Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Voltou?

Senti o coração estremecer
E o meu olhar brilhou com seu sorriso
Nem o cantar azul do rouxinol
Nem o brilhar dourando o som do sol
Fez assim meu sofrer ser mais preciso.

Minha alma triste foi ao seu encontro
Mas minhas mãos frias quedaram quietas
Nem sussurrei palavras vãs e falsas
Travei ao ver as suas cãs tão alvas,

Pois nem o sal das lágrimas vertidas
Somaram sóis ao seu retorno, embora.
Você voltou? Que quer de mim agora?
Esqueça o existir meu ser assim
Vou caminhar sozinha como sempre
Não posso esquecer o que sofri.

Poema de Paola Rhoden.

10 ou n - Do presente e suas minas terrestres

Sinto agora menos o cheiro do sândalo. Não pelo meu nariz, nada débil ainda. Mas porque hoje escrevo no ar fresco. Sinto o vento no meu corpo quase nu e quase choro. Choraria se isso fosse poltrona e minha tela cinema. Aqui há muita luz e de tanta quase não vejo o que escrevo. Desvio o meu olhar para não me fitar nos olhos. Não quero me constranger. Preciso fingir para mim que não estou aqui senão não escrevo. Se eu sangrasse perto de você talvez te mataria. Paro. Minha mente fala freneticamente para a mudez. Não. Minha mente fala freneticamente sobre a mudez. Meu ato falho. E não vou usar a tecla do voltar. Quero uma chuva de atos falhos. Acredito melhor ser do que uma garoa de canivetes. No próximo amigo oculto vou te dar um ato falho de presente. Aviso de antemão porque quero que você já vá escolhendo a cor. O tamanho é uma surpresa indizível... A música de fora confunde um pouco a minha naturalidade. Ouço sem querer ouvir. Ela que é repreensível fuga. Vou tentar escrever vendado. Não me posso olhar-te nos meus olhos. Seja lá o que isso queira dizer. Meu escritório é no jardim. Escritório não. Porque não te escrevo por demanda. Hoje, te amo no jardim.
Melhor assim. Hoje, me amo em flor. Pior enfim. Porque venta forte: o que dramaticamente me despetala.

Parei. Nadei no branco. Volto com o fluxo intermitente da minha urgência em ser honesto e não raciocinar. O que há por trás dos parâmetros escolares vividos, da célula familiar imposta pelo bem querer do outro que não quer ser outro só porque tem no sangue igual marca d´agua, do dito mimético do televisivo, dos desamores, da desaprovação, da falta de carinho com todas palavras quando discriminamos os palavrões e tantas outras exclamações que são nosso dom de ainda se arrepiar com o mundo... E principalmente: o que há por trás do pensamento. Tudo se imaginarmos.
E nada na morada do raciocínio: o treino do reconhecível. Olharam agora minha cara de honestidade e perguntaram se estava tudo bem. Acho que não fui reconhecido. Paro. A célula familiar insiste em invadir. Vou abrir concessão. Tão estou comigo. Na verdade abro concessão para que eles fujam. Vou cantar o número do bilhete. E vou fingir com uma corneta o apito do trem.

O claro fluxo da distorção. Como condensar os sentidos até eu cacarejar e botar um (n)ovo? Como condensar toda a tempestade quando se tem apenas um copo de água?
Arde em pequeno copo essa aguardente que é sentir demais. Acho que minha boca deveria ser no pescoço para afastá-la da face. Falta pouco. Já tenho dentes nos dedos.

Mordo e te assopra a brisa. O invisível que bagunça os cabelos e torna visível tua feiúra não fosse o pente. Não fosse o pentecostal. Que aceita teu desgrenhamento porque, caro, tu és bom. Garoa canivete. E tudo que queria te contar já se transformou em outra coisa. Fiz uma lista e até agora nada assinalei. Nado no branco. Fiz bem em transar o acaso. Teus sentidos não podem ser meu diário de bordo. Aliás diários de bordo não deveriam existir. Diário igual a regular. E não é todo dia que se tem papel, nem todo dia se fura olho com caneta. E diários são documentos passadistas. Nosso jogo aqui é o fluxo que estremece, mas não goza. Tântricamente se engole porque o presente não tem pés para fugir. O em si do presente não existe para quem se ...

Acabo de me recuperar de um susto e tenho o coração ainda raivoso. Pensei ter apagado sem querer tudo o que havia escrito. Quase deletei meu agora. Como as teclas são propícias para a auto sabotagem. Basta a mente induzir um escorregamento pelos dedos e pronto. Tudo branco. Como se auto sabotavam os escritores de máquinas de escrever?

O em si do presente não existe para um espantador de segundos. Mas quem voa? O espantalho ou o passarinho-segundo? Não. Esse espantalho espantador tem asas. E no pouso tudo voa junto. O presente não tem pés para fugir porque só saberá andar no futuro. O presente não sabe. O presente só sabe acaso. Ele cai. Por pensar saber andar, por lembrar de um andar passado ele cai. Tomba pra frente feito árvore pesada e serra. Cai porque anda sem tatear e não vê que os pés são os mesmos, mas mutáveis são as geologias de terreno que nos precedem. Cai pra frente a árvore , rola no íngreme do acaso – já é toco- e torna a cair agora fundo. Cai agora fundo no lago. E os pés são os mesmos. O presente não sabe. A idealização é a corrupção do presente. O por vir imaginado é propina para calar o segredo do acaso. Qual o segredo do acaso? Quando não se sabe desconfia-se de qualquer sapiência. Qual o segredo do acaso? O presente não sabe. O presente é sempre uma criança no devaneio de ser criança. O presente não tem pés: engatinha. E cai. Por isso corrompem o presente com propinas tão vulgares como balas tic tac. Querem calar a criança com balas. E não se fala de boca cheia, dizem os que atordoam o presente com açúcar. Quando há insegurança nunca as crianças são consultadas. Elas possuem o devaneio da verdade que não é verdade: é apenas a linguagem emergencial da franqueza do não saber. O presente não sabe.

De nada adianta o esmero técnico e os revisionismos. Assim como de nada adianta reler o todo escrito até agora em busca de alguma coesão entre mim e tu, leitor do invisível. O presente é fatal e não tem pés. Só anda quando estende os braços até tocar o chão. E o toque não se faz de mãos. O chão beija a muleta e tudo finge andar. Com braço-muleta estendido caminha o presente cambaleante; a muleta esquerda ensaia os passos que aprendeu lembrar e a direita dança os passos tolos da esperança. Leitor, entre esse mal ajambrado e cambaleante presente espantalho propinado e o mutilado presente, fico eu com o ápode acaso, fico eu com o que não tem pé. Nem cabeça. Fico eu com os mutilados das minas terrestres. Pelo gosto do tempo antes as minas do que as balas. Mesmo as de açúcar. Sobretudo as de açúcar. Sobremaneira as que calam a criança-presente por não respeitarem o seu nada saber e tudo falar. Ela vai no âmago da terra porque desaprendeu tudo da vida embrionária e intui a natureza da intuição. E a natureza da intuição é o não-pensamento, ou o pré-pensamento, caso alguém aqui faça questão do que existe. O canhão do passado por onde se mete a bala pela frente ou a traçante de verde facho luminoso do futuro? Nem um. Nenhum. Nem outro. Fico eu com os mutilados das minas terrestres. Se pisa no acaso e logo explode em sangue os pés do presente. Mas não há traumas. Nem lembranças de guerra. O presente nada sabe. E sorri um sorriso de criança que convence o mais duro passado.

