Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



terça-feira, 12 de maio de 2015

AINDA EXISTEM SALAS ESCURAS




Às vezes olho o copo em cima do balcão
E vejo as caminhadas que era obrigado a fazer olhando todos os lados
Ainda encontro vestígios daqueles dias
Ainda encontro marcas da terra que engoliu o meu corpo.

O relógio ficava no lado direito da entrada
No meu lado esquerdo eu colocava minhas anotações
Eu acreditava nelas sem imaginar que se perderiam
Mesmo depois do abraço ao redor da lagoa
Mesmo depois da luta para se livrar dos riscos no corpo
E das sequelas, sempre imortais.
Mesmo depois dos gritos de euforia após tanto tempo de silêncio
Na praça onde os muros foram derrubados ao lado de amigos que nunca mais veria.

Nunca gostei de telefone
Deixava tocar, tocar, até a ligação cair
Quando subi o morro encontrei a palavra
A jaqueta que eu usava era jeans
A calça e a camisa por baixo da jaqueta também
Mas são tantas palavras, que ficaram embaçadas,
Procurei meus óculos
Mas havia esquecido em casa.

Ainda tenho o copo e os bares
Ainda tenho corpo
E ainda encontro os vestígios.

terça-feira, 24 de março de 2015

Homenagem ao poeta Diego Ferrão


O jovem poeta residente do Pó de Poesia Diego Ferrão, que nos deixou recentemente, na foto (ao centro) acompanhado de seus companheiros de coletivo: os poetas Ivone Landim, Jorge Medeiros e Camila Senna.


Último cântico.
Meu sol se pôs
E tudo escureceu
Nem mesmo a lua clareou
Por onde eu navego.
Mas, mesmo que eu reme na escuridão
Sei que ainda vou ver
O nascer
Lindo.
Navego por mares escuros
Sem ter uma luz indicando onde
Vou na incerteza de vê-la.
Canta, uma última vez, aquela nossa canção
Rainha do mar
Aquela que fiz pra você.
Mergulho nesse mar
Revolto e escuro
Pra descansar.
Pois já cansei de
Navegar.
Diego Ferrão.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Pó de Poesia apresenta o Sarau Donana no Sarau de Idéias






No dia 20 de novembro de 2014, dia da Consciência Negra, o coletivo Pó de Poesia apresentou o Sarau Donana no evento Sarau de Idéias no Quiosque da Globo no calçadão da Praia de Copacabana. A poeta Ivone Landim liderou o acontecimento acompanhadas de seus companheiros de coletivo Marcio Rufino, Camila Senna, Jorge Medeiros, Alan Salgueiro, Paula Beatriz Albuquerque, Ane Alves e do cantor, compositor e músico Dida Nascimento que agitou a galera com seu reggae. Maiara landim deu um show de Dança Cigana e Ivna landim cantou a capela. Logo depois foi a vez de coletivo Mulheres de Pedra apresentar o seu sarau. o Sarau de Idéias é uma iniciativa da Rede Globo que mensalmente seleciona dois sarau do Rio para se apresentar no quiosque. A apresentação é do produtor e agitador cultural Pablo Ramoz.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O TIGRE DE PAPEL


           “Os homens que Pisaram na Cauda do Tigre” do mestre Kurosawa falava de valores como honra, dignidade, lealdade, talvez por isso tenha ficado na masmorra durante um tempo antes de ser liberado pelos censores. Os censores estão em todos os lugares, nas esquinas, nas escolas, no trabalho, na cidade, no campo e às vezes dentro de nós mesmos.
        
- Quer dizer que você está fazendo o dever de casa enquanto faço a chamada.
- Não tenho tempo professora, saio daqui e trabalho até tarde numa janela de frente pra rua, onde passam ônibus, caminhões e minha infância sem que eu a veja.
- Você ainda reclama. Vá para o quadro e escreva cem vezes o que eu ditar.
          A professora não ensinava democracia. Ela não sabia o que era democracia e gostava de atirar o apagador em nossas cabeças. Eu não sei o que é democracia, eu não conheço a coisa mágica que chamam de democracia. Uma vez eu estava numa manifestação trabalhista. Não havia ninguém nas ruas. As lojas estavam fechadas. Era uma greve. As reivindicações são sempre muitas, pois nunca são ouvidas. Como em todas as manifestações, os ânimos estavam exaltados, mas tudo estava sob controle até que eles apareceram, os da direita e os da esquerda, eles dizem que são diferentes, mas no fundo são iguais e eles iriam atirar, sempre atiram e nós éramos o alvo perfeito. Recuamos correndo pela rua, alguns amigos caíram, não tínhamos como ajudá-los, pois não tínhamos um opala, um gordini ou uma mercedes, ou uma cópia autenticada dos direitos humanos, só tínhamos nossa carteira de trabalho e um cartaz com os dizeres:
 “Não somos invisíveis, não somos almas ocas e queremos nossos direitos.”
Durante nossa fuga pela rua margeada por muros altos de concreto percebi que seríamos capturados, percebi que estamos mortos, que estamos todos mortos.
          Um dia levantei antes do sol, tirei minha mochila do armário e peguei a estrada que passava entre os abetos e os cactos floridos, eu podia ouvir a canção do vento cortando o céu onde as estrelas se moviam virando o rosto para não ver a liberdade em estado de sítio. Nessa viagem psicodélica eu imaginava que a estrada fosse infinita, que longe dali não haveria alamedas, porões, pátios vazios, números de registros ou salas decoradas, mas a estrada terminava no tempo que eu teria que bater na porta dos dias que nos esperam.
- Aonde vai?
- Vou pra longe, criar galinhas, plantar tomates e pimenta.
- Perdeu a coragem? Está fugindo da luta?
- Não. Cansei de lutar, já tenho muitas marcas, muitas marcas.
 
Arnoldo Pimentel