Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

"quase"

refém,


(d)esta! queda-pátria de mim, hora absorta de fins e meios
e termos.. já obsoletos por denotada conduta(e freio..)
ao lapso que te ascende em céu abstracto, parte e pecado
à fé.. por centímetros de linhas, e sinas a este tolo acto..

já nao é a curva que me tomba, nem às rodas que bem sei..
nem à mácula da mentira-pia que te vence, (oh!)não há lei..
não há terras, não há contos e tampouco a predilecção
destes dias inconstantes, quais te perco, de fins e nãos

eu nao aceito que te queiram, eu(já) não quero te aceitar
nem à minha carta que te queimo, nem este lado de mar..
eu.. tenciono deixar-me à deriva, ora, se não me perderei

ao meu teatro de casos impossíveis, letrado, privado, à vez
qual íliada repartida, minha guerra vencida, minha lâmina febril
é este pacto de corpo, de outro consolo que não te seguiu..


e
eu(quase!)
não(te)
quero(mais..)

Soneto de Azke

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

[Há noites escuras]

Há noites escuras,
mais escuras que outras,
noites sem a lua dos amantes,

há noites que escrevo sem pensar,
tudo é possível, cometas
no quarto, corais na cama,
caravelas no copo de água
baloiçando,
noites.

Noites que removo o coração,
noites que dispo esta pele tatuada,
e o sangue espalha-se pelo
soalho, e o papel avermelha-se
também.

Há noites que escrevo nas paredes,
sentimentos,
histórias de alguém,
podem ser histórias minhas,
podem ser histórias,

e olham-me as sombras, assim,
apenas assim, que fazer?

Há noites que as saudades corroem,
queimam o que resta,
como labaredas desenfreadas,
línguas de fogo sem aurora boreal,
sem,
sem explicar.

Há noites tão escuras,
sem soluços, com todas as lágrimas,
que toda a minha vida me reaparece,
novamente, sim,
novamente,
só não a consigo agarrar,
só não a consigo tocar,
não consigo.

Há essas noites mais escuras ainda,
as noites das lembranças,
as noites das recordações,

esqueço-me dos dias,
esqueço-me do sonho,
esqueço-me,

e tudo revejo,
até a cor do dia,
até a cor daqueles dias
que antecedem estas noites tão escuras.

Há noites,
há tantas saudades,
são tantas as minhas saudades,
são tão escuras as noites.


Autor: Transversal

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Flor Camila





para a poeta Camila Senna

Camila menina,
Camila mulher,
Camila poeta,
Camila camélia
Senna entra em cena
E mostra ao que veio.

Em sua doce rebeldia.
Melancólica em sua poesia.
Guerreira em sua ousadia.
Musa, ninfa que não precisa
Perguntar nada ao pó,
Pois o pó já lhe declara todo o amor
E ela como toda mulher-flor
Se abre inteira.
Tesa em sua beleza.
Fenix restaurada das cinzas.
Cinza que faz, desfaz e refaz Camila.
Cinza do pó de poesia.

Marcio Rufino

hidróxido de alumínio

engulo a rodovia, frentes.
o ponto de fuga
quer meu sorriso de canto,
minha fome,
a metamorfose das metáforas.

mas toda rodovia tem duas,
quatro vias
engolindo, engolidas...

e no refluxo da volta
o verde do oeste,
meio a poeira densa do piche,
revela o sono letárgico das gentes.



Poema de Edilson José

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

[apenas quis]

Apagam-se algumas estrelas
e mesmo que sextantes as encontrem,
ficam vazios os horizontes,
desconhecidos, descreverei então,

perdi-me de ti,
desconhecia
como se encontram as águas,
como se de um rio nascesse mar.

Voam as sedas vermelhas além,
além do mar,
e no teu colo me deitava,
assim seja, dizias-me,
na imensidão de sonhos.

Quis-me o destino partida,

apenas quis,

nem uma gota de água transbordou
as margens só nossas,
onde banhávamos os pés cansados,
dos nossos caminhos, disseste-me,
no dia em que o beijo
afastou o vento norte.

Quis-me o destino partida

apenas quis,

sorriste quando escrevemos
poemas no areal que o mar,
um dia, escondeu,

recordar-me-às sempre,
disseste-me.

Jamais me esqueci do mar,
jamais me esqueci do nosso mar,
e hoje, escrevo-te amar,

apenas quis, digo-te,
apenas quisemos, dirás.


Autor: Transversal

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

sempre-viva

Meus devaneios são rasos,
neles não me afogo nunca
e as vontades sem podas
sempre-vivas
ornam o cesto do balão – imenso cachepô.

E não há cotovelos gastos sobre peitoris de janelas
ou lugar fixo,
o longe, o perto
ficaria, ficará, ficarei sem rigores nem minúcias.
Não meço espaços entre mim e o mundo.




Poema de Maria Verde

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Ciranda....



Canto sozinha no estio de frente pro mar
E aquela sua ciranda sempre a me rodear
Fazendo brotar a semente ardente
Duma paixão veloz que sem esboçar,
Causou alvoroço sem se esperar

O poema li antes mesmo de você chegar...
Mas com o tempo e seus desencontros
Esqueci de declamar
Mas também não sabia para quem
Além do sentimento profundo
De contigo de mãos dadas cirandar....

