Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Sargaços

Escala os sulcos do meu quadril, amor
e escolhes ao chegar no fastígio,
mar de vapores ou céu desnudo.

Toca meus cabelos despenteados, amor
antes que a próxima onda
os drague contíguo aos sargaços,
estes traiçoeiros
acostados nas vagas do nosso (a)mar.




Poema de Maria Verde

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Sem meu quasar...


Por que eu escrevo?
Para não morrer de dor
Uma dor na alma abusada,
Latente, insistente,
Essa dor me atira a queima roupa,
Me tira a calma, me estapeia a alma.

Escrevo o não vivido,
Escrevo por escrever,
E numa dessas escritas
Depois entendo o porquê!

Rabisco meus traços
Que se fundem com meus fracassos
Que se fundem com minhas paixões
Que se fundem com minhas quimeras.

Escrevo o meu inconsciente
Escrevo o absurdo de mim
A mentira de mim,
As atrocidades de mim.

Escrevo todo meu sexo
Todo meu amor
Derramo sobre meus versos...
Pitadas de charme, rebeldia e melancolia.

Queria ser cruel
Queria ser fria
Queria ser escorregadia
Queria ser fel.

Mais sou emoção
Sou quente
Sou apaixonada
Sou mel.

Mas estou vivendo
Sem a pedra indicada
Sem o mar perfeito
Sem meu quasar.


 ((( Camila Senna )))
 
 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Na ponta do meu cigarro

acesa a tua presença em meus cigarros,
vejo passar entre meus dedos a tristeza.
me embebedo de oração, pois vim do barro
e verto lama em vez de choro, com certeza.

meu choro é pedra num sapato deserto
e não me importa mais qualquer carícia.
se sentimos a dor e a delícia do perto,
procuro o longe e a primeira, vitalícia.

há mais escuridão, pois vim do barro
e ao barro voltarei com minha certeza.
retenho a lágrima, a lama e a tristeza:
já te apaguei na ponta do meu cigarro

Poema de Caíto

"alusão"

excelência..

repto por exemplo e segredo
(cor. e devaneio, ou.)
por indulto despencado em outro ponto
à tendência de corpos(e vícios)




ao qual interesse, se negado seja
ao profundo mar de providência e "amanhãs"
interino-lar. é: água pra "decidir"(é fogo!)
é a marca da verdade que te corta
à porta aberta e alheia de ti..







excelência e consumo..



um:
lado possível.
é este aprume de crime, se for a convites
aos limites e versões intermediárias de tua verve
à voracidade de peles
às reles preces recitadas
em páginas e(raras) de-composições..




à letra fria que te navega um terço:
é. a crua condição de Eva por arbítrio

à maçã que te delimita:
é(também..) curvatuta do quadril que te define
ao


exacto modo contrário
e
assim,



próximo.
(deste lado que te peca.. e te quer abstrar.)

Poema de Azke

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Apagar, sim porque... nem todo mundo pensa igual e não é obrigado a engolir as verdade de ninguém!

