Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



terça-feira, 31 de julho de 2012

santos, anjos e bicicletas

houve tempos em que acreditava em deus - era criança. e por cada pai nosso rezado. ao cair na cama os sonhos apareciam feitos de fé. o sol despertava com tanta força dentro do corpo que o pecado era não aproveitar a esperança da água baptismal – acordar sem pecado e crescer para pecar - hoje não acredito em nada e quando digo nada é mesmo nada - deus foi desaparecendo com os ciclos contínuos do nascer e morrer dos dias. e com ele os santos milagreiros. o advogado dos dentes. o dos cravos. o das causas impossíveis. o da memória. a da trovoada e mais uns quantos que por nunca ter precisado deles acabei por abandonar – mais tarde acabei por esquecer os anjos. o primeiro foi o anjo da guarda. ao deitar costumava rezar sempre três orações. três vezes a mesma. por ser pequena e ficar com medo de que uma significasse pouca fé para um anjo que se queria sempre alerta aos perigos diários que um catraio sempre é capaz de fabricar – confesso que na altura tinha medo de zangar o anjo da guarda. era um anjo importante. aparecia em todos os livros da catequese. e mesmo nas igrejas estava sempre presente na maior parte das telas pintadas a óleo. preenchia as paredes ao lado de todos os santos e na minha igreja estava mesmo ao lado da nossa senhora. num dos altares mais importantes de oração – ainda me recordo de ouvir dizer em casa um provérbio que sempre me deixou a pensar: ao menino e ao borracho põe deus a mão por baixo – eu queria ter este deus por perto. queria ter o meu anjo da guarda a meu lado. precisava deles. precisava de crescer devagar e em segurança. não os podia zangar. porque zangados podiam atirar-me abaixo da bicicleta que um dos meus amigos me emprestara. e se então partisse a cabeça destruía a esperança de que o meu pai. mais tarde ou mais cedo. acabasse por me realizar o sonho de ter uma bicicleta só minha. uma onde eu pudesse pedalar para lá dos montes da minha cidade. eram altos para a idade que não imaginava sequer que tinha. mas não me saía da cabeça nunca poder subir ao cimo daquelas colinas com a minha bicicleta – mas as pernas não paravam de crescer e eu sempre a rezar. sempre a fazer o correcto. sempre a tentar ser justo. sempre a ver os defeitos e nunca a valorizar as virtudes. queria ser todos os dias melhor. queria crescer. queria ser livre. queria ser dono da minha vontade. queria ir onde o corpo me quisesse levar – não adianta rezar quando deus não te quer ouvir – nunca caí abaixo da bicicleta. mas também o meu pai nunca caiu abaixo daquele medo que hoje sei que era amor – acabei por morrer de tristeza. ainda hoje estou morto desta tristeza – talvez para os filhos o melhor seja mesmo morrerem a pedalar de felicidade – aos meus filhos dei-lhes bicicletas. sei que tudo é ainda igual ao meu tempo. a única coisa que mudou foi o tamanho dos montes. hoje são muito mais difíceis de transpor. as estradas são mais perigosas. mais artimanhas. mais curvas. mais tudo que por ser mais velho já não tenho a certeza do que seja – mas nem tudo é pior. em contrapartida vou atrás a empurrar. a pé. mas feliz por os ver em cima das minhas bicicletas


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anjo da guarda

minha companhia

guardai a minha alma

de noite e de dia

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anjo da guarda

minha companhia

guardai a minha alma

de noite e de dia

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anjo da guarda

minha companhia

guardai a minha alma

de noite e de dia

Autor: Sampaio Rego

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Origami

Como em um dia de descuido que aventa por entre meus pensamentos, essa tarde em que decidi desistir de tudo. Estou como uma folha pousada na beira do canal, dentre tantas misturadas na calçada. É um dia comum, com nuances de céu avermelhado crepuscular e as ondas soçobram seu vai e vem manso lambidas pela brisa preguiçosa. Minha alma não está mais intacta, fora despedaçada, bem como, foi partido ao meio o nosso acordo de não nos magoarmos.
Fico observando o sol indo deitar-se sentindo o carinho da noite nos cobrindo como amantíssima mãe. Percebo que já estávamos embriagados pelo orgulho e dormiremos o sono do absinto eterno e só despertaremos quando os sonhos escancararem as suas janelas para que dentro deles possamos saltar.
Deixo que o vento me varra por dentro e por fora, me arremessando nas pedras desalinhadas e pontiagudas que me vincavam e me marcavam em dobraduras. Quem um dia não se sentiu um origami nas mãos do destino, que me julgue e me condene a voar esse vôo solitário.
Estou aqui como em vestimentas de pássaro colorido ensaiando seu primeiro vôo no abismo, salve-me antes que eu me atire para bem longe de ti!

Autor: Lápis sem ponta

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