Pagu nasceu em 1910, em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, mas passou a infância no Brás, bairro da região central paulistana. Na adolescência já chamava a atenção por sua personalidade forte. Poucos anos mais tarde, levada pelo poeta Raul Bopp, Pagu aproximou-se do grupo de intelectuais paulistanos que encabeçaram o movimento modernista brasileiro. Foi quando teve o primeiro contato com a pintora Tarsila do Amaral e o escritor Oswald de Andrade (veja boxe Passagens da Vida Privada). Sua luta contra a ditadura de Getúlio Vargas, iniciada na década de 30 quando tinha apenas 21 anos, foi dura e tortuosa, pontuada por prisões - mais de 20 - e torturas. "Ela sempre sonhou entregar-se totalmente, sem limites, até a aniquilação, ao amor, a uma causa, à vida e até à própria morte", afirma a professora Lúcia Maria Teixeira Furlani, autora de Pagu - Livre na Imaginação, no Espaço e no Tempo (Editora Unisanta, 5ª edição, 1999). "Procurava, freneticamente, o que lhe faltava, a completude que todos perdemos e pela qual ansiamos, esse era seu traço mais marcante. Além de seu olhar sensível, antecipatório e antenado na cultura, na política e no comportamento", ressalta a professora, estudiosa do tema há 18 anos.
Apesar de marcante, a atividade política não foi a única causa de Pagu. Não é possível dissociar sua vida da importância que teve para as artes e a cultura, por exemplo. "Ela foi jornalista, crítica de letras, artes, televisão e teatro, poeta-desenhista, romancista, incentivadora cultural, mulher precursora e revolucionária", lista Lúcia Maria. "Soube também ser dissidente política, quando rompe com o Partido Comunista e volta a ser apenas Patrícia, defendendo um socialismo libertário, pacífico, democrático e espiritualista." Para Geraldo Galvão Ferraz, filho do segundo casamento de Pagu, ela foi, sobretudo, alguém com uma vida que fez diferença. "Desde o exemplo de rebeldia e irreverência da adolescência ao engajamento no tempo modernista para, em seguida, começar seu envolvimento político. E, enfim, no importante papel de divulgadora das vanguardas estéticas dos anos 40 e 50." Para Leda Rita Cintra, curadora do evento do Sesc, sua maior importância cultural - "que permanece até hoje", ressalta - foi a apresentação ao Brasil de nomes como o do autor espanhol Fernando Arrabal. "Ela o traduziu e o colocou em cena pela primeira vez no país, com a peça Fando e Lis." Outras participações fundamentais se deram nos jornais O Homem do Povo e A Mulher do Povo, criados em 1931 por Pagu e seu primeiro marido, o escritor Oswald de Andrade. "Naquele contexto, representaram uma rebeldia política máxima contra o governo de Getúlio Vargas", afirma Leda.
E ainda havia a maternidade. Com o primeiro filho, Rudá de Andrade, do casamento com Oswald, teve uma relação que durante muito tempo foi conturbada pela militância política. Com o segundo, Geraldo Galvão Ferraz, da união com o jornalista Geraldo Ferraz, foi uma mãe presente, de acordo com ele próprio. "Minha mãe era um tanto superprotetora, mas também muito carinhosa. Era uma mãe como qualquer outra, apenas com horários diferentes dos das mães dos meus amigos. Ela trabalhava bastante em casa, sempre na máquina de escrever. Mas sabia tirar seu tempo para uma brincadeira comigo, para um gim-tônica e um cigarro", lembra ele.
Um comentário:
Excelente artigo, Camila. Parabéns por enriquecer o blog com textos marcantes. Bjs!!!
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