Manifesto do coletivo Pó de Poesia
O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.
Creia.
A poesia pode.
(Ivone Landim)
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Pode marcar a hora e o lugar
na melhor roupa
como se fosse o último bolero
rasgando dentro de mim
beije-me demoradamente
me olhe do jeito que sempre sonhei
numa palavra rude
rasgue-se em pulsos suicidas
em plena Colômbia junto aos guerrilheiros
só não venha no meio de um banho no chafariz
muito menos na melhor noitada
sem futuro que ainda viverei
também não seja besta igual uma queda de chuveiro!
morte acho que vou te matar!
você que mata tudo...
vais morrer em decepção
...já ando morrendo há tanto tempo
(que posso respirar em seu pescoço)
-E te aviso:
a conta não fecha nunca!
(em mel e enxame)
Poema de Vânia Lopez
domingo, 30 de outubro de 2011
TODO HOMEM É UM EDIFÍCIO
nada no silêncio
enquanto
tateio
teu rosto marmóreo
— brevíssimo
pequeníssimo
homem
uma sombria
espera
e
porquanto tudo é sonho e
carícias
máquinas além nos espreitam
irmãs
serenas nuvens
viçosas
são teus lábios conjuntos
e
minhas gotas
de pérola
logo atrás
em meio às quais
por intermédio do silêncio
a espera
torna-se
muito.
Órgão
a ferrugem no oxidável
sua gangrena
único meio de amputação
ferro umbilical
da umidade da neblina
a viga escura adoece
escorre no vão, nela, salobras,
ácido puro,
nuvens e nuvens de oxigênio
o desgaste, assim, do todo a nada se compara
elegante ruína
quando enverga sem gravidade
enlaça, sem ruído, a Morte.
Tempo Ausentado
(...)
pouco falta
a prolongar-se
no eixo
a vizinhança das coisas.
Poemas de Sodine Üe
sábado, 29 de outubro de 2011
A carroça de leite
O barulho da carroça do "Cabo Quinze"
"Matraqueando" nos "pés-de-moleque" da calçada
Até parar na porta de casa
As garrafas de leite batiam umas nas outras
Deixava o litro no alpendre de casa
Lá com certeza, já estava o pão...
Meu pai, conversava baixinho, eu ouvia
Esperava o jornal que era jogado lá da rua
O barulho agora era o jornal que batia na porta
Meu pai mais que depressa levantava
Queria saber das notícias do dia
Viro na cama
Puxo as cobertas
Ainda bem que hoje é sábado
Durmo novamente!
Poema de Victorvapf
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
The Pirate's Hat: The Giant Man And His Worst Poem
learning by the hardest way
to ignore all the sights.
Where were you when they turned off the lights?
When I dreamed alone
things that are already faded and gone?
I'm the worst memory from myself
and, strangely, it is what makes me keep on,
'cause even when I can't rest
there, in my mind, something to hold on.
And what all it means?
Well, I don't care..., thats what I like over it
an open door, and the most beautiful desire of ignoring the exit
for a man that learned that there's no future or past in the dreams.
Poem by Elvys Brito
Tradução:
O Chapéu do Pirata: O Homem Imenso e Seu Pior Poema
Aqui estou eu, perdido, numa cidade repleta de luzes
aprendendo, penosamente,
a ignorar tantas paisagens.
Onde você estava quando as luzes se apagaram?
Quando eu, sozinho, sonhava
coisas há muito mortas e sem brilho?
Sou minha pior lembrança
e, estranhamente, isto é o que me fortalece,
pois, malgrado não consiga descansar,
lá, em minha mente, algo persiste.
Qual o sentido disso tudo?
Ora, não me importo..., este é o meu modo
uma porta aberta, e o mais belo desejo de ignorar a saída
para um homem que aprendeu que não há futuro ou passado nos sonhos.
Poema de Elvys Brito
As irmãs Fox
escura, coberta por uma toalha muito puída, livros religiosos e muitas folhas de
papel em branco, lápis apontados, um tinteiro, duas penas. Mr. Duesler contou os
presentes, fechou a porta, lacrou-a com cera, depois de olhar fixamente para
Margaret e receber o discreto assentimento daquela cabeça jovem e tumultuada. Pensou
por trás do antiquado cavalheirismo, que aquilo tudo,poderia ser uma farsa grotesca,
às custas um trabalho desgraçado, com excelentes dividendos para a fé. Por Deus,
uma vez em ação, aquela frágil criatura suava por todos os poros, rangia a bela
dentadura; num esgar demoníaco e assustador, cruzava os braços, estalando os ossos,
franzia o cenho à maneira dos endemoniados, órbitas brancas por olhos revirados,
tal as estátuas da antiguidade. Nesta noite, acompanhava Mr. Duesler, um homem alto,
magro, jovem, de feições finas, queixo resoluto, modos muito reservados, num olhar
seguro e inquieto, musculoso apesar de magro – indicava-o o relevo de suas
coxas, sob a calça de tweed, enquanto sentava, pensativo com o seu chá, em singular
e cabisbaixa vaidade. Contemplava a mão direita, ostentando um pequeno anel de pedra
vermelha e saliente, no dedo médio, distraidamente girado pelo polegar; uma boca de
lábios finos, emoldurada por um ruivo cavanhaque, envelhecendo-o uns bons dez anos.