Hoje entendo sem proteger meu coração
Larguei toda minha razão no vento
Do esquecimento milenar...
Sem querer saber da aprovação do mundo.

Nessa ciranda encontrei você,
Cirandeiro do amor...
Que ao me olhar, desnudou...
A mais preciosa flor de um sonhador.

Cirandeiro do amor,
No seu recanto junto com seu canto e seu violão
Eu quero estar, deixar desaguar em mim o mar de verão
O mesmo que desde do início aqueceu minh'alma
Deixando marcas, deixando frisson.


((( Camila Senna )))

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Fevereiro

Será que um dia ele vai rir de tudo isso? Quais serão os comentários póstumos direcionados à sua descendência? Seu pai era um grande homem? Seu pai era um filho da puta? Seu pai era muito louco? Mas, por que póstumos se está vivo e não tem filhos? O que o aflige, afinal? A morte do sentimento e o crescimento e rebelião do que parece inadequado? A persistência no erro? O fim de seus dias de celebração à vida? A mutilação? Ou seriam os julgamentos de uma sociedade cuja percepção quase sempre foi distorcida? Mas, o que acontece? Quando foi que sorrir se tornou um fardo? Quem roubou aquele sorriso? Ele mesmo? Para que tantos anos de autopunição disfarçada de euforia? Por que essa sede, esse apetite que nunca encontra um fim? E a obsessão pelo inadequado, de onde veio, quando tudo parecia sob controle? E toda a compaixão, alivia ou joga sal sobre sangue e carne que não são só dele? Aprisiona? Conforta? Por que o incomodam as demonstrações de afeto que se sobrepõem à barbárie? Seria a descoberta de que o amor do próximo machuca, afinal? Mas, o que tanto incomoda? O que seria esse apego insano pelo frescor de uma juventude que não lhe pertence? É o que deseja, transformar-se em deformidade e aberração, agora que já é monstro? Conviver com o incômodo que atravessa a alma e envenena os pensamentos? Há quanto não dorme direito? Mas, para que dormir senão para reviver os sons, cheiros, cores, texturas, gritos e sussurros perdidos no ar da madrugada? Quando o prazer se fundiu com a dor? Quando todas aquelas luzes foram engolidas pela sombra que, agora, estende-se por todos os pedaços de sua vida? Como pode um ego tão gigantesco ser destroçado pela rejeição e inferioridade que sempre estiveram ali? Quanto mais poderá aguentar? Qual o sentido de todo aquele sentimento, todo aquele sofrimento que não é só dele? Por quanto tempo mais o diabo o provocará com seus convites e apostas? Quando, afinal, chegarão os bárbaros? Por que amor nenhum é suficiente para aplacar o apetite insaciável pelo que ele nem sabe o que é? O que deseja? Por que deseja tanto assim? Quanto desconhece a respeito daquela natureza?Quantos miligramas são suficientes para dar fim a todas as perguntas?


Texto de Bruno Clemente Machado

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

[e quando as tuas pétalas caem]

e quando as tuas petalas caem
das nuvens azuis,
e quando as tuas petalas se
misturam com o mar,
os ventos que sopram sossegam,
as calmarias regressam,

os adamastores, em bojadores
floridos,
respiram os odores das madressilvas,
e das tulipas que lá plantaste.

Queria-se o poema assim,
apenas assim,
sem tormentas, vulcões,
sem tempestade, furacões,

e no tocar do teu cabelo,
e no tocar do teu seio,
e no colar-me ao teu corpo,
[nesse teu aroma de canela],

nasce um arco-iris na noite,
e rasga-a,
na escuridão do inverno.


Não sei se é amor, não sei,
nem sei de mim, não sei,
sei da ondulação do teu corpo,
desta minha tatuagem de ti,
sei, que

me ondeio nas tuas ondas,

sei, que

quando te penso, penso-te
mar,

sei, que,

sempre assim será.

[Queria-se este poema...assim],
apenas,
assim...


Autor: Transversal

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Haikai da Catástrofe




A catástrofe só interessa
Antes de se desfazer a demanda
Depois de já feita a merda.

Marcio Rufino

[Relembro-te]

Relembro-me,

das cerejas que se queriam
em cor,
das árvores descoloridas
cobertas por sombras, de núvens
que vogavam sem rumo,

relembro-me,
dos dias que seguiam noites,
e o piar do mocho, que se escondia
nos ramos despidos,

relembro a terra nos castanhos
da madeira que rangia,
no sal que se entranhava
nas entranhas do meu corpo.

Relembro um mar em fevereiro,
longinquo, longe,
onde o cheiro a canela
invadia espaços fechados,
invadia o ar decompondo-o,
como o prenúncio de uma rota
qualquer,
seguida nas estrelas brilhantes,
adormecidas.

Relembro-te nos sorrisos do areal,
no meio do frio vento,
olhando imensidões,

distâncias jamais percorridas,
nem pelo sonho.Rasgava
então os mapas,
e sem caminhos,
adormecia no teu colo,
sossegava-nos, relembro-me.

Relembro-te em saudades distantes de um mar em fevereiro nas distâncias jamais percorridas... relembro-me dos dias que seguiam as noites e dos meus olhos que se fechavam... esqueci-me da forma das núvens que vogavam sem rumo.


Autor: Transversal

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Digestais

o que sei de meus dedos finos
quando os olho, enternecido:
na mão leve, cinco bandidos
transfigurados em meninos.

uma mão procura o fogo-fátuo,
o verso que se relê no ventre,
permitindo, ao verbo incauto,
que, riscando seu nome, entre.

e há leveza em outros dedos
quando voam, pássaros ateus
ao céu do aceno, sem nuvens,
perdidos em gestos de adeus.



Poema de Caíto

domingo, 12 de fevereiro de 2012

"pós-dia"

face.
à face com um produto exigido
amor..
eterno confronto da minha recém-acepção
da minha mentira
aversão
modo operante por manipular-me
acaso do corpo
do ponto previsto

todo..
..quisto.

lado e preparação ao absurdo..

pouco tempo pra te contar
minhas resistências mundanas
quais simetrias de catálogos
das fileiras e fileiras de giz..

asfalto
chão
queda.

por ensejo daquilo que te traria o nome
por inserção ao sonho que te comove
ao proveito desta noite
da última parte que nos importa
ao exílio
ao açoite que me devora..

o teu nome solto
a tua imprecisão
a voz doce
a
minha

ilusão..













..






jaz este período.

composto
oblíquo
minhas cenas trágicas
minha comédia de viver
meu aplauso retirado
ou
até

do teus laços,
esquecer-me..





jaz este posto.

em lado-pouco
coercivo
intrépido
abusivo


jaz este pacto que te queria
ora,
agora
é apenas:



cena.
(apenas isto.)













..





deito os meus olhos à terra que te cobre.
prego a minha seta na lembrança que te aproxima
e
então,



assim,
eu:






deixarei.


Poema de Azke

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Escrever

Escrever poesia
Como quem escreve
Um livro tombo,
Ter olho pra tudo,
Pra quem corre certeiro
Ou toma um tombo.
Ter olho pra tudo,
Até mesmo pro pombo.

Escrever poesia
Como quem chora
Ou se devora
Louco sem deus ou memória,
Culto de súplica e prece
Sem pai, pão ou perdão,
De quem não vive sem pressa
E só crê e obedece
Ao rito livro das horas
De um herege.

Escrever poesia
Onde nada é imorredouro
E tudo é sujo, sujo, sujo
Como um matadouro
Mundo imundo,
Sorvedouro.

Anotar todo nome
E a garatuja suja,
Vasto palavrório
Inútil
E o palavrão
Sempre útil
Na rua ou no escritório
Da massa inconsútil
Comedida e comezinha.

Escrever poesia,
Todo o logradouro
Ilustre ou anônimo
De gente, topônimo,
Escol, escória
Que aparece e some
Cadente
Neste livro de ouro.

Escrever poesia
Em confronto
Com um dia e breviário
De fadiga e soluço
Que nos varam, translúcidos,
Com a luz dos semáforos;
Que só nos querem lúcidos
E sempre prontos
Para labuta
E o livro de ponto.

Escrever poesia
Para gente perdida,
Sem porto ou caminho,
Homens tortos,
Dos descaminhos
Para quem não há
Guia ou oração,
Via ou confissão,
Exorcismo ou escaninho,
Nenhum livro
Seja dos vivos,
Seja dos mortos.

Escrever poesia
No meio da rua
Sentindo no estômago
Queimação, azia,
Trazendo no peito
Crônico,
Ânsia, taquicardia
E a aflição
De quem fala, fala, fala
Sem ninguém
Que lhe ouça a voz e o pleito,
De quem cansa e se cala
Na multidão.

Escrever poesia,
Códice, gravura,
Xingamento e mesura,
Pergaminho no estojo,
Página e rolo
De náusea e de nojo.

Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados

sábado, 4 de fevereiro de 2012

[diz-se]

Quebram-se os galhos secos
puxados pela terra castanha,
quebra-se o vento contra as
asas dos rouxinois,
apaga-se a luz quando acordam
os pirilampos,
e do mar que se quebra contra a
rocha,
diz-se: um dia, assim será.

Quebram-se as promessas de uma
noite, noite em sobressalto,
noite quebrada pelo silêncio
de um beijo,
e na sonolência do olhar,
perde-se a visão num horizonte
sem astros, sem rastos,
quebram-se os passos perdidos,
sem eira, sem lirios.

Restos descritos ao acaso,
no ocaso das viagens, nas
escuridões das manhãs sem céu,
manhãs que não quebram as núvens,
por mais que insistam,

assim,
quebrando o barco contra
as ondas, apenas partindo,
quebrando o amar, talvez longinquo,
neste suspiro de mar que
se quer vulcão.

Quebram-se alguns sonhos em
vagaroso acordar,
sem fim,
sem fim diz-se,
assim seja, alguém dirá.



Autor: Transversal