Deve-se modificar um poema. Deve-se modificar um poema até não poder mais. Até ele nos derrotar. Ou até o destruir. Destruir um poema. O maior medo. Pensar que a inspiração nos bateu à porta e ao querer melhorar o poema apenas o destruímos. Mas destruir um poema é de criador. Só destrói quem constrói. A aprendizagem e o lamento é a nossa escola. Mesmo que o poema fique pior do que antes. Tudo isto é sem roteiro e uma grande aventura. Afinal não queres tu ser poeta? Se lhe vestes a pele tens também de amargar o acto de artífice de esculpir palavra a palavra o poema nem que seja para o deitar fora a seguir. Nunca te dês por satisfeito. Isso não é de poeta.
E isso da inspiração vem da religião. Uma entidade que nos envia mensagens sabe-se lá como. Hoje sabe-se que inspiração divina não é para todos. E tu queres para ti, não é? Tem calma, amigo, também eu queria. Se queres fazer poemas não esperes o além, trabalha e transpira. Trabalha mais do que nunca e depois podes dizer o que quiseres. Se sair bem, dizes que foi a inspiração, ninguém dirá o contrário. Acredita. Melhor, experimenta. Vai e faz melhor, é a lição dos grandes poetas. Eu brinco a isso, e por isso mudei este poema e nunca saberei se para melhor:
E depois de Neruda
Nunca mais o amor será tão fogo líquido e solar
chama antiga rubra depois de Neruda
Tão mulher e colina deusa de Lisboa
muralhas com dorso deitado ao rio em rubor
E depois de Neruda como fica o amor dos corpos lunares
e todo o fogo vulcão veias de leite e mel
Como ficam as mãos secas de calor em festa
e as ruas a calcorrear em corpos de suor depois de Neruda
(Maio – Junho 12)
Autor: Carlos Teixeira Luís