Observava agora Kate e Margaret, mas em erudita e curiosa atenção, digamos assim,
quem estuda uma dupla de raros espécimes de borboleta, bem fixados por alfinetes e
sob uma potente lupa. Tudo sob o controle da gaia ciência, pensaria aquele jovem
cético,tão britânico em sua frieza, devolvendo a xícara vazia ao aparador próximo de
sua cadeira. Levantou-se ao aceno de Mr. Duesler.
- Irmãos, apresento-vos o Dr. William Crookes, da Sociedade de Investigações
Psíquicas de Londres, estudioso de fenômenos metafísicos, convidado para observar in
loco o trabalho das irmãs Fox, anunciou a voz empostada de um vaidoso Mr. Duesler.
Apresentou-o primeiramente a Katie, entre sorrisos tímidos, até constrangidos de
ambas as partes. Margaret mantinha-se calada; como de costume, abandonaria o
mutismo, após todos se acomodarem ao redor da velha mesa de carvalho, com uma
vela posta no pesado castiçal, que logo seria acesa, com o desligar da iluminação a
gás,no início dos trabalhos.Katie observava aquele moço velho,sentindo-se assustada,
imaginando a distância percorrida pelo cientista; mais um daqueles movidos pela
fama das irmãs, que faziam girar mesas pesadas e grandes, com auxílio dos espíritos,
ajudando a descobrir e prender o autor de um assassinato que abalara a pequena e
sonolenta Hydesville, alguns anos atrás. Imaginava quanta coisa teria visto um
homem com tanta ciência e liberdade de ir e vir onde quisesse, falar com quem
quisesse,talvez flertar com algumas garotas mais desinibidas,enquanto ela e a
irmã, tornavam-se um tipo de atração circense naquele fim de mundo,conquistando
uma notoriedade que não as impedia de seguir acordando pela madrugada, ordenhando
as vacas, tirando água do poço e ainda cuidando da casa e do pai severo, viúvo desde
os trinta anos, pela tuberculose que lhe tomara a esposa. Hydesville, apenas uma
parada no meio do nada, vizinha de New York apenas três centímetros medidos no
papel do mapa; na prática, um mero intervalo empoeirado entre o nada e coisa nenhuma,
em 1847. Margaret fitava os sapatos londrinos do Dr. Crookes: novos, mas
arranhados, sujos, brigando com o restante de uma aparencia meio dândi para um
cientista, retratado pelos jornais, como uma espécie de caçador de fantasmas,
preciso e implacável com os fraudadores que desmistificara; àquela altura, uma
legião,sentados todos à mesa, as irmãs, Mrs Redfeld vizinha e propagandista de
primeira hora daqueles prodígios, Mr. Duesler, pastor e juiz de paz, sério e
ascético tal um mongeem seu trajar pietista, Dr. Crookes e Stephen
Smith, pai das moças e dono da casa, uma face onde a desconfiança e a mais
autêntica perplexidade alternavam-se em tragicômica sequência. Apagado o bico de
gás, a sala ficou um instante às escuras, até a luz da vela encorpar-se e
ganhar força. Seguiu- se a recitação das orações de costume, por Mr. Duesler;
ao final, um silêncio opressivo dominou a sala; quebrou-o a voz de Margaret,
solicitando dos presentes silêncio e pensamentos voltados para Deus, com um olhar
de soslaio e antipatia para o Dr. Crookes, lembrando do ceticismo que polvilhara
pó de arroz ao redor de todas as cadeiras e solicitara o lacre com a sua própria
cera, da porta da sala – suas condições para publicar um artigo sobre os
fenômenos , na prestigiosa revista da Sociedade de Investigações Psíquicas
de Londres; tirando do território do burlesco e da desconfiança, os
acontecimentos de Hydesville, convencendo o mundo da natureza espiritual e
divina que regia tudo aquilo; uma tese defendida há meses, por Mr. Duesler, de
dedo em riste e face em congesta convicção, durante o culto dominical.
