Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



domingo, 8 de agosto de 2010

Linha de tiro

















Aqui neste bairro,
Na rua onde moro
De Ramos à Penha
Nas adjacências
Da linha do trem,
Há risco terrível,
Há risco iminente,
Há risco de morte,

Embora nas ruas
Quem passa, quem vai
Ao banco, à lotérica,
À barbearia
Cortar o cabelo,
Bater um papinho,
Pareça com isso
Sequer importar-se.

Na rua onde moro,
No bairro da Penha
Matar ou morrer
É caso geral,
Rotina diária,
Um caso sem caso,
Sem qüiproquó,
De pouca importância.

Mas, inda qu’eu beba
Até dizer chega,
Até cair trêbado,
Na linha de tiro
Meu quarto se encontra,
Ainda que eu clame
Ou inda que esqueça,
Abaixe a cabeça
Ou fuja pro boxe
Do meu lavatório,
Na linha de tiro,
Também fica a sala.
Daqui, vou sair,
Fazer minha mala
Se não vou morrer!

Mas, para onde eu vou
Triste sem pasárgadas?
Mas, quem sabe disso
Ou co’isso se importa
Se há tanto batuque
Nos fins-de-semana,
Se há tanta cerveja,
Pagode e bailão
Nos bares e clubes,
Se tem na TV
O jogo final
Do time querido
Por mil corações?

No fim, resta, então,
Fechar as janelas,
Fechar as cortinas,
Rezar a São Jorge,
Deixar para lá,
Quedar-se em silêncio.

Nos resta somente
Beber e fumar,
Amar e gozar
Nos bares e clubes
Do bairro onde moro.

Mas,
No escuro, em silêncio
Cantando ou calando
Amor sem amplexo,
O tédio da vida
Sem casa, sem nexo,
Malgrado esse risco
De morte iminente
A todo vivente,
Enfrento-me nu
De tudo, de mim,
De quem silencia
A dor deste bairro,
A dor desta terra
No risco de em vida
Já morta encontrar-se,
Já morto encontrar-me...

Mas,
No escuro, em silêncio
O rastro de um grito,
De um grito dorido,
Pressinto trancado
No quarto de treva
Em luto por mim,
Enquanto lá fora
Batuque feroz
Se faz pra esquecer
O medo de, à bala,
Morrer numa vala.

Felipe Mendonca -
Todos os direitos reservados.

2 comentários:

Arnoldo Pimentel disse...

Seu poema retrata uma triste realidade no Rio de Janeiro, realidade que não aparece em cartões postais vendendo a chamada "cidade maravilhosa".

Marcio Rufino disse...

Extraordinário poema social.
Daria um belo rap ou hip-hop. Rsrsrs.

Abrçs!!!