Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



sábado, 31 de dezembro de 2011

Retrospectiva 2011

Retrocedemos ou avançamos?
O que fizemos de bom juntos
É disso que estou falando
Não falo dos sonhos individuais
Das metas profissionais
Dos amores que amamos
Qual o total de todos os anos
Na sociedade que inventamos
Fomos massa manobra
No velho e novo continente?
Para os pobres não houve sobra
Nem a paz alcançou a gente
Quantas vezes a vista grossa
Fez de conta não ver o errado
E a boca se fez torta
Por não dizer o que devia dizer
Estamos no velho mundo novo
E ainda não posso entender
Quem me dá feliz ano novo.

Poema de Aline Capistrano

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Entredentes

Um Favo de Mel pode ser azedo e amargo,
Depende do modo que traço.
Nessa doçura se esconde
Um amargor de passado.
Se esconde também entre os dentes,
Entre a língua e o sorriso
Um coração intranquilo
Um passarinho sem laço.
Nesse entredentes se esconde,
Nos entreabertos lábios,
Um desespero de gôzo,
Um doce que se torna amargo.

Poema de Isabela Vital

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

As nuvens não são mais de algodão
Marcam o céu em linha reta
No rastro químico da avioneta
Entre as de formato de coração
Poderia ser alucinação
Uma conspiração sobre o fim
Mas a estranha aparição
Sempre paira por cima de mim

Poema de Aline Capistrano

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Namorada do menino

Ontem eu vi a minha namorada,
estava tão linda e bem arrumada.

Minha namorada mora “loonge”
quase se esconde.

Ela é branquinha e leve uma mistura
da lua com a neve.

Minha namorada não me chama de
meu amor e ainda não disse que me
ama.

É bela feita uma linda flor perfumada.
Ela é minha paixão sutil e inflamada.

“Ó” não conta pra ela que ela é minha
namorada, ela ainda não sabe de nada.


Poema de W.Marques

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

LUAR TÊNUE



Luar tênue
Sobre amor na relva
Doce pecado

Arnoldo Pimentel


Este poema é parte integrante do livro NUVENS
Para adquirir entre em contato
Email: arnoldopimentel@gmail.com

 

Quer uma dica de boa leitura poética?
Visite e siga o blog do Fabiano Soares da Silva
http://fabianopoe.blogspot.com

sábado, 24 de dezembro de 2011

DEUS É FRÁGIL (MENSAGEM DE NATAL)

Ainda há pouco
Eu estava bebendo uma cerveja num bar
Algumas crianças estavam brincando por ali
E uma menininha de cabelos louros
E olhos azuis
Mostrou-me como o Super-Homem e o Batman são frágeis
Os pais das crianças estavam do outro lado da rua
Da rua tão deserta
Um deserto tão ermo que não tinha nem Esfinge para nos olhar
Ou proteger as crianças
As crianças estavam tão sozinhas
Que pude perceber o quanto Deus é frágil
Deus é tão frágil quanto o Super-Homem e o Batman
As portas estão fechadas
E as luzes logo irão se apagar
Deus vai proteger sim
As crianças que estão em seus lares
E não as que estão pelas ruas a vagar
É tão triste ver crianças num bar

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O pregador

Ainda cedo, o sol meio acanhado de agosto deu lugar ao vento que embaralhava nuvens e cabelos.Caminhava pela praia quase deserta,dedo em riste,o livro de capa preta debaixo do braço, fato já amarfanhado ,gravata torta,olhar orgulhoso,sobranceiro.Tentaria caminhar sobre as águas ? Não,caminhava ao léu,gritando aos ventos as maravilhas daquele livro : parava,lia e seguia em frente,uma cadencia devota.Concentrados jogadores de vôlei ignoravam os presságios da chuva e o vigor da sua oratória.Não parecia transtornado, apenas alguem que cumpria o seu papel,numa praia esvaziada de uma tarde cinzenta.Um homem na meia idade,cabelos grisalhos e assanhados em estrelada confusão em órbita da cabeça , olhar cansado e determinado,arengando ás ondas,a massa líquida a beijar-lhe os sapatos,no barulho obsequioso do mar.Isaías e a Tessalonica entre os últimos e friorentos banhistas,fugitivos da chuva e do anoitecer rastejante.Marchava contra o vento, ladeando os garis,em mansa determinação.Voz clamante na praia deserta,deu por fim a sua lida,encostou na velha barraca e ordenou uma lapada de cachaça , na profundidade bíblica de sua voz, sedenta de Deus e de aguardente.