Margaret solicitou que todos se dessem as mãos, para concentrar a energia do
ambiente; seu rosto contraiu-se num espasmo medonho enquanto um frêmito percorria a
mesa em toda sua circunferência,surpreendendo os presentes, que sentiam o móvel
sendo empurrado contra os seus braços, elevando-se do piso. Um forte cheiro de
ozônio saturou rapidamente a sala. Mr. Crookes sentiu todos os seus nervos tensos, a
serviço dos sentidos. Conseguia manter a tranqüilidade, olhando ao redor, mas a semi-
escuridão parecia espessar-se a cada olhar seu. A pesada mesa agora oscilava. Depois
de alguns minutos, retornou lentamente ao solo, o cheiro de ozônio começou a ficar
mais rarefeito. A cabeça de Katie, começou a liberar pelos ouvidos e pela
boca, uma substância vaporosa e luminosa, que parecia expandir-se na progressão
do transe silencioso e trêmulo. À luz mortiça da vela, a substância começou a
condensar-se em duas formas humanas, um homem e uma mulher, rostos indefinidos,
abraçados e nus, em meio a um magnífico e luminoso jardim. A mulher ofereceu uma
maçã ao homem fosforescente, que recebeu a fruta, enquanto uma serpente saía do seu
flanco esquerdo, picando-a furtivamente no pescoço; os rostos indefinidos
eram agora os de Katie e do Dr.Crookes. Exclamações de terror e surpresa
tiveram início, as pessoas ora rezavam aos gritos, ora gemiam de puro medo, voltadas
para uma Katie agora imóvel e de feições serenas. Dr. Crookes, reconheceu a cena de
um antigo livro religioso; estupefato, pulou da cadeira e acendeu o bico de gás; a
substância refluiu imediatamente para o corpo da médium. O cientista aproximou-se de
Kate, a tempo de constatar a sua morte e verificar-lhe o pescoço, perfurado por
dois orifícios diminutos e paralelos,talvez o preço por conhecer o Paraíso.
Conto de André Albuquerque
OBS: Ficção sobre pessoas reais e fenômenos paranormais, observados em 1847 ,
em Amytiville, nos EUA .Os acontecimentos narrados, são produto da imaginação
do autor , exclusivamente .
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
O céu, o ar, o amor, o amar
cu é
é cu
ué
o ar
ora
agora
garoa
chora
aurora
no mar
namora
o ar
ramo
amor
mora
em roma
embora
mera
maré
eram
mear
arme
o mar
o céu
ao léo
óleo
olé
elo
melo
elmo
moar
moer
amar
morrer
roer
o réu
no erro
no céu
eu
caô
oca
coa
o céu
da boca
Poema de Isaac Bugarim
"a referência"
referência. e iniquidade
o teu: passo-oblíquo
a tua única(carta)
paragem
(inverdade)
exemplo.
e,
ainda.
meticulosa (in)versão
anagrama de mente
de pele
de repente e ao tempo que te denuncia
eu,
ainda(te sou).
..
qual dispêndio
arma-enviesada
turno e noite
posto-desigual
lado-água
parte: carne.
e
hábito.de te crer
espécie:
tua.
nua.
única.
e,
ainda.
facial
curva-absoluta
multiforme ensejo
pré-vício
pretérito(fixo)
e,
ainda(nome-teu.)
ah,
alicerce..
rege à calha que me contamina
teu lépido erro de me instigar
o teu crime.(acima.. é) absorto de vivência
é facto, e: acto ausente
e
ainda(de ti,)
o sempre.
e a:
referência.
Poema de Azke
Dois em um...
Esse olhar, essa alegria.
A vida deu voltas
E numa dessas, trouxe-me você.
Não passará assim sem nada deixar.
Tudo é especial e inebriante
Quando na rua caminho contigo.
Se convertem, ficam leves.
Sinto o mundo vazio,
Ouço o vento declamar poesias de amor.
Transbordando emoção.
As sensações são mágicas,
Singelas e pequeninas.
Me vejo sem eira nem beira,
Com meus pés com poeira
E só, sozinha pelas ruas, chorosa.
Mas nossos corações
Caminham em sintonia
Numa só melodia.
Mesmo partindo.
Sinto você tocando em mim,
Mesmo estando numa multidão.
Que você criou na sua mente
Para mim são inexistentes,
Apenas um medo profundo de errar.
Você não acha,
Se engana o tempo todo
Dizendo isso, aquilo.
Por ironia?
- Creio que por poesia
Poesia torta por aparência
Certa por uma questão de alma.
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Soneto a Judas
A quem não renuncia altar vetusto,
A tantas crenças vãs que a muito custo
Turvam o pensamento, frágil loisa.
Amá-Lo contra todos os discursos
É ter a mente sã do criminoso
É sentir afinal o imenso gozo
De trair o que trai nossos excursos;
Ter na boca malditos padre-nossos:
“Ó Senhor, vinde Vós a nosso Reino
Reduzir as doutrinas a destroços;
Revelai as agruras do desejo,
Todo o mal desta vida na qual treino
Beijar os meus irmãos com vosso beijo.”
Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Putaria Puritana
Homossexual
Pansexual
Tarado por animal
Ou por vegetal
Normal anormal
Amoral hormonal
Pedófilo
Necrófilo
Sádico
Masoquista
Sadomasoquista
Voyeur
Assexuado
Depauperado
Remédio azul
Paudurecência de Itu
Sexo sem amor
É sexo seguro
Calcinha comestível
Camisinha musical
A viúva negra
E o reles mortal
Gozo fatal
Entre quatro paredes
De quatro 24 69
Troca de casal
Garganta profunda
Tamanho do pau
Entre quatro paredes
Vale tudo
Mordedor e luva
De boxe pra cada
FIGHT
Primeiro round
Levado a nocaute
Já pro chuveiro
Volta pro treino
O amor na mão
Asas à imaginação
Padre emprenha freira
Nasce coroinha
Cemitério clandestino
A noviça e o menino
O sexo dos anjos
Putas e santos
Poema de Andri Carvão
domingo, 23 de outubro de 2011
Fôrma
meu pensar,
por conveniência do manequim.
A poesia é isso,
uma roupa de gala. Apertadíssima.
Poema de Milton Filho
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Gavetas purificadas
com fome de arrumar as gavetas
que vivem sempre abarrotadas
de coisas sem valia, sem perdão
cujo prazo de validade ficou para trás,
sendo assim condenadas
ao cesto implacável da cremação,
são fotos sem enquadramento
sem pé nem cabeça,
são porcas e parafusos enferrujados
que habitam, há anos, em um tupperware lacrado,
são contas e mais contas pagas e amareladas
cansadas de esperar pela audiência
de um único credor desconfiado,
são receituários antigos de médicos tão velhos
que já não curam a urticária, quanto mais a ansiedade,
são receitas de bacalhau que nunca viram a luz do sol
muito menos o fio de azeite dançando
sobre suas postas imaginárias,
são baterias semi descarregadas
atracadas com aparelhos de celulares pré-históricos
com rabichos e rabichos de carregadores
que por não se encaixarem aos demais equipamentos
tornaram-se casmurros e solitários,
são calças e blusas magras de marré de si
que só fazem lembrar de um passado Zero Cal
longe das bombásticas tentações achocolatadas,
são emoções baratas que já não surtem efeito
neste velho coração bandoleiro
cansado de películas antigas em VHS,
são superstições tão bobas, de um garoto suburbano
que não fazem frente
ao menor dos sintomas de um TOC,
são roupas vermelhas e brancas
de uma era em que se acreditava em Papai Noel
e em políticos politicamente corretos
que não tripudiavam sobre caseiros ingênuos,
ou secretárias sagradas,
nem roubavam merendas escolares;
são esperanças envelhecidas e malsãs
de um dia ganhar o mundo à revelia
fincando uma bandeira em cada canto do planeta
e tem também a gaveta dos projetos esquecidos
dos anseios desnecessários
das canções abandonadas e sem festivais
e, sobretudo, o último compartimento em desalinho
aquele dos amores acontecidos
do qual, sem antes titubear,
rasguei uma foto de Maria
cujo verso mentia em letras garrafais:
te amarei por toda a minha vida...
Poema de Betusko
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Domingo no Centro
Na tarde ensolarada de domingo
As pedras mudas do calçamento
Estão incrustadas de tédio.
Nas opulentas escadarias
Da igreja matriz
Dorme um bêbado:
Por seu corpo ainda jovem
Passa um tremor intermitente.
É triste, sob o sol,
Em meio à beleza do dia,
Ter pensamentos sombrios.
Enquanto caminho, ninguém vê,
Mas à minha volta esvoaça
Invisível horda
De fantasmas do passado.
Poema de Jean Soter
de poeta pra poeta
tira o teu da reta
que não vale a pena,
engaveta
o teu poema.
poeta,
segue teu rumo,
que o poema
não tem consumo.
em resumo,
solta esta caneta,
quebra este teclado.
tudo que está na gaveta,
ao teu lado,
tu queima.
faz o que te digo,
não teima.
deixa de ser besta,
tira da tua testa
este rótulo
de poesia.
ninguém quer o teu soluço,
o teu percusso
a ninguém interessa.
peça as contas,
faça a trouxa,
vá embora.
engole o choro,
engole o pranto sonoro
que ninguém ouve.
mas se poeta quiser ser,
guarda silêncio.
o teu silêncio
é o melhor poema
Poema de Isaac Bugarim
terça-feira, 18 de outubro de 2011
Confusos sentidos, fiel sentimento...
