Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Brasis de meus polegares

Gangrenou-me um índio na boca, tive que me operar por um sisal de cactos. Meu pai, fumando um cachimbo de pátria que de vapores era fumo, teve que ser padeiro.
Eu nunca vi terras de Vera Cruz que não fosse pelas fotografias que sempre existiram nos açores de outros voos.
Eu nunca vi India tão para lá do Ganges do meu bidé.
Eu nunca consegui domar este meu pé imperialista, esta minha sede de ser maior que um oásis, este meu camelo dorso onde me aninho.
Eu nunca consegui ser água de lágrima, rio de pó.
Sou preta feia, sou Cesária bem morna com o meu país.
Sou as Franças da menina puta, que um dia, por não saber a quem endereçar a angústia, se diluiu num rio e por via disso os peixes, mais secos que enguias, tiveram que mendigar o pão pelas portas, escorregadios.
Eu sou a miséria de um grito sem fronteiras. Um trapo arregaçado, um prepúcio.
E raios se não me rasgo, se não me caravelo, se não me enfuno nestas velas lusas.
Dane-se esta merda doce de ser português, comida às colheres no jardim florido de uma cigarra vadia.
Era prima de uma formiga, mas foice*.

*Símbolo com que se representa o Tempo e a Morte.




Autor: José Ilídio Torres