiu a faina desbastante no metal que não se entregava.

Outra olhada para os relógios de parede e de pulso . Dalí há vinte minutos , o foguetório de ano novo e a liberdade de trabalhar com o gás mais aberto . Agora , ao segundo tempo do jogo de arromba ; a um palmo , alegria e dinheiro , a fuga da vida merduncha e abespinhante , uma respirada acima do sufoco .

Da sacola, tirou a garrafa de cachaça ; na boca ressequida pelo medo, um gole decidido e brusco.Esperaria o início do foguetório. Roma não se fez num dia , aquilo tudo lhe custara um mês de trampo ; avaro na confiança ,ninguém além dele mesmo e o escapulário da Senhora da Conceição , que beijava tremulo , antevendo a misericórdia colossal da Protetora, compreensiva da aflição com que esperneava para sair do buraco , aquele dinheiro a redimi– lo da pobreza e das desgraças menores á reboque ; imagina , até cornudo se tornara , pela mocréia imprecadora ; tratando - o de preguiçoso e cachaceiro até aboletar-se no caminhão de Liberato, o mineiro branquela , macio, risonho e de língua enrolada , á essa altura,nos quintos dos infernos, de brasilsão afora , traçando- a feito galo , tal foram flagrados na boléia do caminhão , nus e felizes ; velhos ódios , mortos de inanição pelo tempo .
Sequer um motel ; sem – cerimônia total , chifrado á frio .Sem muita convicção , ainda bateu mão á faca , mas o peso da idade colocou perguntas de difícil resposta ; a primeira, se valeria a pena o furdunço pensado : ter de esconder-se da possível vingança de gente que sequer conhecia , vinda não sei de onde ; segundo , mulher galheira hoje, tava mais que bem amparada ; homem virou mercadoria sem valor e sem regateio ; preso , teria de virar-se com os advogados oferecidos pelo governo , logo ele , que nunca acreditara em nada que não lhe saísse suado de dentro do bolso , até agora , nesses sessenta mal vividos .

Mais uma lapada ; a cana desceu – lhe incandescente , explodindo no estomago em fúria vulcânica ; subindo, atiçou-lhe o fogo meio morto do cérebro , que começaria a ratear um dia e não mais pegaria nem no tranco da pinga. Lembrou do fim do velho pai e benzeu-se . Outro olhar ansioso para os relógios , agachou – se ; acocorado trabalharia mais relaxado . Pior a emenda que o soneto : do cilindro reserva , um chiar fino e humilhante .Mesmo testado e recarregado ,a válvula liberava aqui e ali , um débil e azulado lampejo de angústia sussurrada e intermitente .

Meia – noite , os fogos pintavam o céu escuro , agora rendilhado multicor na janela e os sibilos seguidos de explosão, abafando os gritos da multidão ao longe . Válvula aberta ao máximo, o lampejo engrossou um pouco , mas a área de luz ao seu redor , foi aumentando e isso poderia ser muito ruim , chamando a atenção do velhote , caso despertasse .Cogitara uma parceria propinosa com o vigia ; mas percebera apenas orgulho babaca de passar trinta e quatro anos e seis meses , dormindo numa cadeira de repartição pública, confessado enquanto ele fingia aplicação na lanternagem daquele passat em petição de miséria , na oficina do Matuto.A cada um , conforme a sua imbecilidade, filosofou entre dentes.

O mesmo sujeito , de graça e ao acaso, falou do caixa automático dentro daquele prédio antigo e maltratado, a dois quarteirões,na hora de pagar o conserto , com um talão de cheques zerado . Da idéia ao plano , apenas meia hora a matutar sobre a vida . Na volta do imbecil , embolsou a mixaria em espécie, decidindo onde e quando , puxaria o pé da merda . E tiraria de vez , claro .

A alma do acetileno minguava , a chama sequer expandia em abertura máxima .
Retornara ao filete de luz , quase chama de isqueiro . O desespero, saía do seu canto escuro infiltrando – lhe a mente ; pensava em ziguezague, uma estranha fé lhe invadia a natureza , empilhando - se por cima de tudo : ir em frente , o mundo muito lhe devia ,era credor de muita coisa , vivia uma vida cada vez mais aparentada com a morte , ir em frente , de qualquer jeito . O tempo avançou e estancou em parada brusca , no relógio de parede ; falta de pilha ou cansaço , palavra chave daquele universo estagnado e mesmo assim , ridiculamente bem posto . O relógio de pulso continuava ; sincronia perfeita com uma angústia suada e tresandando á cachaça .

O salão onde ficava o caixa , de alto pé direito, tinha recessos agora subitamente iluminados e logo escurecidos pelo foguetório ; via em relances os terminais de consulta desligados , tal animais postos em sossego pela escuridão , vigiando-o de suas baias.
No relógio de pulso, meia – noite e quarenta . O foguetório , a essa altura morto e enterrado, deu lugar á boa e velha lua que não mais lhe pacificava a natureza agitada e embotada de aguardente . Agora , restava arrancar a chapa no bico da talhadeira.
A lâmina avançava e recuava ; uma obsessão em aço . Retirou da sacola a garrafa do conhaque reservado ao descanso . Um gole do tamanho da angústia , da frustração , do medo do fracasso e do medo de ter medo. A mente girava , o corpo acompanhando , ensaio de cambalhota sobre o abismo .

Adormeceu . Um bico de maçarico frio e uma garrafa de conhaque, vigiavam – lhe o sono profundo e tranqüilo. Ao amanhecer , preso , sem oferecer resistência , por dez policiais portando fuzis e colete á prova de balas . Na saída do prédio , a alma vazando pelos olhos, na dor de cabeça do ressacante fracasso ; chutou nos testículos um fotógrafo que lhe disparou um flash quase á queima – roupa , levando o primeiro empurrão do tira parrudo e sisudo. Reviravam-se a alma e o estomago dolorido e faminto .Entrou no camburão algemado, na dignidade ainda ébria e empertigada .