Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



segunda-feira, 28 de junho de 2010

VULTO FERIDO (TRILOGIA DO BAR)



VULTO FERIDO

É ali que me sinto feliz
Entre um drink e outro
Nasce minha poesia
Esqueço a amargura do dia

É ali que me encontro
Que me desencontro
Que deixo garrafas partidas
Que vivo minha vida sem vida

Sou apenas um vulto no bar
Um vulto que não serve para ninguém amar
Um vulto que só sabe chorar

Sou um vento que passou na mesa do bar
Um vento que não toca nem a flor
Um vento que nasceu sem cor

Sou um vento ferido
Um vento ferido que não sabe amar
Que não sabe soprar
Na direção do mar

OCASO DE UMA VIDA (TRILOGIA DO BAR)



OCASO DE UMA VIDA

A garrafa ficou vazia
Sobre a mesa do bar
Não tem nada na vida
Não aprendeu a amar

Está sem cores
Perdeu seus pudores
Enquanto tentava ajeitar a gravata
Apenas para se enfeitar

As ruas estão cambaleando à sua frente
Esqueceu os dormentes
Que usaria para poder se deitar

Seu sol não vai nascer
Seu corpo esgotado vai estremecer
Enfim, vai cair e não mais viver



Futuro,
passado que irá
se realizar.
O meu presente
é sorriso,
testículos,
veias,
vaginas,
ungidos divinamente
por gemidos
miraculosos
que são soprados
em sussurros
no ouvido.

Jorge Medeiros ( 27-11-2008)

domingo, 27 de junho de 2010

Escravo




















A Antônio Franco Alexandre


Escravo escrevo
De tudo
Ou
De quase tudo,

De becos e tiros
De ruas e fuzis,
De largas avenidas,
Livros e vitrines,
De alvoradas e crepúsculos,
De estrelas e amplidões,
De luas e bondes,
De portos e naus
Que apontam
Magoados
No horizonte
De concreto e fastio.

Na escrita,
Nem tudo é livre
Como na fala
Que livre
Perde-se longe,
Prolixa,
Com suas pontes
Frágeis, feéricas,
Pois a da escrita
É fixa
De madeira
E prego,
Embora levadiça.

Escravo escrevo
Da escrita,
Da vida
Que o corpo mancha
E o levita
No espaço
Sintático do ser.

A palavra amiga
Súbito
Assume brusca
Estranheza
Na sintaxe
Quase estrangeira;
Quer agora
Ser ferida de beleza.

Escravo escrevo
Da escrita,
Livre de tudo
Ou
De quase tudo,

Do que não é
Obtuso, escuso,
Sujo, da límpida
Retórica de tribuna,
Escravo do que aéreo
Se espatifa
No chão úmido,
Túmido
De súbito sangue.

Na escrita,
Nada é escravo
Do corpo livre da fala.
Escrita
Que tantas vezes
Cala,
Porque nela
Não há altercação,
Interlocução,
Copiosos gritos,
Mas leitura,
Grave tessitura
E leitores
Reclusos
No silêncio.

Na escrita
Nem tudo fala,
Mas deixa
Lido,
Movediço
Na ante-sala
Da escritura –

Face marmórea
Do instável
Onde escravo
Escrevo inscrito.

Na fala
Quase nada escreve,
Inscreve-se,
Embora fóssil
Vire gramática,
Escrita escrava
Do corpo
Que foi fala.

Escravo escrevo
Proscrito da fala,
Inscrito na escrita
Em meio a tudo o que fala
E que escravo se inscreve.

Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.

sábado, 26 de junho de 2010

ANJO CINZENTO (TRILOGIA DO BAR)



ANJO CINZENTO

Talvez a noite não seja estrelada
Não tenha um céu cinzento
Mas tenha um licor na mesa do bar
Para que aqueça um pouco o relento

Os olhos já não sabem dos anjos
Não medem pontes
Não querem se esconder da chuva
Ainda sonham com a fada escondida na fonte

Talvez o bar seja apenas outro lar
Onde possa esconder a tristeza
Até a saudade passar

Talvez a vida esteja mesmo na mesa do bar
Nos olhos que já não querem sonhar
No coração que já não pode amar

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Voltou a ser o que era...



