Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



quinta-feira, 14 de junho de 2012

carochas, bicicletas & biplanos - 9


Um gato esperava por uma sombra no vão da escada. A casa tinha heras por todo o lado. Paredes cobertas de tijolo centenário. Um fumo suave e contínuo sai pela chaminé. Levanta-se vento e as folhas caídas no alpendre voam. O gato passa pelo espaço entre a porta e a ombreira como se fosse pecado no mundo dos gatos tocar na madeira ou na pedra e entra. A velha senhora atira a ponta do cigarro para um jarrão com areia. Entra em casa, puxando a gola do casaco mais para si. Dentro de casa, há um chá quente à sua espera e problemas com cadáveres para resolver. A noite abraçaria o bairro dentro de pouco tempo e a inspiração mais fértil. O gato ainda enfiou os bigodes fora da porta como que despedindo-se da tarde. A porta fechou-se.

10 Jan.

Ando triste. Vivo num país triste. As pessoas não são pessoas. Nem números são. Não existem umas para as outras. Tenho a certeza que se disser a um transeunte qualquer: - Tenho uma bomba potente, se não me der uma moeda, ela explode! A resposta seria: - Tenha paciência. Vai trabalhar! Qualquer ideia que possa ser dita: - Estou com fome. – Vou-me matar. – Vou matar alguém. A não ser: - Dá cá o dinheiro ou espeto-te esta faca de cozinha! A menos que vejam a faca, a resposta será: - Não me chateies! Deixa passar! Este país morreu e ainda não sabe disso. Vive uma crise monetária, económica e financeira. Mas a verdadeira crise de que sempre sofreu é de tristeza. Um povo triste. Não acredita em si. Mas que vai dar a volta. Com certeza. Mas vai sempre parar ao mesmo sítio. É sempre uma volta penosa de cento e oitenta graus. Fica-se apenas um pouco mais à frente. Melhor seria, romper a direito.
Por isso ando triste. Sou um desses que andam por aí. Tal e qual.

11 Jan.

Acho que já contei esta história. Eu e ele, parecido com um dos Ramones, o que canta, íamos a um apeadeiro ferroviário esperar o outro que vinha de Vialonga e apanhávamos um lento autocarro até à Encarnação, onde numa vivenda um afável ex-hippie alugava a cave e instrumentos para malta como nós fazer uns barulhos. Chamava-se a Harpa. Assim estava escrito no gradeamento de metal da porta de entrada. O Joey Ramone ficava com um baixo e berrava, sempre de cigarro ao canto das beiças. O de Vialonga, na bateria e eu a solar. Os solos eram longos e cheios de eco. A bateria demolidora.
- Lembras-te do filme Blue in the Face, em que aparece Lou Reed – alguém perguntou.
Algo se passa com esta memória, decorria os meados dos anos oitenta e o filme saiu em noventa e cinco. De toda a forma, teve vida curta a banda Outsiders Revolution Blues Band. Durou uma cassette gravada, algumas tardes e muitas canecas de cerveja.

11 Jan.




Autor: Carlos Teixeira Luís