Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



sábado, 26 de fevereiro de 2011

Poema Perdido




Cadê o poema?
Onde está o poema?
Aquele poema que eu escrevi
O dia, o lugar, a hora
eu esqueci.
O poema que era muito inteligente
mas os versos, agora,
não vem em minha mente.
O poema
cuja inspiração
minha mente e o meu coração arrebatou
mas como castelo de areia
ao sabor do vento se desmanchou.
O poema que concebi em plena paz
mas a razão de minha elevação
em minha lembrança não vem mais.
O poema que eu criei
pensando em ti, pessoa misteriosa
seu rosto e seu gosto
não me recordo agora.
O poema que eu compus
num turbilhão de impressões,
sensações, desejos e emoções
que nem consigo imaginar.
A definição dos mesmos.
Qual será?
Cadê o poema?
Onde está o poema?
Que busco embaixo da cama,
em cima do guarda-roupa,
dentro da gaveta,
dentro da bolsa.
Eu quero meu poema.
Onde está o poema?
Cadê o poema?

Marcio Rufino
(Do livro Doces Versos da Paixão)

Notícias e filme proibido




Garoa
latinoamericana
aqui, por enquanto, lutamos
para que não se venda a primavera
como as atrizes de Hollywood.
Por aqui ainda restam lembranças;
a Majestade tão linda dos baixinhos
em seu pornô proibido
não será mais santa
também sou teu menino,
teu Rei
sem reinado, sem fortuna.
A televisão ligada esconde a tua geração
mil e uma histórias em uma noite
muitas coisas caem do céu
caem pequenas estrelas de gelo
grandes estrelas de dianmite
sapateando no ar
o beijo da sola
e o odor que rejeita tua presença
diante da tua vergonha;
das crianças que não nasceram
das mães que não pariram.

Fabiano Soares da Silva
(do livro Pequeno Livro de Poemas)

Pétalas



Por um disfarce natural,
deixo pétalas para serem por ti contempladas.
Te trago pétalas, pois são as cores da rosa
que lhes dão o ar de desejo contido.
A face permanente do amor pode mudar sua forma,
mas mantém a essência.
A rosas falam através de suas cores, suas pétalas,
as vidas se manifestam pelos seus amores,
motivos do viver.

Giano Azevedo
(Do livro Caminhos da Vida)

A Hora Absoluta




Estranhos, meus mortos abrem as janelas
penetram em meu quarto
e me sufocam.
Insinuantes, me beijam e sangram em mim
alegrias e pecados
acariciando, sem pudor
meus sonhos, minhas partes e meus ossos.
Meus mortos e seus gemidos
têm rostos, sinais
e olhos que fagulham calafrios.
Ousados, vêm no breu do sono
e dormem em minha cama
e me despem
e se debruçam sobre meu corpo
silentes e queridos
e rezam e choram por mim
como a lua clamando sua outra metade
como um espelho colando os próprios vidros.
Meus mortos sem censura
meus delicados mortos
que, à noite, penteiam meus cabelos
e, solidários, preparam o meu jardim.

Tanussi Cardoso
(Do livro 50 poemas escolhidos pelo autor)

Quando não se acredita




a vida até que é boa
quando você não acredita
em comerciais de margarina
em novelas do manoel carlos

a vida até que é boa
quando você não acredita
em deus e no diabo
no certo e no errado

a vida até que é boa
quando você não acredita
em previsão do futuro
em remissão do passado

a vida é boa
quando não se acredita
quando ela simplesmente
(se fingindo de acaso)
te surpreende

Beatriz Provasi
(Do livro Esfinge)

Mil sóis




Nessa noite
Meus desejos
serão iscas
atiradas ao mar
dos tubarões.

Nessa noite
meus desejos
serão nacos
de carne quente
lançados aos lobos.

Ainda nessa noite
meus desejos
serão grãos de areia
soprados nos olhos
dos camelos em caravanas.

Mas ao final
dessa mesma noite,
meus desejos
já traduzidos em canção,
seguirão velozes
num luzir de estrelas,
antes que um clarão
de mil sóis, venha
estilhaçar a cena.

Brasil Barreto
(Do livro Farpas & Fagulhas)

Taça Poética




Há um vaso dourado sobre o escrínio
Que decora um recinto azul-turqueza,
Ofertando reflexos de fascínio
Aos que sondam o reino da pureza.

Há magia e luz neste condomínio
Esparzindo os arcanos da beleza...
Quem com o estro coabita em tirocínio,
Fertiliza a existência com lhaneza.

Assim como os antigos navegantes
Procuravam tecer notas distantes
Seguindo fielmente a estrela-guia,

Quando o tédio quer invadir meu ser,
Eu procuro guiar meu proceder
Com faróis desta taça de estesia.

Rubenio Marcelo
(Do livro Horizontes d'Versos)

Frederico



Chamava-se Tristeza e Frederico.
Jamais disse palavra que ferisse.
Ladrão de lua, sonâmbulo pateta,
morreu de hepatite e ser poeta.

Andava sempre como quem inventasse coisas:
uma pera de vento, um filho de madeira,
uma aurora mecânica, um deus, um gato
dançarino, o fogo eterno.

Um dia se perdeu.
Procurou olhos, mãos, braços.
Encontrou apenas sulfas,
um pouco de sonho numa garrafa.

Coração sumiu no ar.
Frederico fez força pra ficar no poema.
Pra que, Frederico?

Pedro Ernesto de Araujo
(Do livro Frederico e outros poemas).