Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



quarta-feira, 31 de março de 2010

Os pombos e o homem





Os pombos da Praça XV
Não se parecem com pombos,
Não se parecem co’as aves,
Co’os próprios da sua espécie.
Os pombos da Praça XV
Se parecem mais co’as gentes
Quem vão e vêm pela Praça.
Ou quiçá sejam as gentes
Que com eles se pareçam,
Já que também pela Praça
Vão e vêm seguindo rotas
Como as aves migratórias.
Pois quem será mais antigo:
O homem enfadado da Praça,
Ou a ave cansada de céu?
Não sei! Pombo, gente, pombo
Que vão e vêm pela Praça
Se imiscuem, se confundem
A tal ponto que não notam
Um e outro nesta labuta
Diária por alimento
Nas filas, vias e dutos
Por onde passam e ficam
Às vezes, homem e pombo
Aves, gentes e indigentes,
Quietos, e lado a lado,
Protegendo-se da chuva,
Debaixo do viaduto,
Que rasga a Praça concreto.

O pombo, o homem, a praça
E os mendigos esfaimados,
Debaixo do viaduto,
Cruzam-me sempre o trajeto.
Felipe Mendonça -
Todos os direios reservados.


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terça-feira, 30 de março de 2010

O incerto vem na noite

E te chama

A declamar



Sandra Pimentel


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Quando o beija-flor lilás beija o doce vento do amor



Amanheceu em mim a idéia de morte.
Uma morte que era ressurreição.
Ressureição de um louco desejo
De esquecer que alguém está me vendo
Por trás do buraco da parede.

Nessas horas eu sou um sonho erótico.
Um guarda noturno.
Um animal exótico.
Um herói taciturno.

Uma abelha-rainha.
Uma fada madrinha.
Uma saia rasgada.
Uma camisinha furada.

Nesse conto de bruxas
Minha metade sapo se funde com minha metade príncipe
Ao ser beijado por uma desonrada princesa vestida de pomba-gira.

E enquanto no céu de minha boca
Anjos sensuais me aguardam
Tocando sinos de boas vindas,
Sonho com meu amargo regresso
Acompanhando o natural desenvolvimento do progresso.

Me atiro na terra e me torno o mais selvagem tigre a correr pelo mato.
Mergulho na maresia e sou um terrível e sedento tubarão
A atacar sua frágil presa por sobre as ondas.

E a saudade de uma época que eu me esqueço
Me lembra que hoje há crianças cheirando coca-cola
E eu espero minha namorada na porta da escola.

O pai dela é bancário.
Sua mãe é professora.
Seu tio é estelionatário.
Sua prima é sedutora.

Me olha com olhar voluptuoso
Celebrando minha rebeldia.
Me abraça um abraço fogoso
Despertando minha lascívia.

Tudo isso acontece quando o beija-flor lilás
Beija o doce vento do amor
E voa seu vôo veloz por cima da Baixada Fluminense
E bica seu viril bico teso
Nas flores mais murchas e resistentes.

Entardeceu em mim a idéia de vida.
Vida que é verdadeiro falecimento de meu corpo
Dentro de um coração quente.

Nessas horas eu sou um cavalheiro andante.
Uma tradução malfeita.
Uma idéia mirabolante.
Uma proposta desfeita.

Um ator canastrão.
Um cinema em última sessão.
Uma pessoa esquecida.
Uma coisa esquesita.

Nesse romance policial
Minha metade PM se funde com minha metade bandido
Ao ser capturado por um respeitável detetive vestido de traficante.

E enquanto no inferno de minha libido
Demônios castos me escorraçam
Me espetando de baixo para cima
Me preparo para minha festejada ida
E acompanho o natural avanço da tecnologia.

No mato sou a mais venenosa cobra a lançar sua língua pelo ar.
Na areia sou o mais astucioso caranguejo a cortar a carne com sua mão-tesoura.
Na parede sou a mais combativa formiga a lutar pela subsistência.
No ar sou a mais fagueira águia a bater livre suas asas.

E o desespero da época que vivo
Me lembra que ontem haviam crianças que ainda brincavam de roda.
E a vida passa pela minha memória.

Ela vaza pelo meu corpo.
Se aloja em meu peito.
Despenca aos meus pés
E deita em seu leito.

E o beija-flor lilás se deixa tragar pelo vento avassalador
Que nos empurra para o nada
E nos puxa para o nem sei lá aonde.
Nos suga para o fim do mundo
E nos joga aonde Deus quiser.


Marcio Rufino
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quarta-feira, 24 de março de 2010

O amor é incerto
na calada da noite
ele se transforma

Sandra Pimentel

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FÉ ESQUECIDA



FÉ ESQUECIDA

Não tenho nada na vida
Nada que eu possa me agarrar
Nada que eu possa me purificar
Não tenho fé
Não tenho vida
Minha fé foi esquecida
No buraco negro da minha história
Sou feito de inglórias
Não encontro o caminho
Que me levará
Até Aquele que me salvará
Pego a garrafa de vodka
Ela me ajudará
A partir antes do inverno chegar
Não quero ficar aqui
Não pertenço a este lugar
Quanto mais breve eu for
Mais breve irei acabar
Meu coração ficou vazio
Minha pradaria está em permanente estio
Não tenho um fio de esperança
Fiquei perdido em minhas andanças
Não tenho nada na vida
Não tenho mais fé
Só tenho feridas

Autor: Arnoldo Pimentel


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segunda-feira, 22 de março de 2010

Às avessas



Em teu abraço não houve sofreguidão
Nem calma,
Como em Araguaína ou no Bico do Papagaio,
Após tanta poeira e viagem,
Tampouco ardor em teu beijo
Ou alívio
Como na praia de Tucunaré em Marabá,
Após tanto desejo e voragem.

Em teu olhar não houve labor
Nem satisfação,
Como às margens do Araguaia,
Ou na Gamaleira lendo o romance da liberdade
Para roceiros e o povo pobre,
Ou em Xambioá ao lado de índios e posseiros,
Tampouco desespero em tua mão
Mole no meu ombro
Ou a dilaceração,
Na fronte conturbada de emoção,
Ao ver de longe a fumaça negra que se levantava
Dos corpos de Maria Lúcia e tantos outros,
Lá em Andorinhas.

Em ti, houve sincera indiferença,
Em mim, muitos cadáveres
Que enterravas sem lamento e palavra,
Passado sangrento de fugas e torturas
Na tua muda catatonia.

Naquele momento, sem magia ou estupor,
Em que nosso ideário desfeito
Recusava qualquer panteão,
Despencando em tuas mãos áridas,
Nos reencontramos
E nos despedimos,
Sem estação ou trem,
Sem bandeira ou voto,
Sem rio ou praia
E para sempre
Sobre um monte de nada
Num país de ninguém...

Felipe Mendonça -

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sábado, 20 de março de 2010

Diversidade Cultural

Recordando o mês de outubro no Donana que realizou uma belíssima festa de diversidade cultural com muita poesia, música e dança.

O evento reuniu bandas como Inkerito, João Mathias e Caramujos, poesia com Pó de Poesia que convidou o grupo Gambiarra Profana, desfile do Conexão Modelos, dança cigana com a dançarina Maiara Landim, dança de salão e muito mais. Além de exposições com quadros de Dida Nascimento e o trabalho de resgate de memória do Centro Cultural Donana realizado por Érika Nascimento.

Confiram os registros e o vídeo realizado pelo grupo Gambiarra Profona.


BRINCAR DE POESIA



BRINCAR DE POESIA

Um dia sonhei em brincar de poesia
Pensei em inventar coisas
Tipo amor
Tipo nostalgia

Um dia tentei descobrir o que era o mar
Tentei brincar de amar
Imaginando que seria só fantasia
Amar na poesia

Um dia pensei em sentir o perfume das flores
Viver sem sentir dores
Um dia tentei viver
Esquecer que queria morrer

Um dia quis saborear o néctar
Cortei-me nos vidros
Sangrei sem ser ouvido

Um dia vou dizer adeus
Adeus pra minha poesia
Vou deixar de amar
Deixar de chorar

Um dia esquecerei
De me olhar
De me ver passar

Um dia vou deixar de brincar de poesia
E vou morrer para essa vida
Sem sonhos
Nem fantasia

Vou morrer pra poesia

Autor: Arnoldo Pimentel


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quinta-feira, 18 de março de 2010

DESPEDIDA POÉTICA




DESPEDIDA POÉTICA

Por esta minha inspiração desfigurada,
Desfaço-me da poesia e quebra-se o encanto;
Já não sou poeta.
Se um dia o fui, foi por engano
Desses versos que nos iludem.
Das rimas sonoras que no fundo são antagônicas,
Despeço-me e escolho as macieiras como trégua.