Esta confusa ilação, creio que fora concebida em longa vigília, que me torturou durante os meus cinco dias em que passei “as noites de claro em claro e os dias de escuro em escuro”*. Assim, “do pouco dormir e do muito ficar acordado” *, fui mesmo ficando confuso, de tal forma, que quando consegui dormir, me vi em sonhos dormindo, ainda assim, não perdendo a esperança de tudo ver às claras; se é que, possível é, em sonhos assim ver! O certo é que quando me despertei, quis entender que cada uma das minhas vigílias futuras, nada mais seria que um período de tempo que se bem tolerado, ainda que longo fosse, ensejaria a minha oportunidade de contrair o direito de receber em recompensa pela espera, ainda que curta fosse, novas ilações pertinentes ao mundo dos acordados.
Em vigília ou não, quando surge confusão, ainda que pequena, arrasta consigo, outras, e por vez, grandes; assim acordado em sonho, enquanto dormia, ou talvez, acordado esperando o sono, concebi estes versos:
Pode ludibriar nossos sentidos uma suave essência?
Sim! Pois ao ouvir o perfume da tua voz, não me contive,
Ou confuso fiquei por momentânea perda de consciência.
Se confuso estava, poderia sentir o doce gosto de tua pele, se pudesse te tocar!
Não! Confuso não estava! Pois, sei que dos sonhos, tu não vens!
Mas, se queres dominar o meu sono, o que devo fazer, em vigília, contigo, para ti dominar?
Assim tenho vivido, ou antes, quando acordado não estou, assim tenho dormido.
Resta-me para sair deste desarranjo mental, consultar meu coração.
Mas, só posso fazê-lo, ou antes, só poderia fazê-lo, se ele não estivesse deprimido!
Inertes, desanimadas, indiferentes, são as vítimas da depressão!
Assim não estou, logo, hei de me ver reagindo.
Sinto que meus sentidos, ainda que desorientados, não fazem calar meu coração.
E ele, tão forte pulsando, adormecido não pode estar.
Pois, que valha por regra!
Um coração que não se rende ao sono, motivos tem para querer nos despertar...
Pois que assim seja, estou de olhos bem abertos, para senti-lo no meu peito, falar.
Que fale, pois, para ouvi-lo com atenção, atentos estão meus ouvidos.
Mas, se possível for, que fale antes, o coração da minha amada, pois, em seu peito, dúvida nenhuma vou encontrar.
* - Da pena do meu queridíssimo Cervantes, saíram estas referências ao meu amantíssimo “Cavaleiro da Triste Figura”.
Crônica de Elias Barbet
Sorriso Russo
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
"mar.(minha) revelia"
um,
trepido recife
cume(se for..)
insólito-ponto
alheio, e. refreado frio
indecente e in.salvo
ao dedo que te conta o início
ao tempo. que te sonha(afinal)
termo(obsessivo)
e
nada-mais
(até..)
é. a lua que não te quis um terço?
ou
é você que não te deixa ir..?
..
ah, mar..
alicia-te.
da parte e da mácula por um só erro quando(lhe) vier..
eu,
termino.
e
desencadeio trovas à quase-peça que te preparei
incendeio o meu acto de águas e vésperas
e
apenas. porque não te re-conheço..
(cá.)
farto-me de te exercer.
Poema de Azke
domingo, 16 de outubro de 2011
Suco de montanha
De preferência que seja de Minas
Triture o ferro até virar pó
Coloque tudo, diariamente em 70 vagões
Leve ao porto de Vitória
Entregue no Japão
Derreta tudo, separando o ouro, subproduto
Construa bastantes carros
Mande-os para o Brasil
De preferência para
Minas...
Poema de Victorvapf
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Planta de Maceió
Do nascimento à morte, os que moram aqui
andam sempre cobertos por leve mortalha
de mormaço e salsugem. Os dentes do mar
mordem, dia e noite, os que não procuram
esconder-se no ventre dos navios
e se deixam sugar por um sol de areia.
Penetrada nas pedras, a maresia
cresta o pêlo dos ratos perdulários
que, nos esgotos, ouvem o vômito escuro
do oceano esvaído em bolsões de mangue
e sonham os celeiros dos porões dos cargueiros.
Foi aqui que nasci, onde a luz do farol
cega a noite dos homens e desbota as corujas.
A ventania lambe as dragas podres,
entra pelas persianas das casas sufocadas
e escalavra as dunas mortuárias
onde os beiços dos mortos bebem o mar.
Mesmo os que se amam nesta terra de ódios
são sempre separados pela brisa
que semeia a insônia nas lacraias
e adultera a fretagem dos navios.
Este é o meu lugar, entranhado em meu sangue
como a lama no fundo da noite lacustre.
