Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



quinta-feira, 21 de junho de 2012

é tudo mentira... ou sim os dois

contornar a saia com um verso
na caneta só palavra
deixar a alma passar cheia de capítulos
no instante que não falta nada
manter o coração inocente
ser feliz aos poucos
entre o chá e o jantar
desviar das nossas roupas juntas
enfrentar o céu e o inferno
(nos olhos) o mesmo endereço
uma cor que ruge aparecendo na boca
invadir seu maço de cigarros
oferecer preço ao silencio
despir o sorriso no velório do teu eu
orar em outro idioma
comentar o fim da novela
diante do céu abandonar meu corpo
sem hora marcada
aceitar uma carona sem pressa de voltar
grávida de lápis, pincéis e tesouras
ser de me imaginar...

Poema de Vânia Lopez

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carochas, bicicletas & biplanos - 18

Estórias (antigas e esquecidas) ou histórias cuja banalidade dos dias seja reconhecida? Há uma ideia que sai viva da ideia por detrás destes blogues que terminei em 2010, uma ferramenta para mostrar as pequenas histórias que me vão surgindo por entre os dedos das mãos.

E agora:

(Novas) Histórias do Deserto by Carlos Teixeira Luís

Histórias do deserto, porquê?

Talvez tivesse uns 19 anos na altura, trabalhava num segundo andar numa sala nos fundos dum andar com escritórios onde havia uma janela para um canto na Praça dos Restauradores em Lisboa. A vista não era muito nobre, via-se a caca dos pombos nas janelas fechadas dum velho hotel, caca dura como cimento de décadas onde os pombos faziam inclusive os seus ninhos. Esse hotel histórico veio a ser restaurado e a imagem suja e decadente dos pobres pombos foi anulada mas não da memória. Foi a olhar por essa janela fechada que nunca se abria por causa do som ensurdecedor do trânsito e da curiosidade ágil dos mesmos pombos que ia inventando histórias para não enlouquecer. Trabalhava numa espécie de depósito duma multinacional de óptica ali perto da baixa de Lisboa, onde o meu trabalho consistia em atender telefones, gerir o stock de lentes oftálmicas e fazer colorações em lentes graduadas para óculos de sol. Colorir lentes era um trabalho estranho, rudimentar e repetitivo. Mas era bom neste tipo de serviço, sustentado por um pequeno rádio e leitor de cassetes onde ouvia sem parar a minha escolha musical que me levava o espírito longe dali. Por vezes, lia às escondidas, quando fazia os degradés que consistiam em segurar as lentes numas pinças de aço e com um movimento calculado do pulso, mergulhá-las numa solução de água e químico com cor, numa das tinas de metal aquecidas a óleo. Respirar aqueles fumos diariamente durante 8 a 12 horas deixou uma marca na minha saúde. Lia e fazia isso ao mesmo tempo, escondendo o livro assim que chegava alguém. Trabalhava incansavelmente ultrapassando todas as dificuldades, nunca dizendo não a qualquer desafio. Ficava até às dez da noite, quando o trabalho apertava, não recebendo por isso. Suando as estopinhas. E sonhando acordado. Com histórias do deserto. Metáfora profunda duma condição social e pessoal.

Logicamente um tempo de imensa e profunda solidão e desencanto. Que não tinha nada que ver com a falta de gente à minha volta. Mas uma solidão melancólica que vem de dentro, sem aviso. Soube-o mais tarde, sem remédio.

Jun. 12

 
Autor: Carlos Teixeira Luís

carochas, bicicletas & biplanos - 17

Um gajo com óculos. Em 1935 morre Fernando Pessoa conhecido por usar chapéu preto e usar óculos. Além disso escreveu textos estranhos geniais e até poemas. Nesse ano nasce um ser que mais tarde se veio a chamar Woody Allen, cara de fuinha, faz filmes embora tenha começado como humorista. Bem nunca deixou de o ser. Em 1966 aparece como actor no filme What’s Up, Tiger Lily? Uma película ranhosa mas foi a primeira de muitas em que parece no seu papel de cabeludo e careca e um gajo com óculos. Nunca passou de um gajo com óculos, genial, cineasta e escritor de diálogos. Nesse mesmo ano, em 1966 nasço na maternidade alfredo da costa pelas 12 horas, dum dia 12 e berro logo um solo de free jazz demolidor, segundo constou quem lá esteve. Sim na maternidade que o governo aprovou fechar nos seus esforços de acabar com a memória colectiva não vá o povo servir-se dela para se lembrar de coisas que repetidamente lhe fizeram para seu prejuízo. E também para vender o edifício ou o terreno a preço de ouro, diamante e petróleo, por metro quadrado. Ah tinha nascido não é e hoje não passo dum gajo com óculos, que acabou de escrever isto provavelmente para meu prejuízo também. Sendo que escrevendo se regista o que outro poderá ler, quem sabe também um gajo com óculos, ministro, policia, padre ou vagabundo, sendo que este último não passará por um qualquer gajo com óculos provavelmente não os usará e míope passará por bêbedo. Sendo que este texto é uma forma louca, insensata mas divertida de me pôr no meio dum genial cineasta e do poeta português menos português e mais português por isso. Talvez o melhor escritor de toda a portugalidade e língua que Camões também usou. Tudo está lá. Ou quase tudo. E usava óculos.

Maio - Junho 12