Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



domingo, 14 de novembro de 2010

Segredo de Chuva

A harmonia do piano controla
a brutalidade da paixão
Há de se perder o suor, o sangue
da família na infelicidade
lati fundia
Resta o sonho do jovem botânico
que de esquesito cruza flores
com traição
incontrolável segredo de chuva
o mundo é pequeno no sertão
jardim de escondida dor
Memória que brota em mim
Tempo

Entre eu e voce
Há rios de varizes
Entre eu e voce
Há crateras profundas
de celulites
Entre eu e voce
Há um tempo que escorre
flácido sobre minha pele
Entre eu e voce
Há linhas que marcam
choros,perdas e sofrimentos
Entre eu e voce
Há o débito dos meus erros
Entre eu e voce
Há um espelho que te diz
belo e jovem
Entre eu e voce
Há os meus fios brancos
que me levam primeiro
Engano de Tolo

A virgindade desejada não preencheu
o vazio deflorado de sua existência
A rigidez do culto a Deus não retirou
seu desânimo com a humanidade

Hoje voce é passado em tudo
a esquerda não existe e sua
cabeça balança em desequilibrio
Vermelho virou vestida da nova estação
Não há revolução
E agora voce não é nem José
deixou seus poemas no abandono
Voce é a pedra do seu caminho
Se tornou aprendiz do que ainda desconhece
Tem na família uma enferrujada âncora
Mas sua vontade de afundar continua
Sua alma não deixou de ser suícida....
Tímido dentro de mim
Musicado por Dida Nascimento

Agora você me olha
Agora sua mão sustenta
A minha travessia
da estrada infinita
Então fiquemos assim
lado a lado um com outro
para que os anos passados
e esquecidos não esfrie a
salamandra que aquece e
nos fita
Agora voce me olha tímido de
expectativas enquanto minhas
mãos escorregadias te acaricia
com a saudade de minhas lembranças
aflitas brinquemos então
nos intervalos de nossas dores
Agora você me olha
devoremos nossos doces os nossos
dias lambemos um ao outro
Molhando-nos da saliva oculta
Vê se agora me escuta
Pois esse sofreguidão não espera
Então fiquemos mudos em cena
por entre suspiro inocentes
Vem tímido caminhe por
por dentro de mim
Agora você me olha
Agora
Só agora...

Segredo de Bethovem

Música não é ponte estática
Não tem ferro
Música sobreposição
É canção escorregadia
Não é ponte de cimento
que esfria
Música minha "fuga"
O violino sobre o trigo e o
pôr-do-sol
A orquestra silencia e corre
E o som invade o ouvido surdo
Corroe em minha memória
Minha Música minha Redenção
Ponte que flutua nos sentidos
sem segurança do corrimão
Essa Música me persegue sem escala
Ela fala
Para o homem inacabado
Música pronta...

Salomão

Faço versos como quem se desgraça a cada dia
apesar das graças e alegrias
Não sei escrever rimas de esperanças
É fato.
a triste maresia que adorna
meus olhos desagua sal todas as vezes que
vem e vão os dias

Faço verso pedindo licença aos poetas por
minhas linhas tortas e tímidas
Meu poema é em mim um deslugar
Recolhida como Salomão recebi
a sabedoria dos erros mas sem o sangue dos
verbos nas mãos
Finda o fio fecundo de nossa flores
Jamais o jardim germinará o jasmim
fecundado pelo fio que finda

Retundância

Atravessa o mar agitado
e pousa suas palavras
no profundo oceano
De lá lança setas
que ferem a carne
sem ferir a alma
oceanica do poema
E descendo pra baixo
Fica acima das observações
inuteis...
Fios da história
Musicado por Dida Nascimento

Fio que fala bonita
a fala de professor
Tem que saber que preto
fica véio com os tratos do sinhô
carrega cicatrizes no corpo
mas nem por isso é vencedor
Fio de fala bonita
Nem tudo é história contada
Só por preto e por sinhô
Pois

O mistério está no que floresce
No fundo do amor...

Filosofia dos Restos

Grandes estrelas que brilham
na tela da vida crua
Top de lixo e luxo de prêmios
fotografias que viajam no imaginário
verdadeiro dos sofrimentos
de uma vida fragmentada
de alguem que se foi
mas não por inteiro
''Há coisa que tem que ir para o lixo
outras vão por descuido''
O lixo é a liga sociologica
dos humanos que sobrevivem
dentro da filosofia dos restos

Cultura Popular

Para Marcelo Peregrino

Se o bumba meu boi
dança maracatu
é porque entrou no vento
que dança o ventre
Se a sereia canta e encanta
é para o consolo do solitário
e ingênuo marinheiro
Se a língua trava
é porque a língua trancada
pode ser atada
E assim sendo o silêncio
cria uma conferência
de arte na alma

Vlado

Para Wladimir Herzog


Ainda é tempo de dizer que te amo
Não porque fui sua contemporânea
ou li algum artigo seu!
Não.
Porém vi um documentário
dos seu amigos do coraçao
bispos, rabinos,reverendos
jornalistas e parentes
Todos citaram a liturgia do amor
contra as injustiças que abandonam
Hoje não existe mais essa ditadura
Todavia o povo continua na vida dura
Wladimir nome sonoro em minha vida
de fios de violinos...Eu teamo
sem a tortura de minha ignorância

Primogênita

O silêncio sela as paredes da alma
Depois o esquecimento enterra
e a lembrança passa a ser
um corpo ressussitado

Adágio ao sol

O café floreando os colonos
que vão saindo para o trabalho
O sol esquentando as marmitas
As árvores que se amam
e morrem secas quando perdem
aquela que está ao seu lado
O novo dia encerra os assuntos desagradáveis
Adágio ao passaros tirando
seu canto do piano solitário
Contudo o café vai florescendo
e perdendo seu valor