Conto de André Albuquerque

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Brasis de meus polegares

Gangrenou-me um índio na boca, tive que me operar por um sisal de cactos. Meu pai, fumando um cachimbo de pátria que de vapores era fumo, teve que ser padeiro.
Eu nunca vi terras de Vera Cruz que não fosse pelas fotografias que sempre existiram nos açores de outros voos.
Eu nunca vi India tão para lá do Ganges do meu bidé.
Eu nunca consegui domar este meu pé imperialista, esta minha sede de ser maior que um oásis, este meu camelo dorso onde me aninho.
Eu nunca consegui ser água de lágrima, rio de pó.
Sou preta feia, sou Cesária bem morna com o meu país.
Sou as Franças da menina puta, que um dia, por não saber a quem endereçar a angústia, se diluiu num rio e por via disso os peixes, mais secos que enguias, tiveram que mendigar o pão pelas portas, escorregadios.
Eu sou a miséria de um grito sem fronteiras. Um trapo arregaçado, um prepúcio.
E raios se não me rasgo, se não me caravelo, se não me enfuno nestas velas lusas.
Dane-se esta merda doce de ser português, comida às colheres no jardim florido de uma cigarra vadia.
Era prima de uma formiga, mas foice*.

*Símbolo com que se representa o Tempo e a Morte.




Autor: José Ilídio Torres

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

"acto-definido"

não há, sequer este lado pendente de apostas e frio
qual rescisão e colheita das minhas obsoletas páginas
ao exercício. ao costume referido e ora, frente ou subtil
se for.. seja o acaso de preferências às outras cartas

então me fiz acreditar em revelia de reles putas-mentiras
ao conto da corda refém e breve, já nítida quanto pérfida
por elegia deste eco entregue e que não perdurou dois dias
ou às noites vazias que declinavam-se em poesia-nua/léxica

ah, eu.. tão tolo como sou, me deixei trafegar o pouco-sonho
qual arremesso de impulsão à morada alheia do desencontro
e na palavra retocada, maquilada de vileza, (afora)me deitei..

ah, eu.. em esboço desta vénia, ainda assim, me previ à queda
tal etérea imagem da planificação em costura e reles-oferta
e. na palavra desfiada, pincelada de impurezas, (agora)te sei



Soneto de Azke

domingo, 18 de dezembro de 2011

Expulsem-me deste curral de mulas
façam-me esse favor de imediato
Fiquem com esta merda os caçulas
que sempre encontram pedra no sapato

Não tenho mais paciência para isto
tenho o luso a gangrenar-me a alma
começou por um pequeno quisto
tamanho de um dedo e agora da palma

Não volto mais aqui, é de vez, eu juro
tira-me o tesão, quebra-me a vontade
Vejo túneis onde dantes havia um furo

Fiquem por isso com a vossa puberdade
que eu aninho num broche ao futuro

Poema de José Ilídio Torres

sábado, 17 de dezembro de 2011

Lascas

Decidi. A ti, deixarei o relato das horas meias de fome e sede e os entalos que me fizestes engoli quando minha retina era invadida por rebanhos de luas em noites frias... tão frias que o orvalho nascia cachoeira salgada nas pedras de minha face. Deixarei as fotos dos caminhos que nunca percorri; os risos gravados em um vinil reciclável para que tu possas jogá-lo ao lixo se quiseres, ou pendurá-lo na parede como relíquia de um tempo ultrapassado e antigo, pois não há mais onde tocá-los. Mas se tua lembrança de mim for tão nítida (como tola penso) poderás ouvir estes risos e também o meu pranto ao fechar teus olhos; o barulho dos trilhos de um trem sem gare, sem condutor... sem nós. O vinho deixarei nas taças, aquelas com a digital de nossas bocas na margem, e lembrarás o quanto nos afogamos no tinto emergindo ainda mais vivos. Embrulharei com cuidado dois espelhos com a minha imagem. A mulher que fui e a que sou hoje. Verás a marca de nascença e a marca feita... não, não por ti... Minha infância deixarei em um desenho vivo! Guarda-o. Fecha-o aos sete versos, posto que talvez seja a única coisa alegre que eu tenha e que antes de ti tenha valido a pena. O que sobra de mim é a fumaça dos cigarros, névoa que dilata infinitamente as falhas, o ridículo no monóxido de carbono, o escuro, o silêncio... e isto não se tem como herança....



