Manifesto do coletivo Pó de Poesia
O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.
Creia.
A poesia pode.
(Ivone Landim)
sábado, 7 de maio de 2011
Pele...
Então não espere.
Me tome feito prece...
Me rasgue,
Me inunda.
Ardendo feito um tormento...
Que enlouquece,
Que faz bem para pele.
Chupo sua língua,
Te faço de escravo...
No final... Te corôo como rei realizado.
Fotografia...
Até o fim de mim...
Ode sem rima
numa linguagem totalmente nova
sem saber qual a próxima linha...
simples letras acendendo o caminho
ardendo de ilusão
menos direta, mas com o mesmo efeito
num peito verso
a palavra é como música
prefiro morrer de emoção
me assustar por todas as suas profundezas
voltar a ti meu único eu
que o papel seja o palco
da palavra nua
até a palavra ser um oceano
o salmo se unir ao papel
(vasto e aparentemente sem fim)
em dias de silencio
Poema de Vânia Lopez
Predestinados...
Durante a chuva
um aguaceiro só. Sinal ligado, carro frio, vidros embaçados, mesmo com o
aquecedor dando tudo. Chove. Somem os buracos, os guardas de trânsito e os
meus passageiros. Nem um ponto onde parar pra tomar um café e papear com alguém.
Água sobre todas as coisas e intenções. Na frente do restaurante chinês, alguém acena,
apenas um vulto e a esperança de pelo menos, levantar o calcanhar da merda. Uma
mulher, morena, esguia, um casaco que não dissimula o corpão bem modelado. Ordena
aeroporto. Desligo o sinal. Finalmente ocupado, uma promessa de boa corrida, desde
que pinte um retorno, com um tempo desses. O retrovisor interno me oferece uns olhos
congestionados e duros, uma firmeza que se estende a um queixo decidido e belas
pernas, ainda molhadas de chuva, casaco aberto, mas jeito de pé atrás. Uma voz
tranquila pergunta se pode fumar; claro, o meu coração é de jesus e o pulmão da souza
cruz, há vinte e seis anos, respondo, em troca de um riso e do clique do isqueiro, um
zippo novinho, iluminando olhos negros, de uma beleza diferente, meio escandalosa;
algo de safadeza e orgulho, batidos num liquidificador, com meio copo de campari e
uma rodela de limão galego. Seguimos, rastreados pelo temporal em evolução.
Engarrafamos umas tres vezes; não basta a chuva, ainda existem as murrinhas que
parecem hibernar com o tempo frio e ficam bestando, sob um sinal de trânsito. Digo
um palavrão, peço desculpas, quando lembro que graças às murrinhas consigo espaço
nessa cidade louca e fica bem ser educado com uma mulher tão gostosa, tão perto e tão
distante de mim. À nossa frente, a avenida que leva ao aeroporto, um grande
piscinão,
de um lado a outro. Os maloqueiros já na espreita, sob as marquises, esperando os
carros estancarem, para a aproximação com olhar caridoso e risinho sádico, cobrando
vinte paus pelo auxílio luxuoso do empurra e da flanela esfarrapada para enxugar
sabe
Deus o que, além do meu bolso. Coço a cabeça, olho pra trás, tal um culpado desse
aguaceiro todo; sugiro pegar uma transversal, ela sorri dessa vez com a boca e os
olhos, negros, brilhantes, profundos como o rio do inferno, um dar de ombros como
resposta. Rodamos uns dois quilômetros, até esbarrar noutro rio de chuva, já com o
aeroporto à vista. Engato uma ré, mas ela pede pra parar. Pergunta o preço da
corrida,tira o dinheiro da bolsa, pega um revólver 38 do bolso esquerdo do casaco,
coloca
na bolsa, abotoa o casaco, passa o dinheiro, agradece, sai do carro e caminha pela
divisória das faixas de trânsito. A chuva diminui um pouco. Na calçada, as árvores
erguem seus galhos nus, como quem implora.
Conto de André Albuquerque.