E por mais que me afaste, estarei sempre aqui
e serei este vento e a luz do farol,
e minha morte vive na cioba encurralada.
Poema de Lêdo Ivo
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Eu hoje acordei com o pé esquerdo
Hoje, acordei com o pé esquerdo, sendo mais explicito, digo que me despertei com o meu pé esquerdo; Quanto ao direito, ignorando-o, ou não podendo dele me livrar - o que é mais provável - despertei-me também, com o meu pé direito.
Antes de continuarmos com este assunto que tem pé e cabeça, faço-lhe um pedido, ou, até recomendo-lhe com insistência, que me atenda e olhe debaixo do seu pé esquerdo; veja a sua face plantar dele; ainda que a curiosidade queira torcer-lhe o tornozelo direito, para também, deste lado, olhar debaixo do seu homólogo - o do pé esquerdo - afirmo e peço-lhe que tenha certeza maior: Não há necessidade de procurar o que não há, pois, ressalvando alguma pequenina e insignificante diferença anatômica que entre eles possa existir, tudo diferente que um apresenta em relação ao outro, não passa de suas posições “trans” essenciais para ambos.
Agora, levemos a sério este assunto e analisemos um grande e impiedoso paradoxo:
Nós os destros, temos em mente que nosso pé direito é o mais forte. Sendo assim, ele - o todo poderoso e senhor de si - é sempre aquele que dá o primeiro passo, e o faz com firmeza, com maior segurança, com muito equilíbrio, enfim, com grande determinação. Eis abaixo, uma proposição falsa! Ainda assim, há de gerar outra que verdadeira será. Senão, vejamos:
Quase sempre o nosso pé esquerdo não podendo evitar, pois nenhuma prerrogativa tem, uma vez que é o mais fraco, vai seguindo o seu irmão direito passo a passo, ainda que este tropece. Mas, se já no primeiro passo, antes de uma caminhada, consentirmos que pelo nosso pé esquerdo, a iniciativa seja tomada, forçosamente, teremos que fazê-lo com mais cautela; haveremos de avaliar com mais atenção o terreno; analisaremos os nossos movimentos, ainda antes de executá-los; julgaremos a nossa postura corporal, com mais critério; deixaremos livres nossas mãos, e, sobretudo, haveremos de julgar serenamente, a conveniência da jornada empreendida; finalmente, sem nenhuma outra escolha, haveremos de contar com o apoio do nosso pé direito...
Note bem! Tão somente este nosso pé esquerdo e apenas ele, nos oferece esta prévia reflexão antes do primeiro passo; atendendo-o, algumas vezes, mudaremos o curso do nosso trajeto, antes que o nosso pé direito desastrosamente possa trilhar o caminho errado...
Que seja dada ao nosso pé esquerdo, a chance de iniciar uma caminhada, dando o primeiro passo; pois, ele mais que o direito, mais direito pode executá-lo...
Crônica de Elias Barbet
Camaleoa...
Séria e zen quando as coisas fluem bem.
Mais o meu natural mesmo é não ser normal.
Tenho asas invisíveis que só eu sei.
Só eu sei o tamanho,
Só eu sei o preço que eu pago, só eu sei.
Das estranhezas de minha alma.
Alma sincera, quando maliciosa, camaleoa.
Às vezes inflama e bum, explode!
Não ouse entrar sem total asserção.
Primavera fora de época,
Triste sem preconceito de ser...
Idealista sem inquisição,
Nômade com endereço certo.
Quem de verdade, sou eu?
Uma fulana,
Uma sicrana
Ou uma beltrana.
Quero morrer sem saber
Vai perder a graça,
A graça dos meus traços...
Eles escorrem e saem sem medo por aí,
Sem lei, invisível, indomável.
Chorando, chorando, chorando,
Esperando, desejando, possuindo...
Em chamas!
Liberta sem trama, sem máscara.
Só com um sorriso largo, seja feliz ou triste
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
O mar escutava-me...
Se estavas grávida, muito de novo, estarias, pois só hoje, deste à luz do sol, novas de tua prenhez.
Por linda e deserta praia, andávamos.
Tu e eu? Talvez! Tu, nosso filho e eu! Talvez!
Por livres e seguros, roupa, poderíamos nenhuma usar.
Agora, dois seres carregavas.
Poderiam meus olhos tuas pernas incomodar?
Não! Pois, se possível fosse, sonhando caminhavas.
O mar escutava-me! Só ao teu ventre, atenção davas!
A ti, em silêncio, pedia perdão, por quase tudo que fiz.
Só o mar ouvia-me! Apenas o mar, escutavas!
O mar dizia-me: Perdoado está, seja agora, feliz!
Sem receio algum, aqueles que com amor, deleitam a tenra vida, seguiam à frente.
Deveriam Alimentar meu desejo os seios da minha amada?
