Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



sexta-feira, 28 de outubro de 2011

The Pirate's Hat: The Giant Man And His Worst Poem

Here I'm, lost, in a city full of lights
learning by the hardest way
to ignore all the sights.

Where were you when they turned off the lights?
When I dreamed alone
things that are already faded and gone?

I'm the worst memory from myself
and, strangely, it is what makes me keep on,
'cause even when I can't rest
there, in my mind, something to hold on.

And what all it means?
Well, I don't care..., thats what I like over it
an open door, and the most beautiful desire of ignoring the exit
for a man that learned that there's no future or past in the dreams.

Poem by Elvys Brito

Tradução:

O Chapéu do Pirata: O Homem Imenso e Seu Pior Poema

Aqui estou eu, perdido, numa cidade repleta de luzes
aprendendo, penosamente,
a ignorar tantas paisagens.

Onde você estava quando as luzes se apagaram?
Quando eu, sozinho, sonhava
coisas há muito mortas e sem brilho?

Sou minha pior lembrança
e, estranhamente, isto é o que me fortalece,
pois, malgrado não consiga descansar,
lá, em minha mente, algo persiste.

Qual o sentido disso tudo?
Ora, não me importo..., este é o meu modo
uma porta aberta, e o mais belo desejo de ignorar a saída
para um homem que aprendeu que não há futuro ou passado nos sonhos.

Poema de Elvys Brito

As irmãs Fox

As pessoas chegavam e sentavam-se ao redor da velha e robusta mesa, de madeira

escura, coberta por uma toalha muito puída, livros religiosos e muitas folhas de

papel em branco, lápis apontados, um tinteiro, duas penas. Mr. Duesler contou os

presentes, fechou a porta, lacrou-a com cera, depois de olhar fixamente para

Margaret e receber o discreto assentimento daquela cabeça jovem e tumultuada. Pensou

por trás do antiquado cavalheirismo, que aquilo tudo,poderia ser uma farsa grotesca,

às custas um trabalho desgraçado, com excelentes dividendos para a fé. Por Deus,

uma vez em ação, aquela frágil criatura suava por todos os poros, rangia a bela

dentadura; num esgar demoníaco e assustador, cruzava os braços, estalando os ossos,

franzia o cenho à maneira dos endemoniados, órbitas brancas por olhos revirados,

tal as estátuas da antiguidade. Nesta noite, acompanhava Mr. Duesler, um homem alto,

magro, jovem, de feições finas, queixo resoluto, modos muito reservados, num olhar

seguro e inquieto, musculoso apesar de magro – indicava-o o relevo de suas

coxas, sob a calça de tweed, enquanto sentava, pensativo com o seu chá, em singular

e cabisbaixa vaidade. Contemplava a mão direita, ostentando um pequeno anel de pedra

vermelha e saliente, no dedo médio, distraidamente girado pelo polegar; uma boca de

lábios finos, emoldurada por um ruivo cavanhaque, envelhecendo-o uns bons dez anos.

Observava agora Kate e Margaret, mas em erudita e curiosa atenção, digamos assim,

quem estuda uma dupla de raros espécimes de borboleta, bem fixados por alfinetes e

sob uma potente lupa. Tudo sob o controle da gaia ciência, pensaria aquele jovem

cético,tão britânico em sua frieza, devolvendo a xícara vazia ao aparador próximo de

sua cadeira. Levantou-se ao aceno de Mr. Duesler.

- Irmãos, apresento-vos o Dr. William Crookes, da Sociedade de Investigações

Psíquicas de Londres, estudioso de fenômenos metafísicos, convidado para observar in

loco o trabalho das irmãs Fox, anunciou a voz empostada de um vaidoso Mr. Duesler.

Apresentou-o primeiramente a Katie, entre sorrisos tímidos, até constrangidos de

ambas as partes. Margaret mantinha-se calada; como de costume, abandonaria o

mutismo, após todos se acomodarem ao redor da velha mesa de carvalho, com uma

vela posta no pesado castiçal, que logo seria acesa, com o desligar da iluminação a

gás,no início dos trabalhos.Katie observava aquele moço velho,sentindo-se assustada,

imaginando a distância percorrida pelo cientista; mais um daqueles movidos pela

fama das irmãs, que faziam girar mesas pesadas e grandes, com auxílio dos espíritos,

ajudando a descobrir e prender o autor de um assassinato que abalara a pequena e

sonolenta Hydesville, alguns anos atrás. Imaginava quanta coisa teria visto um

homem com tanta ciência e liberdade de ir e vir onde quisesse, falar com quem

quisesse,talvez flertar com algumas garotas mais desinibidas,enquanto ela e a

irmã, tornavam-se um tipo de atração circense naquele fim de mundo,conquistando

uma notoriedade que não as impedia de seguir acordando pela madrugada, ordenhando