O céu amanheceu nebuloso com cara de amargura...
Queria invadir: as ruas, as casas, as almas e os corações.
Mas a rua, de ousada que é, ficou em colibri.
A casa, de família que é, ficou em vigília.
A alma, de sensível que é, vestiu-se com armaduras.
O coração, de emoção que é, transformou-se em um leão de coragem.
O céu queria mesmo é ser o centro das atenções...
De forma que todos que estivessem felizes, se contagiassem com sua tristeza.
Então a rua lhe disse: volte a ser o céu azul que me iluminava.
A casa aconselhou: a vida, nem sempre vai ser florida, mas você pode ser azul, ainda que tristeza.
A alma explicou: tem dias que é assim, ficamos vulneráveis, mas é preciso força, para não nos deixar abater.
O coração incessantemente pediu: volte a ser anil.
Busque dentro de você sua galhardia...
Você tem essência divina, não permita que as trevas invadam seu infinito.
O céu, emocionado, rendeu-se...
Permitindo-se novamente ao calor do amor.
E todo o seu firmamento voltou a ser esplêndido.



(((Camila Senna)))

terça-feira, 22 de junho de 2010

À Caminho da Fantasia




Atravessei paredes.
Sobrevoei pântanos.
Penetrei buracos.
Invadi cidades.
À procura da fantasia.

Desabei sobre árvores.
Saltei sobre cercas.
Desafiei reis.
Barganhei com bruxas,
sendo eu também um bruxo.
À procura da fantasia.

Percorri florestas.
Tomei cavalos.
Alcovitei com as estrelas.
Destrui magias.
Criei outras.
Sai de dentro dos outros.
Entrei dentro de mim.
Enfim, encontrei a fantasia.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados.

segunda-feira, 21 de junho de 2010




O NÃO
da modernidade
é mais doloroso
que um tapa na cara:
"o número que você
ligou
está fora de área
ou desligado."
Não permite
nem o prazer
de expor ao outro
o latente ÓDIO.

Jorge Medeiros
(05-06-2010)

domingo, 20 de junho de 2010

Não tente me colocar amarras.


Eu sempre quis estar nesse lugar...
Lugar que só eu sei a cor, o cheiro e o visual.
Com toda minha impetuosidade...
Ouvindo o som do mar a cantar e me entregar...
Sem se quer para trás olhar.

Respirar me sentindo leve como um pássaro.
Viva e linda como uma flor.
Ainda que o lugar pareça de mentira.
Eu construo ele dentro de mim com a minha verdade.
Sem tão pouco me importar com as suas mentiras...
Que não me levam a lugar nenhum.

Transporto esse lugar para dentro do meu ser...
Elevando minha alma, me deixando transfundir.
Querendo e gritando com todas as minhas vísceras...
Desejando todos os dias que ele faça morada em mim.

"Tenho garras de águia
Não tente me colocar amarras
Não preciso de máscaras para me mover..."

Faço da trilha obscura noite de fantasia.
Com vagalumes me iluminado...
Com a mãe natureza me guardando...
Dizendo: vai filha, essa é sua morada.
Você sonhou, acreditou e atraiu...
Agora ela existe, se tornou real.

O que eu aspirei não é mais fictício,
Pois enquanto correr sangue em minhas veias...
Ei de proclamar o que eu sonhar.

Meus pés são saudáveis...
Mas as minhas asas são velozes...
E conseguem entender rápido...
O que se passa no ímpeto do meu ser.
A vontade de ser audaz é estupenda

Me faz forte...
Me faz feroz..
A ponto de lutar pelo que eu acredito,
Que eu posso ser, e possuir.
Quanto as minhas asas? Ah, elas vão morrer comigo!