Responderam-me os grãos de areia: Amanhã talvez! Que espere o hedonista amante!
Alertava-me o mar: Deixe que caminhe em paz, por um novo ser, uma mulher apaixonada!
O azul dos teus olhos desbotava o anil dos céus.
Por mais lindos que fossem, antes, detinham-me teus lábios lindos.
Poderiam os meus lábios alcançar os teus?
Neste momento, assustou-me o mar dizendo com seus bramidos.
- Macho irracional! Não é filho de mulher? Já lhe disse, deixe-a em paz, não a toque!
- Espere! Continuou ele, pois a mãe da vida, para nova vida, livre quer ficar!
- Que em seu ventre, um novo ser, sossegado fique!
Se a mim, falava o senhor de todas as águas, dúvidas tive ao escutar.
Não conhece os pensamentos do homem, o mar!
Destas águas, nada ouvi; minha própria consciência falara-me, por preceito infundado.
Quero possuir esta mulher; antes e depois daqui, não há melhor lugar!
- O seu desejo, agora, não há de ser, e o que não deve ser, das minhas praias, será removido.
Assustei-me! Esta voz, só de um colosso viria.
Baixei os olhos, olhei para os pés da minha amada.
Seus seios avante seguiam; dos lindos lábios da minha razão de ser, ouvindo uma melodia.
Caminhamos livres, dois amantes apaixonados por uma nova vida.
Poema de Elias Barbet
terça-feira, 11 de outubro de 2011
"não.."
eles te esperam..
à curvatura da mobilidade equacionada por um lampejo-só
às pradarias incessantes de verve e de pele
e
lá,
eles te vêem..
(e-só.)
é simples assim,
por idéia de um conto breve
transgressivo ápice de novas-formas
e linhas.. e um fogo perdido por nunca querer esquecer(-se)
ou,
ao sonho mais que devolvido
ao preço que não pago por nem preferir, ou-olhar..
e lá,
eles te querem..
à terça parte de uma qualquer citação
à cena meticulosa e ao império-vasto de lúxurias
e
lá,
eles te fervem
(então..)
aos olhares curiosos de prévia e consumo
ao tempo profícuo de uma vitrine-véspera(sequer..)
ao resultado aparente
à
simetria. de uma manhã, talvez
mas,
embora me comprometam esses erros,
não.
eu sei que nenhum deles,
verdadeiramente,
te encontram.
nem um deles(nem à parte-próxima)
te são.
(te servem..)
Poema de Azke
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Auto-pista da praia
entregue à própria lassidão, neste casulo de ar condicionado e
silêncio, a duzentos quilômetros por hora. A pista é agora uma reta
sem fim, os pneus produzem um som de água correndo,a paisagem
pouco mais que borrões verdes na minha retina. Pequenas cidades
e povoados surgem e desaparecem, no zapear da velocidade, são
figuras que vão se amontoando lá para trás, comprimidas pelo
vácuo em suas vidas tranqüilas e pacatas. A bela Inês repousa do
mundo bárbaro. O caderno sobre o colo, a caneta presa na espiral
e servindo de marcador , a regularidade dos traços rafaelitas, acima
do bem e do mal, aprisionados num clic de máquina fotográfica. Os
seios de talhe perfeito, maciços, estufando a camiseta no relevo de
mamilos divinos, ainda eriçados pelo frio. Uma deusa pós-moderna,
Pégaso no braço, tentando alcançar o sol de tinta e raios trêmulos.
Fantasia versus Realidade, dizia a mensagem no celular. Nem
lembro mais do escore, apenas abracei-a e beijei-a, um abraço de
náufrago, um ismael escapando do afogamento, agarrado ao
esquife do companheiro, mas tragado para sempre, para dentro
daqueles olhos castanhos e subitamente inexpressivos, límpidos.
