Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



segunda-feira, 10 de maio de 2010

Gêmeas Amoroso-Vitelinas





Univitelinos – adj. Diz-se de gêmeos verdadeiros, gerados de um só ovo.

Maria Isabel ficou muito deprimida quando soube que não podia ser mãe. Seu grande sonho era ser mãe de duas gêmeas. Depois de semanas e semanas de muitas lágrimas e depressões, cansou de tanta tristeza e decidiu com o marido:

- Já que não posso parir minhas gêmeas com o ventre, vou parir com o coração!

No dia seguinte foi de braço dado com o marido visitar o orfanato mais próximo de casa. Duas recém-nascidas, cada uma de uma mãe biológica diferente, haviam acabado de chegar naquele mesmo momento. Maria Isabel quis ir vê-las. Uma era negrinha como a noite estrelada e os olhos pretinhos como dois pedacinhos de carvão. A outra era loirinha da pele alva e dos olhinhos azuis como o céu. Maria Isabel quando as viu pela primeira vez, percebeu uma coisa que ninguém havia notado nos bebês. As duas tinham o mesmo par de olhos arregalados, curiosos. Os mesmos olhos que apesar de serem de cores diferentes tinham o mesmo abuso, a mesma ousadia, a mesma má-criação de quem quer subir em todos os telhados e se infiltrar em todos os buracos possíveis. Nas duas boquinhas o mesmo sorriso livre de bacante. A mesma boquinha de Eva sem culpa. De Eva que além de comer o fruto proibido, ainda lança uma gostosa e inocente careta para o divino.

Diante daquelas duas criaturinhas, o coração de Maria Isabel se enterneceu. Ela sentiu uma sensação amorosamente estranha. Seus olhos em lágrimas denunciavam a chegada de duas velhas amigas, duas irmãs que uma vez nunca se vendo, já se sentiam invisivelmente. Maria Isabel sentia uma dor interior absurda. A dor imensa dos que cuja única condição da vida é amar incondicionalmente até o que se pensa não existir. Maria Isabel havia acabado de parir suas gêmeas com a alma.

Os quatro bracinhos e as quatro perninhas profanas rebolavam fogosas e excitadas no ar e abriam-se imensas para receber o amor daquela mulher. Um colorido se fez na vida de Maria Isabel que cuidou daquelas duas como cuidava do menino Jesus quando era menina; e ela fazia de conta que era a Nossa Senhora em época de natal, roubando a imagem do santinho da árvore para brincar com ele.

E esse mesmo amor transbordou entre as duas e passava de uma para outra como as águas de um rio entre duas pedras. Assim, Andréia e Adriana cresceram. Unidas em sentimento, amizade e carinho, mas também em dor, sofrimento e desilusão. No ato de comerem juntas, de estudarem juntas, de brincarem juntas. De uma defender a outra nas brigas; de dividirem as mesmas alegrias. O primeiro namorado; O sem vergonha do Carlinhos que queria namorar as duas ao mesmo tempo e das duas acabou apanhando, pois essas duas dividiam também os ódios. A dor de ter enterrado Maria Isabel, vencida pelo câncer. Os casamentos, os filhos e elas sempre juntas; até ficarem velhinhas. Eram mesmo gêmeas amoroso-vitelinas, pois foram geradas pelo mesmo óvulo do coração.


Marcio Rufino
Todos os direitos reservados



Meu Deus não é pássaro
Que se pega com arapuca
Que se prende em gaiolas
Que se filosofa por teses

Meu Deus é texto
É espelho dos passos
Que mapeiam

Meu Deus não freia

Meu Deus nasce
Onde tudo cai, escorre e irrompe
Meu Deus é movimento
É verso que me crê.

Ivone Landim
Todos os direitos reservados.

Lançamento de VENTOS NA PRIMAVERA de Arnoldo Pimentel no Donana




No dia 22 de maio de 2010 se dará no Centro Cultural Donana às 20:00 0 lançamento de "Ventos na Primavera" de nosso poeta belforroxense Arnoldo Pimentel. O livro será editado pela Folha Cultural Pataxó com o apoio do grupo Gambiarra Profana. O livro terá a participação afetiva dos poetas Marcio Rufino e Sergio Salles Oigers. O grupo Pó de Poesia convida toda a Baixada Fluminense e todo o Rio de janeiro para prestigiar esse grande poeta, integrante do grupo e que tem nele um de seus maiores articuladores. O Donana fica na rua Aguapeí, 81, bairro Piam, Belford Roxo.

FOGÃO À LENHA



FOGÃO À LENHA
(Poesia dedicada ao poeta Márcio Rufino)

Entrei na sua sala e vi seus quadros reais
Surreais
Criados na sua alma
Com calma
Sem calma

Seus quadros pintados no chão de terra batida
Com cadeiras desfiguradas espalhadas
Um tapete amordaçado
Um canto simples e abençoado

O fogão à lenha aquece o ambiente
E com seu calor dá aquele toque de gente
De gente que gosta de beber caldo de cana
Gente humilde, mas que ama

O feijão preto sai do fogão à lenha fumegante
Ficou ali por horas, sem pressa
Como se estivesse olhando as estrelas
E a lua que um dia será de mel com sua namorada

A noite podemos dormir no quintal
Tendo por teto um céu de estrelas
Para aquecer, no lugar do fogão à lenha
Uma pequena e aconchegante fogueira
E assim poderemos brincar de sonhar
Um sonho simples e feliz
Um sonho recheado pelo sentimento amar

Autor: Arnoldo Pimentel