Quem tem fórmula certa e a regra que dá alguém liberdade na escrita? A razão da escrita é um elogio, uma crítica, o prazer da escrita são os comentários ou interferem no escrever os números das leituras?
Nada disso importa e me choca os que se dizem esclarecidos literatos preocuparem-se mais com a capa do que o conteúdo do livro.
Quem tem a razão sobre o que eu disse no meu tempo não vive o meu tempo, logo as respostas das perguntas acima são as próprias perguntas para quem escreve pensando nisso.
Nunca vou saber se quando eu não mais existir, o que eu disse servirá para alguém além de mim, se irá se relacionar com uma realidade que nunca imaginei, é esse um dos muitos senão o principal propósito da escrita, ainda que algo que eu tenha escrito já tenha obtido reconhecimento atual.
Meu pensamento é que: o bom escritor (diga-se bom escritor o que as idéias permanecem por gerações) já nasceu póstumo e o ruim também, assim como os profetas mortos. Ao escritor a sua alma diz: as palavras são vontades somente minhas, meus pensamentos, o meu sentir, minha visão do mundo com todas as ilusões, textos, versos e rascunhos lançados no espaço, onde me liberto da gravidade da vida mortal, onde me torno em interpretações alheias, onde vago no esquecimento da vacuidade com questões filosóficas e onde meu corpo de pensamentos mutila-se até o fim ou até loucura.
Não compreendo quem não escreve assim, quem não se expõe em praça pública e quer definir o certo e errado com uma utopia para o significado da liberdade, não entendo a mania de descobridor dos outros quando deveria encontrar o nirvana em si, o deixar de viver para analisar o ideal de viver a liberdade, e à distância e buscar a solução sem reconhecer o problema em si, mostrar o caminho a todos e não ser o exemplo, buscar mudanças e não mudar.
Não aceito ideologias pra escrever, atos alheios de bondade e maldade ou crítica como impulso para mover minha vontade de descrever a visão do mundo ao meu redor, e parâmetros para definir o que é agradável ou não de dizer, mas confesso, sou mortal e todas as coisas me afetam e ainda que eu as ignore elas permanecem ali, como uma semente que brota nas rochas.
Há sempre uma forma de corromper o real significado do que se diz e eu agradeço sempre até os que me cospem a cara, agradeço quem me percebeu vil como nem o espelho me mostrou e me conforto com as boas mentiras, desde criança sou assim, meus pais me ensinaram a ser grata. Dizem-me pela vida coisas boas e más nem tudo que se diz aceito como absoluta verdade, mas ainda que eu as negue agradeço.
Aprendi de tanto tentar escrever que nem tudo se diz com palavras, mas com gestos e exemplos de comportamento no livre arbítrio, leio sempre gestos, os meus e os gestos dos que conseguem passar por mim e me chamar à atenção, seja negativa ou positivamente, isso me faz livre de pré-conceitos na leitura e na escrita, o aprendizado é o certo e o errado e isso é uma constatação de que não existe uma fórmula, e que toda forma conhecimento é somente uma repetição do que todos aceitam como certo.
Se o que escrevi teve bom uso além do primordial que é para minha catarse, nunca vou saber, mas é essa fascinante dúvida que se faz a razão pela qual escrevo e testemunho a minha visão e a minha reação em relação ao pequeno mundo que me cerca de riquezas e mediocridades.
Viva a liberdade de expressão e as críticas, a falsidade e os elogios, um viva para quem não se importa e prefere isolar-se, viva quem apaga os comentários e mais um viva ao respeito porque nem todo mundo pensa igual e não é obrigado a engolir a verdade de ninguém.

Texto de Aline Capistrano

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ocaso

No tempo em que eu mal te olhava
Nem eras tão belo assim
As flores que tu beijavas
Sempre pensando em mim
Fizeram de ti ilha e só
E só ao te ver ilha
Quis navegar entre mares
Quis conhecer teus lugares
Quis me fazer por do sol

Poema de Isabela Vital

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Conteúdo imanifesto

Formas perfeitas?
As Lins-fordianas.

Fazem girar e atiçam cobiças.
Toda solta
toda solta
toda solta
marinho de pé nas gares metafóricas.

Idiossincrasias,
despropositais hipérboles vaidosas
castradas pelo ciúme.



Poema de Maria Verde

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Oração

Ó Pai,
Governante angelical deste mundo,
Habitante das esferas mais sensíveis do desejo
Conhecedor íntimo dos círculos de Sophia,
Nenhum panarion te curou da nossa alma,
Nela habitas a despeito de tantos santos e heresias,
De tantas exprobações e excomunhões,
De tantas fogueiras e perseguições
Arraigado como estás em cada coração e intento.

Ó Pai,
Governante angelical deste mundo,
Senhor dos rebeldes com causa de Sodoma
Dos amantes devassos de Gomorra,
Místicos a galgar os fastígios do sublime,
O êxtase erótico do nirvana e do crime,
Ensinaste que toda a trave sobre o corpo,
Que todo o grilhão contra as formas do amor
Só nos leva à guerra, à infelicidade e ao terror.

