Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



quarta-feira, 6 de abril de 2011

Maestria...

 
Pense num povo guerreiro, de alma otimista, de procedência bem quista. É aquele povo que agora, sofrido, grita por "socorro"... O respeitado Japão. Impressiona-me vê-los no meio de um pesadelo e ainda sorrir, e ainda dizer obrigado, e ainda ser paciente. Sendo que sua terra, sua morada e sua gente foram devastadas ao léu. E com ela, corações, sangue, vida.

Me peguei imaginando um dia sem os meus. Meus olhos inundaram-se de lágrimas. Imaginem aqueles que perderam todos, sem exceção?

Outra coisa que flagrei-me a refletir foram os milagres da sobrevivência, mesmo com tantas tragédias. Vidas foram salvas de tal forma que aos olhos humanos, aos olhos dos normais, era impossível, era delírio. Mas aconteceu. Milagre? Creio que sim, milagre! Quantos nessa vida de meu Deus já tomaram tombos bestas e morreram?
Quantos foram atravessar a rua e morreram? Já pessoas em situações extremas, como a do Japão, passaram a perna na morte e sobreviveram.

Se isso não for milagre divino, não sei bem o que é, não sei qual o mistério. Parece que o Pai maior diz assim: "Ei, você não vai agora não, meu caro, sua missão ainda não terminou, ainda tem muitas lutas regadas de vitórias pela frente". Não adianta, é assim que vejo pessoas que eram para estar a sete palmos daqui e estão ali... Reconstituindo suas vidas, refazendo-se, fortalecendo-se e vencendo.

Diante de tudo que vimos pela televisão, diante de tantas tragédias e destruição, você pode ter a certeza:
a força de vontade, a humanidade, a união e a educação que aquele povo domina prevalecerão. E são com essas pequenas grandes armas do "saber viver" que os japoneses sofridos, mas jamais vencidos, levantarão tijolo por tijolo, com audácia e maestria, seu mundo. Esse é o dom que paira no Japão, a maestria
...


((( Camila Senna )))




Morte primeira de um outro querido

dentro parecia
se mover a morte
como um boi pequeno transita
pelas vísceras da cobra
depois de engolido em boca grande:
a morte já se mexia.
intuída num choro sem razão aparente
com o seu suspensório entre o nosso leve abraço :
descia
indigesta
ácida
até
o
fim
do gordo corpo.

eu que mato Deus todos os dias
não sei onde você está
mas sabe onde estou?
na Copacabana que você tanto gostava
mas aquela, avô, também já morreu
e parece que hoje vocês têm a mais fatal coisa em comum.

faltei sua última grande festa
seria um estrangeiro naquela terra preta
onde ninguém celebraria
ficando mais perto da comédia
a cada aperto da desgraça
conteria eu uma gargalhada?
olhariam lancinante
na dança entre túmulos e flores
o tango que você tanto gostava...

seu charuto, seu cachimbo, jazz, whisky e suspensório
seus caros gostos
quando já não podia pagar
foram os cifrões com as árvores queimadas
naquela Mato Grosso de terras suas grandes
do ceifado verde onde se esculpiam cadeiras, mesas e tronos
poderia eu receber maior herança
do que esses amigos-livros deixados ?
do que essa máquina de escrever que datilografa meus olhos todos os dias?
do que seu jazz letárgico condutor de leões?
seu livro de luz ainda não vista?
seu Zeca Malandro de Santa Teresa?
já sentia a solidão como estrela do quase manhã e deserto
agora é mais.
eu nascido de própria placenta
catarei a pá da morte quando bem quiser
e profundamente acredito
que a gente só morre quando quer

resta respeitar a sua decisão de partir
e só.
resta ler seus escritos e conhecer outras multidões suas desconhecidas
para matar saudade daquela turma que conheci.
resta o acaso da sua morte no sono
resta o seu ronco que era um navio chegando
e partindo de outro lugar você foi
sem maiores avisos doentes
como quem some de uma festa
pelo sexo e a moça encontrada
salva é minha dor pela nossa convivência de corpos distantes
porque o cotidiano é que ressente...

Anuncio: é chegada a horda leonina!
com força maior de destruir
tanto maior é o esquecimento
e com essas sementes-páginas que eram suas
já crescem como espinheiros grandes labirintos.

carrego agora a imaginação do teu corpo no meu.
darei a essa leve dor também felicidade
a menor máscara de todas
que é o nariz do palhaço
você morreu:
nasce Lupi.

Do seu coração parado e frio
surge um andar também de suspensórios
que me fará rir de mim mesmo
antes que os outros o faça.

Poema de Carlos Jubah

Clarice: a Lispector.

 

Trecho de um filme inexplicável, ousado, notável, porém de pouca explicação. Detalhes escorregadios, fragmentados, mas de grande intensidade e emoção. Assim sinto Clarice, a Lispector. Uma diva vestida de camaleoa, traçando fundo toda sua angústia, sua veracidade.

Irreverência nata, cuja mesma embasbacava e a alguns amedrontava. Ao responder perguntas em entrevistas, primeiro, o olhar verde banhado de breu, marcando fundo os olhos de quem a entrevistava. Pausa... E resposta. Fala intrépida, cortante, sem ponto final. Dona de si, regada de carência transparecida em seu ar de rainha e urgência.

A impressão que atormenta-me é que Clarice tinha uma fera feroz ferida dentro de sua vida, e de muitas vidas que a mesma criou. Sempre com resposta na ponta da língua. Pobre de mim tentar definir o inefável. É como nadar num mar estrangeiro de mais pura beleza, e o máximo que eu consegui dizer foram detalhes óbvios, sentimentos fortes, porém externos.

O que seria da literatura brasileira e do mundo sem Clarice? Menos ricos. Clarice compõe com grandeza junto com outros tesouros da terra Brasil. A pluralidade cultural e a liberdade de expressão através da escrita, sendo uma personalidade marcante no meio. Tenho certeza que seu filho ou sua filha de doze anos já ouviram falar de Clarice Lispector. Uma mulher que em forma de um vulcão em erupção entrou em cena... E quando se foi deixou o grito de sua voz ecoando como música que nunca fica careta.

Ao ler Clarice é preciso ter fôlego, pois é um suspirar atrás do outro. Dizem: "meu Deus, que mulher é essa..." Quantas marcas, quantas farpas, quantas palavras que muitas das vezes nos identificamos, aguçando nossas mentes, inquietando nossos sentidos mais reprimidos, aflorando em nós uma vontade louca de desatar nós, sendo tomados por um enigma que impregna. Ser for minha sina ler Clarice, quero seguir assim, sendo arrebatada por puro êxtase.





((( Camila Senna )))


http://minhaalmaepoesia.blogspot.com/

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