Texto de Carlos Juba

Fastfood-se

Bom dia!
Qual é o seu pedido?
O nº 1, o nº 2, o nº 3,
o quatro, o cinco ou o seis?
Mc WC,
Mc marmita,
Mc x, Mc shit,
Mc pão com ovo & fritas!

Boa tarde!
Faça o seu pedido!
O nº 1, o nº 2, o nº 3,
o quatro, o cinco ou o seis?
Sunday de sangue!
Sunday de coco-late!
Coca-Cólica SEMPRE Coca-Cólica!

Próximo!
Benito Mussarela rangando pizza de mussolini
& cachorro-quente (hot-vale)
perseguindo
churrasquinho-de-gato-grego-grelhado
num desenho desanimado...

Poema de Andri Carvão

domingo, 27 de fevereiro de 2011

De la noche

Adolfo caminhava pela Duque de Caxias. Sozinho, em mais uma noitede domingo. A rua era tão diferente, sem o caos fedendo á gasolina, sem a sujeira doscamelôs, sem aquela gritaria tão estúpida e real. Queria mais esquecer de si mesmo,no meio da noite quente e apática. Ponto de prostitutas,último reduto noturno de travestis,
similares e muitos simpatizantes. As formas de solidão mudaram,ao longo dos anos.
Lembrou do tempo em que encostava num balcão e logo alguém vinha ter consigo.
Hoje, sem balcão,apenas caminhar em direção à noite suja e sem atrativos, arriscando
um marinheiro perdido ou um rosto desgarrado da fauna noturna do cais, no espasmo
munganguento de crak, a quem pediria o cigarro de sempre, prenúncio de papo, olhar
de nojo piedoso ou de puro e simples nada consta. Percebeu um cara de jaqueta jeans,
encostando-se no poste, do outro lado da rua; tipo magro musculoso,calças
justas e um olhar vazio em forma e direção, de quem via tudo sem nada observar.
Recostou-se na banca de revistas fechada, sob uma marquise. Olhou os bancos de
camelô desmontados ao longo da rua. As putas desciam dos velhos sobrados, à frente
dos homens da ocasião, com um olhar altaneiro de senso de dever cumprido. Sou
puta e daí? Cada um segura a sua ôia, dizia Zefinha Pé de Garfo, um corpo escultural
sobre um pedestal deformado, um kama sutra ambulante, agora, arremessando um beijo
para Adolfo, sobraçando o presente da neta, no retorno para casa. Mais uma bateu o
ponto e fechou o escritório, pensou Adolfo, cigarro apagado nos lábios de pomada de
cacau. Mãos inquietas procurando um isqueiro. Acendeu, acalmou as longas mãos
manicuradas, dedos luzidios. Fumou pela metade, jogou fora, apreciando a pirueta
da brasa, até cair no chão. Recomeçou a caminhada, percebendo-se seguido à distância
pelo homem de jaqueta jeans. Um discreto olhar para trás. Chegou à porta da
hospedaria Novo Horizonte. Subiu o primeiro lance de escadas e puxou do bolso a
chave do quarto, dando tempo ao cara de subir. Era um homem bonito, olhar sombrio e
braços musculosos. A mão esquerda tatuada, brinco na orelha direita, idade
indefinida,como tantas outras coisas da vida. Trocaram um sorriso meio envergonhado, adentrando o quarto. O estranho preferiu penetrá-lo de pé. Adolfo excitava-se e rangia os dentes de prazer. Ao perceber a corda de náilon no pescoço, o mundo estava cada vez mais cinzento e silencioso.

Conto de André Albuquerque

Marcio Rufino no Putzgrila



Na noite do dia 19 de fevereiro de 2011 aconteceu em Nilópolis a décima edição do evento Putz Grila que envolve música, teatro e poesia. Eu tive a honra de participar representando os coletivos que faço parte que são o Pó de Poesia e o Gambiarra Profana no vídeo acima eu declamo os poemas Louco Currículo e Mulher-Hiena.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Poema Perdido




Cadê o poema?
Onde está o poema?
Aquele poema que eu escrevi
O dia, o lugar, a hora
eu esqueci.
O poema que era muito inteligente
mas os versos, agora,
não vem em minha mente.
O poema
cuja inspiração
minha mente e o meu coração arrebatou
mas como castelo de areia
ao sabor do vento se desmanchou.
O poema que concebi em plena paz
mas a razão de minha elevação
em minha lembrança não vem mais.
O poema que eu criei
pensando em ti, pessoa misteriosa
seu rosto e seu gosto
não me recordo agora.
O poema que eu compus
num turbilhão de impressões,
sensações, desejos e emoções
que nem consigo imaginar.
A definição dos mesmos.
Qual será?
Cadê o poema?
Onde está o poema?
Que busco embaixo da cama,
em cima do guarda-roupa,
dentro da gaveta,
dentro da bolsa.
Eu quero meu poema.
Onde está o poema?
Cadê o poema?

Marcio Rufino
(Do livro Doces Versos da Paixão)

Notícias e filme proibido




Garoa
latinoamericana
aqui, por enquanto, lutamos
para que não se venda a primavera
como as atrizes de Hollywood.
Por aqui ainda restam lembranças;
a Majestade tão linda dos baixinhos
em seu pornô proibido
não será mais santa
também sou teu menino,
teu Rei
sem reinado, sem fortuna.
A televisão ligada esconde a tua geração
mil e uma histórias em uma noite
muitas coisas caem do céu
caem pequenas estrelas de gelo
grandes estrelas de dianmite
sapateando no ar
o beijo da sola
e o odor que rejeita tua presença
diante da tua vergonha;
das crianças que não nasceram
das mães que não pariram.

Fabiano Soares da Silva
(do livro Pequeno Livro de Poemas)

Pétalas



Por um disfarce natural,
deixo pétalas para serem por ti contempladas.
Te trago pétalas, pois são as cores da rosa
que lhes dão o ar de desejo contido.
A face permanente do amor pode mudar sua forma,
mas mantém a essência.
A rosas falam através de suas cores, suas pétalas,
as vidas se manifestam pelos seus amores,
motivos do viver.

Giano Azevedo
(Do livro Caminhos da Vida)

A Hora Absoluta




Estranhos, meus mortos abrem as janelas
penetram em meu quarto
e me sufocam.
Insinuantes, me beijam e sangram em mim
alegrias e pecados
acariciando, sem pudor
meus sonhos, minhas partes e meus ossos.
Meus mortos e seus gemidos
têm rostos, sinais
e olhos que fagulham calafrios.
Ousados, vêm no breu do sono
e dormem em minha cama
e me despem
e se debruçam sobre meu corpo
silentes e queridos
e rezam e choram por mim
como a lua clamando sua outra metade
como um espelho colando os próprios vidros.
Meus mortos sem censura
meus delicados mortos
que, à noite, penteiam meus cabelos
e, solidários, preparam o meu jardim.