Ó Pai,
Governante angelical deste mundo,
Soberano de toda a raça de Adão,
De todo o fugitivo e errante pela terra,
De Nimrode, poderoso caçador,
Edificador de cidades, da imensa Torre,
Ensinaste que toda a salvação
É inimiga íntima do controle
E que só pode ser salvo quem é livre para sê-lo;

Ó Pai, sim!
Governante angelical deste mundo,
Livre para comer e amar,
Livre para ler e conhecer,
Para destruir e odiar, para construir
E novamente destruir e, então, reconstruir
Quantas vezes forem necessárias o homem, o mundo
E, sobretudo, livre para matar e vingar-se
Setenta vezes sete de quem nos mata.

Ó Pai, Senhor,
Governante angelical deste mundo,
Incompreendido por todos que crêem
Nas nuvens inúmeras havidas por Deus,
Pelo demiurgo megalomaníaco deste mundo
Que, a muito custo, tenta extinguir
A centelha insondável, pó primevo e fecundo,
Que todos carregam dentro de si, Pai Nosso,
Assassino e construtor, raça dos cainitas!

Ó Pai, Senhor,
Homem demasiadamente humano
Que teve a oferta mais pura recusada,
Primícia da terra, límpida e incruenta,
Obra de tuas mãos calejadas de lavrador,
Trabalho de quem edificou todo orbe antigo:
Ur e Enoque, Sodoma e Gomorra, Babel e Babilônia,
Tebas, Nínive e Calá, Sidom, Roma e Pasárgada,
Habitante de Node, Oriente do Éden!

Ó Pai, Senhor,
Preterido, proscrito e amaldiçoado,
Perseguido e fustigado pelo inferior,
Hostilizado e marcado pelo sangrento sacrificador,
Pelo Deus da gordura e do sangue de tantos altares,
Luminar acossado pelo desejo, libertino
Livre para mal proceder, para pecar e conhecer-se,
A tua oferenda, vida e alimento, foi rejeitada
Em favor da morte, do sangue e da dissolução.

Ó Senhor, o mais belo ninivita, obstinado,
A tua centelha ninguém jamais apagará,
Pai adâmico, Pai-Mãe, sabedoria incorruptível,
Restaurada pela revolta, pela ímpia verdade
Que desde o início tu sempre conheceste,
Aquela mesma que levou todos a enlouquecerem
E a te acusarem de Judas, apóstata e execrando.
Sabes bem que toda a divindade é uma caixa de Pandora
E que Deus reiventou-se o Diabo reiventando.

Poema de Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O poeta esteve a beber

Esteve a beber num bar qualquer até ao momento em que lhe surgiu uma ideia e teve que a escrever.
De vez em quando prime duas teclas ao mesmo tempo, mas como é perfeccionista, volta de imediato atrás para apagar.
Bebe como escreve. Bem.
A história daquele dia era sobre um homem a quem os médicos proibiram a escrita.
Causava-lhe imensa ansiedade, provocando-lhe arritmia cardíaca, pelo que o acto de escrever não lhe era recomendado. Emocionava-se com aquilo que escrevia e havia alturas até em que dificilmente continha as lágrimas.
Definhava dia após dia. Não comia, andava triste e apagado.
Numa ocasião, um amigo seu de longa data, vendo-o desaparecer progressivamente, disse-lhe:
- Ouve lá ò João, tens que beber uns copos e mandar isso para trás das costas…
Assim fez, começando logo naquela hora.
Passou uma tarde fantástica, divertindo-se e fazendo divertir os outros. Nem parecia o mesmo.
No dia seguinte repetiu a dose, e depois, e depois, e depois.
Bebia e esquecia que um dia escreveu poemas de uma lucidez tal que lhe doíam.
Mas uma hora, deu-lhe vontade de escrever.
Correu para casa para passar a ideia para o seu computador com pó.
De vez em quando prime duas teclas ao mesmo tempo, mas não volta atrás para apagar.
Um dia começou a sentir-se mal. Arrepios pelo corpo, tonturas, visão dupla.
O mesmo médico que o tratou da maleita anterior, após observação minuciosa, disse sério do alto da sua magistratura:
- Se continuar a beber para escrever, vai acabar por morrer. Não de arritmia, mas de cancro no fígado…
João não bebeu nessa noite, nem nas seguintes, e nas seguintes, e nas seguintes.
Definhava da cura novamente.
Até que um dia, contemplando infeliz o rio que corria na sua alma, sentiu no ombro uma mão que o cumprimentava.
A cara era conhecida e parecia envolta em luz, mas não era dali.
Abraçaram-se e começaram a caminhar até a um ponto do horizonte, onde criador e personagem são um só.
Depois desapareceram, e eu escrevi.