Camila Senna

sábado, 19 de junho de 2010

A AVE DO CHÃO




A ave do chão...
Autora: Silviah Carvalho

Um dia...
Um pássaro bonito, porém, solitário, por seu lindo canto é chamado canário, ele tinha uma longa missão, porém, sem saber, pra que lado voar e voar para quê?
Ali no seu ninho exercia o domínio, era dono de si, voar, só por prazer, poucas vezes descia ao chão, o aconchego do ninho aquecia seu corpo, esfriando por vezes o seu coração. Tinha as aves vizinhas, que com seus belos cantos procuravam agradá-lo, eximindo-o de sua missão, mas, um pássaro com uma missão é um anjo com uma espada na mão certo da vitória voa pra vencer. E a ave solitária sai do seu ninho, sem saber ao certo qual o caminho, segue ao norte e pousa no topo de um ipê, pobre canário bonito, deixou tudo o que tinha para o instinto obedecer, no peito saudade do ninho e mesmo muito sozinho outro ninho fez no ipê.
Ali do alto cantava exibindo sua beleza, novo território demarcava com seu canto de tristeza, mas um dia a tempestade revelou sua missão, bateu forte na floresta jogando uma ave no chão.
Seguro no lugar onde estava, o canário a tudo observava, mas pouco podia fazer, via no chão a pobre ave, mas a chuva não o deixava descer.

Porém, mais só, era a ave do chão, com fome, ferida e na tempestade, pouco tempo iria viver!
Mas a ave missionária fez seu título valer, desceu do topo onde estava e a ave ferida veio logo socorrer, cobriu-a com sua asa esperando a chuva passar, aqueceu, alimentou, fortaleceu, até tentou fazê-la voar, porém, a ave do chão, não encontra forças pra se renovar.


Mas o canário cumpre sua missão: Descer, alimentar e proteger.
Isso pode ser alusão?
Por que, sou eu a ave do chão. E o canário, parece você!

Autora: Silviah Carvalho

MAR DE ROSAS (Sylvia Araujo)



E o mar,
Vestido de preto,
Cravejado de noite,
É corpo despido
-Lançado na areia.
Na brisa,
Quase sem vida,
Vive.
Do cheiro das rosas,
Do leito nu
Invadido de amor.

Autora: Sylvia Araujo

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A sinfonia vai tocar...



Amores nascem...
Amores morrem...
Mais tem aqueles, que insistem em ficar.
Que nos açoitam por dentro...
Tirando o sono, e se tornando um tormento.

Sente-se a dor da partida.
Fica-se, a essência da vida que se amou...

Terminar uma história nos causa angústia.
O coração dói de tanta melancolia...
Mas é preciso força para curar essa dor...
Cicatrizar a ferida que se instalou na alma.
E virar a página...
Se permitindo escrever uma nova história.

Os bons ventos que trouxeram esse amor...
Podem também levar.
Basta aceitarmos que o tempo acabou.
E acreditar que a hora chegou.

E prosseguir desabrochando...
Permitindo que o calor invada nosso jardim.
Primavera chega nos enchendo de flores e encantos.
Nos fazendo respirar docemente.

Que venha de novo o “amor” brotar.
Nos fazendo apagar o que findou-se.
Caminhando em direção há ruas de sonhos...
Coberta de flores e louvor...
Pois a melodia não pode cessar, para quem tem muito a dar.

Nas estações da vida, existem vários amores...
Todos com o seu jeito, seu cheiro, seu sabor.
Mas tem aquele, que não estava escrito no céu...
Apenas rascunhado em nosso coração.
Que por sinal, torna-se o inesquecível.
Ele apenas passou, e o vento forte levou...

Somos seres dotados e vontade, que produz a força.
Que sirva de aprendizado, os desacertos que outrora foram cometidos.
E que atentos fiquem nossos ouvidos...
Porque a sinfonia harmoniosa vai tocar.
E com ela, trará de volta os ventos da paixão...
Perfumando nossas almas...
Embalando nossos corações.