as vacas, tirando água do poço e ainda cuidando da casa e do pai severo, viúvo desde

os trinta anos, pela tuberculose que lhe tomara a esposa. Hydesville, apenas uma

parada no meio do nada, vizinha de New York apenas três centímetros medidos no

papel do mapa; na prática, um mero intervalo empoeirado entre o nada e coisa nenhuma,

em 1847. Margaret fitava os sapatos londrinos do Dr. Crookes: novos, mas

arranhados, sujos, brigando com o restante de uma aparencia meio dândi para um

cientista, retratado pelos jornais, como uma espécie de caçador de fantasmas,

preciso e implacável com os fraudadores que desmistificara; àquela altura, uma

legião,sentados todos à mesa, as irmãs, Mrs Redfeld vizinha e propagandista de

primeira hora daqueles prodígios, Mr. Duesler, pastor e juiz de paz, sério e

ascético tal um mongeem seu trajar pietista, Dr. Crookes e Stephen

Smith, pai das moças e dono da casa, uma face onde a desconfiança e a mais

autêntica perplexidade alternavam-se em tragicômica sequência. Apagado o bico de

gás, a sala ficou um instante às escuras, até a luz da vela encorpar-se e

ganhar força. Seguiu- se a recitação das orações de costume, por Mr. Duesler;

ao final, um silêncio opressivo dominou a sala; quebrou-o a voz de Margaret,

solicitando dos presentes silêncio e pensamentos voltados para Deus, com um olhar

de soslaio e antipatia para o Dr. Crookes, lembrando do ceticismo que polvilhara

pó de arroz ao redor de todas as cadeiras e solicitara o lacre com a sua própria

cera, da porta da sala – suas condições para publicar um artigo sobre os

fenômenos , na prestigiosa revista da Sociedade de Investigações Psíquicas

de Londres; tirando do território do burlesco e da desconfiança, os

acontecimentos de Hydesville, convencendo o mundo da natureza espiritual e

divina que regia tudo aquilo; uma tese defendida há meses, por Mr. Duesler, de

dedo em riste e face em congesta convicção, durante o culto dominical.

Margaret solicitou que todos se dessem as mãos, para concentrar a energia do

ambiente; seu rosto contraiu-se num espasmo medonho enquanto um frêmito percorria a

mesa em toda sua circunferência,surpreendendo os presentes, que sentiam o móvel

sendo empurrado contra os seus braços, elevando-se do piso. Um forte cheiro de

ozônio saturou rapidamente a sala. Mr. Crookes sentiu todos os seus nervos tensos, a

serviço dos sentidos. Conseguia manter a tranqüilidade, olhando ao redor, mas a semi-

escuridão parecia espessar-se a cada olhar seu. A pesada mesa agora oscilava. Depois

de alguns minutos, retornou lentamente ao solo, o cheiro de ozônio começou a ficar

mais rarefeito. A cabeça de Katie, começou a liberar pelos ouvidos e pela

boca, uma substância vaporosa e luminosa, que parecia expandir-se na progressão

do transe silencioso e trêmulo. À luz mortiça da vela, a substância começou a

condensar-se em duas formas humanas, um homem e uma mulher, rostos indefinidos,

abraçados e nus, em meio a um magnífico e luminoso jardim. A mulher ofereceu uma

maçã ao homem fosforescente, que recebeu a fruta, enquanto uma serpente saía do seu

flanco esquerdo, picando-a furtivamente no pescoço; os rostos indefinidos

eram agora os de Katie e do Dr.Crookes. Exclamações de terror e surpresa

tiveram início, as pessoas ora rezavam aos gritos, ora gemiam de puro medo, voltadas

para uma Katie agora imóvel e de feições serenas. Dr. Crookes, reconheceu a cena de

um antigo livro religioso; estupefato, pulou da cadeira e acendeu o bico de gás; a

substância refluiu imediatamente para o corpo da médium. O cientista aproximou-se de

Kate, a tempo de constatar a sua morte e verificar-lhe o pescoço, perfurado por

dois orifícios diminutos e paralelos,talvez o preço por conhecer o Paraíso.




Conto de André Albuquerque




OBS: Ficção sobre pessoas reais e fenômenos paranormais, observados em 1847 ,

em Amytiville, nos EUA .Os acontecimentos narrados, são produto da imaginação

do autor , exclusivamente .