... comprimir – lhe o pescoço em meio aquele azul estonteante , o céu como se
fixado por um prego, a brisa marinha hesitando sobre um mar que seria até macio
em seu azul e poemas,perceber a vida esvaindo-se e a entrega do corpo ao próprio
destino , ao fim comum e desejado por nós, por ela principalmente, que não mais
desejava a angústia medida do saco plástico e meus polegares a constringir - lhe
a traquéia . Transfigurada , consoante ao azul maravilhoso que nos protege e
envolve de cima a baixo ; o mar , arremate final da pequena morte ensaiada em
tantos quartos de hotel dispersos pelo mundo , luxuriante forma adiada de morrer
sucumbindo ao orgasmo convulso, á estripulia de sensualidade (o que é um
nome?),a camisola de seda meticulosamente dobrada,creme sobre o corpo perfeito e
macio,
- Por que não três gotas de Chanel número cinco ?.
Mesmo não sendo
um homicídio (que de certa forma era) , antes suicídio consumado a quatro mãos
(duas da bela assassina de si mesmo) nem assim o queria plágio :
- Não sou a
Marylin
Gostosas e tépidas mãos do seu mais louco amante, disposto a ir onde
os outros recuaram por não compreender que aquele morrer era um supremo gozo ,
inigualável porque definitivo em seu impacto de vagalhões de prazer a
submergirem o seu corpo, azul da cor do mar, entre aquelas tão pequenas ilhas,
onde tudo isso poderia ser um filme (nós e apenas o sol por testemunha) mas o
sol não era nada, apenas figurava naquele equador , no esvair-se da vida comum
para a liquidez que dissolvendo, acrescenta-nos ao todo maior.Então lembrei da
primeira vez que me ordenou o suplício,aquela pequena introdução á asfixia, em
meio ao gozo, sacudida e inundada por mim , aríete e fonte , a serviço do tesão
infinito, multiplicado á cada compressão do pescoço sedoso, luzidio
,untado,perfumado e cheirando a sol , minhas mãos deslizando na mesma cadencia
em que lhe percutia o interior, a caminho do prazer oceânico , seguido do largo
e profundo sono dos amantes .
Então , que o mar te receba , azul em todo
resplendor que um veranico poderia nos oferecer ; agora toda inércia e
serenidade, atingiste o teu nirvana ; percebo o sangue nos meus braços lanhados
por tuas unhas que apenas eu sei resultado do prazer supremo , não do medo nem
do tolo apego á vida que sempre censuraste , pois toda maneira de amor vale a
pena ; entre nós, a vida tangenciando a morte anos e anos ,em que te completava
e seduzia, pelas mãos mais fortes e precisas já vistas nas tuas andanças pelo
mundo . Descobri a proximidade de viver e findar-se , no momento do gozo , onde
morremos para nós mesmos e para o mundo na brevidade casual e humana que nunca
te satisfez. Escolheste hoje, o gozo supremo , sob este céu sem nuvens e um sol
agora meio escorregadio para a curva do horizonte,deslizando,como indo ao teu
encontro, no cemitério marinho .
Ligo o barco ,faço- o descrever um adeus em
larga e preguiçosa parábola ; sigo sem olhar a esteira do meu caminho , vezo e
sina de vida breve .
Conto de André Albuquerque
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