Tanussi Cardoso
(Do livro 50 poemas escolhidos pelo autor)

Quando não se acredita




a vida até que é boa
quando você não acredita
em comerciais de margarina
em novelas do manoel carlos

a vida até que é boa
quando você não acredita
em deus e no diabo
no certo e no errado

a vida até que é boa
quando você não acredita
em previsão do futuro
em remissão do passado

a vida é boa
quando não se acredita
quando ela simplesmente
(se fingindo de acaso)
te surpreende

Beatriz Provasi
(Do livro Esfinge)

Mil sóis




Nessa noite
Meus desejos
serão iscas
atiradas ao mar
dos tubarões.

Nessa noite
meus desejos
serão nacos
de carne quente
lançados aos lobos.

Ainda nessa noite
meus desejos
serão grãos de areia
soprados nos olhos
dos camelos em caravanas.

Mas ao final
dessa mesma noite,
meus desejos
já traduzidos em canção,
seguirão velozes
num luzir de estrelas,
antes que um clarão
de mil sóis, venha
estilhaçar a cena.

Brasil Barreto
(Do livro Farpas & Fagulhas)

Taça Poética




Há um vaso dourado sobre o escrínio
Que decora um recinto azul-turqueza,
Ofertando reflexos de fascínio
Aos que sondam o reino da pureza.

Há magia e luz neste condomínio
Esparzindo os arcanos da beleza...
Quem com o estro coabita em tirocínio,
Fertiliza a existência com lhaneza.

Assim como os antigos navegantes
Procuravam tecer notas distantes
Seguindo fielmente a estrela-guia,

Quando o tédio quer invadir meu ser,
Eu procuro guiar meu proceder
Com faróis desta taça de estesia.

Rubenio Marcelo
(Do livro Horizontes d'Versos)

Frederico



Chamava-se Tristeza e Frederico.
Jamais disse palavra que ferisse.
Ladrão de lua, sonâmbulo pateta,
morreu de hepatite e ser poeta.

Andava sempre como quem inventasse coisas:
uma pera de vento, um filho de madeira,
uma aurora mecânica, um deus, um gato
dançarino, o fogo eterno.

Um dia se perdeu.
Procurou olhos, mãos, braços.
Encontrou apenas sulfas,
um pouco de sonho numa garrafa.

Coração sumiu no ar.
Frederico fez força pra ficar no poema.
Pra que, Frederico?

Pedro Ernesto de Araujo
(Do livro Frederico e outros poemas).

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Minha pele
não anda mais
à flor
Minha pele é um
jardim, quase que botânico,
mas secreto
cheio de ervas daninhas,
cipós e trepadeiras
a espera de um jardineiro
diposto a ornamentá-lo.

Jorge Medeiros

Pior que isto

Eles me querem condensado
e eu me quero pior que isto.
Eu me quero pior que eles.
Porque me quero violento e eles o pacifico.

Escrevo com raiva e penso ainda pior que isto.
quero me esmurrar todo pra ver se caibo
na caixa do meu próprio desejo
mas eu escorro, sempre
no fundo e raso
gosto disso

aos interessados: ainda tenho pena!
só do que não sou eu
vitimizem-se longe de mim
não suporto ouvir nem meu próprio choro
troco de face feito um gatilho
que da arma cinza e pesada solta uma flor!

aos atrasados: o barco partirá comigo.
As minhas sirenes serão mudas.
As minhas sereias desafinadas, espantalhas de medusas!

Se virem de longe minhas mãos acenando
dêem um banho de mar para acordar suas ingenuidades!
Comemoro a fato de ter tido coragem para mentir as horas.
E, finalmente, ir só.
Forcei um atraso. A hora equivocada era um não-convite.
“-Cheguei tarde! ", um lamentaria...
E parto satisfeito olhando o cais cheio...
Gritaria com voz de lavadeira:
“Para mim tu nunca vieste, porque convidei apenas o teu equivoco!"

aos que me chamam de egoísta:
sou o mais multiplicador que conheço:
por saber pouco.
agora , se é para partilhar
comungem longe de mim
detesto ver a alegria dos outros quando dividem as migalhas entre si e pelo chão
porcos afarinhados!
Alegram-se por essa caridade ?
obrigada pela culpa ?
enquanto escondem o pão no alto
da vista daqueles que sào suspeitos
Por que cheiram como vocês!

um egoísta suscita -ismos
porque ama o singular

egocêntrico?
orbitando em mim, queimo-me menos
do que guardando a luz do sol nos meus poros
pela frente e depois pelo verso
depois ainda quando estou bem negro,
(a coloração indivisivel da noite e do lago)
rodo, danço, dissipo o calor do que há em minhas poeiras-lodo!
Mas os tolos, sempre friolentos
- certa necessidade de abrigo-
oportunamente gostam.
Oportunamente!
Quando descobrem que o quente lhe dá mais
do que esses arrepios chamados de vontade!

Egocentrífugo! E posso sê-lo!
Querem formas> massa!
Querem trabalho> o cio

Aos que brincam com a minha amizade:
estão voces mais vulneraveis ainda.
Estão perto!
Embora as armações sejam tortas
-pois o afeto assim capta o maior abandonado-
as lentes são afiadas. E de grau.

Que raiva essa mais feliz!
Confia e sorri.
Branda densidade magmática!
Uma senhora que era puta
mas nunca prostituta, nunca se prostrava!
Cristalizar essa raiva?
Seria congelar orvalhos e colecioná-los!
Quando a graça é a grama molhada...
O matinal.

Minha raiva é do vespertino tardio
do horror à buzina do pão e do sonho
E se uns temem palhaços,
eu temo pipoqueiros das saídas escolares!

querem dados os tecnonarcisistas ?
dardos lhes atiro no espelho

Sorrio, gosto de sorrir
gostando ou não de você
gosto antes daquilo que nos perpassa.
Por que a relação haveria de ser você?
a relação em si me apraz
sou linhas, linhas!
sorrio, sorrio confortável
a maciez letárgica que dá dor nas costas.

Não irei mas sanear pensamentos
em nome do asséptico
nem desligar meu curto circuito
entre volume e superfície.

Quero as minhas cadeias de pensamento!
Derreter grades e forjar pedestais-plataformas
para voar, voar!

Poema de Carlos Juba

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Par

Duas vidas tão diferentes,
Perfeitas em solidão de astro,
Conjugando-se, agora, em rota irregular
De meteorito errante, sem destino.
Essas vidas embevecidas
No laço breve dos dias e noites,
E és noite, madrugadas
De lua ensolarada,
Iluminando-te o rosto lhano
Sem sonho ou mistério,
Sem quimera ou segredo.
Em tua vida,
Todos têm pele, sabor, carícias,
O sonho insonhado, antes vivido,
Quimera transida de medo e desejo,
Segredo rasgado por leitos e veios,
Ideal feito
De seio e regaço,
De promessa e abraço
Qual árvore de pomos pendidos,
Quase todos colhidos,
Iguarias comuns de raro quotidiano.
Quão diferentes nossas vidas!
Ainda assim se uniram,
Encararam-se e, após o fascínio,
Sobreveio o estranhamento.
Uma que é pura invento,
Teoria sem experimento,
Invenção jamais provada
Pelo vento, pelo mar e os homens,
Conservada como relíquia, dor
No fundo de gavetas esquecidas.
E a tua: (invejo-a!)
A vida sem reticências,
A interrogar vetustas exclamações.
Texto bem acabado,
Muitas vezes revisto,
Escrito na tênue folha marinha das águas.
Tua vida: queimadura, cicatriz,
Gozo e generosidade.
Belo 14 Bis, Zepelin,
Mais uma vez,
Alçando-se aos ares.

Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.

Enxurrada das almas...

Ainda hoje te ouço, Carlos
e, mais que ontem, Drummond,
se os olhos aprendessem a chorar
teríamos um segundo dilúvio
e esse teu poema seria levado
pela enxurrada das almas,

e durante, e após o aguaceiro,
restariam gentes,
novas gentes,
à fazer poesia novamente.

Mas não chove;
o tempo é de secura,
não há enchentes
e as ruas são vazias,
apesar das gentes.



((( Zé Carlos Batalhafam )))


Barbitúricos

Barbie no outdoor
Barbie diet-coke
Barbie no Carrefour
Barbie de baby-look
Barbie hippie
Barbie punk
Barbie vamp
Barbie vip
Barbie junkie
Barbie robô bip-bip

Barbie na Ferrari
Barbie ao celular
Barbie rastafári
Barbie super-star
Barbie kitsch
Barbie clubber
Barbie chic
Barbie freak
Barbie poser
Barbie usa aplique

BARBIE
Estrela de primeira grandeza em Hollywood
Pisou na calçada da fama e dispensou um grude
- Quem é Ken?

Barbie banho de sol
Barbie com poodle
Barbie de baby-doll
Barbie sex-symbol
Barbie Madonna
Barbie city
Barbie hit
Barbie cafona
Barbie flit
Barbie só sai à tona

Barbie de biquíni
Barbie stress
Barbie na vitrine
Barbie topless
Barbie Babel
Barbie pop
Barbie top
Barbie Nobel
Barbie stop
Barbie não cai do céu

BARBIE
Chegou com chofer num inferninho toda de Pink
Sentou cruzou as pernas e agradeceu pelo drink
- Quem é Ken?

Barbie overdose
Barbie de porre
Barbie dá um close
Barbie é um porre
Barbie fashion
Barbie flash
Barbie trash
Barbie neon
Barbie sexy
Barbie botox e batom

Barbie na maconha
Barbie puta que pariu
Barbie zen vergonha
Barbie descobriu Brazil
Barbie MTV
Barbie démodé
Barbie karaokê
Barbie bi
Barbie ilariê
Barbie olha o bem-te-vi

Barbie barbárie
Babe baby
Bi-bi
Trêbada trepada
Barbie vai ter um bebê
Diretamente da Zorra Franca do Paraguay
Para a privada da quitinete do papai

Mamãe serial-killer
Papai drag-queen

Barbie deu um pau na Suzy de robe
Não aceita dividir nem o Ken nem o Bob
Barbie deu outro pau na Suzy sem
Não aceita dividir nem o Bob nem o Ken

Nunca aceita dividir nada com ninguém

Poema de Andri Carvão.

Bragi, deus da poesia

Bragi, deus da poesia.

I
Os seus cantos as guerras entoavam,
O deus versos declama poesias;
Evocado nos gelos que inflamavam
Os mais nobres desejos. Fantasia
Dos gigantes vencidos que ensejavam
A fronteira do céu ao vir desse dia.

II
Da presença de Iduna desfrutavam
As maçãs preciosas. Dividia,
A divina, a beleza que esperavam,
Numa caixa guardada que aprazia.
Eternizam os deuses que encontravam
Juventude, a vaidade em primazia.

III
Ao seguirem maçãs, auto-invocavam
Os poetas: Verseja todo o dia
Ao lirismo que faz desse divã
O pensar numa vida, assim vadia.
Resolvendo ficar na tal maçã
Cuidará da verdade luzidia.


Poema de Yayá.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O poeta...


SENNA



O poeta é o bem-amado
O rejeitado
O artista.
O Poeta é o afinado
Com o coração desafinado
Que vive sempre despedaçado.
Nesse mundo de vida,
Nesse mundo de morte,
A trilha certa do poeta é a dor, que se encontra com o amor.






((( Camila Senna )))




Sem lei...

Não tem lei que me prenda,
Pois sou da avessa...
Viro a mesa toda vez que preciso.
Da ideologia, não sei...
Por que a minha, eu mesma a criei.
Não faço versos letrados...
Faço versos marcados, que são, para mim, sustento!...
Erudito, em mim, só meu coração.
Meu conhecimento vem da minha vivência.
Da calçada pintada, das experiências cravadas!...
A vida ávida que mora em mim, precisa, anseia... Ser livre!


((( Camila Senna )))


Elétrica 1 ou "Do cotidiano fantástico"

A mirra tem sido meu transporte favorito. Talvez as teclas sejam a salvação da minha descoordenância, velocidade entre o dedo e o pensamento. Deixo agora fugir o é que é ser. Penso que as ervas estão na gaveta e procuro uma bacia que possa ser contaminada. Escrever aqui é poder. Uma brincadeira oculta. Uma folia mística de neurônios e elétrica. Traz culpa também essa linha. Derramei o dia pensando nos temas que sou eu. E os alagamentos de fora? Me perguntei hoje o dia inteiro. É engraçado pensar na sua condição de leitor. Esperto ao contrário eu escrever que estou com ervas atrás de mim e fazer você ver um jardim de pés empoeirados. Falo em ervas, sim. Mas estou com malva quente no cú. Li que cura abscessos.

Olho para as cores da paleta. Feia mistura faz brotar quadros patéticos. Não se já falei isso. Mas além de não saber escrever, também não sei pintar. E faço as duas coisas. Elas não tem que ser. Elas já é. Elas já unas no indivisível eu. Elas onde me estouro. Elas onde sou beira. Escrever é a anti-loucura do retroceder. Alquimia de tempo. Contração e descontração para fazer caber no entre criptografadas sombras do que há por trás do pensamento. Só cheguei na sombra. Ainda. Cheiro a malva quente. Tem cheiro de guardado amargo. É como se ela por trás o velho puxasse o velho. A afinidade dos amargos, o segredo do meu corpo rompido pela voz da erva que chama. Leitor, se enlouquecesse ainda mais meu cotidiano você mais me frequentaria? Você é uma criança que gosta de casa de espelhos?

Já começo a inventar motivos para você gostar de mim. Tenho que parar. Não estou disposto hoje a inventar pensamentos. Chutei alegorias. Também quero o claro fluxo. Não quero turvar águas para ser visto profundo. Sujo não é profundo. Vago pelo desejo de ofertar minha fome em troca da sua comida. Tenho que parar. Sem inventos. Vou ver a malva. Ela tem pêlos. Num manual acabo de ler: “ quando chove estas flores choram, ou seja, libera um liquido castanho que faz nódoa na parede e no tecido”, assim falavam sobre os adornos da malva. Fiquei sem entender a parede. Ela nunca falou comigo. Malva é amiga do clima ameno.

Não queria que você me lesse para passar o tempo. Mas escrevo para passar o tempo. Faço pedidos egoístas, é bom saber. Peguei a folha pelo rabo e parecia um camundongo.
Escrever já é a tentativa maga no tempo. A malva coça reto. O velho tá puxando o velho. Amargo guardado com amargo guardado. Isso cura? Arde. A malva é teclado.