Poema de Maria Verde

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Mama




Ah, Mama África...
Por que nos separamos?
Os olhos brilhantes em Kilimanjaro
conseguem ver os filhos flutuando
nos oceanos e mares em seus navios continentais?

Com que memória você nos percebe
- nós, que te vimos chover o rosto
quando partimos para adolescer
entre os rios no Crescente Fértil?
Nós mesmos que buscamos
amadurecer entre os dois sóis?...
Consegue ver o que guardamos
da sensibilidade dos mundos do Nascente?

Pode notar tudo o que orquestramos no
pensamento
entre as pedras e arbustos das Polis ocidentais?

Porque foi assim, Mama África, com essa
infância, juventude
e vida pronta, que nos deixaste partir de vez para
esse mundo
de terra, água, fogo e ar...

Marcos Afonso

A luz dos olhos de Luci

Olha o Tempo! Olha o vento, através de tantos zeros!
A distância dum pensamento a percorrer milhões de anos.
Camadas da matéria adâmica, são ossos e sentimentos.
Oh, Luci! Luz vinda das cinzas embalada por vulcões,
Num magma de sonhos sob um céu miocênico incandescente.

Ampulhetas do Tempo, somam-se as estalactites e nascimento,
Quando o teu semblante olhava o futuro de teus descendentes,
As constelações desenhavam sobre a Terra, os contornos do destino.
O que era úmido e verde, tornou-se árido, corrosivo, restos de cascalhos.
Hoje são apenas memórias escavadas, no vento aquecido pelo passado.



O que viria a existir após se extinguir a última centelha dum olhar iluminado?
Seriam as estrelas, vindas de olhos ingênuos, a derramar sangue e destruição.
A sabedoria latente, como uma semente de gente, preste a explodir.
Mentes abstratas a procura de Deus, através de mares de incertezas.
Animal bípede e marinheiro ancorado no fundo da alma de todos nós.

Escavar o Tempo, expor teus ossos ao relento, além da eternidade,
Procurar desejos soterrados a milhares de Luas e estrelas fugidias.
Do nascer das auroras até as infinitas primaveras, tua luz irá florir,
Sonho onde o homem jamais irá pousar, seja dum sputnik, ou apolo.
Uma Deusa da fertilidade, se sobreporá aos Deuses do Olimpo.


Poema de Airton Parra

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Morro-me

Morro-me

Em cada alegria, em cada desgosto

Em cada copo vazio

Morro-me de fome pela barriga cheia

Morro-me



Num sol-posto, numa chuva em pleno Agosto

Num cálice de veneno que se bebe como vinho

Num suspiro prolongado

Morro-me por centímetro quadrado



Morro-me em milhas, em polegadas

Nas encruzilhadas dos caminhos



Morro-me em quarteirões, em alqueires

Morro-me em Alentejos tão grandes como Minhos



E nesta consciência de que me morro satisfeito

Tiro-me medidas, escolho a madeira

Faço um poema do melhor tecido

Fumo-me


in: «Os poemas não se servem frios» Temas Originais 2010

Poema de José Ilídio Torres

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

"(ela.)Niveal,"

habita-me! à dita reverência consumida de qualquer calor..
desvia meu pêndulo sob o restante deste alarido alvo-coração
lacerado. e posto às páginas de letras deferidas por obsessão
ora, habita-me à pele que te possui um lapso de filme em torpor..

aqueda-me! qual emancipação de lar obstuso, tal um enigma irreal
cala o meu desejo de sequências e pecados, e(de) tentar ainda mais..
meu exercício, meu arbítrio de continuar-te à metade de ti(tão..) voraz
ah.. aqueda-me em escultura do teu corpo livre em nú desfile carnal

ora.. não me vê em correntes que te seguem com as pontas dos olhos?
não concede o teu tempo a este pátio de pilhérias e paragem de espólios?
incidência. de tentar-te à uma fracção imersa em dependência que te curva..

ah.. eu, deixaria os meus arremessos de lado, culparia meus (todos)pecados
minhas breves decisões, ora dormentes, deste inapto alvo/palco/pacto vago
ah..qual ilusão à pele que te toca?ao sonho que te sobra?(e.chuvas/e.chuvas?)