E as linhas em branco continuarão cheias
Dos versos que jamais farei.

Autora: Luciene Lima Prado


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segunda-feira, 15 de março de 2010

As ondas


As ondas erráticas
Que rolam sem mar
Por entre alamedas,
Por entre esses carros,
Intrusas, incômodas,
Me trazem memórias
Bafio de mar,
De mar que secou,
De nau que afundou
Co’herói e piloto.
Qual doidas sem rumo
Se quebram, rebentam
No pé do edifício
De escarpa e marisco.
Na noite serena,
Do quarto eu as oiço
Marulho de outrora,
Repletas de vozes,
De guerras e amores,
De frotas inteiras
Que não transpuseram
Tormentas e cabos;
Que não encontraram
Bom termo e farol –
Imenso alarido
De gritos no escuro...
E assim quando saio
Com pasta na mão,
Ou chego abatido
Qual ave arribada
Os pés eu remolho,
Cansado e calado,
Num mar de cadáveres,
Atrás de enseada
Pra enfim descansar
Um lenho de carne
Que sulca esquecido
As ondas de um mar
Em que naufragou
Remoto na história.
Por isso o que quero
É enfim devolvê-las
Ao mar dos banhistas,
Ao mar dos surfistas
Que quebra na Atlântica
Sereno e tranqüilo.
Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.



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sábado, 13 de março de 2010

A Hora Livre


Talvez eu encontre uma hora livre
Para ser o que eu quero e fugir do mundo
Para me refugiar de tudo que me corrige
Até mesmo de um falso ensejo profundo.

Talvez eu encontre uma hora livre
Para me livrar da culpa de algum pecado
Que minha consciência quer e exige
Até de um delito que eu não tenha sonhado.

Talvez eu vire um semideus sensual
Que remova céus e montanhas
Em busca de uma alternativa natural
De lidar com minhas forças estranhas.

Talvez eu encontre uma hora livre
Num dado momento. Num dado instante
Num dado dia que a vida permite
Seja essa hora minha melhor amante.

Talvez eu vire o herói de uma história
Que, na verdade, ninguém quer contar.
Ou que seja publicado num livro de memórias
Livro este que ninguém quer comprar.

Ninguém quer conviver
Com seus horrores, anseios e lamentaçãos.
Ninguém quer reconhecer
Seus crimes, delírios e omissões.

Com certeza eu fugirei do futuro
Ou de qualquer outra coisa que eu tenha passado
Nas ramagens dessa opressiva bonança carmim.

Rubra da cor da minha centelha
Que gera todo tipo de incerteza
E eu beijarei todas as costas que estiverem voltadas para mim

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados
http://emaranhadorufiniano.blogspot.com


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Julgamento

Hoje contemplas o belo
mas o mais belo nunca viste
não era atraente a ti
e permaneceu cálido
dentro de mim
na ausência de tal exigência
não te permitias conhecer o puro
no escudo da imagem-vitrine
julgaste essência sem tocar
na doce traição do olhar
e insolente, o destino
me deu hoje a tal imagem-vitrine
no caminho dos mistérios
mas além do espelho
só restou dor silenciosa
tornando-o mais puro
em amargosa criatura
de alma vagante
na missão revoltante
de acusar teu mundo doente.

Giano
Todos os direitos reservados.


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Derramado

Venho suave
Beber o vinho tinto
Da cor do sangue quente
Tinto como o molho derramado.

Venho tinto
Beber o vinho suave
E comer a massa quente
Que abriga o molho
Da cor do sangue derramado.

Venho quente
Beber o sangue tinto
Entre a massa molhada
Da cor suave
Do vinho derramado.

Venho molhado
Beber o molho tinto
Na massa suave
Da cor quente
Do sangue do meu eu derramado.

Marcio Rufino
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Tirastes

Tiraste de mim o temor,
de emitir-me sem ser ouvido,
de tanto sonhar com amor,
sem nunca ser entendido.

Tiraste de mim uma lágrima,
transmutaste-a de amarga,
em minha doce rima,
que conforta e não me larga.