Camila Senna

MAR DE ROSAS



MAR DE ROSAS

Tem apenas um mar à sua frente
Um mar na noite logo ali quando termina os passos na areia
Logo depois da ponta dos ventos
Que balançam os cabelos louros

Tem apenas um mar na noite
Depois de despir o vestido preto
De despir o corpo nu de tanta espera
Depois que a noite abandona o leito

Depois que a solidão se aquece na brisa
Para invadir a alma despida
Quase sem vida

Tem apenas uma solidão no mar de vestido preto
Um olhar de leve que ficou sem jeito
Tem apenas um mar que morreu na noite e não houve outro jeito

Autor: Arnoldo Pimentel

Abaixo uma poesia de Sylvia Araujo, inspirada em MAR DE ROSAS de minha autoria

E o mar,
Vestido de preto,
Cravejado de noite,
É corpo despido
-Lançado na areia.
Na brisa,
Quase sem vida,
Vive.
Do cheiro das rosas,
Do leito nu
Invadido de amor.

Obrigado amiga pelo carinho de sempre

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Viver o hoje, e acreditar no amanhã...




O amanhã não é nosso.
O poder da vida está nas mãos de Deus.
O relógio corre tão de pressa...
E com ele, se vai nossa juventude exterior.

Aquele corpo, não é mas o mesmo.
A voz que era viva, que era forte,
enobrece, fica branda, fica sábia.
Os olhos que antes eram belos e erguidos,
ficam caídos, ficam vividos.
O tempo nos deixa marcas...

De cada lugar
De cada cheiro
De cada amor
De cada sabor
De cada tristeza
De cada alegria
De cada filho
De cada projeto sonhado, suado e conquistado.

Sabendo que o exterior acaba.
E o interior fica...
Ainda que cansado, ele renasce...
Rebrotando as flores que um dia secaram e caíram...
Isso dignifica nossas almas, e nos faz diferentes.

Fazer planos? Sim, porque não?
Mas com a realidade de que somos mortais.
Estando certo, de que os velhinhos
que vemos hoje nas ruas,
amanhã, quem sabe? Podem ser nós!

Bom, já que o amanhã não é nosso.
O poder da vida não está em nossas mãos...
e  com o tempo nossa juventude exterior vai se esvaindo,
vamos nos orgulhar do hoje, e viver o agora!

Vamos cuidar do nosso interior, que é eterno.
Vamos ter vontade de viver...
Mesmo sem prever se o amanhã chegará...
Vamos ter fé, que ele vai chegar!
Vamos ser nobres com os mais velhos...
Vamos viver com a alma desnuda.

E tendo a certeza...
Talvez, a mais certa desta vida...
Que a beleza maior, e mais valiosa,
é a que vem de dentro para fora...
Exalando, a verdade e o amor.

Camila Senna 

domingo, 13 de junho de 2010

CASA NO CAMPO



CASA NO CAMPO
(Poesia dedicada a minha amiga Silviah Carvalho)

Um dia você terá uma casa no campo
Onde poderá ver a paisagem verde
As flores enfeitando seu dia
Brincando num simples balanço

Vai poder correr pela sua varanda
Jogar o chapéu de couro para o alto
Balançar seus cabelos e depois de caminhar a pé
Sentar-se à mesa no fim da tarde para saborear seu café

Um dia você terá uma casa no campo
Com as noites cobertas de estrelas brilhantes
Sentir a brisa fresca que beija as folhas
E pensar porque não escolheu viver assim antes

Um dia você vai sorrir
Em sua casa no campo
Colherá frutas frescas no pomar
Frutas doces como o brilho do seu olhar

Nas manhãs de primavera se encantará
Ouvindo o cantar daquele canário
E como o outro lindo pássaro
Voltará a voar, a sonhar

Um dia você vai brincar no balanço
Na sua casa de campo
E verá aquela vila tranqüila lá longe
E nunca mais se lembrará do seu pranto

Um dia você vai ser muito feliz
Feliz como um simples
E doce acalanto
Na sua casa no campo

LUZES



LUZES
(Dedicado a minnha amiga Ivone Landim)
(Eu sempre quis fazer um haikai pra você, por tudo de bom que você faz pela poesia)

