Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



quarta-feira, 18 de julho de 2012

dia zero

o tempo vai mudar – sinto. sinto porque sinto. sempre senti tudo na vida. e o tempo deu-me razão – sinto – talvez me corra nas veias algum sangue de nostradamus. ou então sangue cigano. e a sina não se encontra na leitura das mãos mas na forma como a vida me entra pelos olhos. pelos ouvidos. pela pele. pelo cheiro. pela boca com que beijo os corações que batem ao pé do meu – sentir é saber – eu sei. sei pelo o olhar. o pestanejar. o tossir. o mover do pescoço para o lado esquerdo. quando o normal é virar para a direita. a mão que entra no bolso. o olhar para o chão. o sorriso que não o é. o sim de não assentimento. o limpar os óculos. e todas as palavras que não servem para coisa nenhuma nem os cinquenta dicionários que guardo na memória de um relógio que nunca parou de trabalhar. que bate um tic tac que é um coração a rasgar a carne. tentando chegar à superfície para respirar – tudo o que me transmitem serve para fazer do amanhã uma certeza inalterável – sei tudo o que sinto. sei que sinto e não sei dizer como o sinto. nem porque o sinto – e o corpo reclama a paz. o vento. o perfume. o futuro incerto. o dia sem fantasmas. e tudo o que parece sombra é afinal o sol a crescer num horizonte que está por detrás de mim – e sinto. e sinto mãos. e sinto os sinos a tocar. e as velas a gotejar cera por um pavio que ainda arde e a luz trémula corre por uma brisa que não é certeza – sinto. sinto se estou só. sinto ainda mais se estou só com os meus eus. e por não estar também sinto. e tudo o que é sentir é arrastar à força o amanhã para hoje. e o sofrimento vivido duas vezes. e o choro ouvido duas vezes. e a dor contínua entre o que sinto pela antecipação e a dor feita certeza porque finalmente está no centro do corpo – e a razão satisfeita. orgulhosa de tanto saber – sinto. sinto a história que construí à minha volta como se fosse uma corda de enforcado – chegam os amigos. os inimigos. os cães. os pássaros e até os deuses de uma mitologia que não serve para nada – resta-me a certeza de que o hoje é a verdade. sou hoje porque vim de ontem e o ontem chegou não sei de onde. talvez do corpo que me trouxe ao mundo e deu rigidez ao que sou. porque sou e nada posso fazer para que não o seja – sinto. sinto um corpo que teima em ver defeitos até nas dobras da pele que cobre a carne que sempre me cheirou a podre – mas não pedirei nada a ninguém. nem ajuda. nem mar. nem água. nem sequer um ombro para chorar – nunca o fiz. nunca o farei – os amigos servem para rir. para ser o que não sou. para dizer que tudo vai bem. para enganar o copo de vinho fermentado em pipos de madeira protegidos pelo sarro da vida – gosto da morte. nunca percebi o motivo porque os homens choram os homens que optam por morrer – morrer é descansar. morrer é sossegar os amigos. morrer é deixar um abraço de felicidade em quem conhece o sofrimento de um homem enganado pelo tempo – jamais pedirei conforto. nunca o fiz e nunca o farei – aos amigos não os quero nem no funeral. a terra cairá da pá do coveiro e no final. depois de bem calcado. talvez um punhado de ervas aromáticas resolva a existência do meu cheiro em vida

Autor: Sampaio Rego

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=226901#ixzz211I72Ooo
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

restos de bolacha

eram tranças tremulando
o babado da saia brincava de vento
a paineira carregadinha
provinha sombra que o sol não alcança
o céu era o esconderijo de Deus
os olhos faziam pausa
para uma joaninha passar
o rio era música baixinha
para brincar de ser feliz por nada
o final do dia continuava no sorriso
com que minha avó me acolhia
restos de bolacha até o quarto
colcha de crochê beirando o chão
o travesseiro quentinho
aguardando os sonhos de menina


Poema de Vânia Lopez

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=226859#ixzz20yOZFvG3
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives