A estrada escura e sinuosa havia ficado para trás. Fim de noite e início de madrugada fria. Assim foi a chegada em Paraty. A frente, a luz e a esperança do calor sensível da literatura em uma festa na histórica e internacional Paraty, a 8ª FLIP.
O ecletismo de gente nas ruas de Paraty, tanto à noite quanto de dia, chama a atenção dos que caminham sobre seu piso de pedras centenárias. Brasileiros legítimos, com toda sua miscigenação, misturados com representantes puros nativos da terra brasilis e de outras terras. Todos inspirando o mesmo ar puro trazido pelo mar e recebido pelas encostas da mata atlântica, viva, presente e imponente na região. Mas todos exalavam uma diversidade retratada na própria programação da FLIP. Impossível não ficar contagiado e inspirado com tanta pluralidade.
A festa era literária, contudo podia-se ver as mais variadas manifestações artísticas, desde o adereço que divide seu valor com a beleza feminina, até uma interação perfeita da tecnologia com a arte. Tal feito foi conseguido através de uma câmera especial que captava o calor emitido pelas pessoas. As imagens distorcidas, que eram exibidas em um telão batizado de “Termografia da multidão — Encontros e entornos”, foram captadas de performances de companhias de dança e grupos musicais. Interação perfeita!
Mas a literatura, gentil e cordialmente se impunha na festa. Autores vendendo seus livros nas ruas, ou até mesmo dando de graça, oficinas literárias, sessões de autógrafos, leitores esparramados – mas não menos concentrados – em locais inesperados, declamadores apaixonados e iluminados nas praças, debates calorosos acerca dos temas, uma síntese do documentário "José (Saramago) e Pilar", stand dedicado a literatura infantil (FLIPINHA) e mais, exposição de esculturas de personagens literários dos livros infantis com toda o encanto e sua magia...
O homenageado da festa, o polêmico sociólogo Gilberto Freyre, por vezes parecia estar ali, andando no meio do público. Sua obra e pensamento, baseados no equilíbrio entre os contrários, teve debates de alto nível, que traçaram um perfil do autor com uma análise de seu estilo literário, seus momentos como ensaísta e as contradições de seus clássicos. O alto nível não foi apenas intelectual mas também emocional. O biblioteconomista Edson Nery da Fonseca, 89 anos, arrebatou a todos ao declamar de cor, apaixonadamente, o poema “Bahia de todos os santos (e de quase todos os pecados)”.
Drummond também recebeu tributo na 8ª FLIP, por conta dos 80 anos de “Alguma poesia”, seu primeiro livro de poemas. O poeta Ferreira Gular, ao participar desse momento, deixou sua marca pessoal, inconfundível e emocionante, levando a platéia ao delírio.
A literatura brasileira mais uma vez saiu exaltada da FLIP. Através dela, nossos escritos e escritores foram promovidos e impactaram de novo autores, editores e intelectuais internacionais presentes. Muito mais poderia ser dito sobre a FLIP. Mas como a emoção de ler ou escrever um poema, só quem sabe é quem o faz, a FLIP deixa amorosamente em cada participante seu, a marca de nunca mais ser o mesmo.
“...Cultura que grita pra ser cultura, em Paraty foi ouvida e aplaudida de pé...”
((( Camila Senna e Moisés Silva )))
Praça da Flipinha.
Parte interna da casa dos autores.
Performance
da “Termografia da multidão — Encontros e entornos”.
Igreja de Santa Rita.
Centro Histórico Paraty.
Representação escultural da obra "A bruxinha que era boa".
Vista da tenda dos autógrafos.
Tenda dos autores
FIM.
Um comentário:
Parabéns Camila.
A matéria ficou ótima.
Bjs!!!
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