Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Iniciação


             I

Tu que esperas o estro das cinco,
Como o inglês o seu chá
E o crente, o angelus...
Tu que esperas o estro das cinco,
Para compores alguns versos
Plangentes de amor e flor –
Vê-me! Pousa os olhos sobre mim,
No rebanho ignoto de minhas carnes!
Eu caminhava quase ao teu lado,
Entanto preferiste apreciar
O decote e a bunda de mais uma qualquer.
Vê-me! Pousa os sentidos sobre mim,
Mesmo que ainda delirantes,
Mesmo que ainda enfastiados,
Porque já não tens o que cantar.
Olha quando bocejo,
E a náusea impele-me aos banheiros infectos;
Quando reconheço tua firma
Ou peço-te o protocolo,
Após um bom dia em dias maus.
Volve teu rosto ao meu opaco e habitual,
Para teus versos encherem-se de sombra.
Vê-me! pois a lua agora
É dos cientistas e burocratas,
As estrelas há muito se apagaram
E nenhum brilho restou nestas faces, nestes céus,
Enquanto, sobre nossos lares,
Pesam monóxido de carbono, pressa
E celas esquecidas com sangue e vergonha.
Toque-me, se puderes,
Pois há muros entre nós,
Tijolos de indiferença e anonimato,
Grito abafado e delação.
Toque-me! Sinta-me! Cheira-me! Escuta-me!
Pois o poeta torto
Que te pede chaves e decifração
Tinha razão:
O amor resultou inútil,
Homens se matam feito percevejos.

Restou-te só a mim,
Indesejada companheira,
Habitual aparição – fantasma,
Enquanto caminhas solitário,
Acompanhado por tantos de nós:
Multidão.


                 II

Agora que o estro das cinco
Chegou, pega minha mão e vem!
Quero mostrar-te tudo e nada.

Não temas, demente,
Não receies a verdade;
Ela reside no desconhecido.

Vem comigo, confia em mim;
Afinal despertarás, assustado,
Babando de teu frágil sonho.

Libertarás teus versos
De musas e ideais há muito
Desfeitos. Vem, pueril!

Vês aquela que passa?
Ela não te ama! De fato, ela passou...
Deixa que se vá como tantos...

Sei que ainda guardas
Dela as parcas palavras
Como recompensa e ilusão.

Sei que ainda conservas
A lembrança opiária
Que te engana dia-a-dia...

Vês aquele que passa
Na boléia de um caminhão,
Levando fria marmita?

Foi ela que a preparou
Para a fome fria de um ser
Frio, frígido que ama na tábua fria.

Deixe que passem. Tudo passa,
Tu, inclusive. Pobre lembrança
Que nem sabe mais o que inventar.

“ - O que me resta, então,
Senão esquecer? Esquecer!
Esquecer! Esquecer!”

Vês estes comendo
Devorados pelo tempo?
Tua família: pai, mãe e irmã.

Sabes do resto?
Creio desconfiares. Desejas
Saber? Suportarás?

Claro. Não há qualquer
Melodrama; telenovela
É o que tens de melhor ao coração.

Vês teu pai? Quem te ensinou
A amar os livros
E a odiar a todos?

Ele não te ama! Alimentou-te
Por mera obrigação
Paterna e olha-te com dó.

De fato, não tentaste muito
Te tornar filho e ele, pai. Ambos nunca
Tiveram pendor para filiação.

Não importa se te amou.
Faltou-lhe a paternidade
Que os piegas têm de sobra...

Não te revoltes, nem queres...
Aceita os homens e as coisas,
Livra-te de culpa ou rancor.

Na identidade, tens os campos,
Para a tua tarefa social,
Todos preenchidos – és homem!

“- O que me resta, então,
Senão matar? Matar!
Matar! Matar!”

Vês esta te embalando,
Como te acalanta zelosa,
Infatigável em seu dever.

Ela te ama. Missão outorgada.
Antigo ritual tantas vezes
Repetido, signo vazio: maternidade.

Disso não tem muita consciência,
Por isso te ama, te cobra
Pode apresentar tua dívida.

E tu? Não respondas nada.
Silêncio... atrapalhar-te-ias
Com a verdade e as palavras...

“ - O que me resta, então,
Senão esquecer?
Amar e esquecer...”

E tua irmã? Lembras das tardes
Fagueiras, das manhãs primaveris,
Do efêmero fugidio?

Não, não há nada para lembrares;
Na escuridão do quarto de hoje,
Procuras uma mão, mas nada encontras...

“ - O que nos resta, então?
Nada resta!
Nada presta, irmãos meus!”

E, agora, o que tens? Fantasmas
E feridas com que dialogas,
Expostos na galeria destes versos?

Onde ficou o inefável, o mistério?
Tuas mãos contristam-se por reflexo...
Guarda estas lágrimas – pura sensaboria.

Aceitas tudo conformado,
Calas tua fúria e rebeldia,
A raiva de ti, de todos.

Solta teu grito de silêncio,
Teu canto dissonante,
Tua palavra-eco aos surdos.

Vê a multidão: eis uma certeza!
Tu a amas e estamos nela –
Tua amada e família também. Cidade...

Felipe Mendonça -
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