Manifesto do coletivo Pó de Poesia

O Poder da Poesia contra qualquer tipo de opressão
Que a Expressão Emocional vença.
E que o dia a dia seja uma grande possibilidade poética...
Se nascemos do pó, se ao morrer voltaremos do pó
Então queremos Renascer do pó da poesia
Queremos a beleza e a juventude do pó da poesia.
A poesia é pólvora. Explode!
O pó mágico da poesia transcende o senso comum.
Leva-nos para um outro mundo de criatividade, imaginação.
Para o desconhecido; o inatingível mundo das transgressões do amor
E da insondável vida...
Nosso tempo é o pó da ampulheta. Fugaz.
Como a palavra que escapa para formar o verso
O despretensioso verso...
Queremos desengavetar e sacudir o pó que esconde o poema...
Queremos o Pó da Poesia em todas as linguagens da Arte e da Cultura.
O Pó que cura.
Queremos ressignificar a palavra Pó.
O pó da metáfora da poesia.
A poesia em todos os poros.
A poesia na veia.


Creia.


A poesia pode.


(Ivone Landim)



sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Gavetas purificadas

Hoje acordei justiceiro
com fome de arrumar as gavetas
que vivem sempre abarrotadas
de coisas sem valia, sem perdão
cujo prazo de validade ficou para trás,
sendo assim condenadas
ao cesto implacável da cremação,

são fotos sem enquadramento
sem pé nem cabeça,
são porcas e parafusos enferrujados
que habitam, há anos, em um tupperware lacrado,
são contas e mais contas pagas e amareladas
cansadas de esperar pela audiência
de um único credor desconfiado,
são receituários antigos de médicos tão velhos
que já não curam a urticária, quanto mais a ansiedade,
são receitas de bacalhau que nunca viram a luz do sol
muito menos o fio de azeite dançando
sobre suas postas imaginárias,
são baterias semi descarregadas
atracadas com aparelhos de celulares pré-históricos
com rabichos e rabichos de carregadores
que por não se encaixarem aos demais equipamentos
tornaram-se casmurros e solitários,
são calças e blusas magras de marré de si
que só fazem lembrar de um passado Zero Cal
longe das bombásticas tentações achocolatadas,
são emoções baratas que já não surtem efeito
neste velho coração bandoleiro
cansado de películas antigas em VHS,
são superstições tão bobas, de um garoto suburbano
que não fazem frente
ao menor dos sintomas de um TOC,
são roupas vermelhas e brancas
de uma era em que se acreditava em Papai Noel
e em políticos politicamente corretos
que não tripudiavam sobre caseiros ingênuos,
ou secretárias sagradas,
nem roubavam merendas escolares;
são esperanças envelhecidas e malsãs
de um dia ganhar o mundo à revelia
fincando uma bandeira em cada canto do planeta

e tem também a gaveta dos projetos esquecidos
dos anseios desnecessários
das canções abandonadas e sem festivais
e, sobretudo, o último compartimento em desalinho
aquele dos amores acontecidos
do qual, sem antes titubear,
rasguei uma foto de Maria
cujo verso mentia em letras garrafais:
te amarei por toda a minha vida...

Poema de Betusko

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