Tiraste de mim o desespero,
de esperar sem esperança,
instauraste o desejo derradeiro,
de recompor-me criança.

Tiraste de mim o Amor,
mas guardaste com carinho.
Tiraste de mim uma dor,
de guardar tudo isto sozinho.

Giano
Todos os direitos reservados

O POETA



O POETA
(Poesia postada em homenagem ao dia da poesia, parabéns a todos os poetas e poetisas)

É aquele que ama um pouco mais
E nunca ama por amar
E sonha um pouco mais, voa um pouco mais alto
E um pouco mais longe
Chega onde poucos conseguem chegar

Entra nos labirintos da mente
Conhece o passado e presente
Deduz o futuro com tanta exatidão
Que parece viver um passo a frente

Nele existe um pouco mais de emoção
Um pouco mais de atenção
Um pouco mais de alegria
E um pouco mais de solidão

Um pouco mais de sinceridade
Coisa pouca dentro de muita gente
Um pouco mais da louca igualdade
Que o faz assim, tão diferente

Ele tem um pouco mais de quase tudo
Guardado dentro da mente
De tudo faz um poema, revela tudo que sente

Assim é o poeta
Ama sem ser amado, espera sem ser esperado
E muitas vezes, morre abandonado

Por vezes, só depois da morte
Tem seus poemas lembrados...

Autora: Silviah Carvalho

POESIA E A FLOR



POESIA E A FLOR

(Poesia em homenagem ao dia da poesia)

Eu queria inventar uma flor
Mas que tivesse seus olhos
Que tivesse sua brisa
Que tivesse seu calor

Eu queria inventar uma poesia
Mas que fosse meiga como uma flor
Que fosse delicada como seus versos
Que fosse uma poesia feita de ilusão
Como a flor do coração

Eu queria inventar uma flor
Que saciasse a sede no riacho de água pura e cristalina
Que tivesse assim pétalas de cristais
Que tivesse botões com pontas de estrelas
Que não sofresse com a dor
Que fosse feita de amor

Eu queria inventar uma poesia
Como se inventa uma flor
Mas que não tivesse espinhos
Que tivesse apenas carinho

Eu queria ser uma poesia
Que colorisse sonhos
Para espalhar uma paisagem
Iluminada por todas as flores
Nos seus sonhos

No fundo
Eu apenas queria
Ser só uma flor de poesia
Que nada mais inventasse
Que nada mais precisasse
Além de enfeitar o seu dia

Autor: Arnoldo Pimentel

sexta-feira, 12 de março de 2010

Soneto do avião

















Tão refulgente por estes espaços,
Luminoso aerólito, avião,
Vai cruzando janelas e terraços
De um céu azul sem nuvem ou senão,

Pluma com toneladas de fio e aço
Que, leve, leva em si tanta vanglória,
Não há ninguém que o alcance, nenhum traço
Que o desvie de sua trajetória,

Senão quem inaugura a própria história
Rasgando os corações de conjunturas
Repletas de terror e sepulturas,

Ao som de uma feroz jaculatória,
Homem que encheu os céus de precipícios
E de horizontes sub-reptícios.


Felipe Mendonca -

Todos os direitos reservados.

terça-feira, 9 de março de 2010

TUDO QUE EU QUERIA TER



TUDO QUE EU QUERIA

Tudo que eu queria ter
Era um pedaço de papel e uma caneta
Para escrever minha própria vida
Minhas próprias escolhas
Minha própria sorte

Tudo que eu queria encontrar
Era uma garrafa boiando no mar
Trazendo uma carta sua que me desse esperança
E me fizesse sonhar, viajando no meu próprio tempo
Vencendo barreiras e fronteiras a nos separar

Tudo que eu queria sonhar
Era com minha própria aquarela
Pintar meu próprio céu, aonde na
Realidade estivesse você e que
Nosso encontro deixasse de ser um conto

Tudo que eu queria ser
Era o papel que está escrito minha vida
Para poder ficar na chuva, para molhar
Até a tinta sumir até deixar de existir
Pois a vida não é vida, se você não está aqui

Autor: Arnoldo Pimentel

Dos homens sem cor

Os dias sem você são noites em claro
em que cegamente me calo
para ouvir minha voz.

Mas já não há razão na própria certeza
da minha indócil nobre pobreza
de Mágico de Orós.