Conto de José Ilídio Torres

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

poema

na ventoinha do condensador
existe um poema
suado & surrado.

no sentido figurado da ventoinha
existe - mais - um poema volúvel
in( ventado ),

ventando para os longes de mim.


Poema de Edilson José

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

ensaio para agarrar seu sorriso

o brunch em uma garrafa e minha alma rodando num redemoinho d’água... se a água acalma o ferimento cobra o preço. curvo-me a fina combinação de um par de sombras, minhas mãos se abrem as suas que como anjos fazem-me especial. o sol a água a lenha são livres, mas só posso confiar no vento para que leve minhas palavras, esse ventos são felizes e tristes, proíbem de nos vermos... sinto saudades a todo o momento, esse lugar vira terra seca no cantil e apenas o céu para confirmar onde andas adormecido... pai preciso que venhas chorar comigo, muitas e muitas vezes como se fosse um ensaio para agarrar seu sorriso...



Autora: Vânia Lopez

domingo, 8 de janeiro de 2012

Piano-poema

Afino os dedos nas teclas da escrita como se de um piano se tratasse
Depois, sorrateiros, os martelos quase silenciosos, crescendo
Na cauda do instrumento há um homem de fato que se deita
Ninguém sabe de onde vêm os dedos nem importa

A melodia do amor
Até se pode ouvir afinal numa pipeta de mercúrio
Basta que os amantes aqueçam a noite com champanhe gelado
E os gatos atrevidos se sirvam das sombras nos telhados
Sejam de zinco os sussurros

Para afinar um piano de escrita é preciso um bar disponível
De homens sem beira e mulheres à espera
De outras coisas quaisquer que sejam sem tempo

Um desafinado por perto
Um passo dado num doble incerto

Escrever é compor canções aos medos
É saber quase todos os segredos
E não restar alternativa que não seja morrer

Refastelado num piano-poema a sobrar dos dedos

Poema de José Ilídio Torres

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Hoje, sem nós

Hoje,
Nem sou arquipélago, tampouco constelação
Sou estrela solitária, sou ilha de solidão.
No viés do tempo, perdi a linha de bordar
Não costurei um sorriso, furei o dedo da mão
Larguei longe a sianinha,
Larguei longe minha musa,
Hoje sou só eu.
Só hoje
Só eu...
Amanhã estarei nós.

Poema de Isabela Vital

Dissertação estapafúrdia sobre a arte de escrever tomando em conta o que me disse o pintor João Gonçalves

Vem um pássaro poisar na mão da tela. Traz no bico aguardente de medronho para incendiar o tempo.
Uma virgem quase nua cobre os pelos púbicos com uma funda.
Disparando perde a virgindade e o pássaro poisa.
E é nesse momento em que o pincel é um gargalo de dedos, que se suicidam as prostitutas mais belas.



Autor: José Ilídio Torres

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Lacraram as portas (e a felicidade)

Ninguém sabia por onde entrar na casa grande.
Portas em todos os quadrantes,
o norte a repetir-se ao sul
leste oeste.

Claridades ofuscantes
ainda teimam entrar pelas frestas das tábuas
que lacram o que fora portas e janelas
da velha casa perdida em calendário.

Às vezes penso que a felicidade trancou-se lá dentro
ou é refém em papel de inventário.

A grande casa,
hoje pertence a todos e a ninguém.


Poema de Maria Verde