Seus olhos são luzes
Encantam noites e dias
Você é poesia

DIA SEM POR DO SOL



DIA SEM POR DO SOL
(Poesia dedicada a minha amiga Luciene Lima Prado)

É só mais um dia que nasce por trás da serra
Um dia que nasce sem o sol
É só mais um tempo de espera
Sem ver a claridade ao redor do meu farol

É só mais uma manhã que olho as nuvens
Que encobrem o azul anil
Campo aberto onde os pássaros passeiam
Campo sem fim onde meus olhos vagueiam

Em busca de um sorriso sem melancolia
Em busca de um beijo no rosto
De minha própria anistia
De esperança no novo dia

É só mais um dia que nasce sem sol
Um dia que tentarei atravessar
Meus próprios conflitos
Meus desertos através do sal

É só mais um dia sem poesia de amor para escrever
Um dia que findará sem por do sol
Sem anoitecer para me proteger
Sem feixe de luz para iluminar minha vida sem farol

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Viver assim, eu não quero...



Agora veja,
se tem como viver nesse pobreza,
pobreza de espírito
de um ser desunido.

Ser covarde e viver na tempestade
e mal poder
falar a verdade.

Ser comodista
em um mundo
de golpistas
que só querem
a maldade.

Ser brasileiro
sem qualquer dignidade
sem valor da humanidade
que só quer ganhar vantagem.

Ser falso e dançar
conforme a música,
a musica da mentira
desse povo embaraçado
que vive a vida no interesse
se passando por bonzinho
se fingindo bom vizinho.

Ser vaselina
e não ter nem
mesmo a rima
de opinar o que
não desce,
o que engorda
e emagrece.

Ser invejoso
e cobiçar o do vizinho
porque o dele
é bonitinho
e o seu é engraçadinho.

Ser coca-cola
e viver só na pressão,
sem querer dar o seu gás
pra ganhar seu um milhão.

Ter preconceito
nesse mundo colorido
de pessoas de todos os tipos
que só querem o carnaval.

Ser puxa saco
dos otários que se acham
e não tem nada no saco
pra fazer e acontecer.

Ser pessimista
não acreditar na sorte
conformar-se com a descida
e crer que a vida está perdida.
Acaba não tendo a paz prometida.

Ganancioso
querendo sempre mais
que os outros,
se amanhã o que se tem
pode desaparecer.

Ser egoísta
e querer só para si
o que Deus
mandou dividir.

Pessoa fria
que vive em nostalgia
de uma vida calculista
sem dar ou receber.

Viver assim, eu não quero!
Quero ser sincera doa a quem doer.
Se eu não gosto, não preciso conviver
sem meio-termo pra poder aparecer...
Ser aprendiz e viver sem cicatriz.

Camila Senna

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sumário dos dias II

















A lua ergueu-se nos espaços
E nada disse.
Foi-se como ontem, hoje,
Sem nenhum murmúrio.
Passou o vento bulindo em tudo,
Causando grave alvoroto,
Tentando soprar as lembranças contra nós,
Mas não lhe entendemos o recado
Após o dia, o verão e o estio.
Passou apenas nos deixando
Uma noite sem nenhum fragor,
Paixão ou volúpia,
Sem anjo a tocar trombeta –
Noite, apenas noite, física,
Insonhada por todos os poetas.

Ao alvorecer,
A manhã trouxe-nos
As mesmas flores de ontem e amanhã:
Desenganadas!
Porém, não houve pesar ou frustração
Pela noite, pelo vento e as flores
Fanadas entre nossos dedos resignatários,
Sem nenhuma poesia.

Pois, como dormimos, acordamos,
Como acordamos, comemos,
Como comemos, repomo-nos,
Pequeninos às nossas funções,
Como nos repomos, produzimos
Como produzimos, amamos,
Como amamos, esquecemos,
Como esquecemos, esquecemos o que esquecemos,
E, então, morremos como nascemos,
Brotando sobre nossos túmulos de granito e cimento
As mesmas flores do amanhã,
Entre armas e sonhos imobilizados.

Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Ficções




Eu quero todos os sonhos
Eu quero toda as ilusões
Eu quero toda as mentiras
Eu quero toda as ficções.

Que venham os reis
Que se intrometam as bruxas
Que apareçam as princezas
Que renasçam os magos.

Vamos brincar de tudo
Que aceitemos as verdades lúdicas
Que trespassam o insosso da realidade
E sejam elas de utilidade pública.

Que o pensamento seja a máquina do tempo
E o chão palco abençoado
Onde nós atores indisciplinados
Captemos ondas de gozo e burilamento

Os personagens que ainda não nasceram
Se despregaram um dos outros
Onde até então se roçavam nus e inconscientes.
Que eles tomem pensamento, corpo e roupa.
E partam para a ação intensamente.

Não os conheço, mas eles já gritam em meu ouvido
Querendo que eu dê-lhes a luz com meus dedos e minha mente
E eu finjo que os ignoro, enlouquecendo-os
E eles me enlouquecendo num só gemido.

São piratas, prostitutas, imperadores,
Gays, padres e doutores.
Monstros, príncipes, bandidos,
Donas de casas, crianças e mendigos.
Anjos, duendes e anônimos,
Fadas, ninfas do bosque e demônios.
Malandros, homens sérios, falsos morenos,
Verdadeira louras, falsas virgens, nós mesmos.

Marcio Rufino




O lugar deve ser a última coisa
que possa nos afastar
sobre o lugar lutamos
sobre o lugar plantamos
sobre o lugar colhemos
e sob o lugar nos plantarão
nos plantarão no brilho dos olhos
lugares com muro nos impedirão de entrar
lugares imprevisíveis nos convidarão a entrar
se cada um escolhe a sua casa
é porque nela sabe quem vai morar
mas moradia no coração de um nômade
é o mundo incerto dos dias
que se constrói de lugar a lugar
jamais aqui, jamais ali,
sempre em outro lugar
no peito, o lar
sem onde partir
sem onde voltar.

Fabiano Soares da Silva

Tentativa de aprisionar o sentir




Eu escolhi a vida
mergulhando
profundamente
nas dores, nas perdas,
nos"nãos".
Esmiucei em
minhas veias
em todos os
meus sentidos
a grandiosidade
do que é o
viver.
Hoje olho sereno
nos olhos de Deus.
Nada é diferente...
tudo é imensamente
natural
tudo está gigantesticamente
vivo
não cabe em palavras.
A grandiosidade
do que sinto
não se dimensiona
em poesia
não sifra-se
em canções
não explode
com pólvora
é genuinamente
puro
e é só meu
só meu
só meu...


Jorge Medeiros
(- 23-03-2009)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Leve a devanear...




Vento me trouxe cheiro de mato.
Céu encantado...
Flor dama-da-noite a se abrir, me fazendo luzir.
Sou pássaro que voa de noite, sem querer dormir.
Desejando atrair a sutileza da natureza que é perfeita.
Com pureza no olhar, a fixar o orvalho que caia amiúde.
Me fazendo extasiar com o luar sobre a terra, e sua plenitude.
Mistério da vida...
Inspiração para alma...
O encanto no ar...
A silhueta das montanhas...
E as nuvens branquinhas a tocá-las.
O silêncio era tanto...
Que pude ouvir meu coração pulsar.
Fiquei leve a devanear...

Camila Senna

domingo, 6 de junho de 2010

FLOR DO MEU AMOR



FLOR DO MEU AMOR
(Poesia inspirada no quadro da artista plástica Gabriela Boechat)

Talvez eu não tenha
Nascido na claridade do dia
Mas a flor que te ofereço
Tem a mesma cor dos meus olhos

É tão frágil como meus lábios
Tão doce como a paz
Que procuro em seus olhos

Tenho passado por dias de tormenta
Anos de solidão
De aflição
Sem que ao menos olhem
Meu coração

Mas mesmo assim ofereço essa flor
Sinônimo do meu amor
Da minha esperança em igualdade
Da minha esperança em poder andar livre
Pela minha cidade