Soneto de Azke

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Retrato

Queria que você ainda fosse a mesma criança pra eu te amar novamente.
Queria encontrar o mesmo sorriso em seu rosto...
Quem sabe tudo seria diferente?
O retrato amarelado diz que o tempo passou rápido demais e sequer me esperou... E eu fiquei para trás.
No entanto seus olhos não perderam o brilho; Continuam iluminando meu estranho caminho.
O coração congelou e a alma partiu arrastada pelas águas do rio...
E eu fiquei só. Eu e você no retrato amarelado.
O sofá marrom, seu short curto e camisa xadrez.
Deixe-me mentir que você é a mesma criança.
Deixe-me inventar qualquer esperança...
Porque o sol ainda toca teu rosto e o céu finge não ver tantos desgostos...
Eu ainda posso ouvir a chaleira apitar e posso ouvir suas risadas no jardim...
Não! Não jogarei seu retrato na fogueira. Te esquecer? Nem que eu queira!
Um anjo sempre vem me ver, larga meu cálice de fel e vai embora;
Já nem olha mais em meus olhos; Cabisbaixo, chora do lado de fora...
Enquanto eu fico só... Eu e você no retrato amarelado.
Eu e você e um coração despedaçado...

Poema de Léia Carmona

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Era uma vez outra vez

Abro a página com um bisturi afiado

Afasto os órgãos que não interessam

Irrompo pelo estômago das palavras



Aspiro o sangue, limpo as impurezas

Rasgo-o com precisão pela boca

Retiro-o de uma só vez vitorioso

Clampo a ferida aberta e morro



Um dia serei árvore e novamente papel

E estômago e bisturi afiado

E uma pleura aberta até ao chão



E depois palavra e depois página

Veia e artéria

E agarrado aos pulsos um coração



Bisturi afiado para começar tudo de novo



Se valer a pena, estou disposto a autopsiar-me

Órgão a órgão para cima de uma marquesa

E aprender a começar as frases por era uma vez


in: «Os poemas não se servem frios» Temas Originais 2010

Poema de José Ilídio Torres

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Prosas poéticas

Vou suicidar-me no primeiro raio de sol

Vou suicidar-me no primeiro raio de sol. Já testamentei os meus parcos haveres: todo o sal do mar e as sereias pornográficas que copulam com o vento norte. Uma gaivota de crude.
Já me despedi de quem gosto: poetas sem lei, que vivem para além da morte, ledos.
Dei carta de alforria às prostitutas que trabalhavam nas esquinas dos meus olhos, encerrei os bordéis sujos nos meus dedos.
Promovi os pedintes a monarcas, fiz dos enjeitados nobres patriarcas.
Deixei dito que mais nenhuma criança cresceria antes do tempo, que a única lei vigente passaria a ser a da brincadeira e dos afectos.
Que o poema fosse a única matéria leccionada nas escolas, sítios amplos sem portas, janelas ou tectos.
Assinei papéis doando os meus orgãos: o fígado para ser transplantado num homem são, mas azedo e sem coração.
Os pulmões experimentados num réptil, os meus rins enxertados em árvores de fruto.
Paguei adiantado às carpideiras com o dinheiro sujo que ganhei amamentando o sistema, mesmo não tendo tetas, pregador de certezas, pastor crente de um rebanho de petas.
Espero que chorem, esperneiem, larguem baba e ranho por mim, e no final das exéquias se sirvam canapés, se leiam poetas malditos e o vinho esgote.
Para onde vou não preciso de memória, a palavra saudade deixará de fazer sentido, o próprio verso, mote.
Vou suicidar-me no primeiro raio de sol. Espero que me trespasse de luz o coração.