É claro o olhar de lis. O clã ri se. Gargalha se se é no it. Sabe que está comigo porque me convidei. Ela gostaria de me ver assim: escrevendo de bruço. Bruxa, teleguiava sementes.

Vou ligar o marimbondo condicionador de ar. Zumbido seguro sempre nina. Inseguro é tudo que não é robô. Homem sanguíneo, o que dirá o trocadilho? O meu sangue pesa mais agora. Penso em dormir. Ou durmo para pensar? É taça cheia, taça vazia, taça cheia, taça vazia... até me embebedar. Bêbado, acordo. Vivo trôpego do meu sono. Desperto para a vida justamente no sonho. É lá onde sou impossível e me ultrapasso. O sono é um it de morte aceita. Na vida sou imortal água-viva. Minto. Ainda me falta correntes para ser água-viva. Mas também não sou água morta. Cheira amargo. Sou dono de ostentados aromas. Não desapeguei do olho outro, sei bem. Ando pelo debaixo aquoso como se o substrato me desse arrepio. E cada arrepio é um passo. Cada arrepio, um passo. Cada... Posso ser estrela do mar? Eu respondo: sim. Já chamaram água viva de hermética bruxa, terror dos ginasiais. Só posso ser estrela do mar. E isso facilita, e muito, seu trabalho de voyeur de mim. Quero ver se você ganha do meu eu em olhar pra mim sem piscar o olho. Pronto, já piscou. Que aqui eu sou o dono do tempo.

Texto de Carlos Juba

Noções

Noções
Mitologia nórdica


I
Gigantes são formados nesse lácteo
Alvar. Desse arco-íris se dizia
O céu, e abaixo o vapor em forma d’água.
Um polo ao arco terrestre induziria
Num próximo futuro atemporal
À mostra desse rol, geografia.

II
Gigantes continentes viram palco
Da Terra apresentada, alegoria
De Odin, Vili e Ve. Sal do Ymir, astral
De um nórdico valente. Moradia
Enorme desse freixo original
Impuro. Magnetismo que surgia.

III
No eterno inconcebido como tal,
Embla e Aske; a esse casal a primazia.
Criados num castelo com um lauto
Banquete. Nessa arcada se fazia
A “nova”, legendada do casal
Adão e Eva, numa história à revelia.


Poema de Yayá

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

+Phylozophya de WC

1.
Me deu um treco
Me deu um troço
Gritei um eco
Cuspi um caroço

2.
Eu faço de tudo
pra não ter
que fazer nada.

3.
Adianto o seu lado
Não ouço um obrigado
Eu preciso de você
Nem me viu nem me vê

Uma mão lava a outra
E juntas lavam a bunda
Do jeito que eu ando
Vou acabar corcunda

4.
As velhas idéias são sempre as grandes idéias.
As novas idéias são apenas faíscas:
demandam certo tempo para pegar fogo.

5.
Sacrifício é o crucifixo
Daquele que pregou até ser pregado.
A décima parte de quem não tem fixo
Já não é um pecado?

6.Você sabe o que eu tenho na língua, além de veneno?
Você não sabe o que está perdendo.


Poema de Andri Carvão

Fogo...

...
 
Minha brasa não incendeia nessa fogueira,
Fogueira da vaidade,
Fogueira do rancor,
Fogueira da inveja.

Meu fogo é outro,
É o fogo do amor,
Fogo do perdão,
Fogo da paixão.

Vaidade de alma é cocaína!
Rancor acumulado, veneno de rato!
Inveja desmedida é putaria!
Ser geniosa, e ter dentro de si o fogo abrasador, que se chama “amor”.
É inefável.



((( Camila Senna )))
 
 
...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Pusilânime, fuzila-me! Fuzila-me, pusilânime

*Pusilânime, fuzila-me!

Não quero a apoteose da estética rasa,
estou muito além
de ser fosco no brio desajeitado.

Fuzila-me, pusilânime!



*Fuzila-me, pusilânime

Não quero ser marinho
quando me adoço
frequentemente com vulcões.

Pusilânime, fuzila-me!


Poema de Isaac Bugarim.

Phylozophya de WC

Validade Vencida

Não vale o que come,
não vale o que caga.
E quem não consome
- paga!

Bezerro Bizarro

Aqui relva com água
nunca caga catarro.
Aqui terra com água
não alaga mais barro.
Aqui pedra com água
nunca bate mas fura.
Aqui merda com água
não vira pasta impura.

EU JURO QUE EU
NÃO DISSE NADA

De cima do viaduto
escarram catarro
em riba dos carros.

De cima do viaduto
espirram esporra
em riba dos carros.

De cima do viaduto
mijam e cagam
em riba dos carros.

E o carro que morre.
E o magro que corre.
E o carro que corre.
E o magro que morre.

O Cu do Cúmulo

O cu do cúmulo
não é o óleo (anarco-íris)
do vômito anônimo na avenida.
O cu do cúmulo
não é a trilha sonora de banheiro.
O cu do cúmulo
não são as lembranças
no porão da memória.
O cu do cúmulo
não são as imensas olheiras do sol.
O cu do cúmulo
é morrer!
Morrer, morrer até cair...

Mantenha Distância

Eu sou Cia ltda.


Poemas de Andri Carvão

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Cidade Perfume...




Andando pelas ruas da cidade,
Me pergunto o porquê do encanto.
Fio pra todo lado, asfalto em todo canto...
Deve ser esse monte de ônibus colorido...
Esse barulho de freio, esse gemido.
Talvez seja o contraste brando...
Da mata com o concreto
O que fala assim simples em minha mente,
Calmo, direto.
A certeza da raiz
Da terra escolhida
Dos amigos que eu fiz...
- Finco aqui!
Uma bandeira de trabalho
Por essa gente, esse assoalho
Que faço parte sem querer
Que me encanta sem saber.
É daqui que eu gosto...
Cidade perfume.
Só me resta saber...
Perfume, de quê? 



(( ( Gabriela Boechat ) ))


.


Mitologia Fantástica - Tétrica

Mitologia Fantástica – Tétrica
Inspirado na mitologia Egípcia


I
Eis um mito originado, Tífon
E o grosseiro funeral de Osíris.
O caixão metrificado do Egito
Na medida do sapato, da íris
Invejosa no tamanho dito,
No traçado das vinganças vis.

II
Era um deus falsificado e Milton
Alegrou-se com seu fim ipsis
In Ipssimus! Uma febre, o tifo
Inspirado no temor. Ides,
Nada mais descomunal. Um rito
Abissal, anti-odisséia de Ulisses.


Poema de Yayá.

atrás das paredes

nossas cadeiras se encostaram
chegou perto antes de sair
seu casaco encostou-se à bolsa
senti o botão cair
...fiquei em pedaços

o coração alternando
entre ontem e hoje
o céu correndo em meus olhos
e tudo mais
grudado na cabeça...