A calma suprema de quem contempla uma implosão muito longe,
Anos-luz de rápido distanciamento emocional e compaixão zero,
impossível de fingir, pois fingir nunca foi o seu forte; durante
alguns anos, foi minha fortaleza o fingimento, aturar a mulher que
não me amava mais, um casamento natimorto sem descendentes
a celebrar meu grande vazio. A natureza abomina o vácuo – nem
lembro mais quem falou; surgiu Inês em minha vida, uma neo –
-realidade suburbana, a sensualidade safadinha, sexo na cabeça
e na alma; chutei o pau da barraca, fiquei sozinho do jeito que
nasci, segurei pelos longos cabelos, aquela oportunidade de provar
que ainda estava vivo e buliçoso. Nunca moramos juntos, assim
exigiu, assim existimos. Dois anos e uma crônica de amor louco
para sempre inédita, pois nunca escrevi nada a respeito do amor,
além da sala de aula, dos modernos cânones literários, o suficiente
para o vestibular de qualquer coisa que termine em contra cheque
regular e aposentadoria decrépita e vazia, melhor dizendo, até um
ex-namorado ressurgir do reino das sombras e cravar a estaca no
meu peito arfante de quarenta roliúdes por dia. Estrepitosamente,
ridiculamente, caí de quatro, tomando todas, cafungando, sempre a
chafurdar na própria merda. Não sei quanto tempo fiquei nesse
esgoto, até que resolvi metabolizar aquilo tudo, marcamos um
encontro na praça em frente do cursinho; deixou a estranha
mensagem no celular. Chegou linda,sorridente, beijou-me de leve,
um beijo de lápide funerária, que me virou pelo avesso. Um abraço
cem por cento angústia, dor de corno em estado de arte. Comemos
um sanduíche na lanchonete em frente, convidei-a para uma volta
de carro; aceitou constrangida, rodamos um pouco pelo centro;
do rádio, Stevie Wonder e Superstition não me deixavam espaço
pras abobrinhas, a mente funqueava à toa, gaguejava pensamentos
e fragmentos. Na verdade não tinha mais nada a dizer, muito menos
ouvir, percebi ao contemplar o seu perfil. Parei e pensei. Olhei-
a bem nos olhos grandes, acariciei seus cabelos e atirei entre os
seios; aquele rosto não merecia ser estragado. Ela simplesmente
virou a cabeça para a janela e mergulhou no sono profundo. Dei
partida, peguei a autopista do mar e segui em frente; há dois
dias viajo com a rainha morta, Inês, que seria de Castro se um rei
traído não fosse eu e fossem as pessoas nas ruas, obrigadas a
beijar-lhe as mãos, tão belas e frias, em muda admiração.
Conto de André Albuquerque.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Caçada dos Instantes
É um antigo sonho que se rematerializa
Em formas insanas e incoerentes
Uma tela que se repinta em cores diferentes
Nela dois sinistros pequenos círculos próximos
Me perseguem pelo quadro de imagem árida
Penso que são seus firmes olhos
Mas são os penetrantes olhos de uma águia
Ao despertar não consigo conter o motim que há no leito
Dos fragmentos que surgem no meu ócio
Como um fino som agudo no peito
Surgido aos poucos no fundo do silêncio
Os fragmentos são meus queridos amigos fantasmas
Testemunhas únicas do louco nascedouro de minhas palavras
Arautos de um cruel pôr-do-sol que invade
O crepúsculo evasivo e selvagem de antigas horas
Mas lembro que antigamente as tardes
Eram mais tranqüilas, quase mortas
Na caçada dos instantes
Reverberam inúteis certezes cínicas, incessantes
Vigiando tempos
Perscrutando previsões
Acossando momentos
Tocaiando as ocasiões
Tudo constantemente uma coisa na outra implica
Nada nasce do nada
E até o nada se recicla.
Marcio Rufino
Todos os direitos reservados.
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
A jangada
Tosca, rude, feita quase de troncos
Parece pesada, levada ao mar nos roletes
Entra na água, vai deslizando...
Tão leve que fica, que um ventinho
Um leve ventinho leva...
Lá vai a jangada que eu pensei fosse pesada
O jangadeiro equilibra parecendo dançar
Vento, jangada, jangadeiro e o mar
Dá vontade de pintar...
Poema de Victorvapf
Mar marrom...
Eu tenho uma arma...
Eu tenho uma arma...
Exercício N. 1
Pondera, pondera
Pondera essa fala tanta
Não adianta
Som de pressas
No meu silêncio
Espera
O verbo vir
Na primavera
Espera, espera
Deixa a palavra leve
Quieta, quieta
Quieta os gomos
Da tua língua
Cheia de dúvida e terra
Belém/PA, 05/10/2011
Marcel Franco
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Lembrete
só é possível porque
somos um bando de covardes
degenerados filhos-da-puta,
posando para si mesmo,
nus,
nesse hospício cheio de merda.
Eis o que somos, senhores.
Mas, sei que já desconfiam.
É só uma porra de lembrete
jogado ao vento!
Poema de Milton Filho
domingo, 2 de outubro de 2011
Cegueira
Ou não sonha ele, eivado de sentido?
Pode um esto gravoso que evola
ter sido por ele no sonho esculpido?
Podem um queixo, a maçã de um rosto,
serem no sonho tão bem desenhados?
Ou o cego não sabe, no sonho que tem,
incutir nas coisas os significados?
É a visão tão imprescindível?
É, de fato, preciso o olhar
pra que o mundo nos seja tão terrível?
Ou os olhos podem, sim, pintar
tudo o que nos for possível?
Preciso de olhos pra enxergar?
Soneto de Isaac Bugarim