Minha esperança em entrar no ônibus
E não ser obrigada a viajar de pé
E se sentar não ser arrancada
Arrastada
Mesmo que todos os bancos estejam vazios

Minha esperança de ter realmente os mesmos direitos
Os mesmos defeitos
Minha esperança de não viver mais
À margem da vida
De não ser sua ferida

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Solidão




eu queria ver
não só o escuro
e as cores
do mundo
queria virar
de lado,
na cama,
e ver um corpo
pulsante
e etéreo,
com sexo frágil
ou forte,
me olhando
nos olhos dizendo:
tô aqui,
não vou embora.

Jorge Medeiros
(23-05-2010)

A melodia da Vitória...



Construí um Castelo.
 No mesmo, havia um Príncipe e uma Princesa.
 Só tinha dor...
 Mas as algemas se arrebentaram...
 E o castelo foi libertado.
 Restaurado e autorizado.
 A não mais padecer...
 E só querer crescer.
 Não tinha amor...
 O rio que outrora era seco, transbordou.
 Não tinha alegria...
 Mas a andorinha trouxe de volta o canto para nosso encanto.
 Não tinha paz...
 Mas a vontade de ser tenaz, nos trouxe sinais de chuva.
 Chuva essa, que movimentou as águas paradas...
 E nos deu uma guinada na estrada malvada.
 O Castelo está erguido, e não mais ferido.
 Restituído ele foi.
 O Príncipe e a Princesa...
 Era um casal normal, que almejava ser vital, nesse mundo de meu Deus...
 Queria os seus na luz, e não no breu.
 E os incrédulos que os serviam e conheciam...
 Passaram a crer em demasia, que um ser pode ter ousadia e ouvir a melodia.
 A melodia da Vitória!

Camila Senna

Sumário dos dias














Por onde passaste e te perdeste
Num mar de procelas borrascosas?
Nem mesmo tu sabes protegido
Por quatro paredes que te encerram.
Lá fora o dia é sem precedentes.
Não há nada igual e os homens catam
E contam calados as ruínas
Dos corpos imotos, sem desígnios,
Co’a comprida vela esfarrapada
De um lenho repleto de naufrágios.
Quiseste transpor o bojador
E êxito lograste em tão extensa
E arriscada empresa, porém não
Transpuseste a dor da solidão,
De quem pelo mar, expatriado,
Regressou sem fé, feito em pedaços.
Calecut alguma divisaste
Ao fim da jornada para a glória;
Viste tão somente um breu profundo
De abismos e pântanos sombrios,
Que é a própria máquina do mundo;
Mares em que não discernes céus
De amorosa estrela cintilante
Que a Deusa averruma no horizonte,
Pois toda a alma nasce sempre imensa
Até se encontrar co’o mar e ver
O quanto é miúda e sem destino,
Até defrontar-se co’as metrópoles
E ver-se sem alma na rotina.
E agora de volta para casa,
Anonimamente conduzido,
Melhor compreendes o que foste,
O que és e serás na tempestade
Íntima de ser que se procura
Sempre no maralto da cidade.

Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

PARALELAS DA SUA VOZ



PARALELAS DA SUA VOZ
(Poesia inspirada no quadro e na música Nu da Minha Voz)
(Dedicada a Sérgio Salles-Oigers)

Eu também não tenho mais voz
Mas vejo o colorido da sua voz
Que se espalhada pelos quatro cantos
Em busca de um céu com ou sem prantos

Sua voz que invade nossas casas
Por entre os olhos da liberdade
Liberdade de poder cantar
De poder amar

Sua voz que faz dos acordes do violão
Muito mais que apenas uma ilusão
Muito mais que perfume de jasmim
Que sonhos sem fim

Sua voz que faz uma paralela com a poesia
Paralelas que se encontram
Que se misturam todos os dias
Para sua voz não poder calar
Para sua voz nos encantar

Autor: Arnoldo Pimentel

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O Monstro Teimosia



A vida é uma ilha flutuante
Sem porto fixo, sem norte.
Quanto mais se nada em sua direção
Mais ela foge.
O desejo vive nessa ilha.
Sedento, faminto, leproso.
Cego, banguela, horroroso.