Poema de Vânia Lopez.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Dois poemas de Carlos Juba

PENSÃO FECHADA POR MOTIVOS DE FORÇA MENOR

Até amanhã.

serei hospedeiro de micro fauna
até amanhã

lá depois de abrir portas e janelas
e para sempre fechar
desabrigarei minha memória

ordem de despejo à memória!

chorarás no vazio
no vento ressequido
racharás tuas vísceras até o pó

não lamentes tanto:
até o pó é algo que voa

Esperneia!
enquanto pernas tens
já te sedo em semi-sonho
te alimento de larva onírica
com minhas colheres furadas
cai mais no chão
do que em ti
para desculpar
sem querer
minha maldade proposital

lembras do homem de Vitrúvio em quadro que me deste?
uma pena
teus olhos estarem ausentes
para ver
a árvore que irei amarrá-lo
a dor do homem que esquadrinhado na moldura
( e como tu entendias de molduras !)
sem poder a fuga
queimará da própria inércia
e do meu fogo

prefiro queimar o que está preso
por gostar menos de matar
do que deixar morrer

lenha para isso?
tuas roupas que ainda me restam:
o fogo de fibra

alimentado com o pó
da furada colher
caído no chão
e sem ainda levantar vôo no vento
logo quererás ser
outro bicho que puder
caber no mundo sem jaula

já me traio
o que salva é a falta de propósito

já confundo minha memória com teu tu
hospedagem maldita!
confundem-se o cheiro de musgo da pensão e dos corpos suados pensionistas...
tudo fede a velho
e os vermes se otimizam por não terem narizes

Avise:
hoje não tem refeição!
já te dei a comida eterna :
o dispêndio de energia.

ouça tua barriga roncar
até o obssessivo som metal badalar incessante
dia
noite
e dia nublado
como os tiros imaginários e eternos
de velhos generais de velhas guerras
que já loucos
não dormem sem ser Napoleão

tateaste o vazio da liberdade?

já estende a fibra dos teus braços
para alcançar o fio solto que te presenteará
com tua última eutanásia?

desalojo
desospedo
tu
teus porcos
teus cães
num chute só
amálgama pobre!
erás tudo num só
e isso era motivo de garbor!
então vá de uma só vez!

não, não vá!
agora não...
falta uma coisa ainda
um selinho apenas...
pra carta grande:
meu chute.

despacho
desalojo
desospedo
e aviso:

hoje não tem refeição!
só eu como.

estás pronto para a epifania da eutanásia?

amanhã!
(que já é hoje - longa morte tua descrita)
como na Antiga hecatombe grega!
serão mortos cem bois
e quatrocentas patas
no susto que apaga
se flexionarão
para os corpos de pêlo curto ruírem.

e acredites (já rio) :
não há ruínas em paz

hoje
fechadas as portas
tu não és tu : é mais aquilo

perguntarás o que terei feito
com o cheiro forte dos corpos...

direi o cheiro das fezes das coisas vivas
como incômodo maior
que o cheiro na anunciante inspiração
e respiração
do húmido putrefato
gestação da vida
através de placentas mortas
envoltório próprio dos coveiros
( sim! tu és um coveiro insistente!)
insatisfeitos que o outro morra
sem levar deles
nada que os recordem

acredite:
até os coveiros são vaidosos.

Morres hoje
que é amanhã
e depois
porque não sabes morrer.

Deixaste para mim tarefa
que hoje completo
com serena execução.

olha bem...
observa com aquilina cautela...
por debaixo do capuz...
vês uma luz pequena com dentes?
é o meu sorriso
que te mata
sem precisar de consolo

desalojo
desospedo
desamo tudo para caber espaço
e hoje
que é amanhã
o exílio-pensão-cortiço
de mal aguentar
o próprio cheiro
pelo bem
fecha as portas

e aviso:
hoje não tem refeição!

eternamente
só eu como.


A DOR EMBRANQUECE

A dor embranquece.

não é preciso chorar
se o fim são os outros olhos

vejo entre a porta aberta
alguém espiado por um longo caminho
bate à porta
no impacto de assustar
mal sabendo ser esperado
nada assusta
só dôo
sem nada doar
apesar da gentil recepção

Ah! Se soubessem a dor que mora na gentileza!
Habita mais dor na gentileza
do que na crueldade.
A crueldade é desinteressada
por anterior ser sempre
à qualquer motim que a deflagre.

Para quem ama o tudo
e detesta o nada
ser gentil
é pedir pelo mar passagem
quando se navega em armada
de força sabida.
É pedir com sorriso
e doer.
Dói a dor que doa compaixão
aos tocados pela gentileza
como bruma
mas ela é vento...
Vento!
Um vento condensado
para que se passe
entre duas nuvens
sem chover.

um vento empurra nuvens
mas não arrasta raios
de teimosia imanente
que o chão entre águas
tenta tocar
e quando toca
toca fogo
beija incinerando
muda os estados
abrupto
não volta sem avisar
sendo ele o descarrego de si
finda o corpo no próprio beijo
flameja à exaustão nula:
é energia

gentil com as nuvens
cruel com o chão
como tudo que remenda o contradito
e levita ao inverso

falo de raios
e hoje é sol
em quais curvas andei
então a criar
nuvens em mim?

hoje é sol
só até enquanto
a água não pesa

são gentis os raios
para quem na mata escura
caminha sem lampião
será para os vagalumes carentes
o relâmpago um deus?
cruel e gentil como um deus
que mais Deus é
quanto mais gentil for
estando sem ser

até vir o trovão
denúncia para os que ouvem
e mais nada conseguir disfarçar


Autoria: Carlos Juba

Poema

Durante horas de silêncio e sono,
De leitura e angústia,
Ante o cânone, ante incompreensível estro,
Ante confuso mundo, de tão claros enigmas,
Eu não sabia,
Mas o poema sempre esteve ali,
Qual ferida ou queixume,
Qual fruto ou negrume.
Deu o tempo e a técnica se fez no sofrimento:
- Fiat! disse algo dentro de mim
E, entre o fulgor e a escuridão, tímido, na penumbra,
Entre utopias deglutidas,
Poentas brochuras
E defuntas armas e canções
Contra os donos da ordem e do tempo,
Algo fundo revelou-se,
Fosso, abismo,
Exasperado grito
Ou simples pomo pendido.
Deu a hora e me precipitei,
Colhi o poema,
Trinquei os dentes nele
E o apreciei deveras,
Vociferado, em profundo negror
Com a boca esfaimada do mundo.
Senti sumo acre,
Sabor amaro,
Iniludível
E abismal.
Gostei
E não senti qualquer contentamento!
Hoje, ofereço-o,
Oceano ou ruína,
Fruto
Ou salto no abismo,
A quem quiser
Algo diferente do ópio, da fuga, da nuvem
E do frenesi diário e intenso,
Para sempre infenso
Às águas que afluem da memória.

Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

deve estar sentindo frio

vasculhei o rio por três dias
queimei a igreja
devastei tudo

você cresceu e ficou mais organizado
as piores partes de mim
passando pelos jornais
(as que te amavam)

sem me curvar, tremer ou desesperar
sem me importar com seu tamanho
te calei para sempre dentro de mim

minha alma saiu do cubículo
indomável e destemida
pronta para falar direto com Deus pelo rádio
pronta para comprar uma bolsa de grife
(ou uma alma)


Poema de Vânia Lopez

Calma criançada tem bala pra todo mundo

Pete Townshend nem ficou vermelho:
queria morrer antes de ficar velho!
Mas quem é quem no The Who?
Ácido lisérgico
é doce psicodélico!
Festa na piscina com Keith Moon!
Mas foi Moon ou Brian Jones
quem fez festa na piscina dos Stones?

