Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



segunda-feira, 18 de abril de 2011

Música para elevadores

A porta abriu para um andar vazio. Continuei sozinho, em ereta e determinada

contemplação do nada, a língua esgravatando o buraco da cárie, de reparo sempre

adiado pelo mestre da procrastinação. As paredes metálicas, um todo de assepsia

brilhosa, numa paz erma e escorregadia. Emparedado e móvel, a setenta metros

de altura. O aço por testemunho do que piso e me cobre a cabeça; perturba–me

essa música rastejante sob o silêncio, a ausência de cheiros, odores e nuances.

Um ser assustado me observa, do outro lado deste dilema de aço: eu mesmo,

sobraçando meu jornal e minha circunstância. Talvez a vida me tenha sido leve:

sentimentos anódinos, memórias desinfetadas, o fim da infância descoberto no

limiar da velhice. Agora, a música tão próxima, quase a brotar–me dos olhos,

ligados na tinta forte das manchetes. Paramos. Mais alguém na caixa. Uma

mulher–ruiva de fato ou circunstância? Procura na bolsa, tateando um sentido

inexistente aqui fora, até esbarrar no batom; joga os cabelos para trás, em frio

e largo gesto; retoca os lábios fazendo minhas pupilas de espelho, mas não me vê.


Conto de André Albuquerque