Dei-me como açoite a negra sorte
das nuvens brancas do norte
que inundam as folhas do açaí.

Seresteiras como moscas brejeiras
incestuosas e carniceiras
no meu corpo de faquir.

No refluxo ancestral me deito
por entre togas jaz o meu leito
em espasmos venéreos.

Porém nada há de apagar o que nunca foi escrito
no som perfuro-cortante de um beijo ilícito
da amancebidade dos restos.


Todos direitos reservados à Sergio-SalleS-oigerS

domingo, 7 de março de 2010

Ladrão



Um ladrão com arma
De grosso calibre,
À noite e sorrateiro,
Invadiu-me a casa.
Vasculhou-a toda,
Armários e gavetas
Tão impetuoso,
Hábil invasor,
Que até do cofre,
Atrás de um dos quadros,
Revelei-lhe o segredo.
E ereto ante a mim,
Pôs-me então na boca
A arma que tinha
Na mão empunhada.
E assim dominada,
Sem palavra alguma,
Deixei que invadisse
Outros interiores.
No fim, foi embora,
Largando-me ali
Estática e nua
Toda revirada,
Indenunciável,
E aguardando calada
Que então retornasse,
Acompanhado de outros,
Para novos delitos,
Cativa que sou
Agora de toda
A sua quadrilha,
Aprendizado do crime
Para também integrá-la
E do alheio roubar
Gozosos delíquios.

Felipe Mendonça -

Todos os direitos reservados.

sábado, 6 de março de 2010

Razaõ de ser

A poesia é meu grande rio interno e inteiro
Não causa-me transtorno
pois não discuto minha poesia-rio
Não avalio
Não submetu-a aos meus caprichos
Permaneço quieta ela transborda e flui
poeticamene brota na rede de minha razão de ser
É assim que me confesso


(Ivone Landim)

DOMINGO SEM CAFÉ OU BOLA DE FUTEBOL SEM REDES



DOMINGO SEM CAFÉ OU BOLA DE FUTEBOL SE REDES

Sei que tenho me perdido na prorrogação
Ou talvez meu domingo já não exista faz tempo
E não dei conta ainda que as luzes se apagaram
Quando eu estava dormindo longe do violão

Sei que não tenho olhado pela janela
As nuvens sendo levadas pelo vento da incerteza que norteia
Meus dias de domingo a sábado sem café na esquina
Sem palavras que poderiam indicar um caminho sem pranto

Acho que vou correr atrás da bola aos domingos pela manhã
Mesmo sabendo que não alcançarei as redes da vitória
Ou da esmola que venho buscando na banca de jornal
Que fica bem de frente da estrada que segue o rumo sem vida

Sempre vejo apenas os melhores momentos do jogo
Mas os gols que balançam as redes não são os mesmos gols
Que deveriam acontecer no dia a dia de quem se levanta
Para ir atrás do pão sem felicidade que alimenta nossas ilusões

Ou atrás da quentinha que é distribuída pelas almas sem almas
Que pensam apenas nos aplausos que vão receber quando mostrarem
As fotografias dos necessitados recebendo o prêmio que vai alimentar
Seu dia de descrença que passará sentado no paralelepípedo da vida

Bem sei que a noite vem me presentear com a mordaça da solidão
E ainda estarei sentindo o êxtase da fumaça do cigarro do cara do lado
Que ficou assistindo os melhores momentos como se fossem eternos
E se esqueceu que o pior está por vir com a velhice que por azar chegará

Autor: Arnoldo Pimentel

quinta-feira, 4 de março de 2010

Invertido

Que tal peixes voadores
Constelações marítimas
abastados os sonhadores
gananciosos como vítimas?

Que tal pólos quentes
trópicos glaciais
hipócritas impotentes
honrados ascensiais?

Que tal desertos floridos
florestas obscuras
sensatos preteridos
impulsivos de estruturas?

Que tal larvas no firmamento
asteróides vulcânicos
estrategistas sem discernimento
humildes titânicos?

Que tal um novo mundo
de humanos invertidos
com vistas no profundo
só ao amor convertidos?

Giano
Todos os direitos reservados.
O mar
mareia
mareja
os meus olhos...
de tanta
beleza?

Não!
É do sal
mesmo
que me
arde as
vistas!

