Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Tratado de relacionamentos eficazes

“O meu corpo é de argila, estou vivo e aceito o dia.” António Ramos Rosa (corpo de argila», de volante verde, 1986)

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Porque não me ouves antes de te ouvires?

Porque me cedes a morte como um sono e me cravejas cerejas de tempestade todas as noites?

Porque não falas antes de o dia se entreparar em luz e movimento? 

Porque estropias o sentimento antes de ele amadurecer conciso e arrumado?

Porque ressonas Wagner em vez de me acalantares doces e reticulas doses de mel?

Ressoas como uma cavernícola intempérie de mares históricos?

Penso que sim, ou não, diz-me?

Nobre lusíada, não és ninfa de silêncio nem ilha perdida de atlântida lembrada, nem areia oceânica mitológica, então que és, pura, doce e lânguida?

Porque me gritas sem gesto nem medo de me perderes no vão dos caminhos?

Porque me assedias e despes para me dissecares em vida nervo a nervo, semente a semente de rogo dorido?

Falo sem me ouvires, grosso teatro do absurdo, e porque lamentas o acto ríspido e insular de me ir embora?

25 Out. 2012 



Autor: Carlos Teixeira Luís

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Curupira




Nunca fui homem de adentrar matas virgens,
Mas em mim já cresceram todas as matas devastadas possíveis
Matas essas que me amendrontavam quando menino
E hoje as enfrento com tesão e ousadia de caçador feroz-felino.
Será que o menino em mim morreu?
Ou será que nasceu outro menino?
Será que ele ficou valente?
Será que ele descobriu que a terra
Não passa de enrosco de paraíso com inferno na gente?
Ele dança como vaga-lume;
Canta como cigarra;
Se excita com as picadas das mutucas;
Sente o atrevimento dos instintos das árvores e suas diretrizes;
Se alimenta vorazmente de carne crua, capim e raízes;
Se banha na embriaguez do curso das águas;
Se compadece do canto triste das aves notívagas...
E suas mágoas;
Se perde nas pegadas tortuosas e confusas do Curupira.
Ele deseja em sua pele verde tocar.
Acariciar seus cabelos de fogo sem medo de se queimar.
Sim.
Sua urbanidade o agride, enoja e desencanta.
A postura? O emprego? O papel na sociedade?
Tudo mentira!
Ele quer ser o poderoso Nada!
Ele quer ser a brisa da Mata!
Melhor amigo dos macacos.
Ele quer montar na garupa do porco do mato.
E dentro dos olhos guardiões do Curupira,
Conjugar na oração da língua da natureza
O seu mais incisivo e efêmero hiato.
Marcio Rufino

o que permanece prece...

um júri de anjos embriagados há de vir
separar uma lágrima da outra
no guardado de meus olhos

a campainha tocará intuitiva anunciando
com a frequência de um amigo íntimo
percorrendo o ar como garoa
sussurrando o breu
o revirado da veste
arrancará do beco a hóstia

há de tirar da boca teu nome
o delírio dos sinos, dos poetas
partirá como boa porcelana

como um pedaço de rua inundado
onde os deuses temem pisar
e mortos de fome integram-se

deixará ir o que escuta o verbo
o que nunca tocou a caneta ou papel
e cresce... onde acaba
... o que permanece prece



Poema de Vânia Lopez

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