Jimi Janis Jim – a trinca de valetes –
tri-overdoses aos vinte e sete!

Noel Rosa morreu aos 27 anos!
Brian Jones morreu aos 27 anos!
Bom Scott morreu aos 27 anos!
Kurt Cobain morreu aos 27 anos!
Quem vive 27 horas por dia
merece no mínimo 27 vidas!

Elvis Presley, John Lennon, Syd Vicious,
Michael Hutchence, Ian Curtis não morreram aos 27 anos.
Agora o grito tupiniquim:
Raul Seixas, Cazuza, Renato Russo,
Cássia Eller, Chico Science não morreram aos 27 anos.
Mas todos foram vítimas do Rock ‘n Roll!

John Bonham
virado na porra!
Cerca de 100 espécies de piolho
no rastafári de cheiro verde do vale
de Bob Marley.

Enforcamento com gás na cadeira-elétrica
para Marylin Manson!
Injeção letal e um copo de veneno
para Trent Reznor!

Marylin Monroe foi atriz – já era!
James Dean foi ator – já era!
Todo ator é à toa!
As melhores atrizes são as putas!

Uma Temporada no Inferno com
Jean Arthur Rimbaud e você
vai ver o que é bom pra tosse:
purgante ou laxante, seu xarope?!

Quem Castro(u) Alves?
Quem castrou Álvares de Azevedo?
Jovem azedo!

Fred Mercury – uma foda e meia –
AIDS no cu ao invés de na veia!

O Herói do Nosso Tempo, Mikhail Liérmontov,
partiu dessa para melhor, bateu as botas,
bateu a caçoleta, abotoou o paletó de madeira,
moleu-moleu-antes-ele-do-que-eu, foice e foi-se: foda-se!,
carregando aquela idade maldita no peito e
carregando a mesma idade maldita nas costas,
farto com o fardo da farda que usou e ousou
e só foi endeusado pela juventude
por ter sido mais um bendito poeta maldito!

Quem ou o quê
pensa que é você
pra me dizer
o que não dizer?

A poetisa NÃO! A poeta Sylvia Plath
enfiou a cabeça no forno e PLAFT!
ligou o gás,
sOl pra ver se encontrava a paz...
Tudo por mó de Tédio & Rugas
por cremes/crimes/ciúmes do ex-marido Ted Hughes
que, ao trocá-la por outra,
carregou a pesada cruz de Poeta Culpado
por toda a sua parcela de Eternidade!...
É triste pra cacete, é claro...
Mais triste pra Boceta do Caralho Plath:
apenas 30 anos cravados na pedra da lápide!...
Tédio & Rugas de preocupação:
poetisa parece palavrão!

Torquato Neto, Nara Leão, Elis Regina,
Paulo Leminski, Ana Cristina
César, Gonzaguinha...
No início, o Verbo, no final, só farinha!

Basquiat também empacotou aos 27 anos!
Não foi músico e sua praia não era
o terreno arenoso e o quebrar das ondas
nas rochas do bom e velho rock ‘n roll,
o JuRáSsIcO & m á g i c o ROCK, errou!
De grafiteiro a artista-plástico
foi um pulo maior do que a perna
e por isso se esborrachou.
Negro de corpo e alma apreciava
o Jazz, o Blues, o Reggae, o Soul...
Talvez, se fosse vivo, pintaria
sob influência do Hip Hop e do Rap...
Mas quem sou eu? Onde estou?

Mano Brown, com sua verve, veia artística,
27 anos contrariando a estatística!

Por causa do tênis – PAU!
Por causa do sk8 – PAU!
Por causa da camiseta – PAU!
Por causa da bombeta – PAU!
Por causa de drogas ou garotas
- PAU! PAU! PAU!

Adonde se esconde a Posteridade Anônima?

Dívidas são antigas promessas não cumpridas.
Tããããooo compriiiidas.........................................................................
Promessa de Vida: prometo não comparecer
ao meu enterro, no dia 29 de abril
de 2005! Pau no cu de quem tem tempo!
O Tempo não cai do céu.
O Tempo não se come. O Templo é de papel!


Poema de Andri Carvão.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Eco

A pele salgada daquele surfista
parece doce de leite condensado.
Como seu olhar, o mar é narcisista
e, na vista de um, o outro é espelhado.

E embora, quando ele dança sobre as cristas,
goste de atrair olhares extraviados
de banhistas distraídos ou artistas,
é claro que o mar é seu único amado.

Ei-lo molhado em pé na areia: folgado,
ao pôr-do-sol tem um lado a prancha em riste
e do outro usa uma gata e um brinco e assiste

serenamente o horizonte inflamado
e a brisa o alisa e ele enfim não resiste
à beleza e diz "sinistro" e ouve eco ao lado.

Soneto de Antônio Cícero retirado de seu livro "Guardar".

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Medalha Personalidade 2010... Na Categoria Revelação Poética Literária.


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNn5P1YWP-CPp-qyboMkVcJXU3ak9dwuRB4rAW08yuNWTaO9gtY0hDTj8bW-6nsjRdwqo97stBVmRVPTtoH9GvMuMX-AMI_k6YjFZB5tm7KGcJXHSWSgf1apdEQcbBKegU7XX8mXBiv3Wy/s400/PERSONALIDADE_publ_web2.jpg


“MEDALHA PERSONALIDADES 2010”

Idealizada pela ARTPOP - Academia de Artes de Cabo Frio, a outorga é uma grande homenagem a todos aqueles que brilharam durante o ano de 2010 no cenário cultural e tem como objetivo central, reconhecer e trazer a público as melhores iniciativas culturais tendo como critério: talento, criatividade, empreendedorismo, respeito, companheirismo e apoio cultural.

É a forma que a ARTPOP encontrou, no uso de suas atribuições que trata o artigo 2º de seus estatutos na concessão de láureas, de reconhecer, distinguir e premiar a quem se destaca em nossa sociedade com excelência na gestão de suas carreiras, contribuindo assim efetivamente para o desenvolvimento cultural e conseqüentemente sócio-econômico de nosso país. Após a indicação de 486 nomes à nível nacional, a escolha dos agraciados se deu perante um rigoroso processo de análise por parte do Colegiado Acadêmico e será conferido por mérito próprio de desempenho à 150 homenageados.

A cerimônia foi realizada em evento fechado para os homenageados e seus convidados, totalizando 350 pessoas, na Cidade de Cabo Frio no dia 12 de fevereiro, às 19h, em um dos restaurantes mais charmosos da cidade, o Restaurante Zeppelin. Durante a noite houve um delicioso jantar e os convidados e homenageados puderam apreciar uma excelente música ao vivo com a Banda Black Night. A noite contou com a cobertura da mídia, a presença de Autoridades e convidados ilustres do meio cultural.

 Fonte -  http://academiadeartescabofrio.blogspot.com/

 ...

Carlos Alberto Sousa

Presidente

 ...

Izabelle Valladares

Secretária Geral

 ...

Dyandreia Valverde Portugal

Diretora de Eventos

...