Jorge Medeiros
Todos os direitos reservados

Único

Nenhum clarão e artifício pirotécnico
iluminam tanto nossas faces
quanto a ebulição intermitente
acesa no beijo, na navegação palmar
sobre o oceano epidérmico
e na penetração visceral do amor.

Sincero, sensorial
profundo e permanente.

Ofuscantes sorrisos
de nitroglicerina hormonal.

Fenômeno único
como único é o prazer de amar.

Giano
Todos os direitos reservados

Conecção

Conectar-me
Exigem-me
Com a internet
Com o novo
Com as tribos...

Minha conecção
É a ausência de tudo
É o trancafiar-me
Dentro de uma alma
Que não é minha.

Minhas conecções
São apenas
Conjecturas.

Jorge Medeiros
Todos os direitos reservados

quarta-feira, 3 de março de 2010

O herói e o piloto




Vasco da Gama
Sem nau capitânia,
Peregrino destes mares,
Te perdeste em Lituânia.

Vasco da Gama
Sem nau capitânia,
Peregrino destes mares
Te perdeste em Mauritânia.

Vasco da Gama
Sem nau capitânia,
Peregrino destes mares,
Te perdeste em tanta insânia.

Vasco da Gama
Sem nau capitânia,
Peregrinos destes mares,
Degredado pela infâmia.

Vasco da Gama,
Te esqueça da fama,
Peregrino destes mares
Naufragado dos azares.

Vasco da Gama,
Cadê tua chama,
Peregrino destes mares
Sem ninguém para velares?

Vasco da Gama
Sem nau capitânia,
Em estranha Lituânia
Há polaca que te inflama.

Vasco da Gama
Sem nau capitânia,
Em perdida Mauritânia
Há um porto que te chama.

Vasco da Gama
Sem nau capitânia,
Peregrino destes mares,
Vê se esquece a Lusitânia!
Vasco da Gama
Sem nau capitânia
Neste mundo de nevasca,
Só te resta mesmo o Alasca.

Vasco da Gama
Sem nau capitânia,
Entra agora em nau anônima
Que se esfuma momentânea.

Vasco da Gama,
Sem Ibn Majid,
Que seria de tua fama?
Que seria dos Lusíadas?

Vasco da Gama,
Sem Ibn Majid,
Que seria de tua gana
Em partir assim valido?

Vasco da Gama,
Sem Ibn Majid
A tornar o mar macio,
Conhecido e navegável!

Vasco da Gama,
Com Ibn Majid,
Deu à história de um império
Larga cópia e uma obra-prima.

Ibn Majid,
Sem Vasco da Gama,
Quase nada contaríamos
Pela história e pelo verso.

Ibn Majid
E Vasco da Gama,
Navegai! Ah, navegai!
Neste mar de tantos ais...

Entrai já em nau anônima
Que se esfuma momentânea,
Porque a história recomeça...
Felipe Mendonça -
Todos os direitos reservados.

terça-feira, 2 de março de 2010

O mendigo que suicidou-se com um prato de comida


                    Com o rosto calado, ele vivia sua vida sem vida. Ausente no amor, ausente no tempo, e sempre, sempre presente na dor. Dor que se fazia carinhosa ao afagar seus cabelos negros tornado-os esbranquiçados. Dor que levava a noite, matava o dia e banhava o homem com a fria-ácida melancolia dos destroços de janeiro-dezembro.
                   ___ Ah, Luz! Oh, Luz! Onde estás? Por que partistes? Por que me deixastes aqui a morrer de amor?
                   Com as mãos calejadas e os pés vendendo feridas, ele sonhava com o tempo em que sonhava. Que poderia haver alegria nos cegos olhos paralíticos; na alma do louco que chora à seco; na voz do desafinado que canta os frutos de uma vida perdida, de uma vida não vivida.
                   ___ Ah, Luz! Oh, Luz! Onde estás? Por que partistes? Por que me deixastes aqui a morrer de amor?
                   O ser que rumina dores; pelo silêncio de sua voz feriu os tímpanos do marciano que se bronzeava no Alasca. Pela frieza de seu olhar fez chorar o galã da novela “das oito” fazendo-lhe morrer de desidratação.
E por seu desejo de amar
fez asa sua mão virar
partindo para um outro mundo,
mundo o qual era seu
por seu nome não estar.