Do alto mar já se vê o Morro do Pensamento
Onde as asas de Deus protegem a todos nós.
Atrás do morro vive um monstro bonzinho
Que estrangula
Mas só aperta e não machuca.

É o monstro Teimosia
Animal feroz que come as próprias patas
Para escapar da armadilha.
As patas são digeridas e defecadas.
Depois renascem firmes
Com as garras ainda mais afiadas.

E em todo esse emaranhado
Minha mais nobre atitude
Foi em cada lugar que passei ter deixado
Um pouco de meu pecado e de minha virtude

Monstro Teimosia que conta o irrevelável.
Monstro Teimosia que se transforma em noite
E nos banha de prazer e mistério.
O beijo que não se deu.
O sexo que nunca aconteceu.

Com o vento eu corro, pulo e rastejo.
Em qualquer brejo, em qualquer engenho.
Eu sopro em qualquer lugar
Mas ninguém sabe de onde eu venho.

E em todo esse emaranhado
Minha mais nobre atitude
Foi em cada lugar que passei ter deixado
Um pouco de meu pecado e de minha virtude.

Teimosia inexorável, soberba, sonhadora.
De gosto louco, bêbado, exótico.
Conivente com monstros depravados
Que se acariciam
Em frente à gigantesca tela plana de cinema erótico.

E quando as ondas duramente retardadas
Do mar Cáspio do meu riso
Baterem nas pedras moles da minha segurança
Eu vou me banhar num fumegante rio
Para que muito além do meu calcanhar
Seja meu corpo todo uma bonança.

Teimosia que não quer eu seja o sapo que se transforma em príncipe
Mas que que eu seja o sapo que devora auroras.
Teimosia que não que que eu seja o cão
Que se faz de anjo de luz para iludir e enganar
Mas o cão que ladra para a luz da lua
Para acalentar o sono e sonhar.

E em todo esse emaranhado
Minha mais nobre atitude
Foi em cada lugar que passei ter deixado
Um pouco de meu pecado e de minha virtude.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados.
Não entro mais
em mim mesmo
pois fico assustado
com as estranhezas
as quais vejo...
Pensar consome
as entranhas ...
Prefiro namorar
com a impessoalidade...
Corro para meu quarto
e admiro a geografia
que o decora,
as cores são
de um vermelho intenso,
quase um sacrilégio...
As janelas possuem vitrais
como os das catedrais...
Gosto do recolhimento
de monge
que apura
cada sutil toque
que a natureza propicia.
Abro as janelas
a ventania traz gotículas
de chuva-de-vento
e acaricia
minha pele
nua e crua.

Jorge Medeiros (07-11-2008)

É só esperar o outro dia...

 

Tem sempre um dia, em que o sol não nasce.
As flores não se abrem.
A lua se esconde.
O sorriso sai sem graça.
A tristeza te ameaça.
A brisa leve, sobre a poetisa se esquiva.
Coração abatido fica.
As palavras saem sem rima.
O corpo não se anima.
Olhar tristonho regado de lágrimas persiste.
Sentimento fragilizado sobre o céu nublado insiste.
Rua vazia na escassez de poesia, que é ironia.
Alma melancólica esperando primavera, que é fantasia.
O que me resta, é esperar o outro dia,
e crer que minha alegria vai fazer moradia.
E a mulher audaciosa, vai voltar cheia de energia.

Camila Senna

terça-feira, 1 de junho de 2010

A todo tempo
há a procura
e o alvo se dissipa
nas estradas
e no caminho...
não há a certeza...
A cada instante
há a despedida
nos olhares que encontro
há ausência...
a cada segundo
tudo se esvai...
O que insiste
em ficar
-no canto-
do olhar, presa,
imóvel,
é a lágrima,
que, imperdoável,
não me liberta
a alma
e não me deixa
partir...

Jorge Medeiros
(01-05-2010)