  Recebendo os cumprimentos do Presidente da ARTPOP Carlos Alberto Sousa.

Minha Categoria foi a de "REVELAÇÃO POÉTICA LITERÁRIA", modalidade que reúne os novos escritores da arte inspiradora da palavra ao pensar, criar e dar forma realista as quimeras e utopias ou se alinhando a um pensamento livre, extemporâneo ou surreal que nos sensibiliza ao ler e ouvir.

 


 



"A Cultura que grita para ser Cultura, venha sempre ser ouvida e aplaudida de pé".




TUDO ...

"...A poesia em minha vida é tudo, foi a maneira que encontrei de enlouquecer sadia, falo de mim de forma ruim, boa, gostosa...
Se eu não puder morrer, ressuscitar, rodopiar, gozar, para mim não é poesia, é prisão.
As prosas e poesias mais bonitas que tenho, foram feitas nos meus piores dias..."




 Feliz!!!



Trocando um papo com Da Ghama... Que foi também um dos Homenageados na Categoria Destaque Musical. Somos vizinhos eternamente de Belford Roxo. "E viva a Cultura". O mesmo é músico e fundador do Grupo Cidade Negra, cujo o berço foi a casa de Cultura Donana do Músico e Poeta DiDa Nascimento.




Sorriso, sorriso, sorriso... Muito feliz!







Eu AmO esse casal...








Meu amor, meu esposo... (Moisés Barbosa), Eu e minha medalha.



Restaurante Zeppelin - Cabo frio

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhATADJBiZ1MVNcaUlFiilz7su7V3ifBfnvLJlzt1XgGYUWCBookOWc3SB6SMZBA-ND5NKydW37jxiyta_0eANPMALxrHpr612OLs5CnKsVWM3-g0Mtd42Ig1mYk0_wM7_aKru9pHike9c/s1600/OgAAAIf97K9RH9Dje2A2NGDekHJcwJt0JxxrXIHynpT2rchr1mmDZbdSCDRe7sQIRde0bpurc0TQ28VQ32W0HhwEQ2MAm1T1UFVqQKDhqHd3M_xyHz5HP22qyGTb.jpg
 



https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOq0M16rCCb5bY5KMKDEnSL954IO3wnGgoXYGI0fck72rLlx-YpiuBsnCHBttRkZLt592q-cnW94JPYGfazg7VPuWVusKaRevHofnieTKPolQo-4nUQxChP2LcMfl94640LHEAXhogxEk/s1600/DSC01462.JPG


Banda black Night




https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj58oRfrIXZSWwty3EaKq7yDQXT27dxnT4HG8iNzVtvWOB746d_DHsH2AmdUCtyBptbqVBh2ld5cvj0rA4ftTqTm-cMVN-hQ3FIPLbl4d9FqNqi3ulo7UVJaI_07mnfLpza-IW4QNJmHkM/s1600/DSC01208+-+C%25C3%25B3pia.JPG

O trânsito não me deixou estar presente... rs (Mas valeu mesmo assim, que Deus ilumine nossos caminhos).






Um salve a Cultura!!!  seja em qualquer parte da cidade, do Brasil e do Mundo.

Rosa...

senna


A rosa que destila bálsamo,
Não a tiro do meu quintal.
Ela responde minha alma...
Acaricia-me e trás calma,
Enterrando no canteiro,
Todo meu desfalecimento.



(((Camila Senna )))

.

Nós

Nós



Você é... D(eu)s!


10/02/2011.

Poema de autoria de Milton Filho

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Os grous de Íbicus

Um Poema Mitológico sobre a descoberta dos assassinos de Íbicus.
As Eumênides cantavam, mas os grous (aves que presenciam a cena) da morte de Íbicus, um músico, descobriram os seus assassinos com essa frase:

"Os Grous de Íbicus"

Na trilha do escuro bosque surgiram
Ladrões. Com a música, Íbicus segue,
Num ato perece. As aves que viram
A morte, a pedido, tramam seu blefe.

Os grous a flanar na festa seguiram
Os rudes, de ferros soltos à plebe
Entregues. Dois gritos rompem e guiam
A turba. _Dois réus, dois maus se percebe!

_Confessos, punidos pelos grous! Voam
No enorme e celeste véu a festejar
A justa função de amor dos que doam.

Os versos e cantos de Íbicus entoam
Nas vozes corais brilhantes. Rumam
Ao Sul, grous da excelsa glória a acenar.

Soneto de autoria de Yayá

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Verbo

Na estiva das palavras,
Altercas, xingas, suas,
Imprecas contra o mundo,
Te tentas traduzir.

Na estiva das palavras,
Labor sempre penoso,
Tu queres existir,
Monumentalizar-te.

Na estiva das palavras,
Tu queres transgredir,
Sacar das mãos anéis,
Os signos mutantes.

Na estiva das palavras,
Tu sangras e respiras
Retórica e sofismas
De luta interminável.

Na estiva das palavras,
Gritaste: “- Crucifica-o!”
Também martirizado
Na ambígua cruz da história.

Na estiva das palavras,
Sem dúvida verteste
Sentenças incontáveis,
Doutrinas e linguagem,

Loquazes paladinos,
Astutos e prolixos,
Que sabem como o gárgula
Usar bem a garganta,

Lançar verboso líquido
A tantos corações
Logrados no artifício
Das fábulas e máximas.

Na estiva das palavras,
Disputas e recreios,
Embate de discursos,
Nas sendas do ideário,

Travaste arrebatado,
Filósofo ou poeta,
Retórico ou sofista,
Em dúvida inquietante

Pensando respondê-la
Com séria metafísica,
Com fé e ideologia
Em busca de ti mesmo,

Do mundo que circunda
Teu frágil coração
Com vasto palavrório
De púlpito e sermões;

De tudo que te aflige,
A própria realidade
Que buscas na linguagem -
Perfeita relação,

Total homologia
Da imagem co’o real,
Da coisa co’a palavra,
Idéias e juízos

Que fazem de ti mesmo
Homílias e quimeras,
Mentida ficção
De que és um novo Adão.

E agora: que fazer?
Ser dono das certezas
É coisa de descrer!
Tu jogas co’infinito...

Na estiva das palavras,
Aspiras ao eterno,
Restando só de nítido
Um ritmo e sentido

Cativos de si mesmos,
Embora sempre queiram,
Suando gente alheia,
Enfim tornar-se livres,

De si até ser livres,
Do que não nos cativa,
Do que mantém cativo,
Do que não grita vivo

No dorso do argumento,
No braço da palavra,
Na luta do operário,
Na estiva do poeta.

Felipe Mendonça -
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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Estevão

Diga-me que as pedras que levaste
Hoje mesmo pesa em outras costas;
Culpas teus algozes a um desgaste
Pífio e vadio, e assim te mostras.

Tantas as pedradas de arremate,
Raiva descabida, lambe-botas
Ágeis que impuseram xeque-mate.
Saibas desse amor de quem tu gostas!

Ombros dos umbrais aos quais quedaste,
Coro de mortais inomináveis,
Nesses, os que esquecem a “Livre Haste”.

Grande sofrimento o qual passaste,
Dessas aflições abomináveis;
Átrio insistente de um contraste.

Soneto de autoria de Yayá.