Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



sábado, 8 de setembro de 2012

O silêncio do tear

Com um sim se diz não.
No vagar dos tempos
Entre o espaço cidral dos teus dedos abertos
Há um tear mecânico
Onde nossas mãos ávidas
Quiseram tecelar um tapete de orelos
Com os trapos dos momentos partilhados.
Foram as nossas palavras a urdidura
Que fomos esticando
Mas o pente liço atrofiou-se uma manhã
E os fios quebraram-se.

A poesia do teu corpo ficou fechada
Com todas as vontades viradas do avesso
Não penetrei a poesia da tua flor
Nem cada detalhe do teu corpo desalinhado
Os beijos, a língua, a saliva, o suor, a pele molhada
O falo túrgido
Esmoreceram
Num campo de cardos.
Eu sei que cada um de nós um dia chegou a imaginar
Os nossos corpos fundidos
Num vaivém em suaves entregas
No fio de trama do tear
Onde tecido seria a nossa carne
E os nossos sentidos entregues a um amor sem regras.

Ficou o desejo mudo
O que faz de nós meros filatelistas
Que nos preocupamos com os pormenores mesquinhos
Da integridade da serrilha de um selo.
O desejo mudo
Esmaga-se à noite no silêncio do travesseiro,
Olhos abertos na escuridão
Ao vaguear pelo firmamento de tecto do quarto,
Sente-se o vazio de um corpo ao lado
Que respira e dorme profundamente
E o desejo de noite não é o desejo do dia
E o desejo cala-se
E a lua consente
E o sono chega
E manhã que há-de chegar não será mais uma vez
A manhã
Que com um sim se diz sim
Ao que sempre se disse não.


Autor: Sedov

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Noite

Nesta noite não há cantos de melancolia
Dos bêbados à porta do centro comercial
A florir a noite da cidade,
Nem mesmo os gatos vadios
Com seus miados acutilantes
Dilaceram a escuridão,
Nada se vai refugiar na caverna da memória.
Deixou de ser fria a noite.
O meu corpo está trôpego e ébrio,
Uma visão de plena brancura no meio do breu,
Um pano que se estende sobre o meu rosto
Igualmente branco
De uma macieza doentia
Onde o aparecimento de uma ruga imprevista
Transforma-se numa agonia pior que a morte.
Será isto um pesadelo?
Há muros erguidos em meu redor.
São paredes irregulares de uma cova
Em que me afundo.
Nesta noite primeira
A dança das prostitutas ao longo da Avenida,
Os carros que abrandam e as recolhem
Não me desassossegam os sonhos.
O choro de uma criança recém-nascida
Pode bem ser a minha cama.
A luz difusa numa janela de um apartamento
No cimo de um prédio
Projecta uma sombra chinesa
Sobre as nossas consciências:
Uma mulher é agredida e violada
Na mesma cama em quem imaginou ser amada.
Pressagio terramotos do fim do mundo,
Talvez porque isso me traga a sensação dos marmotos
Que vivi sempre que me tomaste em teu corpo.
Mas a lua está ausente dos teus lábios
E mesmo o lago que um dia descortinaste nos meus,
Nesta noite pouco mais são que um pântano.
Os ventos das planícies afagam-me os cabelos
Dos meus olhos secos brotam lágrimas de abandono
No momento em percorro os caminhos incestuosos da morte.


Autor: Sedov

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