Ninguém morre e vai para o céu

Ninguém morre e vai para o céu.
Até se pode morrer e ir para um lugar abaixo de nós. Raiz de árvore, seiva de flor, estômago de pássaro.
Nesse caso a alma não levita, entranha-se na terra fecundando-a.
Há um espírito universal em tudo o que vive. Provavelmente até numa pedra. Na conjugação de todas as coisas. Há um espírito que vive numa obra de arte, nas páginas de um livro, na anatomia da memória. Na história.
A passagem de cada um de nós pela vida alimenta esse espírito, o que nos coloca a todos como irmãos. Filhos de uma mesma mãe.
Estar à espera de um céu depois de morrer, seja por via de uma licença passada pela igreja, seja por via da própria espiritualidade de cada um, é um pensamento profundamente redutor.
A função de cada ser nesta vida, é ser melhor. Signifique isso a capacidade de irmos perpetuando a beleza das coisas e das suas emoções, a nobreza dos gestos e da partilha, mesmo que cada um cometa erros, ou sinta que falhou num determinado momento.
O espírito de cada um realiza-se num todo. Não existe um qualquer lugar marcado no céu, não existe propriedade nem o seu direito.
A capacidade destrutiva do Homem faz parte do ciclo infinito da vida. A terra será uma rocha um dia, mas haverá sempre uma semente de liberdade a romper o chão, a vir da água, a trepar às árvores, a nascer do ventre de uma mulher, seja até num outro lugar.
A história da terra escreve-se em poema, a vida… é uma prosa só.


Autor: José Ilídio Torres

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Intervenção cultural de conscientização sócio-ambiental








O poeta e ator Marcio Rufino



O ator Ramide Beneret encarna seu personagem Vô Mustafá






A poeta Ivone Landim







Com o apoio da FASE Rio o Centro Cultural Donana realizou na manhã de domingo do dia 4 de dezembro uma intervenção cultural de conscientização sócio-ambiental no bairro Piam em Belford Roxo. O grupo Pó de Poesia com o grupo de Capoeira Palmares se apresentou no evento que teve exposição de Artes plásticas, fotografia e realização de grafites.

Fotos: Caetano Daniel.

domingo, 4 de dezembro de 2011

"mapear-te.."

morada. vertente da conduta pós-pele e alta de febres
à cada. procura voraz de entreter um prévio coração
(este!)oh, doce mente.. tão doce e latente concussão
por chamada tarja de quedas, ora quimera.. ora se perde.

por intuito. hábil, de volteio alheio aos livres olhos teus
qual virtude. e deflagração em carne, pois: cópula-de-registro!
a mapear-te.. impulsão. por in.razão absurda, por risco
seja-me à carta que desapego, ou à letra que te escolheu

a este ponto raso, de margem contido: em lago frívolo
se for à hora primária de contacto, oh.. tarde deste palco!
se for à seiva da carne criada de pátrias, oh.. pecado adiado.

conflito.. evitado por inclusão e ruptura de visão alguma
ou, referência.. lista planejada à carga entretetida de lisuras
largue-me!! cubra-me ao véu que te prega ao céu mais ilícito

(algo perto, alvo fixo..)

Poema de Azke

Dois poemas de Aline Capistrano

Ceia profana

Dane-se o natal e o novo mundo
Deixem somente as rabanadas
As quais eu nutro amor profundo
Rimem heresias e maldições
Pendurem nas árvores os colhões
Pro inferno a poesia
O amor e a hipocrisia
Matem a razão meia noite
Depois sirvam vinagre
Partam o peru a foice
Sirvam na comadre
Bestas apocalípticas
Vergonha da sua nação
Na boca sempre um palavrão
Uma palavra prostituta
A língua falada é puta
A discórdia azeite
O ego um pedaço de pão.

Toco fogo no céu

Tem anjos demais para pouco céu
Alguns devem ir para o inferno
Abro as asas e aponto os réus
Dou a sentença
O céu é de quem o viu primeiro
O ultimo será mesmo o derradeiro
Comigo não tem ditado
Nem a puta da democracia
Aqui é por ordem de hierarquia
Acaso o céu não me aceite como juiz
Toco fogo nesta bagaceira
E tudo fica como fim de feira

Poemas de Aline Capistrano

serragem é o peito vazio

quando o mundo ainda era jovem
a poesia era o reino onde ninguém morre
testemunha o inferno
a raiz da ira
um pulso em flores
como uma árvore
que se dobra pelo vento e volta
porém, a mão não poderá jamais
ser maior que a palavra que empunha
destruindo de dentro para fora
como um prego em uma ferradura
ou um céu sem nuvens a trovejar
nesse imenso salão de baile chamado universo
o meu sangue é da mesma cor que o teu
a alma é imortal
e encontrar um motivo para não puxar uma palavra
em vão ou vã
é justo imortal e divino
os fios das harpas são deuses
mantém o vosso chão
para que tenham o ar da liberdade


Poema de Vânia Lopez