Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O poeta esteve a beber

Esteve a beber num bar qualquer até ao momento em que lhe surgiu uma ideia e teve que a escrever.
De vez em quando prime duas teclas ao mesmo tempo, mas como é perfeccionista, volta de imediato atrás para apagar.
Bebe como escreve. Bem.
A história daquele dia era sobre um homem a quem os médicos proibiram a escrita.
Causava-lhe imensa ansiedade, provocando-lhe arritmia cardíaca, pelo que o acto de escrever não lhe era recomendado. Emocionava-se com aquilo que escrevia e havia alturas até em que dificilmente continha as lágrimas.
Definhava dia após dia. Não comia, andava triste e apagado.
Numa ocasião, um amigo seu de longa data, vendo-o desaparecer progressivamente, disse-lhe:
- Ouve lá ò João, tens que beber uns copos e mandar isso para trás das costas…
Assim fez, começando logo naquela hora.
Passou uma tarde fantástica, divertindo-se e fazendo divertir os outros. Nem parecia o mesmo.
No dia seguinte repetiu a dose, e depois, e depois, e depois.
Bebia e esquecia que um dia escreveu poemas de uma lucidez tal que lhe doíam.
Mas uma hora, deu-lhe vontade de escrever.
Correu para casa para passar a ideia para o seu computador com pó.
De vez em quando prime duas teclas ao mesmo tempo, mas não volta atrás para apagar.
Um dia começou a sentir-se mal. Arrepios pelo corpo, tonturas, visão dupla.
O mesmo médico que o tratou da maleita anterior, após observação minuciosa, disse sério do alto da sua magistratura:
- Se continuar a beber para escrever, vai acabar por morrer. Não de arritmia, mas de cancro no fígado…
João não bebeu nessa noite, nem nas seguintes, e nas seguintes, e nas seguintes.
Definhava da cura novamente.
Até que um dia, contemplando infeliz o rio que corria na sua alma, sentiu no ombro uma mão que o cumprimentava.
A cara era conhecida e parecia envolta em luz, mas não era dali.
Abraçaram-se e começaram a caminhar até a um ponto do horizonte, onde criador e personagem são um só.
Depois desapareceram, e eu escrevi.


Conto de José Ilídio Torres