Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



quinta-feira, 31 de maio de 2012

Medo


Amanheço. Por entre as dobras do ninho dos cobertores, travesseiros e lençóis, silenciosas mãos côncavas que me escondem como capa mágica da invisibilidade. Arranho por dentro o meu céu e ele, ainda, me sopra estrelas. Queria poder guardá-las na cadencia das horas em que me acho, mas, me perco.
Destranco a janela da alma e avisto os meus medos ao longe confabulando com o cinza do dia. E tudo se cala como uma silenciosa oração desenhada com baforadas no vidro. Meu corpo deságua raios e trovões, convulsão de um vulcão que quer expelir as sombras da caverna.
A neblina dissimula as carícias das mãos frias do medo.
Vou queimando por dentro e amontoando as cinzas em um canto, a espera que algum pássaro voe até a colina mais alta e espalhe o meu olhar inocentemente.
Encaminho-me com passos sonâmbulos como oferenda prestes ao sacrifício. De um lado, a solidão que estende a mão morna; do outro, a incerteza que escancara a sua voraz boca de abismo.
- Não quero mais ter medo de sentir medo!
Estendo os dedos como um cinzel pontiagudo e contorno, descolando, a face da solidão. Não saberei hoje dizer, se como o último ou o primeiro gesto, antes de anoitecer.


Autor: Lápis sem ponta

[...e ouvi alguns velhos do restelo clamando


e ouvi alguns velhos do restelo clamando;
“Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?”,

e vi duas sílfides dançando por entre o perfume das flores em primavera,
levando e trazendo suaves brisas,

e vi alguns poetas queimando palavras incrustadas em folhas preenchidas,
outros não riam, outros viravam as costas ao caminho,

e ouvi militares alteando a voz, encurralados na ilha de Kheros;
“Antiguidade é um posto, antiguidade é um ...”,

ah... e mais vi, e mais ouvi,
declamavam-se elogios, e mais elogios, como se a salvação fosse aqui tão perto;
- vai-te anjo rebelde expulso dos céus, expurgo-te do amanhã, do hoje, do sempre, “rasteja para a terra, possa ela salvar-te do nada”,

e alguns fizeram as pazes, mesmo com os dedos cruzados atrás das costas, alguns suspiraram não sei o porquê, outros guardaram as adagas de istambul ainda a brilhar,
libertaram-se os cheiros da amêndoa e do café.

E tudo vi, e tudo ouvi,
seria esperança, seria morte, seria o fim das trevas [?],

não sei,

sei que ainda ficou uma sílfide,
dançando por entre o perfume das flores em primavera,

[e o silêncio anoiteceu-me a voz, jamais o poema],



...
[que por aqui deposito? jamais].

Poema de Ricardo Pocinho (Transversal)