Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



domingo, 27 de fevereiro de 2011

De la noche

Adolfo caminhava pela Duque de Caxias. Sozinho, em mais uma noitede domingo. A rua era tão diferente, sem o caos fedendo á gasolina, sem a sujeira doscamelôs, sem aquela gritaria tão estúpida e real. Queria mais esquecer de si mesmo,no meio da noite quente e apática. Ponto de prostitutas,último reduto noturno de travestis,
similares e muitos simpatizantes. As formas de solidão mudaram,ao longo dos anos.
Lembrou do tempo em que encostava num balcão e logo alguém vinha ter consigo.
Hoje, sem balcão,apenas caminhar em direção à noite suja e sem atrativos, arriscando
um marinheiro perdido ou um rosto desgarrado da fauna noturna do cais, no espasmo
munganguento de crak, a quem pediria o cigarro de sempre, prenúncio de papo, olhar
de nojo piedoso ou de puro e simples nada consta. Percebeu um cara de jaqueta jeans,
encostando-se no poste, do outro lado da rua; tipo magro musculoso,calças
justas e um olhar vazio em forma e direção, de quem via tudo sem nada observar.
Recostou-se na banca de revistas fechada, sob uma marquise. Olhou os bancos de
camelô desmontados ao longo da rua. As putas desciam dos velhos sobrados, à frente
dos homens da ocasião, com um olhar altaneiro de senso de dever cumprido. Sou
puta e daí? Cada um segura a sua ôia, dizia Zefinha Pé de Garfo, um corpo escultural
sobre um pedestal deformado, um kama sutra ambulante, agora, arremessando um beijo
para Adolfo, sobraçando o presente da neta, no retorno para casa. Mais uma bateu o
ponto e fechou o escritório, pensou Adolfo, cigarro apagado nos lábios de pomada de
cacau. Mãos inquietas procurando um isqueiro. Acendeu, acalmou as longas mãos
manicuradas, dedos luzidios. Fumou pela metade, jogou fora, apreciando a pirueta
da brasa, até cair no chão. Recomeçou a caminhada, percebendo-se seguido à distância
pelo homem de jaqueta jeans. Um discreto olhar para trás. Chegou à porta da
hospedaria Novo Horizonte. Subiu o primeiro lance de escadas e puxou do bolso a
chave do quarto, dando tempo ao cara de subir. Era um homem bonito, olhar sombrio e
braços musculosos. A mão esquerda tatuada, brinco na orelha direita, idade
indefinida,como tantas outras coisas da vida. Trocaram um sorriso meio envergonhado, adentrando o quarto. O estranho preferiu penetrá-lo de pé. Adolfo excitava-se e rangia os dentes de prazer. Ao perceber a corda de náilon no pescoço, o mundo estava cada vez mais cinzento e silencioso.

Conto de André Albuquerque

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